Mundo de ficçãoIniciar sessãoSete anos. Foi esse o tempo que Camille Morgan levou para reconstruir sua vida, ou, pelo menos, para fingir que conseguiu. Ela acreditava ter enterrado o passado até o dia em que ouviu, por acaso, o nome que mais temia: Adam Bennett. O homem que ela amou profundamente… mas se perderam. Quando seus olhares se cruzam novamente, o tempo parece parar. As lembranças voltam com força, os sentimentos esquecidos despertam, e o orgulho, o mesmo que os separou, ainda é o maior obstáculo entre eles. Camille e Adam foram vítimas do que não foi dito, das meias verdades e da imaturidade. Mas agora são adultos e o reencontro traz consigo a chance de finalmente descobrir o que realmente os separou. Entre o orgulho e o perdão, entre o passado e o presente, eles terão que escolher: reviver a dor ou se permitir amar outra vez.
Ler maisFazia sete anos desde que Camille Morgan ouvira aquele nome. Adam Bennett. O som escapou entre as conversas de um café cheio, abafado pelo ruído das máquinas de espresso, mas bastou uma vez para o tempo parar. O tilintar das xícaras, o cheiro de café fresco, as vozes em volta, tudo se apagou por um instante. O corpo reagiu antes da mente. Um arrepio atravessou-lhe a pele, o coração perdeu o ritmo. Havia nomes que não se esquecem, apenas adormecem, à espera do momento certo para despertar.
E aquele, sem dúvida, era o nome capaz de despertar tudo. Camille ergueu o olhar. As portas de vidro se abriram, e um grupo de homens entrou conversando baixo, todos de terno escuro, pastas em mãos, postura de quem acabava de sair de uma reunião importante. E lá estava ele. Ela o reconheceu no mesmo instante, seria impossível não reconhecer. Mesmo à distância, no meio do grupo, entre gestos contidos e risos educados, era ele. Adam Bennett.
Mas, por um momento, o reconhecimento veio acompanhado de descrença. Porque o homem diante dela já não parecia o mesmo. O Adam que Camille guardava na memória tinha o olhar quente e o riso fácil, as mangas dobradas e as mãos marcadas pelo trabalho. O Adam que estava ali era outro. Altivo. Seguro. O corte de cabelo mais sóbrio, o terno perfeitamente alinhado, o relógio caro que reluzia discretamente no pulso. Ele caminhava com naturalidade, a presença dominando o espaço, um homem que não pedia lugar, ocupava. Conversava com os colegas de modo leve, mas havia uma autoridade silenciosa no modo como os outros o seguiam.
Camille não conseguia tirar os olhos dele. Era como observar uma versão reinventada de uma lembrança. O mesmo homem e, ao mesmo tempo, um completo estranho. Seu peito apertou com uma mistura de orgulho, surpresa e dor. Orgulho, por vê-lo bem. Surpresa, porque o tempo havia sido generoso com ele. E dor… por todas as magoas que guardava dele. Ela tentou voltar ao livro aberto diante dela, mas as palavras já não faziam sentido. O ar do café parecia diferente, mais pesado.
Ele ainda não a tinha visto. Falava com um dos homens do grupo, um leve sorriso curvando-lhe os lábios, aquele sorriso que um dia a fez esquecer o mundo. Camille desviou o olhar, tentando recuperar o controle, mas o som da voz dele a alcançou como uma lembrança viva. Grave, firme, amadurecida. O mesmo timbre, agora revestido de calma e autoridade. E então, inevitavelmente, ele a viu.
O movimento foi discreto, quase imperceptível. Mas, no instante em que os olhares se cruzaram, Camille soube que ele a reconhecera também. O sorriso dele se desfez, os músculos do rosto se contraíram levemente. Por um segundo, pareceu vacilar, só um segundo. Depois, recompôs-se. O coração dela disparou, e ela se odiou por isso. Sete anos, e ainda era assim. Aquele olhar tinha o poder de desfazer tudo o que ela construiu.
Adam murmurou algo aos colegas, que assentiram e se afastaram em direção a uma mesa mais ao fundo. Ele ficou para trás. Parado por um instante, como se pesasse a decisão entre se aproximar ou não. Camille abaixou o olhar para a xícara, fingindo distração. Mas quando o viu se mover, o coração pareceu esquecer como bater. Cada passo dele soava como um eco do passado. E, quando parou diante dela, o mundo pareceu se calar.
— Camille... a voz dele saiu grave, controlada, mas havia algo, um traço sutil de surpresa, talvez emoção, escondido nas entrelinhas.
Ela levantou os olhos. E o tempo, de novo, voltou. Mas o que viu ali não era o rapaz que conheceu. Era o homem que o tempo construiu sobre as ruínas do que viveram.
— Adam, respondeu apenas, num tom firme que custou a sustentar.
O silêncio que se formou foi cruel. Entre eles, havia mais do que lembranças. Havia o que o orgulho impediu de ser dito. Havia o que o tempo não conseguiu apagar. Camille quebrou o silêncio, forçando leveza.
— Mas que… surpresa.
Ele sorriu de um jeito discreto, quase educado demais.
— O destino tem um senso de humor complicado.
Ela percebeu: o sorriso não chegou aos olhos. Por baixo daquela fachada tranquila, havia uma reserva, talvez mágoa. O tipo de calma que só quem sangrou em silêncio aprende a fingir.
— Está morando aqui? Ele perguntou, a voz firme, impessoal.
— Sim. Respondeu, sem baixar a guarda. E você?
— Negócios. Disse, seco.
Camille assentiu devagar, admirando-o em segredo. O tom frio não apagava o magnetismo. Ele exalava presença, uma autoconfiança quase perigosa e isso a desarmava ainda mais.
— Imagino que a vida tenha sido boa pra você. Arriscou, tentando soar indiferente.
Adam desviou o olhar para o balcão.
— Tenho tentado fazer o melhor dela.
Simples. Sem emoção. Mas o modo como ele apertou os punhos dizia outra coisa. O silêncio seguinte foi denso, como se ambos caminhassem sobre vidro. Cada palavra contida, cada lembrança engolida, pesava entre eles. Camille foi a primeira a se mexer. Pegou a bolsa, ajeitou o vestido e esboçou um sorriso contido.
— Bem, foi bom te ver.
Ele hesitou um instante. Depois, apenas assentiu.
— Igualmente.
Mas, quando ela virou as costas, o olhar dele a acompanhou em silêncio. E, por trás daquela serenidade, algo se moveu, uma lembrança antiga, incômoda, que o tempo não conseguiu apagar. Camille saiu do café com o coração acelerado. Andou alguns passos sem olhar para trás, mas o pensamento ficou. Ele estava diferente, mais forte, mais distante, mais homem. E talvez fosse isso que doía: perceber que o tempo o fez tão bem, enquanto ela ainda tentava se curar.
A porta da sala se abriu de uma vez, e cinco homens entraram já com as armas empunhadas. Marcus reagiu no mesmo segundo. A mão dele foi à cintura, puxando a pistola com precisão de policial treinado, mas congelou quando viu cinco canos apontados diretamente para ele. Adam avançou um passo instintivo, ficando entre os homens e Camille. A tensão cortou o ar como faca quente.Melissa fechou o monitor com força, o estalo ecoando como um aviso. Lucas ficou imóvel por um segundo, depois todo o corpo dele enrijeceu. Ele sabia exatamente quem eram aqueles homens. O líder, um sujeito de terno escuro e sorriso arrogante, analisou todos com tranquilidade irritante.— Boa tarde, doutora Morgan, Senhor Bennett, oficial Hale.Melissa estreitou os olhos.— Quem mandou vocês?O líder ignorou a pergunta.— Estamos aqui a mando do deputado Valverde. Precisamos da doutora Camille Morgan para uma conversa urgente. E também vamos levar o doutor Miller.Camille sentiu Adam tensionar ao seu lado, ele virou
A porta da sala se abriu com força. Lucas entrou apressado, o jaleco meio torto, como se tivesse vestido enquanto corria.— O que houve? A Emilly disse que…Ele não terminou. Ninguém respondeu. Marcus estava rígido, a postura de segurança ativada. Melissa tinha os olhos fixos no monitor, indignada. Camille tremia, não de medo, mas de pura, absoluta raiva. Assim que Lucas cruzou a porta, ela avançou dois passos.— Você falsificou a minha assinatura.Lucas empalideceu, engolindo seco.— Camille… me escuta, por favor… deixa eu explicar…A raiva tomou forma, concreta, e ela o empurrou com tanta força que ele bateu as costas na porta.— VOCÊ. FALSIFICOU. A MINHA. ASSINATURA! A minha, Lucas! Você colocou o MEU nome num esquema criminoso!Marcus arregalou os olhos com a força dela. Melissa deu meio passo para a frente, alerta. Nesse segundo a porta atrás dela se abriu. Um braço firme envolveu sua cintura por trás, interceptando o movimento antes que ela colidisse com Lucas. Era Adam, ele a p
Marcus estava encostado na parede do corredor do fórum, braços cruzados, postura de sentinela, aguardando Melissa sair da audiência. Ele olhava o telefone de tempos em tempos, inquieto, Adam ainda não havia retornado as mensagens dele da manhã. Quando o celular vibrou, ele atendeu tão rápido que quase deixou cair.— Adam?— Marcus, a voz de Adam vinha firme, baixa, carregada. Preciso que você vá até a clínica da Camille. Agora.Marcus se endireitou imediatamente.— Aconteceu alguma coisa?— Eu não sei, Adam não era homem de admitir “não sei” facilmente. Mas ela saiu do loft. Tentou me avisar, mas eu não recebi. E Emilly ligou pra ela pedindo que fosse até a clínica. Não gosto disso.— Estou indo.— Marcus… Adam completou, com um tom que raramente usava, não a deixe sozinha.— Pode deixar comigo.A ligação encerrou. Marcus já dava o primeiro passo para sair quando Melissa surgiu da porta da sala, tirando a beca com um suspiro de alívio. — Acabou. Podemos…ela interrompeu a frase ao ver
Adam fechou os olhos por um instante, a respiração presa no peito. Era como se cada peça finalmente tivesse se encaixado, só que o quebra-cabeça montado formava o pior cenário possível. Delmont não queria transparência queria controle, sobre o estrago. Controle sobre quem seria queimado para proteger o resto. E, de repente, ficou claro: Camille era a peça sacrificável. Adam sentiu algo escuro e frio se espalhar no estômago. Ele abriu os olhos e encarou seu próprio reflexo na parede de vidro: duro, tenso, quase irreconhecível.— Ele não vai encostar nela… Adam murmurou para si mesmo, a voz grave, quase ameaçadora.Ele pegou o celular para ligar pra Camille, ainda com o coração disparado. Mas quando viu o nome na tela, algo dentro dele se rompeu: “Camille — ligação perdida.” e uma mensagem de voz: “Adam… eu estou bem. Mas preciso ir até a clínica. Emilly me ligou, parece importante, e não posso ignorar. Não vou encontrar Lucas, não se preocupe. Só… me liga assim que puder. Por favor.” A
O elevador abriu com um ding suave, mas a atmosfera no último andar da Bennett estava longe de tranquila. Funcionários trocavam olhares discretos, cochichos eram interrompidos quando Adam passava. O clima de alerta era quase palpável. Adam ignorou tudo. Caminhou até a sala de reuniões com passos rápidos, o corpo inteiro carregando uma energia tensa. A porta estava entreaberta. Isabella estava lá. Parada próxima à mesa, mãos apoiadas na madeira como se tentando se manter firme. O rosto sério demais para ser apenas trabalho. Os olhos vermelhos.— Adam. Ela disse, e o modo como pronunciou o nome dele já avisava: isso era grave. Ele entrou.— O que você encontrou? Ela fechou a porta.— Não dá pra falar lá fora. Isso envolve gente grande. Gente que não pode saber que você… que nós… descobrimos isso. Adam não piscou.— Mostre.Isabella puxou uma pasta grossa, abriu sobre a mesa. No topo, impressões de ligações interceptadas, registros de ligações, prints de agendas parlamentares. Adam reco
A manhã chegou arrastada, mas ninguém no loft parecia desperto de verdade. Era como se a noite tivesse virado fantasma e ficado ali, pairando sobre cada um deles. Adam estava encostado na bancada, tenso, o maxilar marcado. Camille segurava uma caneca de café como se fosse um escudo. Melissa observava tudo com um senso de proteção crescente. Marcus, apesar das olheiras, era o único que parecia disposto a lidar com o mundo. O interfone tocou. Todos levantaram o olhar ao mesmo tempo. A voz do segurança veio firme:— Senhor Hale… Sr. Miller está no hall. Disse que precisa ver a Srta. Morgan e É urgente.O ar pareceu desaparecer do loft. Adam fechou as mãos, Melissa balançou a cabeça desaprovando antes mesmo de entender. Marcus só respondeu: "Estou descendo".A porta se fechou atrás dele. E então veio a espera, Camille prendeu a respiração. Melissa franziu o rosto, contrariada. Adam… apenas inclinou minimamente a cabeça, como quem registra a informação e já começa a calcular riscos, conseq





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