Todos chamam Dante Moretti de "O Rei da Noite" — o homem que controla o tráfico de armas, a extorsão e os segredos mais valiosos da máfia. Seu rosto é desconhecido, presença sua, um mistério. Ele fala, ordena e sentenciou usando apenas os olhos refinados sob sua máscara de couro negro. Mas tudo muda quando Elena Vasquez , uma mulher com seu próprio passado sombrio, cruza seu caminho. Ela não teme Dante, e, pela primeira vez, alguém consegue enxergar além da máscara e da crueldade. O que começa como um jogo de poder se transforma em algo muito mais perigoso: uma paixão proibida que pode mudar tudo. Agora, entre o desejo e a vingança, entre a lealdade e o amor, Dante precisa decidir se remove a máscara ou permanece na escuridão. Mas há algo que ele esqueceu: no mundo da máfia, segredos custam caro...
Ler maisO estrondo dos tiros rasgou o ar, misturando-se aos gritos apavorados que ecoavam pela boate. O desespero tomou conta do ambiente, pessoas corriam em todas as direções, esbarrando umas nas outras, derrubando mesas e copos no chão. Luzes piscavam freneticamente, criando sombras fantasmagóricas que tornavam a cena ainda mais caótica.
No palco, Elena estava encolhida no chão, escondida atrás da mesa de DJ que, até poucos segundos atrás, vibrava ao som da sua música eletrônica. Seu coração martelava contra o peito, um tambor incessante de puro pavor. O ar cheirava a pólvora e suor. Com as mãos trêmulas, ela tentava inutilmente esconder a cabeça, como se pudesse se tornar invisível. Então, de repente, um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Elena prendeu a respiração. O medo a consumia por completo, seus músculos estavam rígidos, incapazes de reagir. O que aconteceria agora? O silêncio foi quebrado por passos firmes e cadenciados, ressoando no piso como se pertencessem a um predador se aproximando da presa. Eles pararam bem à sua frente. Seus olhos, antes semicerrados, se abriram num reflexo involuntário. O que viu fez seu estômago revirar. Diante dela, um par de sapatos masculinos de couro preto, brilhantes, engraxados com perfeição, denunciavam a presença de alguém que não pertencia ao caos ao redor. Seu olhar subiu lentamente, percorrendo as pernas cobertas por um tecido fino e caro, o caimento impecável de um terno negro. Quando finalmente chegou ao rosto do homem, um arrepio percorreu sua espinha. Ele tinha uma barba espessa e bem aparada, os olhos eram frios como aço temperado. Mas o que mais prendeu sua atenção foi a arma que ele segurava. O cano prateado da pistola estava apontado diretamente para ela. Elena sentiu o mundo girar. O que ele queria? E, mais importante... conseguiria sair viva dali? — Levante-se, Elena. — A ordem veio carregada de uma frieza cortante, a voz grave ecoando no espaço agora silencioso da boate. Um arrepio percorreu a espinha dela. O medo era quase sufocante, mas obedeceu sem hesitar. Com movimentos rápidos e cautelosos, agarrou o fone preto caído ao seu lado e se levantou, sem tirar os olhos do cano da arma apontado para ela. — Eu sou só a DJ, eu não... — Calada. — O tom impiedoso a fez prender a respiração. No instante seguinte, antes que pudesse pensar, Elena sentiu o mundo girar. Num movimento ágil, o homem a puxou para si, seus braços fortes a prendendo contra seu peito. O calor do corpo dele contrastava com a frieza letal de sua presença. O coração dela martelava, a adrenalina disparando como uma corrente elétrica. Ela sabia que aquele era o momento. Se hesitasse, estaria perdida. Respirou fundo. Em um movimento rápido e certeiro, ergueu o pé e desferiu um pisão brutal no dele, afundando o salto com toda a força que possuía. O homem rosnou de dor, mas antes que ele pudesse reagir, Elena fechou a mão e a enfiou violentamente entre as pernas dele. O grunhido que ele soltou foi o suficiente. Os braços ao seu redor afrouxaram, e ela não pensou duas vezes antes de correr. Pulou do palco sem olhar para trás, o coração ameaçando sair pela boca. Ela não precisava se perguntar por que aquele homem estava atrás dela. Sabia muito bem. E também sabia o que precisava fazer: fugir. Outra vez. O ambiente estava pouco iluminado, o cheiro de pólvora e sangue impregnava o ar. Ela corria sem parar, desviando dos corpos espalhados pelo chão, dos cacos de vidro e destroços da boate agora devastada. A saída estava à sua frente. Faltavam poucos passos. Mas então, um puxão violento em seus cabelos fez seu corpo ser arrastado para trás. O impacto foi tão forte que um gemido escapou de seus lábios, seu pescoço arqueando pelo golpe inesperado. O pânico subiu como uma maré avassaladora, mas antes que pudesse reagir, sentiu algo pesado atingindo sua cabeça. A dor foi cortante. A visão escureceu. E então, tudo virou escuridão. Quatro horas antes — Tem certeza de que é seguro? — Elena perguntou em um sussurro tenso, os olhos varrendo o beco estreito ao redor. Ao seu lado, o rapaz que conhecera há apenas três dias manteve-se imóvel, apenas o brilho inquieto de seus olhos visível sob a sombra do capuz do moletom. Ele parecia mais um vulto do que uma pessoa real, alguém que preferia não ser visto, não ser lembrado. — Claro que sim — respondeu ele, a voz carregada de um cinismo quase divertido. — Quem desconfiaria de você? Elena engoliu seco. Aquilo era verdade. Quem suspeitaria da doce DJ Elena? A garota dos fones de ouvido e batidas eletrônicas, que passava as noites em festas e as manhãs dormindo para fugir da ressaca da realidade? Ela sempre detestou drogas. Sempre. Mas a necessidade era uma fera insaciável, e o desespero tinha um jeito cruel de fazer alguém reconsiderar suas próprias regras. DJ por paixão, sobrevivente por obrigação. O dinheiro das festas mal pagava sua comida, quem dirá um aluguel. Sem dizer mais nada, ela enfiou o pequeno pacote no bolso da jaqueta jeans e deu um leve aceno com a cabeça antes de se afastar, saindo daquele beco fétido e úmido. Seus passos eram rápidos, mas controlados, como se quisesse desaparecer sem chamar atenção. A cidade estava viva, pulsando sob as luzes artificiais dos postes e letreiros. O fluxo de pessoas na calçada era um disfarce perfeito para quem não queria ser visto. Ela achava que aquilo seria simples. Mas nada na sua vida era simples. E, ela nem podia imaginar que em poucas horas, estaria correndo para salvar a própria vida. Uma hora antes O som da música eletrônica pulsava no ar como uma corrente elétrica, vibrando através dos corpos suados e eufóricos na pista de dança. A cada batida, um frenesi crescia entre os frequentadores da boate. No comando de tudo, Elena deslizava os dedos habilidosos sobre os equipamentos, guiando cada transição com precisão cirúrgica. Ela estava imersa no ritmo, sentindo a música como uma extensão de si mesma. No auge da performance, retirou o fone do ouvido esquerdo, permitindo-se ouvir a euforia do público. Os gritos misturavam-se à batida intensa, formando um turbilhão de energia viciante. A música que tocava era exclusiva daquele lugar, daquele momento. Ali, todas as sextas e sábados, ela era a responsável por abrir a noite com seus sets eletrizantes. Depois de quarenta minutos ininterruptos, Elena finalmente fez uma pausa. Deixando os equipamentos para trás, caminhou direto para o bar, onde Oliver, o barman, já a esperava com um copo de água gelada. Ela pegou o copo e bebeu em goles longos e desesperados, como se tivesse acabado de atravessar um deserto. — A casa está cheia hoje — comentou Oliver com um sorriso maroto. — Estão aqui por sua causa. Elena revirou os olhos, divertida. — Deixa de besteira, Oliver. Você viaja demais. Ele inclinou-se sobre o balcão, entregando-lhe uma bala embrulhada. — Você se subestima. Ouço muita coisa por aqui... Sei que estão cogitando te colocar como atração principal. Ela parou no meio do movimento de desembrulhar a bala. — Eu... O quê? A surpresa foi tamanha que ela quase se engasgou. Oliver riu, observando-a com um brilho divertido nos olhos. Mas havia algo mais ali. Admiração. Um pouco de orgulho. E talvez algo mais profundo que ela não quis decifrar naquele momento. — Eu ouvi que... — Oi, você é a Elena? A nova voz a fez girar nos calcanhares. O desconhecido que agora estava diante dela tinha um olhar intenso, penetrante demais para alguém que fazia uma pergunta tão simples. E foi naquele momento, naquele pequeno segundo de hesitação, que algo dentro dela gritou em alerta. O rapaz de camiseta vermelha interrompeu a conversa com um simples movimento, fazendo com que os olhares de Elena e Oliver se voltassem para ele. — Sim, você é? — Elena perguntou, já ajustando seu comportamento. Estava pronta para mais um fã entusiasta ou, talvez, alguém apenas querendo flertar. Mas o rapaz não parecia interessado em conversa fiada. Aproximou-se com um olhar fixo e uma expressão séria, e então cochichou, baixo o suficiente para que apenas ela ouvisse: — Me disseram para te procurar. Você, é... Você tem um presentinho? O tom de sua voz, quase um sussurro, fez com que Elena se endireitasse. Ela imediatamente se lembrou do que estava carregando em seu bolso — o pacotinho com os pinos de pó. Ela não hesitou. A necessidade falava mais alto. — Ah, sim. Vem comigo. Com um movimento ágil, Elena se afastou do bar e guiou o rapaz até um canto mais discreto, onde rapidamente fez a troca: o pacote por uma quantia considerável de dinheiro. O rapaz pegou a droga com um sorriso satisfeito e se afastou, indo direto para o banheiro masculino. Por um momento, Elena achou que tudo estava sob controle. Mas logo percebeu que a notícia de que ela estava com aquilo começava a se espalhar. Em questão de minutos, parecia que as pessoas estavam literalmente farejando a oportunidade. Elena foi rapidamente cercada por um mar de rostos ansiosos, olhos vidrados pela promessa do "presentinho". Ela não teve tempo de processar, e o que parecia ser uma venda pequena se transformou em uma enxurrada de pedidos. O último pino foi entregue com a mesma rapidez com que a multidão se formava ao seu redor. Com o coração disparado e o pânico começando a tomar conta, ela fez o que parecia ser a única coisa sensata: correu para o palco. Ali, ela sabia, estaria segura. Ou pelo menos, pensava que sim. Voltar ao comando das batidas era como uma válvula de escape, mas a calma foi temporária. Vinte minutos depois, quando o ritmo da música atingia seu auge, um som estridente cortou o ar — tiros. O caos se instalou rapidamente. O que deveria ser uma noite de vibração e euforia se transformou no início de um pesadelo. E o pior ainda estava por vir.O sol invadia o quarto 305 do hospital através da enorme janela de vidro, tingindo o ambiente de tons dourados e quentes. As cortinas brancas balançavam levemente com a brisa que escapava do ar-condicionado, e os equipamentos emitiam bipes ritmados como se marcassem o compasso do coração de alguém apaixonado.Firmino estava recostado na cama, a camisa azul claro aberta até o meio do peito e o cabelo escuro um pouco bagunçado, revelando o charme descuidado que parecia intencional. Ele segurava um copo de suco como se fosse um drinque de bar, e girava o canudo distraidamente com um sorriso preguiçoso.Foi quando Lorena entrou, segurando uma prancheta e usando o jaleco branco levemente justo no corpo. Seu coque bagunçado parecia ter sido feito às pressas, mas de forma encantadora. Ela usava tênis brancos, discretos, e o estetoscópio pendia em volta do pescoço como um colar de poder. Os olhos verdes encontraram os dele — e ali se formou o primeiro flerte silencioso do dia.— Chegou a hora
O carro preto cruzou os portões de ferro como um fantasma na escuridão. As rodas deslizaram suavemente pela estrada de paralelepípedos até parar diante da escadaria principal da mansão.Dante saiu primeiro. A máscara ainda cobria seu rosto, ocultando qualquer expressão. Dimitri desceu logo atrás, segurando a pasta com o acordo recém-assinado. Um dos homens da segurança se aproximou para receber o documento, e Dante fez um leve aceno de cabeça, autorizando-o a guardar com segurança nos cofres do escritório.Dante atravessou o hall principal em silêncio, ignorando os olhares curiosos dos empregados, os vestígios da movimentação intensa do dia anterior ainda espalhados pelo chão de mármore. Subiu as escadas devagar, como se cada degrau o aproximasse não apenas do quarto — mas de uma nova vida.A maçaneta girou devagar. Dante entrou.A luz do abajur ao lado da cama estava acesa, bem fraca, criando uma penumbra quente no ambiente. No centro da cama, Elena dormia profundamente, vestida com
O carro negro cortava a estrada sinuosa como um predador em silêncio. O mar ao longe rugia contra as pedras, sob um céu pesado, enquanto o sol se escondia atrás de nuvens escuras. Dentro do veículo, Dante observava a paisagem com os olhos cerrados, o maxilar travado e a respiração contida.À sua direita, Dimitri falava ao telefone em italiano com alguém da equipe de vigilância posicionada próximo ao esconderijo de Alejandro.— Confirmaram o local. A casa é grande, isolada, com uma pequena enseada aos fundos. Há dois cuidadores com ele e um segurança armado. Ele ainda está debilitado, mas consciente. — Dimitri virou-se, trocando um olhar rápido com Dante. — Quer que eu entre com o time?Dante negou com um gesto seco.— Eu vou entrar. Sozinho.Dimitri arqueou uma sobrancelha.— Dante...— Se esse filho da puta ainda respira, ele vai me ouvir. Pela última vez.O carro avançou por uma estrada de terra, cercada por pinheiros altos e úmidos. Um pouco mais adiante, o cheiro salgado do mar fi
O céu clareava lentamente sobre a propriedade, tingindo o horizonte com tons suaves de dourado e azul. Mas, apesar da calmaria aparente, a mansão seguia em constante movimento. Homens armados circulavam pelos jardins, caminhões descarregavam estruturas discretas para uma cerimônia improvisada e Mag, com uma prancheta em mãos, gritava ordens como uma general em campo de batalha.Dentro da mansão, no andar superior, Elena acordou envolta nos braços de Dante. Estavam no quarto dele — ou melhor, deles, agora. Ela ainda sentia os lábios dele em sua pele, os toques da noite anterior, a forma como ele a explorou com devoção e intensidade. Foi como se ambos tivessem libertado tudo o que sentiam em um só momento. Um amor urgente, bruto e cheio de cicatrizes, mas verdadeiro.Dante ainda dormia, o braço pesado ao redor da cintura dela, enfaixado ainda, pelo tiro de raspão de tomara na batalha contra Alejandro. A expressão mais leve do que ela jamais o vira. Elena ficou ali por alguns minutos, ob
A estrada até a mansão foi longa e silenciosa. Ariana dormia profundamente, o rostinho escondido contra o peito de Dante, enquanto uma das mãos permanecia repousada sobre o joelho de Elena.Ela, por sua vez, observava as duas figuras com o coração apertado. Ainda sentia o cheiro do lugar de onde haviam fugido, ainda ouvia a voz da velha dizendo que tinham aumentado o valor do resgate. Mas agora estavam com Dante. E, por mais confuso que tudo fosse, com ele... ela se sentia segura.O carro contornou o portão principal da propriedade e o cenário que surgiu diante dos faróis fez Dante estreitar os olhos.O gramado estava tomado por caixas, estruturas metálicas desmontadas, cabos, refletores e uma equipe de pelo menos trinta pessoas, algumas com pranchetas, outras segurando arranjos florais completamente encharcados.Ao descer do carro, ainda com Ariana nos braços, Dante parou por um segundo, absorvendo a cena.No meio do caos, Mag gritava com uma mulher loira de coque apertado e terninh
O tiroteio havia cessado. O som da última rajada ainda ecoava fraco ao longe, misturado aos estalos dos carros carbonizados e ao gotejar ritmado da chuva que voltava a cair.Dante, ainda usando sua máscara preta, permanecia imóvel diante do único homem que sobrevivera ao confronto. Seus homens o mantinham de joelhos na lama, os pulsos amarrados com uma fita de nylon e o rosto inchado por conta das pancadas.O capanga erguia os olhos lentamente, encarando a figura à sua frente com um misto de pavor e fascínio. O reflexo dos faróis nos olhos escuros por trás da máscara dava a Dante um aspecto quase sobrenatural.— Você é ele… — o homem murmurou, cuspindo sangue e tentando ajeitar a coluna, apesar da dor que irradiava das costelas. — O tal Dom… o mascarado…Dante não respondeu de imediato. Apenas se agachou lentamente diante dele, o rosto coberto permanecendo a poucos centímetros do rosto do capanga, o silêncio pesando como um aviso.— Se sabe quem eu sou, então já sabe o que acontece co
Último capítulo