Fernanda é uma das melhores escritoras de romance da sua atualidade. Ela passa horas e horas dentro do seu quarto apenas vivendo o mundo imaginário dos seus personagens. Mas tudo muda quando, ao terminar mais uma história de amor, ela desmaia de exaustão e e então acorda dentro da sua própria história… não como a heroína, mas como a vilã! Presa em um universo que ela mesma escreveu, Fernanda agora precisa encontrar uma maneira de se salvar do próprio fim trágico que destinou para sua vilã. A morte. Será que ela se salvará? Ou vai acabar seguindo os passos de Lady Beatrice, a mulher cruel, manipuladora e calculista que ela mesmo criou para separar os dois protagonistas destinados a ficarem juntos?
Ler maisAlguns dias se passaram e chegou finalmente o dia do baile. Nos vilarejos e na capital não se falava em outra coisa. Por sorte, Lady Beatrice, há muito tempo, já tinha pelo menos umas cinco opções de vestidos, eu nunca teria cabeça para pensar em algo assim.- Qual você escolherá, minha lady? - disse, Olga, minha empregada pessoal. Descobri o nome dela ao ver ela conversando com as outras empregadas, mas quando a chamei assim, ela estranhou. Imagino que não fosse do feitio da Beatrice original chamar os servidores da casa pelos seus próprios nomes. Olho os vestidos cuidadosamente. O primeiro que noto é um vestido de seda na cor azul-celeste, com mangas bufantes e rendas em suas barras. É bem ajustado na parte de cima, afinando ainda mais a silhueta de uma mulher, mas logo abaixo da cintura fluia solto até o chão. Simples, mas muito elegante. - Esse não! - digo a Olga.Eu sei bem que vestido escolherá Lady Arabelle e será justamente um nessa mesma cor. Olga entrega o vestido a outra
Jamais imaginei que Thomas um dia chegaria a fazer uma atrocidade dessas, ele sempre foi o mais contido entre nós. Lady Beatrice o olha partir com seu sorriso na cara ainda, como se nada tivesse acontecido. Ela não parece ter ficado triste ou com medo pela atitude violenta de Thomas. Ela é estranha, mas de alguma maneira, fascinante. Seus olhos finalmente me encontram e seu sorriso muda drasticamente para um mais gentil. - O que acha da gente caminhar um pouco, Conde James? - me pergunta. Não sei se eu quero, mas sinto-me na obrigação de permanecer ao lado dela por um tempo, apenas para certificar-me de que ela está bem. Ela caminha com um certo desconforto, devido ao vestido pesado. Vez ou outra levantava a barra do vestido para evitar tropeços. É como se ela não soubesse se portar como deveria. O jeito que ela fala, a maneira como esquece de ser cordial em suas palavras ou como esquece de mostrar respeito, não parece ser modos de uma dama. Mas não parece que ela faz a propósito
Com cada nova palavra que saia da boca da Lady Beatrice, mas irritado eu ficava. Parece que ela faz de propósito.- O que eu não sei? - repete James, me olhando com indagação.Lady Beatrice apenas sorri, satisfeita. É como se ela gostasse de ver o caos. Ela não parece ter medo do perigo e nem hesita em suas palavras.- Não é nada… - digo, não querendo dar nenhuma explicação.James entende o recado, mas fica frustrado, com certeza vai querer saber mais detalhes depois.- Era só isso? - digo a ela, rispidamente - A minha resposta continua sendo a mesma.Me levanto, sem esperar por respostas e começo a me retirar.- Espera! Eu sei de algo que vai te interessar mais do que isso, então… - diz ela, elevando sua voz.Ela não se cansa. Persistente como um lobo faminto. Continuo caminhando sem dar atenção. Os palhaços gostam quando atiramos pão para eles e eu não estou disposto a bancar esse circo.- É sobre o seu pai! - ela grita.Dessa vez, sim, eu paro. Ouço seus passos atrás de mim, apress
- É como dizem, se Maomé não vai à montanha, então a montanha vai até Maomé. - digo a mim mesma, em meu momento eureca.Se o meu fim trágico como Lady Beatrice é a morte, então eu só preciso forçar a história a mudar. E como vou fazer isso? Com essas informações perfeitas que a Beatrice original me deixou. Eu vou chantagear o Thomas e ele não vai ter escolha a não ser ir ao baile comigo. - Uohohoho - solto uma risada maquiavélica, me divertindo com a ideia. Até que não é tao ruim ser uma vilã assim.Saio da minha habitação e toco a porta do quarto ao lado. Nenhuma resposta. Toco novamente. Nada. Quando decido girar a maçaneta para ver se tem alguém ali, Thomas aparece na minha frente.- O que faz aqui, senhorita? - me pergunta, franzindo o cenho, confuso. Lanço a ele um sorriso triunfante e coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, fazendo charminho.- Duque… querido Duque. Posso entrar? - pergunto com doçura - Conversar parada na porta não dá!- A senhorita quer entrar no me
Me desperto como uma princesa, literalmente. A cama é maravilhosa, o barulho de pássaros soa alto lá fora, e um lindos raios de sol entra pela minha janela. - Então é assim que é viver como alguém podre de rico? - me questiono a mim mesma. Uma leve curiosidade surge em mim quanto aos vestidos de Lady Beatrice, então começo a recorrer pelo seu guarda roupa, escolhendo um belo vestido para usar. As portas rangem um pouco ao serem abertas e logo vejo: fileiras impecáveis de vestidos alinhados por cor, tecido e ocasião. Tudo tão organizado que é até satisfatório de olhar. Logo, aquela mesma empregada entra no quarto, correndo em minha direção.- Eu te ajudo a se vestir… minha Lady. - disse ela, tomando o vestido da minha mão. Suspiro. Mas nego com a cabeça.- Não precisa, mas obrigada. - digo a ela. A ideia de ter alguém com quem eu não tenho intimidade me vendo pelada não me atrai. - Mas é o meu trabalho… Senhorita. - retruca ela. - Por acaso a Senhorita está doente? Nunca recusou
Após a minha breve conversa com os protagonistas, cada um seguiu seu rumo, entrando em seus devidos quartos. Percebo que a história continua seguindo seu curso, já que eles realmente não irão me acompanhar no baile. Começo a andar no meu quarto de um lado ao outro. - Desse jeito eu vou acabar morrendo… de novo. Preciso logo dar no pé. - digo as paredes, em total desesperação.Mas o que mais me deixa intrigada é o fato de sentir que não tenho controle sobre minha própria história. Tento me lembrar do que eu havia escrito e percebo que minha memória está começando a falhar, como se eu não pudesse ter nenhuma vantagem sobre os outros personagens. Seria isso algum efeito colateral de estar aqui? Ou o próprio livro está me forçando a atuar como a vilã?Procuro por um papel e uma caneta, e, assim que os acho, me sento onde Lady Beatrice costuma se sentar para arrumar os cabelos e passar maquiagem.- Vamos ver… o que eu sei? - coloco o papel sobre a madeira, apoiando-o e anoto algumas infor
Coloquei gentilmente sobre a cama a Lady Beatrice, que fingia, e muito mal, estar desmaiada. Mas algo nela está diferente, parece realmente estar um pouco louca da cabeça. - Quando o médico irá chegar? - perguntou o senhor Montrose preocupado.Ele anda de um lado para o outro olhando sua filha deitada na cama. Uma de suas empregadas se aproxima e começa a falar:- Senhor, o médico disse que devido à tormenta, somente poderá vir amanhã… - suas palavras soam impecáveis. Observo mais um pouco ela enquanto o senhor Montrose está entretido com o falso desmaio de sua filha. A empregada tem um rosto delicado, uma pele levemente bronzeada e um busto acentuado. Ela nota meus olhares, sorri discretamente, mas logo se retira. Lady Beatrice continua com seus olhos fechados, mas certamente prestando atenção na conversa. Ela ao contrário da emprega que é bonitinha, é de uma beleza estonteante, seus cabelos negros combinam bem com sua pele pálida. Me afasto dela. Não é de bom tom para uma dama um
Me sento e olho para os dois, com certa curiosidade. De fato, eles são ainda mais lindos do que eu havia descrito em meus livros. Em pensar que fui eu que os criei, me deixa até orgulhosa. Thomas é a representação da noite. Ele é alto, forte, ombros largos, seus cabelos são negros, olhos azuis como o mar, nariz reto e maxilar marcado perfeitamente. Um Deus Grego.Antes de assumir o título de Duque de Ravenshire, ele passou anos lutando junto ao exército de Sua Majestade, o que o ajudou a ter um corpo que é de dar água na boca. O criei para saber ler as intenções das pessoas como se tivesse lendo um mapa de guerra. Tristemente ele teve que voltar para suas terras, mas não como um herói e sim como o herdeiro responsável, já que seu irmão mais velho acabou morrendo de uma doença sem cura. Me sinto mal pela história que inventei para ele. Noto em seu olhar a frieza e a solidão que eu mesma queria que existisse. Pobre Thomas! Perdeu a mãe, o irmão… e logo perderá o pai também. Seus olhos
Eu nunca acreditei muito no supernatural, cresci aprendendo que a gente deve acreditar naquilo que a gente vê, naquilo que faz sentido e tudo que não tem sentido tem uma explicação logica por trás, mas o que eu estou fazendo no corpo da vilã do meu próprio livro?Me olho no espelho sem acreditar. Há apenas algumas horas eu havia acabado de escrever o último capítulo da minha história e logo depois o que aconteceu? Acho que comecei a sentir uma leve dor no peito, cansaço, não era isso? Para terminar a história mais rapidamente, eu estava tomando bastante remédios para ficar acordada… Meu Deus, será que morri e possui o corpo da minha vilã?Me olho no espelho mais uma vez, ainda sem acreditar que eu agora sou a Beatrice Montrose. Seus cabelos são negros e ondulados que chegam a cintura, seus olhos têm uma tonalidade de verde musgo, um nariz empinado e uma boca carnuda de dar inveja. Seu corpo é escultural. Claro, a criei para ser uma obra de arte, mas uma obra de arte que será morta po