Mundo ficciónIniciar sesiónSofia Almeida, aos 19 anos, vê o mundo perfeito que construíra desmoronar quando o irmão mais velho, Rafael, desaparece para casar-se com uma herdeira poderosa, deixando para trás apenas um convite frio e segredos que ameaçam engolir a família. Afogada em dívidas do pai viciado em jogos e na traição daquele que sempre foi seu porto seguro, Sofia decide investigar sozinha o que realmente aconteceu. Num café da Faria Lima, em meio à dor e à raiva, ela cruza o olhar com Lucas Ferreira — um jornalista freelance de jaqueta surrada, tatuagem no braço e um sorriso torto que promete perigo. O que Sofia não sabe é que por trás da fachada de homem simples está Lucas Ferreira Monteiro, herdeiro renegado de um império hoteleiro bilionário, fugindo do próprio passado de luxo vazio. A atração entre eles é imediata e incontrolável. Um beijo impulsivo, noites de paixão ardente em hotéis discretos, carros embaçados. — cada toque parece apagar as feridas que ambos carregam. Mas quanto mais se entregam ao desejo, mais segredos vêm à tona: a chantagem que prende Rafael, as mentiras de Lucas sobre sua verdadeira identidade, e a dúvida cruel de se o amor que os consome é forte o suficiente para sobreviver à verdade. Da elite fria de São Paulo às noites quentes de Ilhabela, Sofia e Lucas vão descobrir que algumas traições destroem famílias... e outras curam corações partidos. Mas quando o desejo se torna inevitável, será que o amor conseguirá vencer as sombras do passado? Desejo Inevitável é um romance intenso sobre paixão avassaladora, segredos de família e a coragem de escolher o amor mesmo quando tudo conspira contra.
Leer másO Jardim Europa acordava devagar naquela manhã de maio, com o sol filtrando através das copas das árvores centenárias e refletindo nas piscinas infinitas das mansões. Sofia Almeida, aos 19 anos recém-completos, observava tudo isso da janela do seu quarto no segundo andar, enquanto tomava o café da manhã na cama — um hábito que a mãe, Helena, ainda permitia, mesmo que Sofia já fosse adulta. A bandeja de prata trazia iogurte grego com granola artesanal, frutas cortadas em cubinhos perfeitos e um cappuccino feito na máquina italiana que ocupava metade da bancada da cozinha.
A casa era um oásis de luxo discreto: pisos de mármore travertino, paredes com obras de arte contemporânea brasileira que Helena selecionava pessoalmente, e um jardim projetado por um paisagista famoso, com orquídeas que floresciam o ano inteiro. Do lado de fora, os vizinhos passeavam com cães de raça, trocavam cumprimentos educados e planejavam jantares beneficentes. Tudo parecia perfeito. Mas Sofia sabia que não era.
Ela desceu as escadas em espiral vestindo um conjunto de moletom cinza da Farm, os cabelos castanhos ondulados ainda úmidos do banho. Na sala de estar, Helena lia uma revista de decoração no sofá de linho bege, os óculos de armação dourada na ponta do nariz.
— Bom dia, filha. Dormiu bem? — perguntou a mãe, com aquele sorriso forçado que Sofia conhecia desde criança.
— Mais ou menos. Tive aula cedo hoje — respondeu Sofia, beijando a testa de Helena. Não mencionou os pesadelos com o pai gritando ao telefone com cobradores, nem as mensagens não respondidas do irmão Rafael.
Rafael era o assunto proibido nos últimos dias. Aos 28 anos, ele era o filho prodígio: formado pela FGV, analista sênior em um banco de investimentos no Itaim Bibi, sempre impecável em ternos sob medida. Namorava Isabella Monteiro havia dois anos — uma loira escultural, filha única de um dos maiores produtores de soja do país, cuja família possuía fazendas que ocupavam municípios inteiros no interior. Isabella era o tipo de mulher que aparecia nas colunas sociais da Folha, sempre com um vestido de gala e um sorriso que parecia ensaiado para fotos.
Sofia gostava dela, ou pelo menos tentava gostar. Isabella era educada, trazia presentes caros nos jantares de domingo — uma bolsa Saint Laurent para Helena, um relógio suíço para Carlos —, mas havia algo frio naquele olhar azul-gelo. Como se estivesse sempre calculando.
Naquela tarde, após as aulas na PUC, Sofia voltou para casa mais cedo. A chuva fina de outono paulistano tamborilava no para-brisa do seu Mini Cooper branco — presente de 18 anos do pai, em tempos melhores. Ao entrar pela garagem, notou que o carro de Rafael não estava no lugar de costume. Estranho. Ele dissera que viajaria a trabalho para o Rio, mas já fazia quase duas semanas.
Helena estava na cozinha, de costas, mexendo algo no fogão com movimentos nervosos. O ar cheirava a chá de camomila, o remédio dela para ansiedade.
— Mãe? Cadê todo mundo? — perguntou Sofia, deixando a mochila no chão.
Helena se virou devagar. O rosto estava inchado de tanto chorar, os olhos vermelhos contrastando com a maquiagem borrada. Nas mãos trêmulas, segurava um envelope grosso de papel creme.
— Sofia... senta, por favor.
O coração de Sofia deu um salto. Ela obedeceu, sentando-se na banqueta alta da ilha de mármore.
— É do Rafael — disse Helena, entregando o envelope. — Chegou hoje pelo correio. Um convite.
Sofia abriu com dedos hesitantes. O papel era pesado, com relevo dourado nas bordas. Dentro, um cartão elegante:
Rafael Almeida e Isabella Monteiro têm a alegria de convidar para a celebração do seu matrimônio que será realizado em cerimônia íntima na Fazenda Boa Vista, Campinas dia 17 de maio de 2025 às 17 horas
Sofia leu três vezes, como se as palavras pudessem mudar. O casamento era dali a três dias. Três dias.
— Ele... ele vai se casar? — murmurou ela, a voz falhando. — Mas ele não falou nada. Nem pra mim, nem pra você...
Helena começou a chorar baixinho, cobrindo o rosto com as mãos.
— Eu liguei pra ele o dia inteiro. Cai na caixa postal. Mandei mensagens, áudios... nada. A Isabella atendeu uma vez, disse que ele estava "ocupado com os preparativos" e que era "melhor assim". Melhor assim o quê, Sofia? Somos a família dele!
Sofia sentiu um vazio se abrir no peito. Rafael era seu confidente desde sempre. Quando os pais brigavam — o que acontecia cada vez mais por causa do vício de Carlos em jogos —, era Rafael quem a levava para tomar sorvete na Baccio di Latte e dizia que tudo ia ficar bem. Era ele quem a ajudava com as provas do vestibular, quem a defendia quando o pai bebia demais e ficava agressivo. Como ele podia simplesmente sumir e marcar um casamento sem avisar?
— E o papai? — perguntou Sofia, embora já soubesse a resposta.
— Seu pai... — Helena hesitou. — Saiu cedo. Disse que tinha uma reunião importante. Mas eu sei que foi praquele lugar novamente. O cassino na Barra Funda.
Carlos Almeida, outrora um empresário respeitado no ramo imobiliário, havia caído em uma espiral nos últimos cinco anos. Começara com apostas "inocentes" no Jockey Club, depois migrara para pôquer online, e finalmente para os cassinos clandestinos que fervilhavam nos porões de São Paulo. Lugares sem nome, acessados por senhas sussurradas, onde homens de terno caro perdiam fortunas em mesas de blackjack e roleta. As dívidas se acumulavam como neve, e Helena vendia joias aos poucos para pagar as contas da casa.
Naquela noite, Sofia não conseguiu dormir. Ficou rolando na cama king size, olhando fotos antigas no celular: ela e Rafael crianças na praia de Juquehy, construindo castelos de areia; os dois no Réveillon em Trancoso, rindo com champanhe nas mãos; uma selfie recente, tirada há apenas um mês, no bar do Hotel Unique, onde Rafael prometera: "Mana, ano que vem a gente viaja juntos pra Europa. Só nós dois."
As lágrimas vieram quentes e silenciosas. Por que ele fez isso? Foi pressão da família da Isabella? Vergonha das dívidas do pai? Ou algo pior?
Por volta das duas da manhã, ouviu a porta da garagem abrindo. Passos cambaleantes no hall. A voz rouca de Carlos discutindo ao telefone:
— Eu pago, eu juro... só mais uma semana... eu tenho uma fonte boa dessa vez...
Helena desceu para acalmá-lo, como sempre. Sofia tapou os ouvidos com o travesseiro, sentindo o mundo perfeito do Jardim Europa desmoronar tijolo por tijolo.
No dia seguinte, ela decidiria agir. Não ficaria esperando explicações que talvez nunca viessem.
Sofia acordou cedo no dia seguinte, com os olhos inchados e a boca seca. A casa estava silenciosa demais — o tipo de silêncio que pesa, como se as paredes soubessem dos segredos e os guardassem com culpa. Desceu as escadas descalça, o mármore frio sob os pés, e encontrou Helena na sala de jantar, sentada à mesa longa de mogno que raramente usavam para refeições em família. A mãe tomava café preto em uma xícara de porcelana fina, olhando para o nada. Sobre a mesa, o convite de casamento ainda aberto, como uma ferida exposta.
— Você dormiu? — perguntou Sofia, a voz rouca.
Helena balançou a cabeça devagar.
— Nem um minuto. Fiquei pensando... será que eu fiz algo errado? Será que ele está bravo comigo? Com o seu pai?
Sofia sentou-se ao lado dela e pegou sua mão. As unhas de Helena, sempre perfeitamente feitas com esmalte nude, estavam roídas até a carne.
— Não é culpa sua, mãe. O Rafa sempre foi o que segurava tudo aqui. Se ele sumiu assim... deve ter um motivo grande.
Mas que motivo? Essa era a pergunta que martelava na cabeça de Sofia enquanto tomava banho, enquanto vestia uma calça jeans clara e uma blusa de algodão branca, enquanto dirigia o Mini Cooper até a faculdade. As ruas do Jardim Europa passavam como um borrão: as mesmas árvores, os mesmos muros altos, os mesmos seguranças em portarias envidraçadas. Tudo igual, mas nada era mais o mesmo.
Na PUC, ela mal conseguiu prestar atenção na aula de história da arte. O professor falava sobre o modernismo brasileiro, projetando imagens de Tarsila do Amaral na tela, mas Sofia só via o rosto do irmão. Abriu o W******p pela milésima vez. A última mensagem dele era de quinze dias atrás: uma foto de um café no Rio, com a legenda “Saudade da mana. Volto logo”. Abaixo, as mensagens dela acumulavam: “Ei, tá tudo bem?”, “Me liga quando puder”, “Rafa, por favor, responde”. Todas com dois risquinhos azuis, visualizadas, mas sem resposta.
No intervalo, sentou-se no gramado com sua amiga Luiza, que percebia tudo.
— Amiga, você tá com uma cara de quem perdeu um parente — disse Luiza, oferecendo um pedaço do seu brownie.
— Quase isso — respondeu Sofia, e contou tudo. O convite. O sumiço. A frieza da Isabella ao telefone.
Luiza arregalou os olhos castanhos.
— Caramba, Sofi. Isso é coisa de novela. Você acha que a Isabella tá por trás? Tipo, proibindo ele de falar com vocês?
— Não sei. Ela sempre foi... distante. Mas o Rafa parecia feliz com ela. Pelo menos fingia bem.
O resto do dia passou devagar. Sofia voltou para casa no fim da tarde, o céu já tingido de laranja pelo pôr-do-sol paulistano. Ao entrar, ouviu vozes alteradas vindo do escritório do pai — uma sala que raramente era usada, cheia de livros de direito que Carlos nunca lia mais.
Helena estava lá dentro, de pé, os braços cruzados. Carlos, sentado na poltrona de couro gasto, tinha o rosto vermelho, o cabelo grisalho bagunçado. Uma garrafa de uísque pela metade na mesa ao lado.
— ...você prometeu que era a última vez, Carlos! A última! — Helena gritava, coisa rara nela, que sempre preferia o silêncio à confrontação.
— Eu sei, Helena, eu sei... mas era uma mesa boa, eu tava ganhando, aí veio aquela sequência ruim...
— Sequência ruim? Você perdeu quanto dessa vez?
Carlos baixou a cabeça. Sofia, parada na porta, sentiu o estômago revirar.
— Uns... oitenta mil.
Helena deu um passo atrás, como se tivesse levado um tapa.
— Oitenta mil? Carlos, a casa... as contas... como vamos pagar?
— Eu recupero, amor. Sempre recupero.
Mas Sofia sabia que não. Nos últimos anos, “recuperar” significava vender mais uma joia da mãe, ou um quadro da coleção, ou adiar o pagamento da escola particular que ela já nem frequentava mais. O vício do pai era um buraco negro que sugava tudo.
Ela entrou na sala devagar.
— Pai... você viu o convite do Rafa?
Carlos ergueu os olhos injetados. Por um segundo, pareceu envergonhado.
— Vi. Chegou ontem. O menino tá subindo na vida, né? Casando com os Monteiro... isso abre portas.
— Ele sumiu, pai. Não avisou ninguém. Você não acha estranho?
Carlos deu de ombros, servindo-se de mais uísque.
— Adulto, Sofia. Tem direito de fazer o que quiser. E, francamente... talvez seja melhor assim. Menos uma boca pra sustentar, menos um pra ver essa bagunça aqui.
Helena soltou um soluço e saiu da sala correndo. Sofia ficou parada, olhando para o pai como se o visse pela primeira vez. Aquele homem que um dia a levava nos ombros no parque Ibirapuera, que contava histórias de quando construiu o primeiro prédio da empresa... agora era só uma sombra.
Naquela noite, Sofia tomou uma decisão. Não ia esperar mais. Amanhã iria ao apartamento do Rafael em Moema. Depois, ao escritório dele no Itaim. E se precisasse, iria até Campinas, até a tal fazenda. Não ia deixar o irmão desaparecer da vida dela sem uma explicação.
Deitou-se na cama, o celular na mão. Abriu o I*******m da Isabella por curiosidade — o perfil privado, mas ela ainda tinha acesso por ser “amiga aprovada”. As stories recentes: fotos da fazenda, arranjos de flores brancas enormes, um vestido de noiva pendurado (sem mostrar o rosto da noiva), e uma legenda: “Contagem regressiva: 3 dias”. Nenhuma menção ao Rafael. Nenhuma foto dele.
Sofia fechou os olhos, o coração apertado. Sentia raiva, tristeza, medo — tudo misturado. Mas acima de tudo, sentia uma determinação nova, dura como aço.
O irmão que ela conhecia não faria isso. Algo estava errado. Muito errado.
E ela ia descobrir o quê.
Sofia passou o dia inteiro num misto de ansiedade e determinação feroz. Depois da conversa franca com Luiza na noite anterior — “Ou você cobra dele de uma vez, ou vai continuar engolindo seco pra sempre” —, ela tomou coragem e marcou a conversa séria. Mandou a mensagem pela manhã: “Hoje à noite no meu apartamento. 20h em ponto. Sem desculpas, Lucas. A gente precisa falar.”Ele respondeu em menos de um minuto: “Tô aí, amor. Prometo. Te amo demais.”Aquilo a acalmou por algumas horas. Ela decidiu transformar a noite em algo especial, como se, depois da conversa dura, pudesse haver reconciliação. Preparou um jantar leve: salada de folhas variadas com tomate-cereja, frango grelhado temperado com ervas, azeite e limão. Gelou uma garrafa de sauvignon blanc que ela tinha comprado, na volta da faculdade. Acendeu velas aromáticas de baunilha na mesa de jantar, espalhou algumas pela sala. Escolheu uma playlist suave no Spotify — Norah Jones, Alicia Keys, um pouco de jazz instrumental — volume b
A briga daquela noite no apartamento de Lucas não terminou com a porta batendo com força. O eco ainda reverberava no corredor vazio quando Sofia desceu as escadas correndo, o coração acelerado, as mãos tremendo enquanto chamava o Uber no aplicativo. Lágrimas quentes escorriam pelo rosto dela, borrando o rímel que ela havia caprichado para o jantar que planejara — um jantar que acabou em gritos.“Você prefere o trabalho a mim!”, ela havia gritado, a voz embargada. “Eu me sinto tão sozinha nesse namoro, Lucas! Você chega tarde, mal fala comigo, e quando fala é sobre reunião, deadline, Roberto isso, resort aquilo... Eu não aguento mais ser a segunda opção!”Lucas tentara se defender, a voz alta também, mas com um tom de frustração mais do que raiva. “Sofia, você sabe que isso é temporário! Esse projeto é a chance da minha vida. Eu tô fazendo isso pela gente, pelo futuro!”“Pelo futuro?”, ela retrucara, rindo sem humor. “Que futuro? O nosso ou o seu sozinho? Porque eu não me vejo mais nel
As semanas seguintes ao retorno da ilha só pioraram o que Sofia já sentia como uma rachadura crescendo no relacionamento. Lucas mergulhava cada vez mais nos projetos da família — não só o resort em Miami, mais ideias para expandir a cadeia de hotéis com foco em sustentabilidade, algo que ele justificava como "meu toque pessoal, inspirado em você, amor". As ligações com Roberto viraram rotina diária: manhã cedo, almoço, noite adentro. "Só mais uma call, pai quer minha opinião no layout do rooftop", dizia ele, o laptop sempre aberto, o telefone no viva-voz ecoando pelo apartamento dele.Sofia tentava entender. "É fase, vai passar depois da inauguração em março", repetia para si mesma enquanto estudava para as provas finais e corria com o TCC. Mas a distância não era só física — era emocional. As mensagens dele ainda eram carinhosas, mas curtas e espaçadas: "Bom dia, te amo, dia cheio hoje". As ligações? Raras, e quando rolavam, ele falava 80% do tempo sobre trabalho: "O pai adorou a ide
O último dia na ilha chegou rápido demais. O sol da manhã banhava a varanda com uma luz dourada, o mar calmo como um espelho. Seu Zé já preparava o barco para levá-los de volta ao continente, e as malas estavam arrumadas no hall.Clara abraçava Sofia a cada cinco minutos, prometendo visitas a São Paulo em breve e já planejando um almoço “só das mulheres” na casa dela na cidade. Sofia ria, retribuindo os abraços, sentindo-se parte da família de um jeito que não esperava.Lucas carregava as malas para o buggy, trocando brincadeiras com o pai sobre quem dirigiria até o píer. Roberto, de óculos escuros e camisa leve, esperou o momento certo — quando Lucas voltou da última ida ao buggy — para puxar o filho de lado, na sombra das palmeiras.— Filho, antes de vocês irem... quero te falar uma coisa.Lucas parou, curioso.— Diz, pai.Roberto tirou os óculos, olhando-o nos olhos.— O novo resort em Miami abre oficialmente em março. O Luxe Ocean South Beach — aquele que a gente reformou inteiro,
O churrasco já estava no fim, os pratos empilhados, o sol baixando no horizonte tingindo o mar de laranja. Todos estavam relaxados: Roberto contando uma história engraçada de uma viagem de negócios frustrada em Paris, Clara servindo mais pudim, Lucas e Sofia de mãos dadas na cadeira ao lado.A conversa fluiu naturalmente para o futuro — como sempre acontece quando pais conhecem a namorada do filho.Clara, limpando a boca com o guardanapo, virou-se para Sofia com um sorriso curioso.— E você, querida, quantos anos tem mesmo? Lucas disse que tá no último ano da faculdade... deve ser bem nova, né?Sofia sorriu, sem perceber a armadilha inocente da pergunta.— Faço 20 em março. Tenho 19 agora.O silêncio que caiu foi breve, mas perceptível. Clara piscou, o sorriso congelando por uma fração de segundo. Roberto parou com a taça de cerveja no meio do caminho até a boca, erguendo uma sobrancelha quase imperceptível.Lucas sentiu a mudança no ar e apertou a mão de Sofia de leve, como aviso.—
O sol do meio-dia batia forte na varanda da casa da ilha, mas a brisa do mar tornava tudo suportável. Roberto havia assumido a churrasqueira com a autoridade de quem fazia isso há décadas: avental listrado, faca afiada, carne premium que ele trouxera de São Paulo (“nada de supermercado aqui, só o melhor”). Picanha, linguiça toscana, costela, frango com bacon — o cheiro se espalhava pela propriedade, misturado ao carvão e ao limão espremido para o tempero.Clara organizava a mesa longa sob o pergolado: toalha branca, pratos de cerâmica colorida, saladas frescas (folhas colhidas na horta pequena da ilha, tomate cereja, abacate), farofa caseira, vinagrete. Ela cantarolava uma música antiga de Roberto Carlos enquanto arrumava os talheres.Sofia ajudava, cortando limões para caipirinha, ainda um pouco tímida, mas já à vontade. Lucas ficava ao lado do pai, virando a carne, bebendo cerveja gelada, trocando piadas sobre os velhos tempos.— Pai, lembra quando você queimou o churrasco inteiro n
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