Mundo ficciónIniciar sesiónValentina Diniz era a promessa do Direito internacional. Primeira colocada em Harvard, prestes a se formar, brilhante, determinada… até receber a ligação que mudaria sua vida: seus pais morreram em um acidente misterioso. Forçada a retornar ao Brasil, ela encontra o império jurídico da família afundando em dívidas, cercado por traições e à beira da falência. Desesperada por uma saída, Valentina recebe uma proposta tão absurda quanto tentadora: um contrato de casamento com Rafael Montenegro — um bilionário frio, calculista e infame por transformar alianças em impérios. Em troca de um milhão de dólares, ela se tornaria sua esposa por um ano. O que era para ser apenas um acordo conveniente se transforma em um jogo perigoso de aparências, tensão crescente e verdades enterradas. Quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna ignorar os olhares, os toques, o desejo reprimido — e os segredos que podem destruir tudo. Mas o que Valentina não esperava era descobrir que Rafael talvez estivesse ligado à tragédia que levou seus pais. E, agora, ela terá que escolher: confiar no homem que pode salvá-la... ou destruí-la completamente.
Leer más— Traga um milhão de dólares em três dias. — A voz dele era quase divertida. Quase.
Valentina não respondeu de imediato. Não porque não tivesse palavras… mas porque o ar simplesmente sumiu quando o tio terminou a frase. O escritório dele sempre pareceu frio. Mas naquele dia estava gélido. Parecia uma sentença. O tapete persa que ela atravessara tantas vezes quando criança… agora era só um campo minado. As paredes brancas, os quadros caros, a mesa de mogno: tudo tinha cheiro de julgamento. O tio, Rogério Diniz, estava impecável barba aparada, terno alinhado, olhos que nunca a enxergaram como família. Ele girou a caneta entre os dedos, calmamente. Calmamente demais. — Eu disse “três dias”, Valentina. — repetiu. — Não três meses. Não três anos. Três. Dias. Ela engoliu seco. — Tio… eu acabei de enterrar o meu pai. — a voz dela vacilou, mas não quebrou. Ele ergueu uma sobrancelha, indiferente. — Sim, eu soube. — disse, como quem comenta previsão do tempo. — Uma tragédia. Mas tragédias não pagam dívidas. Valentina fechou os olhos por um instante. A cena do velório ainda estava presa por trás das pálpebras: o caixão, as condolências vazias, o peso da solidão. E o telefonema logo depois. A ligação que mudou tudo. Seu pai estava endividado. Muito. Mais do que ela imaginou que fosse possível. E agora… essa cobrança. — Eu não fazia ideia dessas dívidas. — ela disse, tentando manter a calma. — Eu nunca vi nada disso nos documentos que ele… — Porque ele escondia tudo. — o tio interrompeu, rindo curto. — Como seu pai sempre fez. Incapaz de administrar a própria vida, quanto mais uma empresa. Valentina cerrou os punhos. — Não fale assim dele. — Alguém precisa falar. — Rogério rebateu, inclinando-se na poltrona. — Seu pai destruiu o nome dos Diniz. Deixou um rastro de incompetência e dívidas que agora recaem… — ele fez um gesto com a mão — …em mim. — EU não pedi nada. — ela disse, sentindo o peito apertar. — Não pedi ajuda. Só vim entender o que realmente aconteceu. Rogério sorriu. Um sorriso que não tinha nada de humano. — Você veio porque não tem outra saída. Valentina sentiu a garganta fechar. As palavras se perderam lá dentro. O tio abriu uma pasta com estrondo, espalhando documentos, extratos, assinaturas, números em vermelho gritando da mesa. — Aqui está. — ele empurrou as folhas na direção dela. — Centenas de milhares em empréstimos. Fornecedores. Processos. Honorários atrasados. Seu pai devia a meio mundo… inclusive a mim. — Meu pai jamais te deixaria nessa situação. — Valentina rebateu, firme. — Ele sempre te ajudou... — Ele me usou. — Rogério se levantou de uma vez, a voz finalmente perdendo a falsa calma. — Usou nossa família. Usou nosso nome. E agora você quer que EU limpe a sujeira dele? Ela recuou um passo. Não de medo. De nojo. Ele aproximou-se mais, apontando para os papéis: — O seu pai morreu e deixou você com a conta. A dívida é sua agora. — um sorriso lento apareceu no canto dos lábios dele. — A não ser que… você queira outra opção. Valentina ergueu o rosto, olhos ardendo. — Que opção? Rogério caminhou até a janela, como se estivesse apreciando a vista. — A opção que meninas inteligentes usam quando não têm saída. — disse, tranquilo demais. — O casamento ainda é uma moeda poderosa. Principalmente quando se casa… com o homem certo. Valentina sentiu o coração bater nos ouvidos. — O que… você está dizendo? — Estou dizendo que, se quiser salvar o nome dos Diniz… — ele virou-se, sorrindo com a calma sádica de quem sabe que tem alguém encurralado — …você vai ouvir a proposta que tenho. Ela continuou em silêncio. Só o relógio na parede preencheu o espaço. Rogério pegou um envelope preto. — Um milhão adiantado. — disse, sem desviar os olhos dela. — Um contrato de doze meses. Vida pública impecável. Algumas cláusulas. Nada fora do normal. Ela piscou. Não respirou. Não entendeu. — Um milhão… para quê? — perguntou, quase num sussurro. O tio sorriu. Aquele sorriso de cobra prestes a engolir o rato. — Casamento, minha querida. — respondeu, como se fosse óbvio. — Casamento por contrato. Um ano. Um milhão. Ele ergueu o envelope, balançando levemente diante dela. — Interessa? E foi aí que o mundo de Valentina realmente desabou. Valentina riu. Não porque achou graça. Mas porque o mundo inteiro parecia uma piada mal contada. — Você só pode estar brincando. — disse, afastando o envelope. — Eu não vou me vender. Eu não vou... — Não é venda. — Rogério interrompeu, com uma calma irritante. — É sobrevivência. Valentina deu um passo para trás. — Eu prefiro perder tudo. — Vai perder mesmo. — ele rebateu, rápido, cruel. — Inclusive o escritório do seu pai. Inclusive o apartamento. Inclusive o carro. Inclusive qualquer dignidade que ainda ache que tem. Ela respirou fundo. O peito parecia pequeno demais para tanto ar que faltava. — Eu trabalho. Eu resolvo. Eu dou um jeito. — Com quê? — Ele abriu os braços. — Você abandonou Harvard para voltar correndo enterrar seus pais. Jogou fora a oferta de uma firma internacional. E agora… — Ele bateu com o dedo no papel. — …vai descobrir que advogada brilhante nenhuma salva um cadáver financeiro. Valentina piscou várias vezes, tentando manter o pranto longe. — Eu… eu não sabia da dívida. Ele nunca me contou… — Porque ele sabia que você era igual a ele. — Rogério deu um sorriso enfurecedor. — Emocional. Inocente. Fraca. Foi aí que ela parou de recuar. — Não me chame assim. — disse, com a voz trincada. — Eu ainda sou uma Diniz. — É exatamente isso que me preocupa. — o tio rebateu. — Esse nome precisa ser limpo. E se você não conseguir levantar um milhão até segunda-feira, ele vai desaparecer. Ele apontou para a pasta: — Você tem três dias, Valentina. Três. Ou assina esse contrato, ou perde tudo. E deixe-me ser claro: eu não vou te salvar. Ela apertou os dedos ao redor da própria camisa. Ele estava certo em uma coisa. Ela não tinha dinheiro. Não tinha aliados. Não tinha tempo. E, pior: o pai dela tinha morrido deixando um vulcão em erupção no colo da filha. — Quem é o homem? — perguntou ela, num fio de voz. — Quem é esse… candidato tão interessado em comprar uma esposa? Rogério abriu um sorriso satisfeito. — Alguém que precisa de um casamento impecável. Muito mais do que você precisa de dinheiro. Valentina sentiu os olhos queimarem. — Quem? O tio entregou o envelope. — O nome está aí dentro. E confie em mim: você já conhece. As mãos dela tremiam quando abriu. O nome saltou como um disparo. RAFAEL MONTENEGRO. Por um instante, ela não respirou. Não piscou. Não existiu. Rafael Montenegro. O homem que nunca sorria. O homem que transformava empresas em impérios e pessoas em poeira. O homem cujo nome o país temia. O homem que seu pai detestava. — Você está… louco. — ela sussurrou. — Ele jamais... — Ele pediu especificamente por você. — Rogério cortou. Valentina sentiu o estômago revirar. — Isso é absurdo. Eu não conheço esse homem. — Ele te conhece. — Rogério rebateu. — Mais do que imagina. Ela deixou o envelope cair na mesa. — Eu não vou fazer isso. — Então perca o escritório do seu pai. — o tio respondeu, dando de ombros. — Perca tudo que ele construiu. Perca tudo que você é. Valentina fechou os olhos. Ela via a mesa do pai, os livros, o diploma em Harvard que ele guardava com orgulho, as conversas de madrugada sobre justiça, ética, propósito. O escritório era a única coisa que restava dele. Rogério percebeu a hesitação e atacou. — Se você disser não, eu assumo o controle integral da firma. — ele disse. — Vou vender cada arquivo, cada cliente, cada móvel. Vou apagar o nome Diniz das portas. Vai ser como se seu pai nunca tivesse existido. Um silêncio mortal caiu entre eles. Valentina levou a mão ao rosto, engolindo um soluço. — Por que você está fazendo isso comigo? Rogério inclinou a cabeça, como se estivesse entediado. — Porque você nasceu do homem errado, Valentina. Aquilo acertou mais fundo que qualquer dívida. Ela fechou o envelope com as mãos trêmulas. — Eu preciso… pensar. — Pense rápido. — o tio respondeu. — Três dias. Ela virou as costas e saiu — mas antes que chegasse à porta, a voz dele cortou o ar: — Ah, e Valentina? — Ele esperou até ela olhar por cima do ombro. — Rafael Montenegro não escolhe duas vezes. Ela deixou o escritório com o coração batendo tão forte que parecia querer fugir dela. Na calçada, o vento bateu no rosto dela. Mas não trouxe alívio. Trouxe a realidade. Três dias. Um milhão. A falência da família. O pai morto. O homem mais perigoso do país esperando uma resposta. E ela em ruínas. O mundo girou. Valentina apoiou a mão no carro estacionado, respiração curta, peito apertado. Uma lágrima caiu. Depois outra. Mas só essas duas. Porque a partir dali, tudo o que ela faria… seria lutar para sobreviver. E quando o telefone vibrou no bolso… Ela já sabia quem era. Rafael Montenegro.Os flashes ainda piscavam quando Rafael pousou a mão nas costas de Valentina.O sorriso dele continuava impecável frio, estudado, quase ensaiado até a última câmera ser desligada.Ela ainda sentia o calor do toque, mesmo depois que os jornalistas começaram a dispersar.Mas, assim que a porta de vidro se fechou atrás deles, o ar mudou.O silêncio veio primeiro. Depois, o frio.Rafael soltou a mão dela o toque desapareceu como se nunca tivesse existido.O corredor principal do Grupo Montenegro era largo, revestido de vidro e aço. O som dos passos ecoava com perfeição matemática, como se até o chão tivesse sido projetado para intimidar.O assistente de Rafael se aproximou, entregando-lhe um tablet.— Senhor, as ações subiram três pontos desde o início da coletiva. Disse, apressado.Rafael assentiu, o olhar já fixo na tela.— Confirme a reunião com o conselho às quatorze. E avise Clara para acompanhar a senhora Montenegro.Clara surgiu logo atrás deles, impecável, como se tivesse sido inv
A manhã começou fria, como se o próprio sol tivesse medo de atravessar as janelas daquela casa.Valentina acordou com o som de batidas suaves na porta três, precisas, impessoais.— São seis e trinta, senhora Montenegro. A voz de Clara era cortante, como sempre. — O senhor pediu que eu a lembrasse do café.Valentina piscou algumas vezes antes de responder. Dormira mal, quase nada. A cabeça latejava, o corpo ainda pesado da noite anterior.— Já estou me levantando.Clara entrou sem esperar convite. Carregava um cabide com um conjunto de roupas em tons neutros, tão elegantes quanto frios.— Escolha do senhor Montenegro. Disse sem emoção. Disse que o vermelho não combina com a imagem que deseja projetar.Valentina olhou o vestido, um bege que beirava o apagado.— Claro. murmurou, e começou a se trocar.Enquanto ela se arrumava, Clara circulava pelo quarto, ajustando pequenos detalhes: endireitou o vaso de lírios, alinhou o lençol, recolheu o copo d’água. Era como se cada gesto seu dissess
O relógio marcava 19h59 quando Valentina desceu as escadas.O som dos próprios passos ecoava pelo corredor, misturando-se ao murmúrio distante de vozes e talheres. O cheiro de vinho e carne assada dominava o ar.Naquela casa, até o jantar parecia uma encenação.O salão principal estava iluminado demais, como se a claridade fosse feita para expor imperfeições. Uma longa mesa de mogno ocupava o centro, coberta por velas, taças de cristal e guardanapos dobrados com precisão militar. Ao redor, a família Montenegro elegante, fria, mortal.Vittoria foi a primeira a notá-la.— Finalmente. Disse, erguendo o queixo. — Pensei que fosse se atrasar, mas talvez tenha aprendido alguma coisa nessa vida.Valentina forçou um leve sorriso, medido.— Boa noite. Respondeu, tentando manter o tom neutro.A mulher bateu levemente no ombro de um homem grisalho sentado à cabeceira.— Este é o patriarca da família, Augusto Montenegro. Apresentou. — Meu marido.O homem mal levantou os olhos do prato. O rosto ca
Rafael a observou com uma calma cortante.— Então eu te destruo, Valentina. Com a mesma elegância com que te dei o sobrenome.O vinho no copo dela tremeu, como se o próprio cristal tivesse sentido o impacto.A comida chegou, mas ninguém tocou.O silêncio entre eles não era vazio era vivo, elétrico.O garçom afastou-se rápido, como quem pressente o início de uma tempestade.Rafael tomou um gole de vinho e recostou-se na cadeira.— Não quero guerras, Valentina, não tenho tempo para brincar com você, tenho um império para gerir e você se lembre, seja a mulher perfeita diante das câmeras qualquer movimento em falso seu, você vai mais fundo do que um dia pensou em ir.— Então, não tenho escolhas?Ele sorriu, frio.— Não.Do lado de fora, a garoa engrossava. A cidade parecia desaparecer sob o vidro.Valentina observou o reflexo dele na janela imponente, seguro, e, ainda assim, humano o bastante pra revelar uma sombra de solidão.Por um instante, quis entender quem era o homem por trás do mo
O espelho refletia uma mulher que ela ainda não reconhecia.O cabelo preso em um coque rígido, a maquiagem leve escondendo a exaustão, o vestido bege de corte simples nada de véu, flores ou promessas. Era apenas um contrato vestido de cerimônia.O relógio marcava 8h. Faltava menos de uma hora.A casa estava silenciosa, como se até as paredes esperassem o desfecho. A pasta com o contrato repousava sobre a mesa, ao lado de uma xícara de café intocada.Valentina observou as próprias mãos por um instante. Estavam frias. As unhas curtas, impecáveis, como sempre. Mas tremiam.Pegou o celular, rolou mensagens antigas e parou na última foto com o pai: os dois no tribunal, sorrindo. Ele usava a toga, ela segurava o diploma de Harvard. O brilho nos olhos de ambos era o mesmo o brilho de quem acreditava na verdade.Ela quase riu. Verdade. Palavra bonita demais pra caber no mundo em que vivia agora.Um toque na campainha interrompeu o silêncio.Valentina olhou o relógio. 9:12h.Não esperava ningu
A noite não passou. Ela apenas se arrastou.O relógio marcava 5h17 quando Valentina desistiu de fingir que dormia. O apartamento estava mergulhado em uma penumbra úmida, o ar cheirava a café frio e arrependimento. Na mesa de centro, o contrato permanecia aberto, as páginas amassadas nas pontas pelos dedos inquietos.Lá fora, São Paulo ainda parecia dormir um silêncio sujo, cortado apenas pelo ronco distante de um carro ou por uma sirene solitária.Ela pensou em levantar, abrir a janela, deixar o vento entrar. Mas o corpo pesava demais, como se cada célula soubesse o que viria.A mente repetia o nome dele como um eco: Rafael Montenegro.A voz fria. O olhar que não vacilava. O jeito como ele a estudava sem pressa, como quem lê uma sentença já escrita.Valentina recostou-se no sofá e apertou o nó da gravata do pai que ainda usava como marcador dentro da pasta. “Justiça é o que se faz quando o mundo desaba”, ele dizia.Mas e quando o mundo desaba por dentro?As palavras do tio voltaram co





Último capítulo