Cap 6 Conflitos

Maicon Jhequison, vulgo MJ

Feito um otário emocionado, fui para o lado de fora da quadra, esperando que Victória preenchesse meus olhos com seu rosto de boneca e suas roupas esquisitas. Era um misto de bom e assustador o que eu sentia ao estar perto dela. Queria mostrar à Victória um lado meu que poucos conhecem precisava que ela curtisse o Maicon antes de conhecer o MJ.

Já a via se aproximando, com seu andar quase flutuante, vestindo um longo vestido florido. Quem, em sã consciência, vem assim para o samba? Ela era a mulher que conseguia fazer meu coração e meu corpo pulsarem no mesmo ritmo. Achei que, quando a visse chegar, minha ansiedade diminuiria, mas foi um erro enorme — assim que a vi diante de mim, tudo o que queria era me aproximar o mais rápido possível. Por sorte, parecia que ela tinha a mesma pressa, pois acelerou o passo na minha direção.

— Vim ver com meus próprios olhos. — Quenedi chegou estragando a cena. — Um pouco magra... — disse, analisando Victória de cima a baixo, com um olhar sujo. — Será que ela vai dar conta de nós dois?

A raiva subiu pelo meu corpo como um soco no estômago. Me segurei para não desfigurar a cara dele na hora. Fiz um sinal para que Victória não viesse até mim e empurrei Quenedi pelo peito, arrastando-o até um terreno baldio próximo da quadra.

— Tu perdeu a noção, caralho? — Cuspi as palavras, dedo em riste na cara dele.

— Eu perdi a porra da noção? — gritou indignado. — Você tem um império e fica arriscando tudo para brincar de ser músico e se envolver com uma puta do asfalto. Anda disperso no movimento, enfiado no celular o tempo todo!

— Abaixa o tom de voz, porra. — Minha voz saiu grave, ameaçadora. — O que faço da minha vida é problema meu. E nunca mais fala assim dela.

— Não é só problema seu! Tá arriscando a sua realidade e a de todo mundo pra viver de ilusão... e ainda se envolvendo com uma bunduda seca e branca, que nem em sonho aguentaria nós dois.

Num impulso, segurei a corrente de ouro que ele usava e apertei tão forte que o cordão começou a sufocá-lo.

— Está tudo bem por aqui? — A voz de Victória me gelou a espinha. Soltei Quenedi, que se curvou tossindo. O que diabos ela veio fazer aqui?

— Ora, ora... a vadia chegou pra festinha — murmurou ele, ainda ofegante.

Não sei o que me deu mais raiva: as palavras dele ou o fato de ela ter me seguido, mesmo depois de eu pedir que se afastasse.

— Porra! O que você veio fazer aqui? — minha voz saiu como um rugido.

Os olhos dela brilharam com uma mistura de espanto e tristeza.

— Deixa a madame do asfalto, ela tá querendo — provocou Quenedi.

— Cala a boca, Quenedi! — rosnei.

Ela não disse nada, apenas girou nos calcanhares e saiu a passos firmes de volta para a quadra.

— Seu imbecil! — joguei no rosto dele antes de ir atrás dela.

Quando saí do terreno baldio, ela já caminhava rente à parede. Corri para alcançá-la, antes que chegasse aos amigos.

— Victória... espera! — chamei, mas ela não olhou para trás. — Victória, me ouve!

Ela já ia atravessar a viela que dava para a quadra quando me coloquei ofegante à sua frente.

— Quer me deixar passar? — perguntou, ríspida.

— Eu tô me esgoelando aqui, pedindo pra você parar. Preciso explicar.

— Primeiro: meu nome não é Galega. Segundo: você não manda em mim. Terceiro: não tem nada pra me explicar. Pra mim, já tá claro.

— Pode me ouvir, caralho?

Ela suspirou, relaxando os ombros. — Fala.

Mas eu não ia explicar nada. Tinha um jeito melhor de acabar com aquilo. Envolvi seu corpo pequeno nos meus braços e a prensei contra o muro, erguendo-a do chão. Não lhe dei tempo para recuar: com toda a urgência que fervia em mim, tomei sua boca. No começo ela relutou, mas logo suas mãos apertavam meu pescoço, me puxando para mais perto, intensificando o desejo de aprofundar o beijo.

Quando fui soltando seus lábios, ela recuou, voltando os pés ao chão.

— Que isso? Grita comigo e vem me agarrar? — reclamou.

— É... eu... não sei como falar... — gaguejei, tentando encontrar as palavras. — Foi mal.

Ela me olhou com frieza. — "Foi mal" é um pedido de desculpas?

Assenti.

— Ok. Desculpado. Agora me dá licença, meus amigos devem estar preocupados. — Ela passou por mim, mas a segurei pelo braço.

— Me solta — disse, seca.

Segurei firme, tentando ser sincero. — Fiquei com medo. Queria que saísse dali o mais rápido possível. Eu tô amarradão em você, Victória. De verdade. Não me perdoaria se algo acontecesse contigo.

O olhar dela mudou. — Aquele homem é um bandido? Tá te incomodando?

Cocei a cabeça. Afinal, ele era meu meio-irmão e o próprio bandido.

— Você é um artista, um músico. Sai daqui e denuncia esse...

— Para! — interrompi. — Denunciar ninguém. Ele tem as quebradas dele, tá ligado? Foi só uma discordância. Já foi resolvido.

— Não entendo... disse que teve medo por mim. Pensei...

— Pensou errado. — Cortei. — A favela é escura. Tive medo de você andar sozinha por esses becos. Só isso. Agora... podemos nos divertir?

Ela meneou a cabeça positivamente, com um meio sorriso. Segurei seu queixo, fazendo um bico, e beijei sua boca com força. Depois, de mãos dadas, seguimos para a quadra da Faz Quem Pode.

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