Dr. Rafael Moretti é um cirurgião brilhante, temido por sua frieza e adorado por sua precisão. Helena Ferreira, enfermeira destemida, é a única que não se curva ao seu ego — e isso desperta mais que irritação. Quando uma tragédia abala o hospital, os dois são forçados a confrontar suas próprias feridas. A tensão entre eles, antes contida em trocas afiadas, se transforma em uma atração incontrolável. Unidos por perdas, traumas e desejos não ditos, Rafael e Helena descobrem que, por trás da dor, pode haver algo mais poderoso do que a própria razão. Entre bisturis e segredos, o amor pode ser o mais arriscado dos procedimentos.
Leer másHelena Ferreira passou pela porta do centro cirúrgico com os nervos à flor da pele. O hospital tinha sido seu novo lar nos últimos seis meses, mas a unidade de cirurgias era um território desconhecido para ela. Ela já tinha lidado com emergências e situações de risco, mas trabalhar ao lado de um cirurgião tão renomado e meticuloso quanto o Dr. Rafael Moretti, com sua reputação impecável, era uma realidade desafiadora.
Ela ajustou a máscara sobre o rosto, sentindo o cheiro característico de álcool e antisepsia no ar, e seguiu para a mesa de operações. A sala estava fria, iluminada por lâmpadas fluorescentes que faziam a pele pálida dos pacientes refletir de forma quase fantasmagórica. Helena passou a mão pelos cabelos presos em um coque e olhou para a figura que dominava o ambiente. Dr. Rafael Moretti estava de pé, como uma estátua de pedra, com as mãos cruzadas sobre o peito, observando a equipe se preparar para a cirurgia. Sua postura era rígida, impecável, e seus olhos pareciam afiados o suficiente para cortar o ar. Helena sabia que ele era conhecido por sua habilidade excepcional em cirurgias, mas também por sua atitude inflexível e perfeccionismo. E naquele momento, ela sentia o peso da sua presença como se ele estivesse avaliando cada movimento dela. — Enfermeira Ferreira, você já conferiu a dosagem do anestésico? — A voz de Rafael ecoou pela sala, fria e autoritária. Helena se virou com um olhar rápido, um pouco mais impaciente do que deveria. Ele sempre falava com aquele tom impositivo, como se ela fosse um simples acessório na sala de cirurgia, um peão no tabuleiro. Ela sabia que o respeito por sua habilidade era inegável, mas ninguém jamais a havia tratado com tanta distância, tanta certeza de sua própria superioridade. — Sim, Dr. Moretti, está tudo em ordem — ela respondeu, tentando manter a calma. Não seria hoje que ele conseguiria intimidá-la. Ele a observou com uma precisão quase cirúrgica, seus olhos profundos analisando cada movimento que ela fazia. Para um homem que parecia tão calmo por fora, havia algo inquietante na maneira como ele a estudava. Helena tentou desviar o olhar, mas sentiu a tensão subir na sala. O silêncio entre os dois ficou quase insuportável. — Vejo que você é rápida, mas cuidado. Aqui não há espaço para falhas — ele disse, com a voz baixa, mas carregada de uma ameaça velada. — O erro de um médico pode custar uma vida. E não tolero erros. Helena sentiu a ponta da irritação surgir. Ele pensava que ela era como qualquer outra enfermeira que aceitava suas ordens sem questionar? Se ele achava que a intimidaria com aquele ar de superioridade, estava redondamente enganado. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. — Eu entendo a importância da precisão, Dr. Moretti. Mas não pense que sou nova neste jogo — ela retrucou, sem hesitar. — E se há algo que você deveria aprender, é que uma mão firme pode se tornar uma mão fraca se pressionada demais. Ele a observou em silêncio por um momento, e Helena sentiu uma onda de tensão crescente entre eles. Ela estava ciente de que, como enfermeira, deveria se manter no lugar, mas algo naquele homem a desafiava. Algo em sua postura, no jeito como ele parecia se considerar intocável, despertava uma necessidade de fazer com que ele percebesse que não poderia tratá-la como uma subalterna qualquer. A cirurgia teve início, e com a precisão que só ele possuía, Rafael iniciou os cortes com uma destreza impecável. Mas, mesmo enquanto ele se movia com uma precisão que fascinava todos ao redor, Helena não pôde deixar de notar o modo como ele parecia desconectado, como se estivesse ali fisicamente, mas emocionalmente distante. Ela sabia que ele era um homem fechado, mas algo em sua frieza fazia a tensão entre os dois se intensificar ainda mais. Ela continuou a monitorar os sinais vitais do paciente com cuidado, seus olhos frequentemente se voltando para ele, que parecia ter uma calma sobre-humana. Seus movimentos eram tão meticulosos que ela não conseguia deixar de admirar sua habilidade. Mas havia algo mais, algo que ia além da técnica. A distância entre eles parecia um muro invisível, mas também era uma linha tênue entre admiração e algo mais. Algo que ela ainda não sabia definir. A cirurgia seguiu com sucesso, e o ambiente tenso foi suavizado quando Rafael anunciou que o procedimento havia terminado. Mas, ao invés de um gesto de aprovação, ele apenas olhou para a enfermeira com o mesmo ar de superioridade. — Vamos ver como o paciente reage. A recuperação dele dependerá de muitos fatores. Fique atenta — disse ele, sem mudar a postura. Helena respirou fundo, tentando controlar a raiva que começava a se acumular dentro de si. Ele achava que tinha o controle de tudo. Ela sabia que ele era bom, talvez até o melhor cirurgião que ela já vira, mas o que realmente a incomodava era a maneira como ele parecia acreditar que sua habilidade o fazia superior aos outros. Ela não precisava de elogios, mas um simples reconhecimento, nem que fosse um olhar de respeito, parecia pedir demais. — Vou observar, Dr. Moretti. Mas, se me permite, acho que você deveria deixar os outros ajudarem mais. Às vezes, você não precisa fazer tudo sozinho — ela disse, já se afastando da mesa de operação, seu tom firme e desafiador. Ele a encarou por um segundo, e pela primeira vez, seus olhos pareciam ter uma intensidade diferente, algo que ela não soubera identificar antes. Era quase como se, por um momento, ele estivesse interessado no que ela tinha a dizer. Mas, como sempre, ele se manteve impassível. — Fazer tudo sozinho é uma habilidade que você vai aprender com o tempo. Mas a experiência nunca vem sem sacrifícios — ele respondeu, sua voz carregada de algo que ela não conseguia decifrar. Enquanto Helena deixava a sala, um sentimento estranho se formou em seu peito. Havia algo nesse homem, algo que a atraía e a repelía ao mesmo tempo. Ela sabia que essa relação não seria fácil, mas algo em seu íntimo dizia que ele, por mais que tentasse manter o controle, também estava lidando com algo profundo e pessoal. E talvez, no fundo, isso fosse o que mais a intrigava. Ela mal sabia, mas essa primeira incisão nas palavras e nas ações de ambos seria apenas o começo de algo muito mais complexo, doloroso e, talvez, irresistível.Era um dia claro e ensolarado, típico de uma primavera radiante. **Helena** caminhava pelo jardim da casa que ela e Rafael haviam comprado pouco depois do casamento, um lar acolhedor, com uma vista de tirar o fôlego para as montanhas e o rio que serpenteava ao longe. O aroma das flores preenchia o ar, e o som dos pássaros cantando trazia uma sensação de paz que ela ainda se maravilhava em experimentar todos os dias. Ela tocava suavemente sua barriga crescente, sorrindo com a suavidade do momento. **Rafael** estava ao seu lado, com os olhos sempre atentos a ela, sempre presente, como sempre. A vida deles havia tomado um rumo inesperado, mas perfeitamente alinhado com o que ambos sempre precisaram: amor, paciência e a certeza de que as cicatrizes do passado poderiam ser curadas quando se tinha alguém para caminhar ao lado. — "Eu ainda não consigo acreditar, sabe?" Helena disse, rindo baixinho enquanto olhava para Rafael. "Parece que foi ontem q
O sol começava a subir no horizonte, tingindo o céu de tons dourados enquanto Helena e Rafael acordavam na tranquilidade do quarto, rodeados pela beleza inalterada da ilha de Santorini. O cheiro do mar invadia pela janela, trazendo com ele uma brisa fresca que dançava sobre a pele deles.Naquele momento, o mundo parecia ser apenas aquele quarto, aquela ilha e o amor que florescia entre eles. Nada mais importava. Nem o peso das responsabilidades, nem as dores do passado. O futuro parecia um campo em branco, pronto para ser preenchido com o que viesse.Rafael olhou para Helena, que ainda estava de olhos fechados, um sorriso suave nos lábios. Ele a observava com uma calma que não sabia ter, sentindo a paz de finalmente entender que a vida, com todas as suas complexidades, poderia ser boa. Poderia ser simples, leve, e cheia de momentos como aqueles.Helena, sentindo o olhar dele, abriu os olhos lentamente e encontrou o olhar de Rafael. Não precisaram de palavr
A manhã nasceu calma, como se o próprio mundo sussurrasse que aquele era um dia especial. As nuvens, antes carregadas de lembranças amargas, haviam cedido lugar a um céu limpo, azul-claro, com o sol banhando suavemente o jardim do hospital.Pássaros pousavam nos galhos altos como se fossem testemunhas silenciosas do recomeço.O cenário era simples, mas carregado de sentimento. Entre árvores altas e lençóis brancos pendurados como véus dançantes ao vento, as cadeiras estavam alinhadas com pétalas de peônia espalhadas pelo caminho central. O arco de flores, cuidadosamente preparado por Clara e os enfermeiros, emoldurava o altar com tons de rosa, branco e verde. Tudo pulsava como um coração que finalmente se acalmara.Rafael, de pé ao lado do Dr. Salomão, vestia um terno cinza claro. Nada pomposo. Mas ele nunca estivera tão bonito. Não era o corte do terno — era o brilho nos olhos. Era a paz, depois da tempestade. O amor, depois da dor.Do outro lado
Era uma manhã clara, e o hospital começava a vibrar com o vai e vem apressado dos corredores. Rafael voltava de uma cirurgia quando Clara se aproximou com um olhar grave, segurando uma prancheta.— “Chegou um novo caso. Uma jovem, 19 anos. Parada cardíaca após um desmaio em casa. Conseguiram reanimá-la, mas... o coração dela está falhando rápido demais. Estamos tentando estabilizar.”Rafael sentiu um frio na espinha. Casos cardíacos sempre mexiam com ele, mas havia algo no tom de Clara que o fez desviar imediatamente para a UTI.A paciente, Ana Beatriz, era uma bailarina. O rosto ainda carregava traços delicados de maquiagem de ensaio. Helena, que fazia uma visita de acompanhamento, parou ao lado da maca e viu os dedos da garota ainda sujos de pó de giz, como se estivesse ensaiando instantes antes de tudo apagar.— “Ela sonhava com uma audição internacional... amanhã,” murmurou a mãe da jovem, os olhos vermelhos de tanto chorar. “Sempre foi tão ch
O sol filtrava-se pelas persianas do quarto, banhando Helena em uma luz dourada suave. Ela piscou lentamente, os músculos do corpo ainda pesados, como se cada movimento exigisse um esforço descomunal. Rafael estava ao seu lado, segurando uma xícara de café frio, os olhos atentos a cada respiração dela.— “Bom dia, dorminhoca,” — ele disse com um sorriso suave.— “Bom dia...” — ela respondeu, mas sua voz parecia carregada. Não apenas de sono, mas de algo mais fundo: de peso.A fisioterapeuta chegou pouco depois, e com delicadeza explicou os próximos passos. Helena teria que reaprender a andar com firmeza, fortalecer os músculos enfraquecidos pela imobilidade. Mas era mais que isso — ela teria que enfrentar os próprios medos. O trauma.Nos primeiros dias, Rafael a ajudava a se sentar, a levantar com apoio. Cada avanço era celebrado com um beijo. Mas a cada falha, Helena sentia o coração apertar.— “Você não precisa ter pressa,” ele dizia.—
Os dias se alongaram como sombras, e o tempo, antes dividido em plantões e cirurgias, agora era marcado pelos horários da medicação, pelas visitas permitidas, pelas batidas intermitentes dos aparelhos monitorando o corpo de Helena.Rafael já não sabia mais qual dia da semana era. A luz do sol entrava pela janela do quarto como um intruso indiferente. Ele só sabia que Helena ainda dormia.E que cada segundo sem ela era um tormento.Ele não atendia ligações. Não respondia mensagens. Os colegas do hospital tentavam continuar a rotina, mas todos sentiam o buraco que a ausência de Rafael e Helena deixava. Clara passava todos os dias para tentar convencê-lo a comer, a dormir algumas horas. Às vezes ele aceitava. Na maioria das vezes, não.Na terceira noite, Rafael viu algo.O dedo mínimo da mão direita dela se moveu.Foi como um raio atravessando seu peito. Ele gritou por uma enfermeira, médicos correram, fizeram exames. O movimento nã
Último capítulo