Narrado por Vlad:
Ela caminhava devagar, mas com firmeza, e eu a guiava com a mão pousada suavemente em sua cintura, sentindo o calor do seu corpo através do tecido. Cada passo de Aurora, ainda sob a luz suave dos corredores do castelo, parecia um retorno silencioso à sua própria força. Eu a acompanhava em silêncio, atento ao menor sinal de cansaço — mas ela não demonstrava nenhum. Ou se demonstrava, disfarçava bem demais.
— Está tudo bem? — perguntei baixo, ao seu lado.
— Está sim. Estranhamente bem — respondeu, com um leve sorriso no canto da boca. — Só... ainda me acostumando com tudo.
Eu assenti, compreendendo sem precisar de muitas palavras. O vínculo entre companheiros fazia isso — deixava o silêncio tão significativo quanto qualquer conversa longa. Desde que abrira os olhos e me chamara de "companheiro", algo dentro de mim simplesmente se assentou. Como se o mundo tivesse finalmente parado de girar fora de eixo.
Ao dobrarmos o último corredor da ala leste, o quarto dela surgiu diante de nós. As portas altas e talhadas com padrões solares se abriram automaticamente com a aproximação. Eu a deixei entrar primeiro. Seus olhos percorreram o ambiente como se o vissem pela primeira vez.
Foi quando ela parou.
As malas estavam lá. As minhas malas.
Ela virou lentamente o rosto para mim, as sobrancelhas erguidas, um brilho contido nos olhos.
— Vlad...
— Eu sei — interrompi com um meio sorriso. — Talvez tenha sido ousado. Ou precipitado.
— Ou instintivo — completou ela.
Havia compreensão mútua naquele olhar. Nenhum companheiro suportava a distância por muito tempo. E eu já tinha passado tempo demais longe dela. Desde que nos tocamos, meu lycan se recusava a se afastar. E, se eu dissesse que era diferente para ela, estaria mentindo.
Aurora avançou até a cama e passou os dedos pela colcha impecavelmente arrumada. O quarto estava do jeito que ela havia deixado antes da missão. Mas agora... tinha a minha presença também. Meu cheiro já começava a se misturar ao dela, no ar, nos tecidos, no chão.
— Não sei se estou pronta para tudo isso — disse ela, sem me olhar.
Aproximei-me lentamente.
— Nem eu. Mas estamos destinados, Aurora. E não há como apagar isso.
Ela virou o rosto para mim, devagar. Seus olhos violetas me atravessaram como sempre fizeram, mesmo quando estavam fechados e feridos.
— A mordida... — disse ela, hesitante.
— Ainda não aconteceu — respondi. — Mas vai. Quando estivermos prontos. A marca definitiva entre companheiros só vem com isso. Com a mordida.
Houve silêncio por alguns segundos.
Então, dei um passo.
Depois outro.
Ela não recuou.
A distância entre nós desapareceu quando toquei seu rosto com a ponta dos dedos. Quente. Real. Minha.
— Um passo até a eternidade — murmurei.
Ela fechou os olhos.
E ficou.
A partir dali, sabíamos — mesmo sem verbalizar — que estávamos entrando nas etapas naturais do vínculo. A primeira já havia acontecido: o reconhecimento. A segunda, inevitável, era a marcação. E após ela, viria o acasalamento.
Não era apenas desejo. Era necessidade instintiva, visceral, que crescia a cada segundo em que nossas presenças se tocavam. Estávamos à beira da parte mais sagrada do vínculo.
Eu sentia o meu lycan inquieto sob a pele, clamando por ela. Mas mais do que isso, sentia o humano que eu era totalmente rendido à mulher diante de mim.
E ela, embora silenciosa, me olhava como quem também sabia: não havia retorno.
Ela respirou fundo, mas não se afastou. Eu respeitei seu tempo, seu espaço, mesmo que tudo dentro de mim implorasse por mais.
— Vou te deixar um momento — falei com suavidade. — Você precisa de tempo para se arrumar. Logo teremos uma reunião com todos.
Ela assentiu, os olhos ainda fixos nos meus, e eu saí do quarto, levando comigo a certeza de que, em breve, estaríamos completos.
[...]
Mais tarde, quando Aurora já estava pronta, descemos juntos para a reunião com os demais. Ao entrarmos no salão principal, Solon foi o primeiro a notar nossa chegada. Ele ergueu as sobrancelhas com um sorriso debochado nos lábios.
— Olha só... o lycan apaixonado chegou — provocou, cruzando os braços.
Adrian, ao lado dele, apenas balançou a cabeça com um sorriso de canto e comentou:
— Cuidado com ele agora, viu? O Vlad anda ciumento... e pode até morder.
Solon riu:
— Agora só falta marcar data para o casamento, não é mesmo?
As provocações continuaram entre risos contidos. Em meio à reunião, todos os membros da comitiva lunar foram apresentados formalmente a Aurora. Mesmo com a informalidade da situação, havia respeito e acolhimento no olhar de cada um deles.
Em determinado momento, as portas se abriram novamente e as gêmeas entraram. Vittoria, a beta da princesa, caminhava com elegância firme, ainda com curativos visíveis, mas forte. Fiorella, sua irmã, gamma da corte, a acompanhava. Assim que os olhos de Vittoria encontraram os de Adrian, um instante de silêncio pairou.
Foi como se o tempo parasse.
O reconhecimento foi imediato. Os dois se entreolharam como se toda a lógica tivesse desaparecido por um segundo.
Solon murmurou com um sorriso:
— Outro Romeu fisgado... Eu sabia que essa vida de solteiro de vocês não duraria muito.
Risos se espalharam pelo salão, mas ninguém interrompeu o momento.
Após o término da reunião, levei Aurora até o jardim interno — um espaço reservado dentro da ala solar que, segundo ela, era seu refúgio particular. O local era amplo, rodeado por paredes de vidro que deixavam a luz suave atravessar e iluminar as hortênsias em tons de azul e lilás.
Ela andou devagar pelo caminho de pedras, tocando as pétalas com delicadeza.
— Esse lugar sempre foi meu porto seguro — disse. — Quando eu precisava pensar, respirar... ou simplesmente ficar longe de tudo, era aqui que eu vinha.
Sorri, observando o quanto ela parecia em paz ali.
— São suas flores favoritas? — perguntei.
— São, desde criança — respondeu, voltando o olhar para mim. — Hortênsias me lembram equilíbrio. Mesmo sendo frágeis, florescem com força onde ninguém espera.
Ficamos ali por muitos minutos, caminhando entre os canteiros, o som leve da fonte central misturando-se com o perfume das flores. O céu noturno, visível pelo teto de vidro, parecia conter a respiração.
Sentamos em um banco de pedra encostado na parede coberta por trepadeiras. Aurora encostou a cabeça em meu ombro, e ali ficamos, em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro.
Ela ficou em silêncio por alguns instantes, antes de perguntar:
— Vlad... o que você teme?
Virei o rosto para ela, encarando seus olhos com firmeza.
— Apenas uma coisa: perder você. De todo o resto, eu dou conta. Sempre dei.
Toquei seus dedos, entrelaçando-os aos meus novamente.
— Nada no mundo me parece mais certo do que estar com você. Nem mesmo a eternidade me assusta se for ao seu lado.
Ela virou o rosto em minha direção. Seus olhos violetas brilharam sob a luz da lua que começava a despontar entre as nuvens. Havia algo neles — uma certeza, um chamado.
Nos beijamos de novo. Um beijo mais longo, mais profundo. E então, como se o universo nos escutasse, uma aurora boreal surgiu sobre nós, dançando lentamente no céu, como um sinal silencioso da Deusa.
O vínculo pulsava forte, pedindo por mais.
— Vlad... — ela murmurou, os lábios ainda colados aos meus. — Eu estou pronta.
A frase soou como um feitiço. Meus sentidos se ampliaram. O lycan em mim rosnava em silêncio, respeitoso e em reverência. Ela estava me oferecendo tudo. E eu a ela.
Nossos corpos se aproximaram ainda mais. Toquei seu pescoço com suavidade, sentindo a pulsação acelerada sob minha pele.
— Tem certeza? — sussurrei, firme, mas gentil.
— Tenho — respondeu, com uma convicção que me atravessou por inteiro.
Com cuidado, a deitei sobre a grama úmida e macia, entre as flores. O mundo pareceu suspender-se ao nosso redor. Não havia pressa, nem urgência, apenas a entrega.
Toquei seu rosto, seu pescoço, sua clavícula. Cada gesto era um rito. Ela arqueou-se levemente sob meus dedos, com um suspiro leve, oferecendo a parte mais vulnerável de si. E eu a recebi com respeito e reverência.
Me aproximei do ponto onde a marca deveria surgir. Senti a pele dela estremecer sob meus lábios.
— Pronta? — perguntei mais uma vez.
Ela assentiu.
Então, com precisão e suavidade, a mordi. Ela gemeu baixo, não de dor, mas de algo mais profundo. E no instante seguinte, suas mãos puxaram meu rosto para o pescoço dela. Eu senti sua mordida também.
A marcação aconteceu ao mesmo tempo.
Um calor intenso nos envolveu. As flores pareciam brilhar ao nosso redor. A aurora boreal girava sobre nossas cabeças.
Havíamos selado o vínculo.
A mordida nos uniu de forma definitiva. Sagrada.
Foi quando a luz se intensificou. A testa de Aurora se iluminou, e a minha também. Não como um brilho constante, mas como se a própria marca ancestral estivesse reconhecendo o ritual.
O local das mordidas começou a cicatrizar lentamente, deixando para trás uma marca prateada, nítida e eterna.
E então, algo ainda mais impressionante aconteceu: uma tatuagem luminosa surgiu nas costas de ambos. Uma lua e um sol, se fundindo em um desenho complexo e sagrado. O brilho prateado os envolveu por alguns segundos, antes de apagar suavemente, deixando apenas a tatuagem prateada como símbolo do elo.
Respiramos juntos, pela primeira vez como um só.
— Agora é para sempre — sussurrei, tocando a marca em seu pescoço.
Ela assentiu, os olhos marejados, mas sem tristeza. Havia apenas completude.
Ela assentiu, os olhos marejados, mas sem tristeza. Havia apenas completude.
Os sentidos de ambos estavam à flor da pele. O toque se tornava mais vivo, a respiração mais densa. Nossos corpos se atraíam como magnetismo antigo e inevitável.
Voltamos a nos beijar, e o mundo ao redor desapareceu. Com um gesto instintivo, as garras de Aurora rasgaram minha camisa, expondo meu peito. Eu retribuí o gesto, deslizando as mãos por suas costas e desfazendo o tecido que nos separava.
Ali, entre hortênsias e sob o céu dançante, nos entregamos completamente.
O acasalamento aconteceu como deveria ser: sagrado, intenso, selado pela conexão da alma. Um rito antigo vivido com reverência, desejo e entrega total.
Nada mais existia além de nós dois, unidos pela eternidade que havíamos escolhido viver juntos.