Liz Montesi achou que o pior do dia seria flagrar o namorado com outra. Estava errada. Horas depois, é praticamente vendida a Ettore Bianchi, o homem que ela amou, feriu e perdeu há três anos. Ele precisa de uma esposa para assumir de vez o controle da empresa. Ela, de um acordo que salve os negócios da família. Um casamento por interesse. Um passado que ainda sangra em ambos. Agora, presos sob o mesmo teto, precisam fingir um amor que já foi real. Mas a linha entre atuação e verdade é fina — e cada toque pode reacender tudo o que tentaram enterrar... inclusive verdades que nenhum dos dois estão prontos para enfrentar.
Leer más“Ettore Bianchi” Observo o rosto da minha mãe, deformado pela fúria mal contida, e sinto aquela velha exaustão conhecida. O mesmo olhar, a mesma tensão. As mesmas batalhas. Liz alterna o olhar entre nós dois, claramente ponderando se deve sair ou enfrentar minha mãe de frente. Mas agora, ciente de que Liz parou de recuar e se intimidar, não posso deixar isso acontecer. Não aqui. Não com minha mãe prestes a colocá-la para fora com as próprias mãos. — Liz, nos dê licença, por favor — digo, mantendo o tom calmo e profissional. — Claro, volto depois.— ela responde, visivelmente insatisfeita. — Ou podemos discutir isso na nossa casa, marido. Ela solta a provocação com um meio sorriso e segue até a porta. Ao passar por minha mãe, Chiara se afasta como se Liz fosse portadora de um vírus mortal. A porta mal se fecha, e minha mãe já me encara com intensidade. — Você não deveria estar em Turim? — pergunto, arqueando uma sobrancelha. — Não era esse o plano? Ficar longe das lembranças e
“Liz Bianchi”Dois dias. Apenas dois dias foram suficientes para entender por que o departamento de design está estagnado.Não é por falta de talento — alguns dos designers realmente têm isso. É por falta de liberdade criativa.Paolo, o homem que me recebeu com hostilidade declarada, governa o setor como um pequeno ditador. Tudo, absolutamente tudo, precisa da bênção dele.Suspiro, reunindo as anotações que fiz nesses dois dias. Está na hora de apresentá-las a Ettore e, honestamente, não estou ansiosa por isso.Ouço a porta do meu escritório se abrir. Levanto os olhos, esperando ver Giulia, mas me deparo com outra pessoa.Isabella Ricci.Meu corpo se tensiona rápido, mas me forço a endireitar a postura.Claro que ela trabalha aqui. Porque a vida, às vezes, tem um senso de humor questionável.— Liz Bianchi — ela pronuncia meu sobrenome com um desdém quase palpável. — Finalmente posso dar as boas-vindas oficiais à nossa mais nova diretora de criação.— Isabella, que surpresa — respondo,
“Ettore Bianchi” As portas da sala de reuniões se fecham atrás de mim, e todos os olhares se voltam na minha direção. O conselho está completo hoje — uma coincidência conveniente para quem quer questionar minhas decisões recentes. Giorgio Ricci, sentado à direita de onde meu pai costumava ficar, tamborila os dedos sobre a mesa de madeira polida. Seu olhar de desaprovação é tão sutil quanto um martelo. — Bom dia, Sr. Bianchi — meu tio Alessandro me cumprimenta. — Estávamos analisando os números das últimas semanas. Impressionantes, devo dizer. Ocupo meu lugar na cabeceira da mesa, abro minha pasta e encaro cada um deles com calma. — Os números são aceitáveis, mas continuam longe do que podemos alcançar — respondo, mantendo o tom neutro. — Concordo plenamente — Giorgio intervém, inclinando-se para frente. — Principalmente considerando suas recentes… contratações. Ah… Então é sobre isso. — Se está se referindo à minha esposa e à assistente dela, sim, elas se juntaram hoje ao dep
O silêncio no carro é quase palpável enquanto Ettore dirige pelas ruas de Milão. Entre organizar minha mudança para o Grupo Bianchi e me desligar da Montesi & Co., os últimos dias passaram voando. Ao menos isso serviu para que eu tivesse menos tempo com Ettore. — Lembre-se de que isso é estritamente profissional — ele diz, interrompendo meus pensamentos sem desviar os olhos da estrada. — O fato de ser minha esposa não te dá privilégios lá dentro. — Nunca pedi por privilégios — rebato, virando o rosto para encará-lo. — Estou indo pelo meu trabalho, não pelo seu sobrenome. — Pelo menos estamos com o mesmo pensamento — responde, frio. — A equipe já está resistente o suficiente, sem precisarmos adicionar mais drama. Ele volta ao silêncio habitual, enquanto eu demoro um pouco mais o encarando antes de finalmente desviar o olhar. Hoje, Ettore acordou diferente. A frieza e a indiferença estão presentes, claro. Mas também há algo que parece… nervosismo. Como se o fato de trabalharmos
Por um longo momento, minha melhor amiga me encara como se eu tivesse acabado de confessar um crime. — Você está ficando doida, só pode! — ela finalmente exclama, colocando a mão na testa. — Não quero nem imaginar qual será sua próxima loucura. — Na verdade, essa também já aconteceu… — digo, mais calma do que realmente me sinto. — Falei que só vou se você for comigo. — É oficial, minha melhor amiga endoidou! — ela quase grita, andando de um lado para outro. — Eu e você trabalhando para Ettore Bianchi? O homem que te odeia? — Ele não me odeia — digo automaticamente, e então me corrijo: — Ou talvez odeie, mas isso não importa. É uma oportunidade profissional, Giu. Ela para de andar e me encara, incrédula. — Profissional? — repete, irônica. — Nada sobre vocês dois, é apenas profissional, Liz. Você sabe disso melhor do que ninguém. — Olha, sei como parece — admito, levantando para me aproximar dela. — Mas pense nas vantagens. O Grupo Bianchi tem recursos que a Montesi nem sonha em
Encaro Ettore, sem acreditar no que estou ouvindo. Eu devia ter imaginado que havia algo errado desde o momento em que ele entrou — e, inconsciente ou conscientemente, me salvou do meu pai. Mas, como sempre, subestimei Ettore Bianchi. — Do que você está falando? — pergunto, sentindo como se o ar tivesse sido sugado da sala. — Quero que você se junte ao departamento de design do Grupo Bianchi — explica, num tom tão empresarial que poderia estar falando sobre a previsão do tempo. — Precisamos de alguém com sua visão para a nova linha de produtos. Minha primeira reação é rir. Só pode ser uma piada, certo? Porque… por qual outro motivo ele apareceria aqui com uma proposta profissional? — Você está brincando — digo, embora seu olhar deixe claro que ele está longe disso. — Nunca falei tão sério. Nosso departamento de design precisa de ideias revolucionárias… como as suas. — E você acha que vou simplesmente abandonar o trabalho que construí aqui para trabalhar para você? — questiono,
“Liz Bianchi”Os últimos dois dias se resumiram aos mesmos pensamentos, que voltam sempre que dou brecha.Os beijos. As mãos dele na minha pele. Minhas pernas entrelaçadas na cintura dele. E depois, nossa primeira conversa surpreendentemente civilizada no escritório.Sempre na mesma ordem.— Terra chamando Liz! — A voz de Giulia me arranca dos devaneios, parando ao meu lado. — É a terceira vez que você olha para o mesmo desenho sem mudar nada.— Estou um pouco distraída — respondo, largando o lápis na mesa.— Um pouco? Você está em Marte desde que chegou. O que aconteceu?— Nada — respondo rápido demais.— Olha, te conheço há mais de quinze anos — diz, puxando a cadeira para se sentar ao meu lado. — Você nunca foi uma boa mentirosa. O que aquele idiota fez agora para te deixar assim?Desvio o olhar, ponderando se conto.Se eu contar, aguento um sermão. Se não contar, ela me tortura até arrancar tudo.— Ettore me beijou — confesso, quase num sussurro.— Ah, só isso? — ela responde, sol
“Ettore Bianchi” Minha voz corta o silêncio do escritório, fazendo Liz tremer e apertar as folhas que segurava, visivelmente assustada. Ela vira o rosto na minha direção, estreitando os olhos para tentar me encontrar na penumbra. Estou aqui há pelo menos meia hora, sentado na poltrona no canto escuro do escritório, um copo de whisky na mão, perdido em pensamentos tumultuados. Pensamentos sobre lábios macios, cabelos sedosos e a versão de Liz que agora me desafia em vez de recuar. Ela só não me viu antes porque se distraiu demais olhando os desenhos medíocres que o departamento me entregou hoje. — Eu… estava indo para a biblioteca — ela explica, colocando novamente os papéis sobre a mesa. — Mas vi a porta aberta. Me levanto da poltrona e me aproximo lentamente, ainda segurando o whisky na mão. — Então decidiu fuçar nas minhas coisas — completo, parando a uma distância segura. Perto o suficiente para sentir seu perfume, longe o bastante para não perder o controle novam
A porta se fecha atrás de nós com um clique que ecoa pelo corredor silencioso. Eu o encaro por um momento, só então dando um passo para trás ao perceber o que ele fez — e onde estamos. — Você está no quarto errado — digo, mantendo a voz firme, mesmo com meu coração martelando no peito. — Sei exatamente onde estou — ele responde, sem desviar o olhar. O silêncio entre nós se estende, denso, carregado. Eu, tentando entender o que ele pretendia me trazendo para cá. Ele, como se ponderasse o próximo passo. — Afinal, o que você quer aqui, Ettore? — pergunto, quebrando o clima sufocante. — Essa nova postura… essa confiança — ele diz, se aproximando um pouco mais. — Não esperava por isso. — Lamento desapontá-lo, Sr. Bianchi — retruco, com uma calma que não sinto nem de longe. — Não me desapontou — rebate, e um sorriso malicioso brinca em seus lábios. — Muito pelo contrário. Ele dá mais um passo, e seu perfume me envolve antes que eu consiga recuar. — Você deveria… ir —