"No princípio, havia o silêncio.
E no silêncio, havia ela."
Muito antes que os homens contassem os dias, antes que as estações moldassem os vales e os ventos soprassem nomes sobre as montanhas, havia apenas o vazio — e nele, a essência primeira: Artemins, a deusa da noite, da criação e dos ciclos eternos.
Do seu coração solitário, nascido da escuridão e da luz fundidas, ela moldou as primeiras criaturas: os lobos, guardiões da terra e da lua, e os vampiros, filhos da névoa e do sangue. Por eras, ambos caminharam juntos sob sua bênção, até que a ambição e o orgulho envenenaram suas linhagens.
As guerras vieram como fogo em floresta seca. Sangue sagrado tingiu os campos. A deusa assistiu, impotente, ao que deveria ser harmonia tornar-se ruína.
Ela chorou.
Mais fortes que lobos, mais sensíveis que vampiros, dotados da alma viva da deusa. Seres com sentidos sobre-humanos, capazes de assumir sua forma animal, e marcados por uma aura celestial. Em cada um pulsava uma centelha da deusa — e por isso, nasciam destinados a liderar.
Mas mesmo entre eles havia inquietação. Sem uma liderança verdadeira, sem uma voz única, as disputas voltaram. A paz era frágil. Então, a deusa escolheu. Entre as linhagens mais nobres, ela abençoou duas casas:
A Família Lunar Romanov, guardiã da noite, com o símbolo da lua marcada em suas testas e pelagem negra como o céu profundo;
E a Família Solar Habsburg, guardiã da luz, com o sol em suas testas e pelagem branca como o amanhecer.
Por gerações, cada reino prosperou em seu domínio. Até que o tempo da profecia se aproximou.
Os renegados, filhos da dor e da exclusão, se levantaram.
O céu estava sem estrelas.
Na escuridão, uma figura surgiu.
O chão rachou sob seus pés. O mundo tremeu.
E, por um instante, entre a lua e o sol fundidos, ele viu.
Depois… o silêncio.
Eles acordaram em silêncio, reis e rainhas distantes entre si, mas unidos por um mesmo espasmo no peito.
Um mesmo suor na fronte. Um mesmo nome não pronunciado.
Mas a imagem não se apagou.
Não fora apenas um sonho.
Era o presságio silencioso de um tempo que se aproximava — o fim do que era conhecido, o início de algo maior.
O nascimento inevitável daquilo que os antigos temiam e os oráculos sussurravam: a última era dos reinos.
Na penumbra do quarto real, onde o silêncio ainda ecoava como uma sombra do sonho, o som inesperado rompeu o ar — o toque insistente de um celular.
O visor brilhava com um nome: Leopold M. Von Habsburg.
O rei da luz estava chamando o rei da lua.