Ele era um agente secreto. Misterioso, solitário, e viciado em trabalho. Ela, uma escritora de livros infantis. Doce, determinada e apaixonada por ações sociais. Dois mundos que jamais deveriam se cruzar... Até que um olhar rápido no estacionamento de um supermercado muda tudo. Jhonas Belford nunca acreditou em amor à primeira vista — até ver Cloe. Sem saber como se aproximar, ele cria uma desculpa maluca: contratá-la como sua "assistente doméstica"... Mas o que começa como uma mentira inocente, se transforma em uma paixão arrebatadora. Cloe, assustada com o mistério que envolve esse homem blindado por dentro e por fora, tenta resistir. Mas aos poucos, ela descobre que, por trás do terno preto e do olhar firme, existe um coração frágil e cheio de cicatrizes. Entre missões secretas, sucos naturais, vestidos esquecidos e bilhetes inesperados, nasce uma história que prova que... Nem todo agente quer proteger o mundo. Alguns só querem proteger um único coração. Com Amor, Agente J.
Ler maisO céu daquela tarde estava encoberto por nuvens densas, mas nem mesmo o clima sombrio desviava a atenção de Jhonas Belford. Ao volante de um de seus carros blindados, seguia pelas ruas da cidade com a expressão séria de sempre. Seus olhos varriam a paisagem ao redor com precisão calculada, como se cada movimento à sua volta pudesse ser uma ameaça. Era o tipo de vigilância que se tornava natural para alguém como ele — um agente especial, treinado para viver nas sombras.
O rádio interno do carro estalava de vez em quando com vozes codificadas, mas ele ignorava. A missão do dia já havia sido cumprida. Estava liberado. Mas descansar? Isso não fazia parte da sua programação.
Jhonas era metódico. Acordava às cinco. Corria dez quilômetros. Café preto sem açúcar. Treinamento funcional. Check-in com a equipe. Missões, reuniões, mais missões. E à noite, silêncio. Um apartamento pequeno, frio, funcional. Nada de lareiras, quadros sentimentais ou cachorros no tapete. Apenas ele, seus arquivos e um corpo cansado demais para pensar em amor.
O amor, aliás, ele evitava.
Teve uma única namorada, anos atrás. Uma boa mulher. Mas ele era ausente demais, misterioso demais. O trabalho sempre vinha primeiro. A relação se dissolveu como água nas mãos. Desde então, ele não tentou mais. Não queria dar esperanças a ninguém. Nem a si mesmo.Mas a vida é feita de imprevistos. E foi justamente num deles que Cloe apareceu.
Ele estava voltando para casa quando o carro parou diante de uma faixa de pedestre. Olhou para o lado, distraído, esperando o sinal abrir — e então a viu.
Ela estava no estacionamento de um supermercado, a poucos metros dali.
Sozinha, organizando compras no porta-malas de um carro pequeno, cinza. Vestia roupas simples, jeans claro e uma blusa de manga longa. Não chamava atenção pelas roupas ou maquiagem, mas havia algo nela que o fez fixar o olhar.Talvez fosse o modo como ela organizava tudo com cuidado. Alface com alface. Ovos bem encaixados. As sacolas de papel estavam alinhadas, como se ela respeitasse cada objeto, cada alimento.
Ou talvez fosse o cabelo: longo, em corte V, balançando ao vento. Castanho natural, com reflexos loiros que não pareciam artificiais. Mechas douradas que denunciavam uma infância de cabelos claros. Ele sabia reconhecer quando era tintura e quando não era. Na cabeça dele, era como se o cabelo contasse uma história. Uma história que ele, de repente, queria ouvir.
E então ela virou o rosto.
O tempo pareceu parar.
Os olhos de Cloe encontraram os dele, mesmo sem intenção.
Havia doçura naquele olhar. Calma. Algo que ele jamais experimentara na sua vida turbulenta.Jhonas sentiu o peito apertar.
Prendeu a respiração sem perceber. Algo dentro dele se mexeu. Algo que ele não sabia que ainda existia.Mas o semáforo abriu.
O carro atrás buzinou. E ele teve que seguir.Pisou no acelerador, mas os olhos continuaram lá, naquele estacionamento, naquela mulher.
Naquela noite, Jhonas não conseguiu dormir.
Rolou de um lado para o outro na cama, revirando lençóis como se fossem arquivos confidenciais que não queria encarar. Fez tudo que costumava fazer quando não dormia: treino de resistência, revisões de relatórios antigos, leitura técnica. Nada funcionou.
Na tela mental dele, só havia uma imagem: a mulher do supermercado.
A mulher de olhar doce e jeito cuidadoso. A mulher que organizava sacolas como se estivesse arrumando um lar inteiro em um porta-malas.E ele nem sabia o nome dela.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Cloe Martins chegava em casa depois de um dia cansativo, mas satisfatório.
Tinha passado horas entre corredores de supermercado, lista na mão, procurando os melhores ingredientes para o evento com as crianças do próximo fim de semana. Estava organizando, com sua ONG parceira, uma ação social para cerca de cinquenta crianças. Teria contação de histórias, pintura, teatro de fantoches e lanches saudáveis. E tudo precisava estar impecável.
Cloe era assim: perfeccionista, detalhista, apaixonada pelo que fazia.
Escritora de livros infantis, ela vivia entre palavras doces, ilustrações coloridas e risadas de crianças. Seu mundo era leve — ou ao menos ela tentava mantê-lo assim.Depois do banho, pegou seu caderno de anotações — o mesmo que usava desde adolescente — e escreveu o que tinha feito no dia. Adorava manter registros do que funcionava e do que podia melhorar.
Nem passou por sua mente que havia sido observada naquele estacionamento.
Tampouco imaginava que um estranho a tinha notado — e que estava agora, em algum lugar da cidade, pensando nela como se fosse uma cena repetida de um sonho bom.
Dias se passaram.
Jhonas tentou esquecer.
Mas a imagem voltava nos momentos mais inesperados. Durante o treino. Durante as reuniões. Até durante uma operação em que precisavam apenas monitorar a movimentação de um grupo suspeito.Ele se pegava distraído, olhando para o nada, como se esperasse vê-la de novo.
E então, em uma manhã comum de missão… lá estava ela.
O destino, mais uma vez, fez o improvável.
Jhonas e sua equipe estavam posicionados em um parque. Aparentemente, o local era seguro, mas informações sigilosas indicavam que um transporte ilegal aconteceria ali por um breve período, e qualquer civil na área representava risco.
O protocolo era claro: evacuar discretamente a zona.
Eles usavam roupas comuns, como civis. Mas estavam armados e em contato direto com o comando. Jhonas andava pelos arredores quando seu olhar foi atraído por um pequeno grupo de mulheres correndo no parque.
E lá estava ela.
Cloe, de cabelos presos em um rabo de cavalo solto, corria ao lado de outras seis mulheres. Ria de algo que uma delas havia dito. Usava fones de ouvido, calça legging escura e uma camiseta simples. Mas para Jhonas, era como se o parque inteiro tivesse se apagado. Só ela existia.
Ele ficou imóvel por alguns segundos. O coração acelerou — algo que nem tiroteios conseguiam causar.
Ela estava ali. Na sua frente. De novo.Mas não podia ser coincidência.
Talvez fosse destino. Ou talvez apenas mais um teste da vida. Mas dessa vez, ele teria que interagir.E ele sabia que isso poderia arruinar tudo.
Na livraria, Cloe arrumava uma vitrine quando seu celular vibrou. Reconheceu o número imediatamente: Jhonas. O coração acelerou.— Oi? — atendeu, tentando soar natural.Do outro lado, a voz dele veio firme, mas apressada.— Está tudo bem?— Sim… mas você sumiu. — o tom dela denunciava a saudade. — Fiquei preocupada.Houve um breve silêncio. Jhonas respirou fundo antes de responder:— Preciso que confie em mim. Há coisas que não posso explicar agora, mas prometo que vou voltar.As palavras, embora doces, soaram enigmáticas. Cloe franziu o cenho.— Você sempre fala como se fosse desaparecer a qualquer momento. Quem é você de verdade, Jhonas?O silêncio do outro lado foi mais revelador do que qualquer resposta. Ela sentiu o peso da dúvida crescer em seu peito.— Só
Cloe.A lembrança do jeito distraído com que ela mordia a ponta do lápis, ou do sorriso sincero quando falava de livros, aparecia em sua mente quando menos esperava. Ele não deveria deixar isso interferir, mas cada vez mais se via dividido entre o dever e o desejo de simplesmente estar ao lado dela.Na manhã seguinte, Cloe ajeitava as prateleiras da livraria, distraída. Seus olhos se perdiam nos títulos, mas sua mente estava distante. Desde a última mensagem breve de Jhonas, não havia tido mais notícias. Não queria se apegar à ansiedade, mas a ausência dele pesava.— Está tudo bem, Cloe? — perguntou Marina, a colega de trabalho, ao notar sua expressão.— Estou… só cansada. — forçou um sorriso.Marina não insistiu, mas Cloe sabia que não estava enganando ninguém. Havia algo diferente em seu coração desde que Jhonas aparecera em sua vida. Uma mistura de medo e esperança.Quando chegou em casa, naquela noite, tentou escrever. Abriu o caderno, rabiscou algumas linhas, mas apagou logo em s
O apartamento ainda guardava o silêncio pesado da madrugada quando Jhonas se jogou contra o sofá. O corpo doía como se cada músculo tivesse lutado uma batalha própria. A jaqueta úmida estava largada sobre a cadeira, as botas ainda respingavam água no chão de madeira, e o cheiro de pólvora parecia ter se infiltrado até em sua pele.Ele fechou os olhos, mas a imagem do coração vermelho que Cloe lhe enviara insistia em permanecer ali, queimando dentro de si mais do que qualquer clarão de explosão. Aquela simplicidade tinha atravessado a noite mais escura, como um farol que ele não esperava encontrar.O celular repousava sobre a mesa de centro. Uma pequena luz piscava, indicando que ela já havia lido a resposta dele. Nenhuma nova mensagem. Jhonas respirou fundo, apoiando os cotovelos nos joelhos, e se permitiu algo raro: um sorriso cansado.— O que você está fazendo comigo, Cloe? — murmurou para si mesmo, quase sem perceber.A estrada deserta parecia não ter fim. O ronco da moto ecoava so
A respiração de Jhonas acelerava, cada músculo em alerta. Os dois seguranças avançavam rapidamente, armas em punho. O som da chuva batendo no telhado enferrujado se misturava ao eco dos passos pesados que vinham em sua direção.Ele precisava agir com precisão. Não podia se dar ao luxo de hesitar.Com um movimento rápido, lançou uma pequena granada de luz — nada letal, apenas suficiente para ofuscar e confundir. O clarão iluminou todo o corredor, e em meio ao grito de surpresa dos homens, Jhonas mergulhou por baixo de uma das caixas e correu em direção à saída lateral.Mas não escapou ileso. Um disparo ressoou e a bala ricocheteou contra uma pilha de metal, levantando fagulhas. Por instantes, o perigo se tornou real demais. Ele se abaixou, protegendo-se, o coração batendo como um tambor no peito."Preciso sair daqui... po
A manhã seguinte começou nublada, pesada. O tipo de céu que anunciava tempestade, mesmo sem uma gota de chuva cair ainda. Jhonas já estava desperto antes do sol nascer, ajustando cada detalhe do disfarce que usaria. O alvo e a mulher de cabelos pretos tinham combinado um encontro em um antigo armazém, afastado da parte movimentada da cidade.Ele vestiu roupas comuns, de um entregador qualquer, e estacionou a moto alguns quarteirões antes. A cada passo que dava em direção ao local, sentia o peso de duas realidades se chocando: a vida que levava por dever e a vida que começava a sonhar ao lado de Cloe.O armazém parecia abandonado. Portas de ferro enferrujadas, janelas quebradas, pichações nas paredes externas. Mas Jhonas sabia reconhecer quando um lugar estava em uso.E aquele estava vivo.De um ponto estratégico, com visão privilegiada, observou quando o alvo c
Cloe tentava seguir sua rotina, mas os pensamentos sempre voltavam à mensagem enigmática de Jhonas: “Se eu sumir por uns dias, não se preocupe.” Como alguém podia escrever isso esperando tranquilidade do outro lado?Naquela manhã de sábado, ela decidiu se distrair. Colocou um casaco leve, prendeu os cabelos de qualquer jeito e saiu para andar pelo parque. As árvores balançavam suavemente, o cheiro de terra molhada ainda estava no ar por causa da chuva da noite anterior. Crianças corriam, casais conversavam em bancos de madeira, mas Cloe se sentia deslocada, como se estivesse em um mundo paralelo.No bolso, o chaveiro em forma de bússola que Jhonas lhe dera. Ela girava a pequena peça entre os dedos, tentando encontrar conforto na lembrança dele. “Pra nunca se perder”, ele tinha dito. Mas e se quem estivesse se perdendo fosse ele?A centenas de quilômetros dali, Jhonas observava o homem do envelope. O alvo era meticuloso, com passos calculados, sempre atento ao redor. Não era um civil
Último capítulo