Mundo ficciónIniciar sesiónDespejada, endividada e sem ter para onde ir, a jovem Lizandra — recém-formada em Pedagogia — agarra com unhas e dentes a oportunidade de trabalhar como babá na mansão do milionário Fernando Albuquerque, um CEO viúvo que carrega nas costas o peso da dor e a responsabilidade de criar sozinho a pequena Lia, de seis anos. Na casa dele, Lizandra encontra muito mais do que um emprego: descobre um homem imponente, controlador e irresistivelmente atraente, cujos olhos azuis parecem enxergar além das defesas que ela tenta erguer. A convivência diária entre eles se transforma em faísca. A dedicação carinhosa de Lizandra à menina, os confrontos intensos com Fernando quando se trata do bem-estar de Lia, e o calor que nasce entre discussões e aproximações inesperadas acendem uma paixão impossível de ignorar. Mas Lizandra guarda um segredo capaz de destruir tudo: uma irmã gêmea criminosa, recém-libertada do presídio, sem limites e disposta a tudo. Quando o passado que Lizandra teme finalmente bate à porta, o amor que ela e Fernando construíram precisará enfrentar sua prova mais cruel: até onde vai a confiança quando o coração está em jogo?
Leer másLizandra Oliveira
Depois de mais um longo e cansativo dia à procura de trabalho, virei a esquina da viela estreita onde ficava o quarto que eu alugava, meu coração já vinha pesado, nos últimos meses. Eu só queria tirar os sapatos, respirar fundo e tentar acreditar que amanhã seria diferente. Mas, quando vi a porta escancarada e minhas coisas espalhadas no corredor, senti minhas pernas quase falharem. — Dona Olinda? — minha voz saiu baixa, trêmula, mas ela nem esperou eu me aproximar. Ela estava ali, braços cruzados, expressão dura, como se eu fosse um incômodo que ela finalmente estava se livrando. — Já falei, Lizandra. Três meses. Três. Não tem mais conversa — ela disse, pegando minhas bolsas de roupas e largando ao lado da porta, como se nem fosse minha. — Por favor… eu só preciso de mais uma semana. Eu consegui deixar currículos, estou tentando. Hoje mesmo fui em quatro escolas… — tentei argumentar, sentindo a garganta fechar. — Tentar não paga aluguel — ela cortou, seca, virando de costas para pegar mais coisas minhas. — E eu não vou ficar no prejuízo porque você não se resolve. Quando a vi segurar minha caixa com meus livros da faculdade, os únicos que eu tinha conseguido manter com tanto esforço, algo dentro de mim desabou. — Não, por favor! — corri até ela, segurando a caixa antes que ela deixasse cair. — Isso é tudo o que eu tenho… Ela me olhou apenas por um segundo. Não havia crueldade, mas também não havia compaixão. — Então dá seu jeito. Aqui você não fica mais. Meu peito se apertou de um jeito que me deixou sem ar. O sol estava se pondo, e eu ali, na porta, com minhas roupas, meus livros, minhas lembranças… tudo empilhado no chão, exposto, como se minha dignidade também tivesse sido colocada para fora. — Eu não tenho pra onde ir… — minha voz saiu num soluço. — Não posso fazer nada — foi tudo o que ela disse antes de entrar e bater a porta, trancando-a e saindo sem olhar para trás. Fiquei ali, parada, abraçando minha caixa de livros como se fosse a última coisa que me mantinha inteira. As lágrimas escorriam quentes, silenciosas, mas não havia como segurar. Era humilhante. Cruel. Um fim que eu jamais imaginei enfrentar após me formar. Eu tinha sonhado tanto com aquele diploma. Tinha acreditado que, depois dele, a vida finalmente abriria alguma brecha pra mim. Mas naquele momento, com minhas coisas espalhadas no corredor e o céu escurecendo, eu estava emocionalmente destruída. Sentei no chão, bem ao lado das minhas coisas empilhadas, sem saber por onde começar. Abracei meus joelhos, tentando segurar o choro que vinha em ondas, mas ele simplesmente continuava escorrendo, quente, insistente. Meu celular vibrou no bolso da calça. Pensei em ignorar, mas quando vi o nome da Samanta na tela, algo dentro de mim cedeu. — Alô… — minha voz saiu tão trêmula que mal me reconheci. — Liz? — a voz dela mudou na hora, alerta, urgente. — O que aconteceu? Você tá chorando? Onde você tá? — Me… me despejaram, Sasa… — sussurrei, tentando puxar o ar. — Eu cheguei e minhas coisas estavam todas na porta. Eu não tenho pra onde ir agora… — Me passa seu endereço AGORA — ela ordenou, firme, mas preocupada. — Eu vou te buscar. — Eu… eu não tenho dinheiro nem pra sair daqui — admiti, apertando os dedos contra o rosto. — Nem ônibus eu consigo pagar hoje. — Lizandra, pelo amor de Deus, você acha que eu vou deixar você aí? — ela disse, completamente indignada. — Vou mandar um carro de aplicativo pra te buscar. Você e suas coisas. Tudo. Só me manda a localização. Minha respiração falhou, parte alívio, parte vergonha. — Sasa… eu não quero te atrapalhar. Você já fez tanto por mim… — Atrapalha é o escambau — ela cortou, mas com a voz doce, quase rindo. — Amiga serve pra quê? Pra passar perrengue junto. Agora manda a localização antes que eu vá aí correndo descalça. Uma risada frágil escapou de mim, meio soluço, meio desespero. — Obrigada… de verdade… — murmurei, enxugando as lágrimas com o dorso da mão. — Eu… eu tô tão perdida. — Não tá mais. Aguenta firme. O carro tá chegando. E quando chegar aqui, você vai tomar um banho quente, comer alguma coisa, e a gente resolve o resto juntas, ouviu? Assenti, mesmo que ela não pudesse ver. A sensação sufocante dentro de mim pareceu afrouxar um pouco. Eu não estava sozinha. **** Os dias foram passando como uma névoa pesada. Eu acordava cedo, saía com o currículo na mão, voltava tarde, sempre com a mesma sensação amarga de que nada estava andando. E, a cada porta que se fechava, a cada “vamos entrar em contato”, meu peito parecia encolher um pouco mais. Naquela noite, eu estava sentada no sofá da Samanta, encarando o vazio, quando ouvi a chave girar na porta. Ela entrou cansada, a mochila pendurada num ombro só, mas, assim que me viu, franziu a testa. — Liz… — ela tirou os sapatos ali mesmo, jogando a mochila no chão. — Amiga, não fica assim. As coisas vão se ajeitar, eu prometo. — Eu tô tentando, Sasa… Mas parece que nada funciona pra mim. Ela não respondeu de imediato. Pegou o celular no bolso, desbloqueou, e veio sentar ao meu lado. — Tá vendo isso aqui? — disse, girando a tela pra mim. Me aproximei, curiosa. Era um anúncio de uma agência de empregos: Babá residente, salário acima da média, refeição, folgas organizadas… e o principal: morar no emprego. Meu coração deu um salto imediato. — Morar no emprego… — repeti, quase sem ar. — Samanta, isso… isso resolveria tudo. Eu poderia juntar dinheiro, sair da sua casa, ter estabilidade… Ela sorriu, satisfeita por ter visto meu rosto finalmente acender. — Exatamente o que eu pensei. — Ela deu um tapinha leve no meu joelho. — Amanhã a gente vai lá juntas. E eu tô sentindo aqui ó — bateu no peito — que essa vaga vai ser sua. A empolgação que subia pelo meu corpo só não era maior do que o medo que veio junto, pontudo, incômodo. — Samanta… — respirei fundo. — E se… e se eles descobrirem da minha irmã? Da Liliane? E se isso me prejudicar? Ela virou o corpo inteiro pra mim, segurou minhas mãos como se estivesse me obrigando a escutar com o coração. — Liz, olha pra mim. Desde que você se mudou pra cá, ninguém nunca descobriu nada. E não vão descobrir agora. Você não fez nada de errado. Você não tem culpa das escolhas da sua irmã. Eu senti os olhos arderem. — Mas e se perguntarem sobre a minha família? E se for uma daquelas famílias ricas que fuçam a vida toda da gente? — Eles podem fuçar o que quiserem — ela respondeu, sem hesitar. — Vão encontrar uma mulher honesta, trabalhadora e recém-formada em pedagogia que só quer uma chance. A história da Liliane… fica onde sempre ficou. Lá atrás. E não diz nada sobre quem você é. Inclinei a cabeça e respirei fundo. O medo ainda estava lá, como um nó apertado… mas a esperança, pela primeira vez em semanas, parecia um pouco maior. Ela sorriu e apertou minhas mãos. — Agora vamos dormir, porque amanhã vai ser o seu dia. Eu sinto isso. Fechei os olhos e deixei aquela frase penetrar. Talvez essa vaga fosse uma oportunidade real.Lizandra A água estava gelada, mas eu já nem sentia de verdade. Meu corpo se movia sozinho. Abri os olhos embaixo d’água, o cloro ardendo, e tudo que eu enxerguei foi o borrão rosa afundando rápido demais.“Rápido Lizandra!”Dei impulso com as pernas, meus braços cortando a água enquanto o vestido colava no meu corpo e pesava, mas eu não parava. Cada segundo parecia um ano. Quando finalmente alcancei a pequena, meu coração quase saiu pela boca. Ela se debatia, os bracinhos agitando em desespero, os cabelos flutuando ao redor.— Ei, ei… eu tô aqui — murmurei, mesmo sabendo que ela talvez nem me ouvisse.Segurei firme seu corpinho e puxei-a para perto, erguendo-a com toda força para cima. O ar pareceu explodir quando rompemos a superfície. Ela tossia alto, arfava, chorava de susto, agarrando-se ao meu pescoço com tanta força que suas mãozinhas tremiam.— Tudo bem… tudo bem, princesa — sussurrei, ofegante, tentando manter a calma por nós duas. — Fica comigo, tá? Respira… já passou.Ela
LizandraMesmo sentado atrás da mesa, era possível perceber que o homem era alto. Ombros largos, braços fortes que marcavam por baixo da camisa social de tecido impecável. Os cabelos castanhos estavam perfeitamente alinhados, sem um fio fora do lugar, como se a ordem fosse uma extensão natural dele. A barba escura e bem aparada contornava um maxilar firme, lindo demais para ser real.Mas não era a beleza dele que me deixou sem ar.Era a intensidade.Aquela beleza não era suave. Não era acolhedora.Era marcada, agressiva até, como se ele soubesse exatamente o efeito que causava no ambiente e não fizesse esforço nenhum para suavizar.E então ele levantou o olhar.Os olhos dele eram de um azul inacreditável. Azul profundo. Azul frio.Friamente calculistas e quase ameaçadores.Senti minha respiração falhar por um instante. Meu coração começou a bater tão rápido que eu temi que ele escutasse dali. Aquele homem era perigoso, não no sentido literal, mas no tipo de presença que derruba suas
Fernando Albuquerque Sentei-me na poltrona de couro do meu escritório pela décima vez naquela manhã, revisando o currículo da próxima candidata. A sala estava silenciosa, exceto pelo tique discreto do relógio antigo sobre a minha mesa. Hoje, tudo parecia mais lento. Mais pesado.Escolher a nova babá da Lia não era só uma formalidade. Era pessoal. Sempre foi. Carmem ficou conosco por quase dois anos, tempo suficiente para se tornar quase parte da família. Mas a gestação complicada da filha dela a fez decidir se afastar, e eu jamais colocaria minhas prioridades acima da saúde de alguém tão dedicada.Agora, aqui estou eu outra vez, sentado em frente a estranhas que sorriem nervosas e tentam me convencer de que são capazes de cuidar da minha menina. A maioria não passa de alguns minutos na sala; outras conseguem durar mais, mas nenhuma, até agora, fez o instinto dentro de mim dizer sim.Fechei a pasta da candidata atual e respirei fundo. Precisei de uma pausa.Levantei-me da cadeira, sen
Lizandra Acordei antes do despertador naquele dia. A agência ficava no centro, num prédio antigo, mas bem conservado. Eu e Samanta subimos as escadas lado a lado, ela me dando força o tempo inteiro.Eu preenchi formulários, entreguei meus documentos, conversei com a atendente. Ela foi simpática, disse que se não fosse a vaga do anúncio, havia várias famílias procurando babás residentes, especialmente quem tivesse alguma formação na área infantil. Saímos de lá com a promessa de que entrariam em contato “nos próximos dois dias”.Dois dias que pareceram semanas.Parecia que o tempo estava preso, arrastando. De repente, meu celular apitou. Mas, ao olhar a tela, congelei. Não era a agência.Era um lembrete do calendário. Um lembrete que eu mesma tinha colocado meses atrás, sem coragem de apagar. A data com a previsão de saída da Liliane do presídio.Senti um peso sobre mim como uma barra de ferro.Eu e minha irmã gêmea… tão iguais por fora que nossa mãe às vezes chamava pelo nome errado.
Lizandra Oliveira Depois de mais um longo e cansativo dia à procura de trabalho, virei a esquina da viela estreita onde ficava o quarto que eu alugava, meu coração já vinha pesado, nos últimos meses. Eu só queria tirar os sapatos, respirar fundo e tentar acreditar que amanhã seria diferente. Mas, quando vi a porta escancarada e minhas coisas espalhadas no corredor, senti minhas pernas quase falharem. — Dona Olinda? — minha voz saiu baixa, trêmula, mas ela nem esperou eu me aproximar. Ela estava ali, braços cruzados, expressão dura, como se eu fosse um incômodo que ela finalmente estava se livrando. — Já falei, Lizandra. Três meses. Três. Não tem mais conversa — ela disse, pegando minhas bolsas de roupas e largando ao lado da porta, como se nem fosse minha. — Por favor… eu só preciso de mais uma semana. Eu consegui deixar currículos, estou tentando. Hoje mesmo fui em quatro escolas… — tentei argumentar, sentindo a garganta fechar. — Tentar não paga aluguel — ela cortou, seca, vi
Último capítulo