Mundo ficciónIniciar sesiónO que começou como uma aventura adolescente se transformou em um vício impossível de controlar. Durante anos, Margo foi apenas “a outra” na vida de Misa Patinsk o herdeiro sedutor, arrogante e cheio de segredos. Entre portas trancadas e promessas vazias, ela acreditou que um dia seria escolhida. Mas esse dia nunca chegou. Agora, às vésperas da formatura, Margo tenta seguir em frente. Ao seu lado está Matthew, o melhor amigo de sempre — doce, leal e disposto a dar a ela tudo o que Misa nunca ofereceu. Com ele, existe segurança, carinho… e a chance de um futuro em paz. Mas basta um olhar de Misa para que todo o mundo dela desabe outra vez. Só que, desta vez, não é só desejo. Com a candidatura política do pai de Misa e a influência da família da namorada perfeita, cada segredo pode virar arma. E cada escolha, uma sentença. Quando até o amor vem carregado de mentiras, como decidir entre a redenção do homem que a destruiu e o amor genuíno de quem sempre esteve ao lado dela?
Leer más— Você sabia que, em algumas cidades do Japão, dizem que ter um gato preto aumenta o número de pretendentes pra mulheres solteiras? — Matthew comentou com aquele sorriso tranquilo, enquanto eu me equilibrava entre segurar o Bono no colo e trancar a porta do prédio com a outra mão.
— Então esse gato tá com defeito. — brinquei, entregando o Bono para ele segurar. — E não me diga que passou por acaso na rua do meu prédio.
Peguei o saco de lixo no chão e caminhei até a lixeira, ouvindo os passos dele atrás de mim.
— Achei que você ia querer uma carona pra faculdade — ele disse, fazendo carinho nos pelos pretos do Bono, que já se jogava em seus braços como se fosse um bebê mimado.
— Obrigada, Matthew, mas ainda tenho que passar no Pet Shop.
— Isso não é problema. — respondeu, já colocando o gato debaixo do braço e indo direto para o Porsche, como se já fosse óbvio que eu aceitaria.
Revirei os olhos, rindo.
— Você e sua boa vontade exagerada.
— Margo, entra no carro logo. — Ele falou enquanto destravava as portas e soltava o Bono no banco traseiro, como se fosse um passageiro vip.
— Quando você vai parar de ser tão bonzinho assim? — Entrei no carro e liguei o rádio na estação de sempre. Pra nossa sorte, tocava nossa música favorita do momento — daquelas que a gente canta errado, mas com vontade.
— Me conhece há quatro anos, Cecon. Você sabe que eu gosto de dirigir contigo do lado. Nem é sacrifício.
— Todos os dias, Matthew? Eu me sinto uma abusadora da tua caridade.
Ele sorriu de canto e ligou o carro. Apertei o cinto, encostando a cabeça no vidro.
— Já fazem quatro anos que entrei naquele campus da NYU pela primeira vez. Nem parece.
— Eu lembro... você sentada sozinha falando com o vento. Achei que tinha fugido do hospício.
— Idiota. — Mostrei a língua, rindo. — E pensar que daqui a duas semanas a gente se forma...
— Os futuros publicitários de Nova York. Olha o perigo.
— Se eu não for contratada pela Marvel, vou falir.
— Você já mandou o currículo. Agora é torcer.
— Eles só vão me chamar quando chover canivete.
— Não seja pessimista.
Ele estacionou do outro lado da rua. Peguei o Bono no colo e atravessei a calçada até o Pet Shop Red Canary. O dia já estava agitado, como tudo em Nova York às oito da manhã — aquela mistura de caos que me dava vontade de abraçar e socar ao mesmo tempo.
— Bom dia, Mag. — Fred me recebeu do balcão com aquele sorriso de sempre. O cabelo ruivo rebelde despontava por baixo do boné verde da loja;
— Bom dia. — Sorri, entregando o Bono, que ronronou na hora. — Ele tá podre de fedido, já aviso. Final de semestre me engoliu.
— Já vi ele pior. — Fred brincou, pegando o dinheiro que deixei no balcão.
— Volto lá pelas cinco, tá?
Estava mais atrasada do que imaginava. Saí praticamente correndo, mas minha bolsa resolveu me sabotar, enganchando na maçaneta. Praguejei em silêncio e tentei soltá-la, até sentir um empurrão nas costas que quase me jogou no chão. Não cheguei a cair. Dois braços fortes me seguraram. E foi aí que eu olhei pra cima.
— Ei! — exclamo, quase indo de cara no chão.
Cachos castanhos escuros. Olhos azul-acinzentados. Suor escorrendo pela têmpora. O cheiro amadeirado do perfume misturado com hortelã quente do hálito. O corpo arfando.
Misa.
— Você? — minha voz saiu com um susto abafado, franzindo a testa. — O que tá fazendo aqui?
— Correndo. — Ele disse, tirando os fones e limpando o rosto com a camiseta. O suor colava o tecido à pele, e meu corpo respondeu antes da minha consciência.
— Mas... você mora do outro lado da cidade. — Minha pergunta saiu mais como uma acusação do que eu pretendia.
— Não dormi em casa.
Curto. Seco. Cruel. Tradução: dormiu com ela. Com July.
Senti o estômago embrulhar, mas engoli.
— Entendi. — Olhei para o lado e mordi a língua. Mas não aguentei. — Ela já tá melhorando na cama?
Ele sorriu de lado, daquele jeito que só ele sabia fazer quando queria me desmontar.
— Não chega nem perto da minha amante.
A palavra caiu como um tapa.
"Amante."
O prédio da Emma fica num quarteirão silencioso do Lower East Side, com árvores que ainda guardam o dia no brilho das folhas. Ela abre a porta no segundo toque. Emagreceu. O rosto afinou, as olheiras assumiram o comando. Não precisa dizer que não tem dormido.— Fala logo — ela se encosta no batente, sem cerimônia.— Você conhece algum Jango? — pergunto entrando, sem rodeios. — Já ouviu esse nome?— Claro. Foi ele que atirou no… você sabe. — Os olhos piscam, duros. — O que tem isso?O chão falta por um instante. O estômago contrai.— Merda.— Misa, eu perguntei: por quê?— Hoje chegou uma carta no meu prédio, entregue em mãos. O carteiro deixou com o porteiro. Endereçada ao meu apartamento. Eu abri no elevador. — Tiro a folha do bolso, estendo. — Leia.Ela pega como quem pega vidro. O apartamento dela tem cheiro de chá frio e janela aberta. A Emma lê de uma vez, silenciando entre linhas, o maxilar crispado. Demora tempo demais.— Então? — forço.— Então o óbvio — ela pousa o papel na m
2 meses depois POV MISAAs persianas brancas ficam abertas quando anoitece. Gosto de ver o céu desbotar atrás dos prédios, como se Manhattan apagasse luz por luz. Fico mais um pouco no escritório — costume, desculpa, estratégia. Qualquer coisa que me evite chegar cedo demais em casa e cruzar a porta ao mesmo tempo que a July. Já basta esbarrar com ela toda manhã, pontual como café ruim.Hoje, por um instante, penso em descer para um bar e pedir dois dedos de bourbon. Lembro que não tenho companhia. O Mathew virou meu rival; o Jones… Bem, o Jones está fora do alcance. Desde que ele morreu, um desconforto mora no meu peito. Os fatos não se encaixam. As pontas não se dão a mão.Sem trabalho urgente, encerro o dia. Visto o blazer preto, confiro o telefone — nenhuma mensagem que valha a noite —, pego a chave e apago as luzes. Minha secretária já se foi; deixou uma pilha de currículos anotados, os primeiros contratados que vão dividir causas comigo assim que a reforma no fundo do escritóri
POV MISA Eu era o único, naquele mar de suspiros e celulares erguidos, que só queria uma saída. Qualquer porta. Qualquer janela. Qualquer corredor que me poupasse de ouvir a palavra que, mais cedo ou mais tarde, eu sabia que viria da boca da Margo. O “sim” dela. Sabia que um dia aconteceria. Só não imaginei que seria assim na minha frente.A família dos dois brilhava de orgulho, uma moldura perfeita para a cena. E, no meio do quadro, os gêmeos — meus filhos — recebendo elogios como “os filhos deles”. Dói num lugar que não tem anestesia. Ver o Mathew erguer a Becah, beijar o Liam, rir com aquele jeito de quem tem o mundo sob controle… É como se cada gesto dele me empurrasse para fora de um filme que, no fundo, sempre foi o meu. Eu sei que ele é um bom cara. Sei que, para a Margo, ele é um porto. E, ainda assim, tudo em mim quer cruzar o gramado, tirar as crianças dali e correr.Respiro, ajusto a gravata que me estrangula desde a primeira taça de espumante, e começo a abrir caminho ent
O abraço dele veio calmo, contido, sem invadir. Demorou um segundo a mais do que a etiqueta permite — tempo suficiente para reacender as fagulhas que eu vinha varrendo para o canto. O perfume amadeirado encostou na pele e levantou memórias que eu tinha prometido não revisitar: um corredor vazio, uma risada abafada, o conforto perigoso de caber no peito dele. Quando se afastou, deixou a porta aberta e um silêncio cheio, desses que parecem falar por si.Voltei ao jardim com a bandeja e uma tempestade que eu escondi bem atrás do sorriso. As mesas, vistas de longe, formavam um anfiteatro de linho bege e copos cintilantes; metade das pessoas voltadas para nós, metade para o pequeno palco improvisado sob a tenda central. O Math se adiantou dois passos, a Becah agora nos braços do Chris; a Clary ao lado, alisando a mãozinha da minha menina e contando segredos que faziam os olhos dela brilharem como contas claras.— Bem, Mag… — o Math começou, e o jardim foi baixando de volume sozinho, como u
O “ah!” do Math foi sincero. Os aplausos, o coro de “Parabéns”, gente acenando taças. Eu encostei na orelha dele.— Feliz aniversário.De canto, meu olhar encontrou o do Misa, a alguns metros, perto da tenda de drinks. Terno azul-marinho impecável, gravata cinza perolada, cabelo escovado pro lado, um desalinho calculado na franja — e um cansaço irremediável colado ao osso da face. Ele me encarou sem arrogância, sem súplica. Quase… quieto. E isso me desestabilizou mais do que qualquer provocação antiga.— Isso é coisa da minha mãe — o Math riu baixo, os dentes brancos no contraste da barba. Eu mordi o impulso de dizer “e do seu pai também”, porque meus sogros viviam pra isso: arrepender-se das extravagâncias e já planejar a próxima.— Eu vou buscar a outra surpresa — falei.— Qual?— Aquela que provavelmente está devorando cajuzinho na cozinha.Saí pelo corredor de gente sorridente, cumprimentando com a cabeça. Foi quando a parede do meu caminho assumiu a forma de um vestido preto acet
— Oi, fofura — encostei ali, o Liam espalhado no meu colo, mãozinha testando o meu colar.— A Tina que fez esses docinhos — ela anunciou, orgulhosa, mordendo mais um. Valentina sorriu, ajeitando o avental. Deu vontade de rir: no balé daquela cozinha classe-média alta do Upper East Side, a Clary se movia como se fosse de casa.— Quer um? — ofereceu.— Não posso, meu amor — sorri. — Os bebês são alérgicos. Eu também preciso cuidar do que como.— Ah… — ela pensou um pouco, a testa franzida. — A minha professora falou que tem mamãe falsa e mamãe verdadeira. A falsa deixa no orfanato. A verdadeira vem depois e escolhe a gente. E fica pra sempre — explicou, simples, como quem fala de nuvem.Engoli o nó. Como se explica ao mundo que ele não é tão arrumadinho assim?— É complicado — disse, alisando o cabelo macio dela. — Mas tem gente que escolhe a gente de um jeito que não dá pra ver. Às vezes, a família começa pelo coração. E o resto vem atrás.A Valentina piscou, discreta. Eu ia dizer mais





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