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3- A Estranha Rotina de um Homem Solitário

O cheiro da pitaya fresca se espalhava pela cozinha impecável enquanto Cloe cortava a fruta com a delicadeza de quem já estava acostumada a transformar alimentos em cuidado. Seu primeiro pensamento do dia havia sido: “O que eu estou fazendo aqui?”

Mas ali estava ela. Preparando um suco sofisticado para um homem que mal conhecia, em uma casa silenciosa demais, com uma proposta de trabalho inusitada, e um pagamento que ainda a deixava desconfiada.

Enquanto colocava as frutas no liquidificador, percebeu o quão silencioso o lugar era. Não havia música, barulho de TV, som ambiente. Nada.

Olhou para o alto e viu a pequena câmera escondida entre o design da luminária da cozinha. Fingiu que não viu. Mas sabia que estava sendo observada.

“Você é muito esquisito, Jhonas Belford”, murmurou enquanto coava o suco.

O celular vibrou em cima da bancada.

Mensagem de: Jhonas

“Troque o suco de hoje. Prefiro sem pitaya. Coloque hortelã e abacaxi.”

Ela respirou fundo, apertando os olhos com força por dois segundos antes de digitar uma resposta curta.

Cloe:

“Ok.”

O suco já estava pronto. Ele teria que tomar com pitaya e agradecer. Simples assim.

Ela deixou a garrafa pronta na bandeja como no dia anterior, limpou a bancada e pegou sua bolsa para sair. Antes que alcançasse a porta, o som de passos na escada chamou sua atenção. Era ele.

Jhonas surgiu no andar térreo com uma camisa branca de mangas dobradas e os cabelos ainda úmidos, como se tivesse acabado de sair do banho. Parecia... menos agente secreto e mais um homem tentando parecer normal.

— Já vai? — perguntou ele, sem muita expressão.

— A menos que queira que eu lave o chão também — ela respondeu, pegando a chave do carro.

Ele hesitou, depois sorriu — um sorriso tímido, estranho, mas real.

— Não. O chão está limpo o suficiente.

— Então, sim, já vou.

Cloe seguiu até a porta. Quando estava prestes a sair, virou-se.

— Ah, o suco tem pitaya. Não vou desperdiçar uma fruta rara só porque o senhor mudou de ideia.

Ele a encarou por um segundo, surpreso com a firmeza dela. Depois assentiu.

— Acho justo.

Ela sorriu. Um pequeno sorriso. Mas já era alguma coisa.

No segundo dia, ela chegou mais tranquila.

Ainda não sabia o que esperar, mas sabia que Jhonas provavelmente estaria observando por alguma câmera espiã. Então acenou para o teto assim que entrou na cozinha e disse:

— Bom dia, grande irmão.

Poucos segundos depois, uma notificação apareceu no celular.

Jhonas:

“Você está mais engraçada hoje.”

Cloe:

“Você continua estranho.”

Jhonas:

“Aceito isso como elogio.”

Ela riu sozinha. Já não sabia se estava se acostumando com o absurdo ou se era mesmo engraçado ver um homem tão forte e fechado sendo tão socialmente atrapalhado.

Preparou o suco do dia — dessa vez com hortelã e abacaxi, como ele havia pedido no dia anterior — e deixou sobre a mesa com um bilhetinho.

“Hoje, sem pitaya."

Mas continuo sem açúcar, igual você. Ela pensou.

Quando ele desceu minutos depois, leu o bilhete e sorriu.

— Eu não sou tão exigente quanto pareço.

— Tem razão. Você parece mais perdido do que exigente — respondeu ela, sentando na banqueta da cozinha, cruzando as pernas.

Ele a observou por um instante.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Pode, se for sobre mim, o senhor já deve saber a resposta mesmo!

— Por que aceitou trabalhar pra mim?

Ela pensou por um instante. Depois, respondeu com sinceridade:

— Porque você me assustou. Depois me intrigou. E por fim... me ofereceu dinheiro demais pra eu fazer praticamente nada. Acho que precisa de uma amiga, não de uma funcionária.

Ele assentiu.

— Mas agora... depois desses dois dias?

— Agora? Agora você continua me assustando um pouco. Mas também... parece carente demais pra ser uma ameaça.

— Isso deveria me ofender?

— Não sei. É verdade, então decida você.

Ele riu. Um riso seco, mas genuíno.

— Eu sou ruim nisso. Socialmente falando. Eu passo mais tempo observando do que interagindo.

— Isso dá pra perceber — ela respondeu, bebendo um pouco do suco. — Aliás, você sempre vai ficar me espionando por câmeras ou pretende conversar como uma pessoa normal de vez em quando?

Ele hesitou, depois respondeu:

— Amanhã... amanhã quero conversar. Contar quem eu sou. Ou pelo menos... parte disso.

Ela o encarou.

— Por quê?

— Porque não quero que você me tema. Nem me ache um psicopata. Eu... queria que você confiasse em mim.

Ela respirou fundo. Depois assentiu.

— Então amanhã... vamos conversar.

Ele sorriu, aliviado.

— Ótimo.

Ela se levantou, pegando sua bolsa.

— Mas já aviso: se for uma daquelas histórias de filme de ação com armas e perseguições, vou rir na sua cara.

— Pode rir. Mas vou contar a verdade.

Ela abriu a porta e, antes de sair, virou-se com um sorriso maroto.

— Então não esquece de me servir pipoca.

E saiu.

Jhonas ficou ali parado por um tempo, olhando para a porta. Respirou fundo e pegou o celular.

Naquela noite, ele não trabalhou. Pela primeira vez em anos, fechou o notebook, desligou os aparelhos de escuta e simplesmente... sentou no sofá.

Com o celular na mão, abriu a conversa com Cloe. Havia uma mensagem dela não lida.

“Então não esquece de me servir pipoca.”

Sorriu. Estava perdido por ela.

Mas dessa vez, queria se encontrar.

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