Mundo ficciónIniciar sesiónMovida pela revolta e pela compaixão, Natália decide desafiar o destino cruel reservado à sua amiga, uma jovem prestes a ser obrigada a se casar com seu tutor, Fernando Alcântara de Albuquerque, um homem mais velho, autoritário e temido por sua frieza e insensibilidade. Para salvá-la, Natália toma uma decisão ousada: assumir a identidade da amiga e embarcar em uma viagem rumo a uma fazenda isolada no coração do Mato Grosso, onde o casamento aconteceria. O plano parecia simples, enganar Carlos, o charmoso e atraente primo de Fernando encarregado de buscar a noiva e fugir antes de chegar ao destino final em uma longa viagem de carro. Mas nada sai como o esperado. Natália se envolve em um perigoso jogo de sedução com Carlos, um homem de beleza perturbadora e charme irresistível. Durante a viagem algo dá errado e ela se vê sendo levada diretamente à fazenda. Desesperada, tenta fugir antes de ser descoberta, mas o destino a conduz direto para os braços do temido Senhor Fernando. Ao descobrir a farsa, Fernando a obriga a casar com ele, substituindo a noiva prometida e transformando a ousadia de Natália em uma armadilha que ela mesmo ajudou a tecer e que não tinha como escapar. Agora, Natália precisa enfrentar o orgulho e a fúria de um homem que jurou domá-la, enquanto luta contra o próprio coração, que insiste em enxergar por trás da rigidez dele algo que jamais imaginou: um amor tão intenso quanto perigoso.
Leer másO movimento no escritório era intenso, a impressora trabalhava quase sem parar e documentos eram anexados e assinados.
— Bem, e o que pretende fazer depois que encerramos por aqui? — perguntou Natália Moretti, ajeitando a pasta de documentos sobre a mesa.
— Pretendo voltar para o escritório no Rio. — respondeu Cristina Farias, sem desviar o olhar da pilha de papéis que organizava. — E você? já que seu contrato com a empresa terminou? Eles gostaram muito dos seus serviços e estão dispostos a te contratar definitivamente.
Natália respirou fundo, cruzando os braços como quem se protegia de um pensamento incômodo.
— Ainda não sei. Eu só aceitei esse trabalho para ficar bem longe do Ricardo e do Rio.
Cristina arqueou as sobrancelhas, curiosa.
— Você ainda não superou aquele canalha, não é?
Natália apenas assentiu, tentando afugentar as lágrimas. A dor ainda era muito forte e o coração parecia uma ferida aberta como se nunca fosse cicatrizar.
— Então, por que não vai para a Europa? Você é fluente em várias línguas, arrumaria um emprego facilmente. O Thomas tem uma agência na França e, se depender de mim, darei ótimas referências.
Natália deu um sorriso breve, mas sem entusiasmo.
— Pode ser… Mas primeiro vou voltar para meu estado. Aceitei a proposta para pesquisar e elaborar um projeto que criará um novo polo turístico. O Espírito Santo tem um potencial enorme, que começa a ser notado pelo restante do país e até do mundo.
Cristina apoiou-se na mesa, interessada.
— E o que tem lá de tão especial, se mal falam dele nas mídias?
— Belas praias, serras com clima europeu… — Natália gesticulava, como se já estivesse vendo os cenários diante dos olhos. — Você sai da praia e, em poucas horas, está em um chalé nas montanhas, tomando vinho em frente a uma lareira.
Cristina sorriu.
— Falando assim, parece mesmo um destino ideal para todos os gostos.
— Sim, e com um bom plano estratégico podemos mostrar isso ao mundo.
Houve um instante de silêncio, quebrado apenas pelo som dos grampeadores e vozes distantes de outros setores. Cristina fechou uma pasta, suspirando levemente.
— Não vou mentir pra você, Nat… vou sentir falta daqui.
Natália a fitou surpresa.
— Sério? Pensei que não suportava São Paulo.
— A vida noturna tem seu charme, os bares, as boates e… os homens, é claro. — completou, com um brilho malicioso nos olhos.
Natália riu, mas um riso amargo. Diferente da amiga, evitava homens a todo custo. Sempre que saíam juntas, Cristina se divertia com as paqueras da noite, enquanto Natália dispensava todos.
As duas, embora diferentes na aparência, chamavam atenção por onde passavam, não apenas pela altura um pouco acima da média, mas também pelo magnetismo que irradiavam.
Cristina representava a beleza tipicamente brasileira: cabelos castanhos que caíam em ondas suaves, olhos escuros e profundos, e um corpo de curvas bem delineadas. Já Natália carregava em si a herança europeia evidente em seus traços delicados: grandes olhos azuis, de brilho intenso e expressivo, cabelos loiro-dourados que refletiam a luz como fios de sol. Seu corpo esguio, com cintura fina, quadris largos e pernas longas bem torneadas, conferia-lhe uma elegância quase etérea. Juntas, contrastavam e ao mesmo tempo se completavam, formando um duo impossível de passar despercebido.
— O que foi? Nem todos são uns cretinos como Ricardo? — Cristina colocou a mão na cintura e fingiu indignação teatral.
— Não é isso. Só não gosto de ser importunada e ouvir cantadas machistas e baratas. Acham que podem controlar nossas vidas, que não conseguimos viver sem eles e nos tratar como objetos, como se fôssemos suas propriedade. Veja o que está acontecendo com a Cecília.
Cristina fechou o semblante.
— O que tem a Cecília haver com isso?
— Cecília está morando com a gente há mais de seis meses e ainda não contou nada para o tutor dela. Ele pensa que ela continua no internato de freiras.
Cristina suspirou.
— Ela já não é mais criança. Deve estar só esperando a hora certa pra contar.
— Não, Cris. Ela tem medo dele. — Natália parecia realmente preocupada. — E também não contou que está namorando. Ela e o Pedro já estão juntos há quase um ano.
— Cecília sempre foi tímida e insegura.
— Mas desde que começou a namorar com Pedro, ela vem mudando. Criou coragem de sair do internato, foi morar conosco… e quando se casarem, tenho certeza de que ele vai ajudá-la ainda mais.
Cristina a olhou, surpresa.
— E será que o tutor vai concordar? — Cristina tinha dúvidas que o tal tutor aprovasse a escolha de Cecília.
— Claro! — Natália sorriu cúmplice. — Antes de viajar para o Nordeste, ele me confidenciou que vai pedi-la em casamento assim que voltar. Pedro é um homem responsável e respeitador, além do mais tem um ótimo emprego como diretor.
Cristina ergueu o queixo, duvidosa.
— Acho que para aquele tutor, pode ser pouco. Veja, desde que conhecemos Cecília, em quantos empregos ela conseguiu se manter?
Natália soltou uma risada.
— Que eu saiba, só um, e foi como recepcionista. Durou menos de um mês, um verdadeiro desastre.
— Então me diga? Onde ela arruma dinheiro para pagar o aluguel, ajudar nas despesas da casa e comprar aquelas roupas caras e acessórios de luxo, sem falar nas bolsas de grife e jóias?
Os olhos de Natália se arregalaram.
— Está dizendo que aquelas joias são verdadeiras?
— Sim. Eu sei reconhecer jóias verdadeiras de falsas. — Afirmou Cristina.
Natália levou a mão à boca, surpresa.
— Então… aquele aquele colar de safira que ela me emprestou era de verdade?
— Claro. O tutor provavelmente administra a herança desde a morte dos pais. Não acho que vá aceitar que se case com um simples diretor.
— Cecília já é maior de idade e ele não poderá impedir ela se casar com quem ela quiser.
— Tenho minhas dúvidas. — Disse Cristina. — Vamos terminar logo com isso e depois sair para comemorar.
Natália balançou a cabeça, encerrando o assunto sobre Cecília. Cada uma tinha seus próprios problemas e, no momento, ela precisava se concentrar na sua própria vida que estava um caos.
Assim que Mariana saiu da casa em direção aos estábulos, Natália correu para o quarto e começou a trocar de roupa às pressas. O coração batia acelerado, não por medo, mas por uma súbita determinação.No dia anterior, ela ouvira por acaso uma conversa entre dona Catarina e Mariana: Fernando só voltaria no dia seguinte. Aquela era a oportunidade perfeita. Precisava encontrar Mariana e Jorge, conversar com eles, talvez ajudar a resolver aquele amor proibido antes que fosse tarde demais.Quando chegou ao estábulo, Januário estava terminando de escovar um dos cavalos. — Januário, por favor, sele a Aurora pra mim. — pediu, tentando soar natural.O peão levantou a cabeça, franzindo o cenho. — Sozinha, dona Natália? Não acho boa ideia… andam dizendo que tem uns foragidos rondando pelos campos. É perigoso.Natália sorriu, tentando disfarçar a pressa. — Não se preocupe, Januário. Vou encontrar o Carlos na lida do gado.Ele coçou a cabeça, desconfiado. — Olha, dona Natália, se o patrão soube
Na manhã seguinte, Natália soube de forma desagradável que Fernando havia partido de madrugada.— Então Fernando recebeu um telefonema de Valéria e teve que sair as presas. — A voz de Mariana soava como casual, mas por dentro era veneno puro.— Sim, parece que foi urgente e ele deve demorar dessa vez. Ao responder Carlos olhou para Natália que manteve os olhos baixos para não demonstrar a dor que sentia, que seu coração parecia que tinha levado uma facada e depois alguém torceu para que sentisse mais dor ainda.Carlos queria contar sobre os sentimentos de Fernando, mas não cabia a ele decidir e talvez ela também não acreditaria. Só esperava que quando ele voltasse os dois pudessem se entender.— Preciso ir. Hoje vou trabalhar no prédio da administração na vila. Tenham um bom dia.Só então Natália percebeu que ele estava usando roupa social. Ela queria até pedir para ir com ele, mas desistiu. Ela ainda não conseguiu conversar com Fernando sobre a possibilidade de trabalhar no escritór
O jantar daquela noite parecia repetir o de tantas outras: pesado, silencioso, quase sufocante. O tilintar dos talheres contra a porcelana era o único som que quebrava o ar tenso à mesa.Fernando estava sentado à cabeceira, o semblante fechado, o olhar distante. Mal tocava na comida. Natália, à sua direita, tentava manter a postura, mas a cada movimento dele sentia o coração apertar.Mariana permanecia cabisbaixa, mexendo no prato sem apetite, e a senhora Catarina, ereta como uma estátua, observava tudo com a rigidez que lhe era habitual. Vez ou outra lançava olhares severos para Natália, olhares que diziam mais do que palavras.Carlos tentava, inutilmente, amenizar o ambiente.— O gado do pasto novo está respondendo bem à mudança — comentou, tentando soar casual. — Se continuar assim, em dois meses teremos um bom lucro.— Hum. — Fernando respondeu apenas com um som grave, sem erguer os olhos.Natália, numa tentativa de quebrar o gelo, perguntou baixinho:— Foi um dia muito cansativo?
Na manhã seguinte, Natália soube por Ivan que Fernando havia saído ainda antes do amanhecer para acompanhar o manejo do gado e que ele pretendia passar o dia inteiro nas pastagens.Ela apenas assentiu, tentando disfarçar a pontada no peito.Sabia que ele a estava evitando.— Você anda muito abatida, Natália. Deve ser o peso da consciência — comentou a senhora Catariana, num tom gelado.Natália apenas fingiu um sorriso fraco e se recolheu. Não suportava também as farpas sutis de Mariana, que não perdia uma chance de alfinetá-la.Decidiu ficar no quarto o dia todo, alegando uma forte enxaqueca à senhora Catarina, que apenas arqueou uma sobrancelha desconfiada.Deitou-se, mas não conseguiu descansar. O silêncio do quarto parecia ecoar o vazio deixado por Fernando.*****Em outra parte da fazenda, o sol já alto iluminava o jardim, em um canto mais afastado da casa, Paula esperava. O rosto dela denunciava impaciência.Logo, Mariana surgiu entre as árvores, andando com passos firmes, o sem
Carlos deu um suspiro exasperado demais para seu temperamento, jogou o guardanapo na mesa.— Não seja ridículo, Fernando. — E se retirou, sem esperar resposta.O silêncio que se seguiu foi sufocante. Se o clima estava ruim, piorou mais ainda. O ar parecia pesado demais. Natália respirava com dificuldade, o coração apertado. Queria gritar, dizer algo que quebrasse aquele muro entre eles, mas quando falou, sua voz saiu suave, quase trêmula.— Olha, Fernando… eu não sei o que a Mariana fez para te deixar assim, mas se eu puder fazer alguma coisa pra ajudar…Ele ergueu um canto da boca num sorriso amargo. — Ajudar? — repetiu, debochado. — E o que exatamente você tem feito para ajudar, Natália?— Eu estou tentando me aproximar dela, tentando ser amiga, mas…— Sim, eu percebi. — interrompeu, irônico. — Está se esforçando para trazer harmonia à casa… inclusive entre nós, não é mesmo?Ela o encarou, sentindo o peito queimar. — Não venha colocar a culpa em mim. Você também não ajuda. Eu não
— Fernando...? — murmurou, a voz trêmula. — Eu… eu estava sonhando…Ele respirou fundo, como quem tentava conter uma fúria que ela via em seus olhos. — Eu sei — respondeu, soltando devagar os pulsos dela. — E não é a primeira vez.Natália o fitou, ainda atordoada.— Quando você chegou?Fernando só era esperado no dia seguinte, mas parece que ele tinha chegado no meio da noite.Ele desviou o olhar, pegando o roupão que repousava sobre a cadeira. O som do tecido deslizando pelos ombros dele pareceu preencher o silêncio entre os dois.— Isso não importa. — A voz saiu baixa, mas carregada de cansaço. — Vou pedir para Ivan preparar um chá para acalmá-la.— Fernando… — tentou chamá-lo, mas ele não se virou.— Vou dormir no meu quarto. — disse simplesmente, antes de sair.A porta se fechou com um clique suave, deixando-a com o coração em descompasso. Ela ficou ali, imóvel, desejando ter tido coragem para pedir que ele ficasse.Pouco depois, uma batida discreta ecoou. — Entre.Ivan surgiu n
Último capítulo