William
Atriz. Ela é uma ótima atriz. Durante esses quatro meses, precisei de um esforço colossal para ir vê-la todos os dias. A pior parte era beijá-la, quando tudo o que eu realmente queria era acabar com sua vida com as minhas próprias mãos. O nojo que sentia de mim mesmo ao voltar para casa era indescritível. Tudo nela me causa ânsia; cada gesto, cada palavra, tudo é falso. Mas, todas às vezes em que a tocava, repetia para mim mesmo: é só um meio para um fim. Meu plano estava funcionando, e ela parecia cada vez mais convencida do meu amor. Levei flores todos os dias, rosas, as preferidas de toda mulher, e, numa dessas visitas, um colar de diamantes falsos que brilhava como se fosse legítimo. Ela, sempre no papel da mulher altiva e sentimental, recusou o presente com um sorriso doce, dizendo que o que mais importava para ela era a minha presença. Uma atriz talentosa, sem dúvida. Tentou me fazer de tolo, encenando afeto e desinteresse com a mesma intensidade. Mal sabe ela que, enquanto representa, é ela quem está sendo enredada na armadilha. E a cada gesto meu, a cada flor entregue, o laço se aperta um pouco mais. O que eu não contava era com a necessidade de uma viagem urgente para o México. Isso comprometeria tudo. Ficar quase uma semana, talvez mais, longe dela não estava nos meus planos. Então, resolvi antecipar a próxima fase. — O que você quer me falar? — Seus olhos curiosos me analisam. Diria até que parecem preocupados. Respiro fundo, assumindo meu papel. — Hoje soube que precisarei fazer uma viagem de urgência ao México — digo, e percebo a tristeza surgir em seu rosto. Isso me dá ainda mais coragem. — Tentei resolver as coisas daqui, mas minha presença lá é indispensável. Eu não queria ter que me afastar de você, mas, desta vez, não há como evitar. Toco sua mão sobre a mesa, esperando a reação. — Eu também não quero passar esse tempo longe de você, Will — diz, e ao ouvir o apelido, retiro minha mão de imediato —, mas entendo que é necessário. — Melinda, esperei muito tempo para encontrar a pessoa certa. Pensar que ficaremos separados por semanas, isso me fez perceber o quanto estou envolvido. O quanto gosto de você. O que vou propor pode parecer precipitado, mas é algo que vem do fundo do meu coração. A decisão é só sua. — Will, o que… — Quer se casar comigo? Seus olhos se arregalam, e seu rosto, já pálido, parece perder ainda mais cor. — O quê? — Sua voz sai em um sussurro incrédulo. — Quando descobri sobre a viagem, entendi que estamos perdendo tempo. E cada segundo ao seu lado é precioso, porque você é minha outra metade. — Lágrimas escorrem pelo seu rosto, me confirmando que minhas palavras surtiram o efeito desejado. — Você é minha alma gêmea, Melinda, e eu não quero passar mais um minuto longe de você. E então, para a grande finalização do meu “show”, ajoelho-me à sua frente e abro a caixinha com o anel de noivado. Um sorriso se forma em seus lábios. É a confirmação que eu precisava. A primeira queda dela. E o sabor disso nos meus lábios é... viciante. — Eu aceito. O restaurante explode em palmas e felicitações. Não perco tempo: coloco o anel em seu dedo e lhe dou um beijo casto. — Vamos nos casar o mais rápido possível — digo, já me afastando. — Deixo tudo nas suas mãos — responde, com um brilho diferente no olhar. — Pode parecer cedo, mas sinto que o que temos é forte e intenso e sei que você nunca me machucaria. Olho fundo em seus olhos e entrego exatamente o que ela quer ouvir. — Jamais irei te machucar. ***** Assim que chego em casa, vou direto ao escritório. Preciso adiantar tudo antes da viagem. Pego o celular e ligo para Nicolas. — Nicolas falando — atende após o terceiro toque. — Preciso que encontre um juiz — digo, direto. — Um juiz? Para quê? — Para o meu casamento com a Melinda. A linha fica muda por alguns segundos. — Você não vai desistir disso? Ainda há tempo… — Se for começar com essa baboseira, vou desligar. Vai ou não encontrar um juiz? — E eu tenho escolha? Para quando? — Amanhã. — Amanhã?! — Ele quase grita. — Você viaja amanhã para o México! — Ia viajar. Mas já que tenho a chance de começar minha vingança, por que esperar? — William, se perder essa viagem, o Benjamin vai querer sua cabeça em uma bandeja de prata! — Esperei muito por isso. Não vou adiar mais. — Ouço um baque surdo, como se ele tivesse socado a mesa. — Você tem que pensar na empresa, porra! Essa reunião com os Martínez é mais importante que essa vingança estúpida! — Não preciso que me diga o que é mais importante. — Grito, passando a mão pelos cabelos, irritado. — Só faça o que eu pedi. Encontre o maldito juiz. O resto, eu resolvo. — Faça do seu jeito então — resmunga antes de desligar. Reprimo a vontade de arremessar o celular contra a parede. Meus dedos apertam o aparelho com força, como se isso bastasse para conter o turbilhão de frustração que começa a se agitar dentro de mim. Não posso me descontrolar agora. Cada passo foi calculado com precisão, e tudo, absolutamente tudo, está saindo conforme o plano. Passo os dedos pelo rosto, tentando aliviar a tensão que começa a se acumular na mandíbula. Me levanto da cadeira e caminho lentamente até o bar no canto do escritório. Sirvo uma dose de uísque e observo o líquido âmbar girar dentro do copo, como se pudesse encontrar ali a calma que preciso. Trago o copo aos lábios, o álcool queimando na garganta como um lembrete de que ainda tenho controle. Antes de qualquer coisa, preciso encerrar as pendências com Benjamin. Só depois cuidarei das coisas com Melinda. Desbloqueio o celular. Procuro o contato de Benjamin. O nome dele aparece no topo da lista de favoritos, como uma sombra que insiste em pairar sobre meus negócios. O telefone chama. Uma, duas, três vezes. Finalmente, ele atende. — Fiquei surpreso ao ver sua ligação, Montenegro — diz ele, assim que atende. — Estou ligando para avisar que não poderei ir ao México. — Como assim? Cancelei compromissos importantes por conta dessa reunião. O que seria mais importante? Suspiro. Benjamin sempre foi difícil, mas eu precisava ser direto. — Meu casamento — digo. A linha fica muda por alguns segundos. — Ora, eu não sabia que estava noivo. Parabéns. — Seu tom soa desconfiado. — Obrigado. Em três dias, estarei no México. — Não se preocupe — responde. — Estava pensando em fazer uma visita mesmo. Podemos realizar nossa reunião em Londres. Sorrio. Perfeito. Tudo está se encaixando melhor do que o esperado. Assim que desligo, ligo para a minha doce noiva para avisar dos novos planos. — Alô — atende com a voz sonolenta. Afasto o celular para olhar a hora: 23:30. — Melinda, desculpe ligar tão tarde, mas queria compartilhar algo com você. — Aconteceu alguma coisa? — Sua voz está tensa. — Precisei adiar a viagem. E queria saber se você está disposta a se casar amanhã? Silêncio. Imagino que esteja saboreando sua “vitória”. — Pensei que, quando disse ‘o mais rápido possível’, estivesse falando de dois meses! — sussurra. — Sei que você sonha com uma grande cerimônia, mas pensei que poderíamos nos casar amanhã no cartório. Depois, você poderá planejar o casamento na igreja do jeito que quiser. Suspiro. Sua resistência é inútil. — Não me importo com festa, mas gostaria de me casar na igreja — insiste. — E nem tenho um vestido para amanhã… — Não se preocupe. Amanhã, tudo estará à sua porta. E, ao final do dia, seremos marido e mulher. Não é isso que você quer? — Claro que quero — responde, por fim. — Então, até amanhã, minha doce noiva. Sorrio ao desligar. O jogo está prestes a virar.