O outono em Paris tinha cheiro de folha molhada e café forte. Defne caminhava pela margem do Sena com passos lentos, observando os påssaros que riscavam o céu. Estava sozinha, mas não se sentia só. Sabia que, em algum lugar, alguém pensava nela com a mesma intensidade que a saudade exige.
No ateliĂȘ da escola, um pouco mais tarde, Defne finalizava o conceito de sua primeira peça autoral. O modelo se chamava Entre, feito com tecido que mudava de tom com a luz. Pensado para quem vive entre decisĂ”es. Entre pessoas. Entre dois silĂȘncios.
Seu professor, intrigado com o nome, perguntou:
â Entre o quĂȘ, exatamente?
Ela respondeu com um sorriso curto:
â Entre tudo que nĂŁo foi dito. E tudo que nĂŁo precisa ser.
Num fim de tarde, ao sair de uma apresentação, Defne entra em uma cafeteria discreta. Pede chĂĄ de maçã â hĂĄbito que o coração ainda nĂŁo deixou ir. Na Ășltima mesa, encostado Ă janela, estĂĄ Ămer.
Ela prende a respiração.
Ele estĂĄ ali, lendo algo num caderno. NĂŁo a vĂȘ de imediato.
Mas entĂŁo,