“Liz Montesi” Mal tenho tempo de digerir o corte que Ettore acaba de me dar quando percebo que outro desconforto se aproxima. Isabella Ricci. A queridinha da mãe de Ettore. Alta, elegante, longos cabelos castanhos e um sorriso perfeito, daqueles que só servem para disfarçar o veneno. Isabella sempre representou tudo que Chiara Bianchi julgava ser a escolha ideal para o filho: família influente, comportamento impecável… ótima candidata a esposa perfeita de um herdeiro. — Isabella — Ettore diz com um sorriso educado, mas os olhos continuam frios. — Estou tão feliz em ver você — ela responde, alternando o olhar entre nós dois. — E vejo que não está sozinho. Liz, quanto tempo! — Olá, Isabella — digo com meu melhor sorriso falso. — Você está tão elegante quanto me lembrava. — Obrigada — ela esboça um sorriso que não chega aos olhos, então foca na minha aliança. — Vejo que está noiva. Parabéns. Posso saber quem é o… felizardo? Ettore coloca a mão sobre a minha na mesa, um gesto po
Meu coração salta ao ouvir a palavra dita sem nenhum traço de desprezo. Piccola. Pequena. O apelido que ele sussurrava contra meus lábios, contra minha pele, nas noites que passamos juntos. O tempo parece congelar enquanto continuamos assim, imóveis, presos em um instante que se estende além da lógica. Parte de mim quer ceder. Quer realmente beijá-lo. Quer fingir que os últimos três anos nunca aconteceram. Mas a outra parte, a que ainda sente o gosto amargo das palavras frias, a que não esqueceu o olhar de desprezo, resiste. — Não — consigo dizer, quase num sussurro. Minha negação, provavelmente desmentida pela minha respiração ofegante, arranca um sorriso lento dele. Ettore aproxima o rosto um pouco mais, e por um segundo, acho que ele vai me beijar. Mas, em vez disso, seus lábios roçam minha bochecha e seguem até meu ouvido. — Péssima mentirosa — murmura, rouco, provocando um arrepio involuntário que percorre minha espinha. Com um movimento lento, ele apoia uma das
Ettore pega o tablet com uma tranquilidade irritante, como se não tivesse acabado de lançar uma bomba sobre mim, e se afasta. Observo-o caminhar lentamente em direção à saída, e algo ferve dentro de mim. Me levanto rapidamente e sigo atrás, alcançando-o no corredor vazio. — Ettore! — chamo, segurando seu braço. Olho ao redor e abaixo a voz. — Por que tanta pressa? — Achei que tivesse entendido a urgência para ambos — ele responde, sem emoção. — Não estaria surpresa se tivesse lido o cronograma. — Não tive tempo de ler nada! Minha vida virou de cabeça para baixo nas últimas vinte e quatro horas! — Dramática como sempre — ele suspira, olhando o relógio. — Te espero no carro. Cinco minutos. Não se atrase. Ettore solta o braço da minha mão e continua andando, satisfeito por conseguir me provocar mais uma vez. Solto um suspiro pesado e volto para a sala de jantar. — Quatro dias… — murmuro, ainda incrédula, pegando minha bolsa da cadeira. Minutos depois, estamos no carro, indo em
“Ettore Bianchi” Estaciono o carro no lugar reservado, quase batendo no carro ao lado. Meus dedos continuam tensos ao redor do volante, mesmo após desligar o motor. De todas as coisas que poderiam ter permanecido esquecidas no carro, tinha que ser justamente aquele brinco. O mesmo que dei a ela no nosso primeiro mês juntos, quando éramos apenas dois idiotas apaixonados dividindo cafés pela universidade. Atravesso o saguão da empresa, retribuindo os cumprimentos de maneira tão falsa que nem eu acredito. Quando finalmente entro no elevador, encosto a cabeça na parede espelhada. Solto um suspiro pesado ao lembrar da expressão de Liz ao ver o brinco. Aquela mistura de surpresa e… esperança? A ideia me irrita ainda mais. Que direito ela tem de esperar qualquer coisa de mim depois do que fez? As portas se abrem e saio do elevador. Passo direto pela minha assistente sem responder seu “bom dia”, finalmente entrando na minha sala. — Dia difícil, e ainda nem são nove da manhã — a voz d
“Véspera do casamento. Liz Montesi” O cerimonialista continua falando, mas suas palavras se perdem em algum lugar entre nós e minha mente exausta. Os últimos três dias se resumiram em fingir entusiasmo enquanto escolhia flores, vestidos, cardápio… e, sinceramente, isso me esgotou mais do que eu esperava. Ao meu lado, Ettore interpreta o papel do noivo atencioso, fingindo empolgação por faltarem apenas algumas horas para a cerimônia. Ele demonstra real interesse enquanto o homem gesticula animadamente sobre as posições de cada arranjo de flores. — Então, está tudo acertado para amanhã — ele conclui, fechando a pasta. — A cerimônia às 16h, seguida da recepção. A previsão do tempo está excelente. — Isso é ótimo — Ettore responde com um sorriso educado, tão perfeito que quase consigo acreditar que é genuíno. — A senhorita tem alguma dúvida de última hora? — o cerimonialista me pergunta. Dúvidas? Tenho milhões delas. A principal é onde posso encontrar uma sósia para fazer tudo iss
O tecido branco desliza por minhas mãos enquanto encaro meu reflexo no espelho. O vestido, delicado e inegavelmente lindo, cai perfeitamente sobre meu corpo. Cabelos presos em um coque alto, maquiagem impecável. Uma noiva perfeita. Só falta a parte de estar feliz. — Você está deslumbrante, Liz — Giulia comenta, ajustando a barra do vestido. — Ninguém diria que esse vestido foi escolhido às pressas. Forço um sorriso, sem conseguir desviar os olhos do espelho. — Um sonho, né? — murmuro, irônica. — Ainda dá tempo de desistir — ela brinca, mas o olhar pelo espelho entrega que, no fundo, está falando sério. — Podemos pegar um avião para qualquer lugar. Sumir. Recomeçar. Por um segundo, a ideia me atrai com força. Consigo me ver numa praia distante com Giulia, livres, sem contratos, sem obrigações, sem fantasmas do passado. Mas então penso na minha mãe, imóvel em um quarto de hospital. Nos funcionários da Montesi, muitos dos quais me viram crescer. No legado do meu avô, construído co
Dou as costas para Chiara, determinada a encontrar Ettore e finalmente contar a verdade que guardei por tanto tempo. Mas, quando minha mão toca a maçaneta da porta, a voz dela me detém. — Vai mesmo contar para ele? — pergunta num tom baixo, quase casual. — Parece que você está se esquecendo do que assinou, não é? Congelo com suas palavras. Meus dedos ainda seguram a maçaneta enquanto viro lentamente para encará-la. A dúvida ainda brilha em seus olhos, mas é o sorriso que ela esboça que faz meu estômago revirar. — O acordo de confidencialidade — murmuro, sentindo a raiva e o desespero subirem juntos. Ela sabe mais do que imaginei. Sabe do contrato que assinei. E também sabe da multa absurda que eu teria que pagar se quebrasse o silêncio. Um valor que eu, claramente, não tenho. Ou não estaria prestes a me casar com Ettore como última alternativa. — Ao menos sua memória continua boa — diz, com um sorrisinho venenoso. Chiara percebe minha hesitação e, com toda sua arrogância, se
“Ettore Bianchi” Quando Adeline me contou que viu minha mãe entrando no quarto de Liz, soube que isso significava problemas. Minha mãe nunca aceitou Liz, especialmente quando soube que eu estava disposto a largar tudo por ela, anos atrás. Agora, parado à porta do quarto, vendo Liz e Giulia trocarem olhares tensos, tenho a confirmação: meus instintos estavam certos. — Sua mãe não ficou muito feliz com o casamento — Liz diz, cortando a amiga antes que ela possa falar. — E fez questão de deixar isso bem claro. Fecho a porta atrás de mim, sentindo o maxilar travar com a raiva. — Foi minha mãe quem fez isso com você? — pergunto, encarando o que restou do vestido da minha noiva. Ela apenas assente, desviando o olhar. O silêncio dela me irrita mais do que o próprio ataque da minha mãe. Por que essa nova versão entediante de Liz nunca se defende? — O casamento ainda vai acontecer? — Giulia pergunta, se levantando com um suspiro pesado. — Porque não tem como a Liz subir ao altar assim