Vozes que queimam

Narrado por Leonid Raskolnikov

A madrugada não tinha mais silêncio.

Agora ela gemia em tons agudos — às vezes Anya, às vezes Nazar, às vezes os dois em um dueto capaz de despertar até os fantasmas da casa.

Eu andava descalço pelos corredores, os olhos queimando de cansaço, o corpo latejando com lembranças de tiros e dores antigas, mas… não reclamava.

A cada choro, eu ia.

A cada suspiro trêmulo, eu estava lá.

Zalea tentava dormir o que conseguia. Seus olhos ainda traziam sombras que nem o tempo apagara. Mas ela sorria mais. E isso… isso era um milagre em si.

Entre mamadeiras e fraldas, entre cantigas sussurradas e promessas noturnas, minha mente vagava. E sempre acabava no mesmo lugar: as cartas.

As cartas de Dione.

Trancadas em uma gaveta secreta, no fundo do meu escritório, elas me encaravam cada vez que o mundo se aquietava. Letras tortas, tinta borrada — um teatro sombrio disfarçado de consolo.

Dione escrevera como quem se pendura entre o luto e o delírio. Mas havia algo ali… algo
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