InĂ­cio / Romance / Entre o Amor e o Contrato / đŸ«ą CapĂ­tulo 5 – Segredos em SilĂȘncio
đŸ«ą CapĂ­tulo 5 – Segredos em SilĂȘncio

Defne começou a evitar os espelhos.

A cada manhã, olhava rápido para si mesma — como se o reflexo pudesse acusá-la de traição. Nada nela parecia seguro. Nem a expressão, nem o coração.

Na empresa, Ömer observava em silĂȘncio. Ele tinha aquele jeito: quieto demais quando pensava, intenso demais quando sentia.

— VocĂȘ se lembra da nossa primeira reuniĂŁo? – perguntou, sem tirar os olhos dela.

— Claro. VocĂȘ me perguntou por que estava ali.

— E vocĂȘ mentiu.

Defne travou. Ele sabia?

— Eu pensei que aquilo era só provocação...

— Eu provoco o que quero entender. E agora... quero entender vocĂȘ.

Ela sorriu, mas por dentro o pùnico se instalava. Cada minuto que passava, o risco aumentava. Pamir havia deixado um envelope em sua bolsa. Sem nome. Sem assinatura. Apenas fotos. Fotos de reuniÔes. De contratos. De Neriman. E dela.

Mais tarde, quando todos saíram, ela ficou na sala de criação. Acendeu uma luminária discreta e começou a rabiscar um novo desenho — um vestido com costura dupla e bolsos ocultos. Um vestido que escondia e revelava ao mesmo tempo.

Ömer apareceu. Silencioso. Como sempre.

— VocĂȘ desenha quando quer fugir?

— Ou quando quero encontrar algo.

— E está encontrando?

— Talvez esteja só me perdendo com estilo.

Ele se aproximou.

— Eu nĂŁo sei quem vocĂȘ Ă© de verdade. Mas quando vocĂȘ estĂĄ perto, o mundo parece suportĂĄvel.

Ela sentiu a garganta fechar. Quis gritar a verdade. Quis que ele soubesse de tudo. Mas o silĂȘncio era mais seguro.

Pamir a esperava no estacionamento.

— Está indo longe demais.

— VocĂȘ nĂŁo entende.

— Eu entendo o que me convĂ©m. E o que me convĂ©m
 Ă© que Ömer nunca saiba que vocĂȘ foi enviada para quebrĂĄ-lo.

Ela o enfrentou com o olhar.

— E vocĂȘ foi enviado pra quĂȘ?

— Eu sou o plano B. O que entra quando o plano A falha.

Naquela noite, Defne nĂŁo dormiu.

Ela olhou as fotos novamente. Pegou uma tesoura e cortou cada uma. Rasgou o contrato antigo. E escreveu uma carta. TrĂȘs linhas.

"Eu preciso que vocĂȘ me perdoe. Antes mesmo de saber o que eu fiz."

Mas nĂŁo enviou. Ainda nĂŁo era a hora.

Porque quando o silĂȘncio guarda segredos
 a verdade precisa esperar seu prĂłprio capĂ­tulo.

O dia começou como qualquer outro, mas algo estava diferente. O mundo parecia ruir em cùmera lenta.

Defne chegou à empresa com a alma em suspense. Tinha dormido mal, com o coração pulsando em descompasso. Sonhara com Ömer. Com palavras que ela não disse. Com verdades que ele ouviu sem que ela falasse.

E ao atravessar o corredor de mĂĄrmore, sentiu que ele jĂĄ nĂŁo era o mesmo. Ömer İplikçi estava mais reservado, mais afiado nos silĂȘncios.

Durante a reunião de feedback da campanha, ele fez questão de revisar tudo pessoalmente. Anotou mudanças com calma. Olhou todos nos olhos. Menos ela.

Quando Defne entregou seu relatĂłrio, ele o pegou com precisĂŁo cirĂșrgica. Leu cada linha. E entĂŁo fez a pergunta:

— VocĂȘ tem certeza que quer continuar aqui?

Ela gelou.

— Por quĂȘ?

— Porque a forma como vocĂȘ olha
 jĂĄ nĂŁo Ă© a mesma. E quando a presença muda, Ă© porque a intenção tambĂ©m mudou.

ApĂłs a reuniĂŁo, Pamir apareceu ao lado de Defne no corredor. Como uma sombra com perfume elegante.

— Ele já sabe.

— disse, sem disfarçar.

— Ele está ligando as pontas. E quando descobrir quem fez o nó


Ela nĂŁo respondeu.

— Eu posso te tirar daqui.

— Pamir continuou.

— Antes que o castelo caia.

— Eu não quero fugir.

— Então prepare-se para ser esmagada com ele.

Horas depois, Neriman apareceu pessoalmente na empresa. Coisa que raramente fazia.

— VocĂȘ estĂĄ fracassando, Defne. E se nĂŁo agir logo, Ömer serĂĄ tomado por dĂșvidas que nĂŁo ajudam ninguĂ©m.

— Ele merece saber a verdade.

— Verdades não mudam contratos. Elas apenas explodem histórias mal construídas.

Defne estava prestes a responder, mas Sinan surgiu, olhando para ela com estranheza.

— Está tudo bem?

NinguĂ©m respondeu. A tensĂŁo era um muro entre os trĂȘs.

No fim do dia, Ömer a chamou atĂ© o terraço. Istambul respirava ao fundo — cheia de luzes, sons, vida.

— HĂĄ algo que vocĂȘ precisa me contar?

Ela hesitou.

— Se eu contar, talvez vocĂȘ me odeie.

— Se vocĂȘ nĂŁo contar
 jĂĄ nĂŁo sei se existe alguma versĂŁo sua que eu possa continuar admirando.

Ela sentiu os olhos se encherem. O coração se encolher.

— Eu fui contratada por alguĂ©m. Para te fazer se apaixonar.

— Quem?

— Neriman.

Ele fechou os olhos. Inspirou fundo. E demorou para responder.

— Isso
 Ă© real?

— Era. Mas deixou de ser. Quando eu te conheci de verdade, o plano deixou de existir. Só sobraram sentimentos.

Ömer a encarou com uma dor que doĂ­a atĂ© no ar.

— Tudo foi uma mentira?

— O começo foi. Mas o meio e o fim
 são tudo o que eu nunca soube que podia sentir.

Ele nĂŁo respondeu. Virou-se. E desceu do terraço. Deixando para trĂĄs a mulher que o ensinou a sentir — e tambĂ©m a duvidar.

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