Narrado por Leonid Raskolnikov
Havia algo errado no ar.
Não era o frio cortante de abril nem o peso do passado que sempre carregava nos ombros — era algo mais sutil, mais íntimo. Como um sussurro fora de lugar numa sala de veludos e silêncio.
Eu senti o distúrbio quando Zalea saiu do salão.
E mais ainda quando, segundos depois, Dione a seguiu.
Me levantei sem dizer palavra, como quem responde a um chamado ancestral.
Os olhos da minha avó me seguiram com a mesma sabedoria que ela usava para enxergar a morte nas paredes.
Mas ninguém me impediu.
Cruzei o corredor.
Pisei no mármore, depois na madeira, depois na pedra gelada da varanda.
E então, me escondi entre as colunas do jardim.
Elas estavam ali.
Duas figuras femininas — uma pálida como a lua em seu luto, a outra envolta num casaco claro que contrastava com o céu noturno.
Mas foi a voz de Zalea que me fez parar.
Afundei no escuro como um espião do próprio destino.
E escutei.
— Eu acabei de voltar das sombras — disse Zalea — e pensei