Era uma terça-feira comum, dessas em que o céu não se decide entre o azul e o cinza. Defne caminhava pelo centro antigo, onde as calçadas pareciam saber mais histórias do que qualquer livro já escrito. Entrou num café que nunca tivera coragem de visitar — não por medo do lugar, mas porque as vitrines guardavam memórias demais. Ali, entre o aroma de especiarias e o tilintar de porcelanas, estava Ömer. Sentado com um livro fechado nas mãos e uma xícara que esfriava lentamente.
Ele não a viu de imediato. E ela, estranhamente tranquila, observou-o por um tempo. O tempo suficiente para reconhecer que aquele rosto já não causava tempestade; causava apenas brisa. Então se aproximou. Sem frases ensaiadas, sem o peso dos anos que ficaram suspensos entre uma vírgula e outra.
— Ainda gosta de café sem açúcar? — ela perguntou.
Ömer sorriu. Um sorriso tímido, como se recuperasse uma lembrança que tinha se escondido no fundo do peito.
— Só se vier com conversa boa — respondeu.
Sentaram-se sem press