Narrado por Dione Baranov
“Há espelhos que não refletem, apenas condenam.”
Eu não entendia o que estava acontecendo comigo desde o momento em que Zalea foi sequestrada. Desde o instante em que vi o desespero nos olhos de Leonid. Não era raiva o que crescia dentro de mim. Não era medo, nem dor.
Era algo mais pérfido.
Era inveja.
Era desejo.
Um desejo que me roía em silêncio como uma traça faminta roendo um vestido de festa esquecido no escuro. Um desejo que me dizia o que eu nunca quis admitir:
Eu queria estar no lugar dela.
Em outros tempos, se eu quisesse, teria me tornado a esposa de Leonid Raskolnikov. Eu era bonita o suficiente, jovem o bastante, perigosa no ponto certo. Ele me olhava, sim. Mas eu, orgulhosa, escolhi Ivan. O homem poderoso. O pai de Zalea. O predador envolto em seda.
Ivan Baranov nunca soube amar, mas ainda assim… havia algo em nossa cama que me fazia permanecer. Um domínio bruto, um gozo sem ternura. Ele satisfazia meu corpo, mas nunca tocava minha alma.
E agora