Ela só queria salvar o irmão. Ele, manter o coração blindado. Endividada e desesperada, Defne Topal aceita uma proposta inusitada de Neriman İplikçi: conquistar o sobrinho rico e solitário, Ömer, designer de calçados de renome, e fazê-lo se apaixonar. Tudo para pagar a dívida que ameaça seu irmão, Serkan. Mas o plano se complica quando Defne reconhece Ömer como o homem que, meses antes, fingiu ser seu namorado em uma situação constrangedora — e que ela esbofeteou sem pensar duas vezes. Agora, ela será sua assistente, com uma missão: seduzir sem se apaixonar. Num universo feito de tecidos finos, silêncios cortantes e olhares proibidos, Defne mergulha em uma jornada onde cada passo pode ruir a verdade que tenta sustentar. Rivalidades surgem, sentimentos se confundem, e segredos se tornam desafios. No coração vibrante de Istambul, entre promessas e enganos, ela precisará descobrir se é possível viver um amor... que nasceu sob contrato.
Leer másIstambul fervilhava sob o sol tardio quando Defne Topal equilibrava uma bandeja de cafés e preocupações crescentes. No bistrô onde trabalhava, entre risadas apressadas de clientes e o aroma de cardamomo, ela tentava ignorar o celular vibrando no bolso.
“Eles disseram que vão quebrar minhas pernas. Me ajuda.” Era seu irmão, Serkan. Impulsivo, teimoso, e agora encurralado por agiotas.
Naquela noite, uma mulher entrou no restaurante com uma presença cortante: vestido impecável, joias discretas e olhar cirúrgico. Neriman İplikçi, rica e estrategista, estava ali por um motivo.
— Você é Defne Topal?
— Sou.
— Quero fazer uma proposta. Um contrato.
— Que tipo de contrato?
— Quero que você conquiste meu sobrinho, Ömer İplikçi. Faça ele se apaixonar. E então desapareça.
Defne recusou, firme.
— Isso não é certo.
— Ele precisa de alguém como você. Alguém que desarme. Você é caos. Ele é controle.
Mas Defne não se vende fácil.
Nos dias seguintes, a pressão aumentou. Serkan foi ameaçado. Agiotas surgiram no bistrô. Sem alternativas, Defne ligou para Neriman.
— Se ainda quiser... eu aceito.
Neriman a preparou como quem cria um personagem: vestuário, postura, vocabulário, até os detalhes que Ömer valorizava.
A missão estava desenhada. Defne seria inserida na empresa İplikçi Shoes como assistente — mas sua função era emocional.
No primeiro dia, ao empurrar a porta de vidro da sala de criação, lá estava ele.
O homem do beijo improvisado. Do tapa. Agora, o chefe.
— Você...
— A garota do tapa.
— E agora minha assistente?
— Parece que o destino gosta de ironias.
A sala de criação da İplikçi Shoes era mais santuário do que escritório. Cada protótipo, cada curva de sapato, cada textura carregava um detalhe emocional — mas escondido sob camadas de perfeição estética.
Ömer İplikçi não sorria. Não elogiava. Observava como quem procura falhas humanas.
Defne Topal, sua nova assistente, tentava navegar esse labirinto. Sob os olhos de Yasemin, diretora de criação elegante e exigente, e Sinan Karakaya, sócio extrovertido e charmoso, ela descobria aos poucos que ali, cada passo errado tinha consequências silenciosas.
Durante uma reunião, Defne errou uma nomenclatura de tecido. Ömer não gritou. Mas seu olhar deixou claro: ele odiava improvisações.
— Se não souber, pergunte. Não invente.
Na pausa do café, Sinan tentou amenizar.
— Ele não era assim. Mas foi traído. Pessoal e profissionalmente.
— E agora?
— Agora ele fecha portas antes que alguém tente abrir.
Defne engoliu a culpa. Sabia que o plano de Neriman era exatamente o tipo de mentira que Ömer destruía. Mas ela precisava proteger Serkan. Só que cada dia ali, com Ömer, entre tensão e admiração, seu coração começava a colidir com o contrato.
Ömer andava como quem nunca tropeçava. Seus olhos cortavam mais que palavras. Para ele, trabalho não era rotina — era refúgio.
Defne tentava se manter profissional. Mas tudo nele a deixava inquieta.
Durante uma reunião, ela apresentou uma sugestão ousada de amarração em sapato feminino. Yasemin aprovou, Sinan elogiou, mas Ömer virou a folha.
— Não é inovação. É repetição.
Mais uma marca no ego. Mais uma dúvida plantada.
Sinan se aproximou.
— Para ele, tudo é pessoal. Mas só revela isso quando já não é seguro.
— Então talvez eu não esteja segura.
— Ninguém está, perto demais.
Naquela noite, Defne ainda revisava esboços quando Ömer apareceu:
— Você devia descansar.
— Só queria entender melhor os detalhes da costura interna.
— Isso não é sua função.
— Achei que fosse minha responsabilidade me preparar.
— Preparação exige intenção. Não curiosidade.
A tensão entre eles era espessa. E pela primeira vez, Ömer se aproximou com menos rigidez.
— Por que você realmente está aqui, senhorita Topal?
Ela hesitou. Sorriu com firmeza.
— Para aprender. E talvez... para te incomodar um pouco.
Ele arqueou uma sobrancelha, quase curioso.
— Incomodar é o primeiro passo para provocar mudança. Mas mudanças... cobram caro.
Ela saiu da sala com o coração em chamas. Pela primeira vez, não sabia se o contrato ainda era o problema — ou se o problema era o que ela começava a sentir.
Era uma terça-feira comum, dessas em que o céu não se decide entre o azul e o cinza. Defne caminhava pelo centro antigo, onde as calçadas pareciam saber mais histórias do que qualquer livro já escrito. Entrou num café que nunca tivera coragem de visitar — não por medo do lugar, mas porque as vitrines guardavam memórias demais. Ali, entre o aroma de especiarias e o tilintar de porcelanas, estava Ömer. Sentado com um livro fechado nas mãos e uma xícara que esfriava lentamente.Ele não a viu de imediato. E ela, estranhamente tranquila, observou-o por um tempo. O tempo suficiente para reconhecer que aquele rosto já não causava tempestade; causava apenas brisa. Então se aproximou. Sem frases ensaiadas, sem o peso dos anos que ficaram suspensos entre uma vírgula e outra.— Ainda gosta de café sem açúcar? — ela perguntou.Ömer sorriu. Um sorriso tímido, como se recuperasse uma lembrança que tinha se escondido no fundo do peito.— Só se vier com conversa boa — respondeu.Sentaram-se sem press
O tempo passou, mas as marcas permanecem – não como cicatrizes, mas como tatuagens silenciosas que contam histórias para quem souber lê-las. Defne não se tornou o que esperavam dela. E, no fundo, agradece. Aprendeu que o mundo é cheio de moldes que tentam espremer a alma até ela caber em formas que não lhe pertencem. E mesmo quando quase se deixou convencer por essas estruturas, havia algo nela que resistia. Era a fome de ser inteira. Inteira mesmo que confundissem isso com rebeldia, com excesso, com desmedida.Na última página do caderno, escreveu em letras tortas – talvez de emoção, talvez de pressa – “Não sou o que esperavam. E isso me salva.” Não havia lamento ali. Havia libertação. Porque finalmente entendeu que ser diferente não é sinônimo de ser errada. Que seu modo de ver o mundo, suas pausas longas, seus silêncios que falavam alto, e suas escolhas pouco convencionais eram, na verdade, sinais de que estava viva. Viva de verdade. Não só existindo como se espera, mas vivendo com
O céu de Istambul estava rubro, quase dourado, como o couro envelhecido de um sapato esquecido numa prateleira — tempo e beleza, lado a lado.Defne caminhava pelas ruas com passos firmes. No bolso do casaco, levava uma chave. Pequena, de ferro antigo. Era a chave do antigo atelier da mãe. Decidira reabrir o espaço. Não para resgatar o passado, mas para honrar o que não foi contado.Na sede da empresa, os sons pareciam mais brandos. Não era silêncio — era respeito. Yasemin organizava contratos com a leveza de quem sabe o peso que carrega. Serkan, agora mais confiante, apresentava os modelos da nova coleção: Raízes em Travessia. A fusão entre os traços parisienses e o coração turco.Tudo tinha propósito. Nada soava decorativo.Numa tarde sem aviso, Ömer aparece do lado de fora do atelier.Ele não carrega papéis. Carrega perguntas.— Podemos falar?Defne hesita. Depois, apenas caminha em direção ao fundo da loja. Ele a segue.Dentro do espaço, ela mostra a peça que desenhou nos últimos d
O dia começou com céu claro, mas o clima na empresa carregava nuvens invisíveis. Defne sentia que algo escapava entre reuniões e decisões. Ömer andava ausente — não fisicamente, mas emocionalmente.Durante uma apresentação para investidores, uma mulher elegante surge ao lado de Yasemin. Ayla Tanriverdi, consultora internacional, ex-diretora de uma marca concorrente.— Estou aqui como apoio estratégico — ela diz, sorrindo com sobriedade.Defne analisa sua postura. Confiante demais. Informada demais.Na reunião seguinte, Ayla sugere mudanças radicais:— O projeto Entrelinhas pode ser reposicionado como linha exclusiva europeia.— Isso distorce o propósito — responde Defne.— Propósitos também evoluem — rebate Ayla.Yasemin tenta apaziguar. Serkan permanece em silêncio.No café da tarde, Ömer aparece com Ayla.— Vocês se conhecem? — pergunta Defne, surpresa.— Sim, trabalhamos juntos em Milão — responde Ayla.— Ela tem boas ideias — diz Ömer, evitando o olhar direto.Defne sorri com esfo
Paris ainda acordava, com suas fachadas douradas e cafés se abrindo em gestos lentos.Defne permanecia no quarto do pequeno apartamento cedido pela escola. Sobre a mesa, os croquis de Retorno, Asas, Raízes e o modelo novo que começava a ganhar forma: "Entrelinhas", um sapato com fivela dupla e corte assimétrico — como quem caminha por escolhas não ditas.Ela desenhava com calma. Mas havia uma dúvida que escapava da sola do pé e chegava até o peito:Ficar ou voltar?No meio da tarde, ela recebe uma mensagem de Yasemin com uma atualização da empresa:“A nova linha foi mencionada em duas revistas internacionais. E Serkan organizou sozinho a reposição dos estoques. Ele também pediu para te dizer: ‘Estou me encontrando com o que deixei passar’.”Defne sorriu. Serkan, seu irmão, estava virando alguém que caminha com os próprios passos. E isso, para ela, tinha mais valor que qualquer menção internacional.No fim do dia, ela encontra Ömer em um café discreto. Ele está com uma pasta sob o braç
O outono em Paris tinha cheiro de folha molhada e café forte. Defne caminhava pela margem do Sena com passos lentos, observando os pássaros que riscavam o céu. Estava sozinha, mas não se sentia só. Sabia que, em algum lugar, alguém pensava nela com a mesma intensidade que a saudade exige.No ateliê da escola, um pouco mais tarde, Defne finalizava o conceito de sua primeira peça autoral. O modelo se chamava Entre, feito com tecido que mudava de tom com a luz. Pensado para quem vive entre decisões. Entre pessoas. Entre dois silêncios.Seu professor, intrigado com o nome, perguntou:— Entre o quê, exatamente?Ela respondeu com um sorriso curto:— Entre tudo que não foi dito. E tudo que não precisa ser.Num fim de tarde, ao sair de uma apresentação, Defne entra em uma cafeteria discreta. Pede chá de maçã — hábito que o coração ainda não deixou ir. Na última mesa, encostado à janela, está Ömer.Ela prende a respiração.Ele está ali, lendo algo num caderno. Não a vê de imediato.Mas então,
Último capítulo