Melinda Allen sempre foi vista como uma jovem de temperamento sereno e ternura incomum. Sua beleza não se limitava à aparência; havia nela uma luz interna que a tornava especial. Sonhava com um amor puro, com promessas eternas, com finais felizes. Mas a realidade, cruel e indiferente, colocou-lhe à prova. Uma identidade trocada. Uma armadilha invisível. E tudo desmoronou. O que deveria ser um conto de fadas tornou-se seu pior pesadelo. William Montenegro é o tipo de homem moldado pela perda e pelo poder. Comanda o legado de sua família com mão firme, coração blindado. Após ver seu irmão morrer nas mãos de uma mulher traiçoeira, William só enxerga um caminho: o da vingança. E ele não poupará ninguém. — Você não me ama? — Amor para mim é só uma palavra.
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Enquanto muitas meninas sonhavam em ser princesas ou bailarinas, eu sempre fui diferente. Ainda que por um breve tempo tenha desejado vestir uma coroa ou rodopiar num palco, foi entre páginas e palavras que encontrei meu verdadeiro encanto. Desde cedo, os livros me chamaram mais alto do que qualquer castelo ou sapatilha de balé.
A leitura me apresentou mundos mágicos, personagens intensos e histórias que iam muito além do que eu poderia viver fora do papel. E assim, passei a sonhar com finais felizes, daqueles que surgem nos contos de fadas, onde o amor é celebrado com promessas eternas e olhares que se reconhecem no meio da multidão.
Com o tempo, meu coração passou a desejar algo mais real do que encantado: um amor verdadeiro, como aqueles dos romances que devorava em silêncio. Um amor que fosse fiel, profundo, e que me trouxesse paz.
Era só um sonho, como disse… Um que pensei ter finalmente realizado, mas, como sempre, a vida estava somente me pregando uma peça, e eu paguei caro… O preço foi o meu coração.
Olho para o homem que está à minha frente. O mesmo homem que jurei amar e ser fiel. Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto; porém, não faço questão de secá-las, seria inútil!
Encaro a mulher ao lado dele com nojo. O sorriso debochado que ela exibe me revira o estômago. Quero desesperadamente acreditar que tudo isso é uma mentira, mas sei que não é. E então, sinto meu mundo desabar, lenta e cruelmente, sem que eu possa fazer nada.
Como fui besta!
— Saia daqui, Scarlett. Agora!
A mulher treme com o seu grito e logo passa ao meu lado, praticamente correndo. Não sei qual traição dói mais: descobrir que o meu casamento é uma farsa ou que, além disso, o meu marido vinha tendo um caso com outra mulher.
Sei que nosso começo foi difícil, mas nunca imaginei que chegaríamos a esse ponto. Não queria acreditar que ele seria capaz de fazer isso comigo.
O rosto dele revela medo, desespero e angústia, mas eu não me importo. Não mais.
— C-como você pode fazer algo assim? — Pergunto num fiapo de voz. — Como conseguiu ser tão baixo a esse ponto?
— Mel… — Vejo ele tentando encontrar uma resposta enquanto tenta se aproximar de mim. Afasto-me do seu toque, como se o mesmo estivesse me queimando.
— Confiei em você! — grito, sentindo uma forte dor no meu peito. Lágrimas desciam na minha face como cascatas. — Você mentiu para mim, me usou, me fez acreditar em um amor, que nunca existiu. — Sinto o meu corpo chacoalhar pelo choro que não consigo controlar. — Para quê? Me diz! O que você ganhou com tudo isso?
Mesmo com a vista embaçada pelas lágrimas, consigo vê o desespero em seu rosto, a forma desesperada que tenta se aproximar de mim, sem sucesso. Ele chora, um choro contido, mas que para mim não faz diferença, nada mais faz, tudo que vivi com ele foi uma farsa, não acredito em nada mais que venha dele.
Nada foi real. Tudo em que acreditei até agora não passava de uma ilusão cuidadosamente criada por ele, cada toque, cada palavra, cada promessa. Ele mentiu para mim. Me usou de uma forma tão cruel que ainda me custa aceitar o que acabei de ouvir. Sinto-me suja por ter acreditado nele com tanta ingenuidade. Por ter me entregado achando que era amor.
Quantas vezes ele mentiu olhando nos meus olhos… e eu acreditei! Agora tudo faz sentido, o jeito como começou a me tratar depois do casamento, a forma como falava comigo. Era sempre o mesmo ciclo: me tratava mal e, logo depois, jurava que me amava.
— Mel, você precisa me ouvir… — ergo a minha mão, parando-o. — Eu não sei como explicar para você, tudo começou de uma forma tão errada, mas eu me apaixonei por você, eu te amo!
Um tremor percorre meu corpo, e preciso me escorar na parede mais próxima para não cair. Como ele ainda ousa dizer que me ama? Não consigo mais acreditar nisso. Se tivesse dito essas palavras algumas horas antes, tudo poderia ser tão diferente…
— Não quero saber de mais nada que vem de você. Não acha que já chega de mentiras? Como você consegue mentir dessa forma?
— Juro que não é mentira! Juro para você, só vamos conversar com calma, por favor, amor.
— Não temos mais nada para conversar, esse é o nosso fim, Will. E foi você o causador disso.
Em passos rápidos, peguei a caixa que havia levado para o escritório dele; era uma surpresa, porém quem teve a maior surpresa fui eu. Viro-me, não querendo olhar para o homem à minha frente, o mesmo que há meses atrás dizia me amar.
E, como num flashback, várias cenas vão passando pela minha mente: suas palavras cruéis, as inúmeras vezes em que me tratou mal sem motivos. Confrontei-o tantas vezes para entender o motivo da sua raiva, que para mim não fazia sentido.
Dizem que a sinceridade machuca, mas, para mim, a mentira faz um estrago bem maior…
William Frustrado, jogo as pastas com os arquivos sobre a mesa. Já são quase meio-dia e continuo atolado de trabalho. Mesmo que eu tente não pensar na grande bagunça em que minha vida pessoal se tornou, não consigo. Esse assunto tem se tornado um martírio para mim, o que me deixa ainda mais irritado, já que o meu plano era transformar a vida dela em um inferno, não a minha. De início, pensei em limitar o dinheiro, então deixei o cartão com um limite baixo. Mas ela pareceu não se importar, o que realmente a afetou foi ter perdido o emprego. Claro que passou pela minha cabeça que isso poderia fazer parte de alguma armação. Como uma boa atriz, ela jamais deixaria as coisas tão fáceis. Apesar de meu plano ainda não ter dado resultados, tento ser cauteloso. Mas, toda vez que a vejo interagindo com qualquer homem, a imagino me traindo. Então, perco a cabeça, e arrisco acabar com meus próprios planos. Mas não consigo evitar. Tudo o que eu menos queria agora era ver isso ganhar repe
Melinda Um calor confortável envolvia meu corpo, uma sensação que há muito não me visitava, despertando lembranças doces e esquecidas da minha infância. Meus olhos pesavam, lentamente cedendo ao cansaço, e cada músculo do meu corpo parecia preguiçoso, dificultando qualquer movimento. Mas não era só o sono que me paralisava, eram os braços fortes e firmes que me envolviam pela cintura, segurando-me com uma segurança quase implacável, como se quisessem me proteger e, ao mesmo tempo, não me deixar escapar. Dentro daquele abraço, havia algo de reconfortante e, ao mesmo tempo, inquietante, uma mistura delicada entre aconchego e submissão que me deixava suspensa entre o desejo de me entregar e a dúvida sobre o que viria depois. O ritmo do meu coração parecia se sincronizar ao calor que irradiava da pele dele contra a minha e, por um instante, o mundo inteiro fora daquele abraço era apenas silêncio. Ainda atordoada pelos acontecimentos da noite anterior, encarei William, que dormia ao meu
WilliamConferi o registro de chamadas uma, duas, três vezes. Cada deslizar de dedo era um apelo silencioso por alguma evidência, um detalhe escondido que me provasse certo. Mas não havia nada disso, só repetidas ligações para Isabelle.Tentei outra abordagem. Abri a lista de contatos. Era curta, quase vazia. Estranhamente limpa. Aquilo não significava muito. Não com tantas formas de se esconder hoje em dia. Ela podia ter outro número. Outro aparelho.— Isso provavelmente não está certo — murmurei, jogando o aparelho sobre a mesa, ainda sentindo o olhar acusatório de Nicolas cravado em mim. — Deve haver alguma explicação…— Você só diz isso porque não encontrou o que queria. Agora me diga: o que fez para que Melinda saísse daqui daquele jeito?— Apenas disse a verdade — dei de ombros. — Que ela não passa de uma interesseira.— Inacreditável que você tenha tido coragem de dizer algo assim — ele riu, carregado de sarcasmo. — Mas o que se pode esperar de alguém que se casou por vingança,
MelindaOs olhos de William brilhavam intensamente, não de ternura, mas de raiva. Seus passos firmes e confiantes ecoavam pelo ambiente enquanto se aproximava de mim com a mesma presença imponente de sempre. Mas aquilo já não me assustava. Eu estava me acostumando com esses rompantes, infelizmente, já era quase uma constante entre nós sempre que algo saía do controle.Levanto a cabeça e encaro seus olhos, tentando encontrar qualquer vestígio do homem que eu conhecia. Mas tudo o que vejo é a raiva, firme e inabalável. A desconfiança circula entre nós, silenciosa, como se tivesse sido convidada.— Não o conheço — respondo, dando de ombros, com total indiferença.Dessa vez, não posso culpar completamente William pela desconfiança. Os homens que estavam aqui realmente agiram de forma estranha. Ainda assim, essa constante desconfiança está se tornando cansativa. A maioria das nossas brigas nasce das inseguranças dele e isso começou a passar dos limites.— Quando você vai parar de mentir? —
MelindaQuando o táxi parou em frente ao imponente prédio da empresa Montenegro, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a beleza impressionante daquele arranha-céu gigantesco. Embora soubesse que se tratava de uma empresa renomada, jamais imaginei que sua estrutura fosse tão deslumbrante, com suas fachadas de vidro reluzente refletindo o céu e as luzes da cidade, o prédio parecia quase uma obra de arte erguida em meio ao concreto.Ao passar pela porta giratória, senti um desconforto imediato ao perceber que minhas roupas estavam completamente fora do padrão elegante da empresa. Aquilo poderia muito bem ter me feito dar meia-volta, mas a curiosidade sobre o que Nicolas queria me dizer era maior.Apertei com mais força a alça da minha bolsa e avancei pelo meio da multidão apressada que se movia de um lado para o outro. Ao longe, avistei uma moça que supus ser a secretária.— Bom dia — disse, assim que me aproximei do balcão. — Poderia me informar onde fica a sala do Nicolas? Ele es
WilliamPasso a mão no pescoço, sentindo a dor se intensificar. Vai ser completamente impossível passar mais uma noite naquele sofá. E, como tudo na minha vida tende ultimamente a piorar, ouço a voz suave que vem me dando mais dor de cabeça do que deveria.— O que você quer? — Meu tom rude não a assusta, mas, faz com que tenha mais coragem para entrar. Uma atitude que vem se tornando cada vez mais frequente.Apesar de ter demorado, ela começa, ainda que discretamente, a revelar sua verdadeira personalidade.— Precisamos conversar. — E então vejo novamente aquele olhar, o mesmo que surgiu em nossa primeira discussão. Lentamente, juntei minhas mãos sobre a mesa, sem desviar meu olhar do dela. Mel: essa é uma boa definição para a cor dos seus olhos. Provavelmente não é uma coincidência o seu nome seja Melinda.— Não temos nada para conversar. — Sinto o maldito cheiro de rosas se infiltrando lentamente no ambiente, como uma erva daninha. — Então, saia por onde entrou.— Pensei muito sobre
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