Agatha sempre viveu sob o controle rígido do pai, seguindo regras severas ao lado da irmã mais velha. Em busca de liberdade, cede ao convite da irmã para sair e, após beber demais, acaba ao lado de um desconhecido na mesma condição. Ao acordar, foge apavorada. Pouco tempo depois, descobre que está grávida. Ao contar ao pai, é expulsa de casa e deixada à própria sorte, enquanto sua irmã sorri cruelmente, sussurrando em seu ouvido uma despedida amarga: — "Boa sorte com sua nova vida... espero que encontre o pai do seu bebê... um pobre e miserável assim como você." Determinada a criar o filho sozinha, Agatha enfrenta tempos difíceis, trabalhando em empregos simples, mas mantendo-se firme por amor à filha, Flor Bela. Durante anos ela luta para sobreviver, encontrando empregos modestos, depois, ao perder o emprego, vê sua estabilidade ruim mais uma vez. Em meio à busca por trabalho, conhece Alexander, um empresário rígido que lhe oferece uma vaga como secretária. Ela aceita a oportunidade sem imaginar que seu novo chefe é Vitor, o filho de Alexander — um homem temido por sua frieza e fama de dispensar secretárias. Depois de um tempo, o impacto é avassalador quando ela reconhece Vitor como o homem daquela noite do passado, sem que ele tenha ideia da conexão entre eles. A partir desse reencontro inesperado, Agatha precisa encarar os fantasmas que tentou enterrar: o segredo da paternidade de Flor Bela, o risco de perder o emprego e a ameaça constante do passado se repetir. O destino os une novamente, agora em circunstâncias ainda mais complexas, forçando-a a lidar com verdades dolorosas, sentimentos confusos e a possibilidade de um futuro que ela nunca imaginou — tudo isso enquanto tenta proteger o que mais ama: sua filha.
Ler maisAo entrarem finalmente na sala, Agatha sentiu uma sensação diferente percorrer sua espinha, como se algo invisível soprasse uma revelação silenciosa. O ambiente era acolhedor, mas havia uma estranha tensão pairando no ar, algo sutil, quase imperceptível, mas presente o suficiente para fazê-la manter a calma de forma intencional. — Sente-se, por favor. — A voz de Vitor soou educada, com um timbre firme e controlado, enquanto ele despejava o café recém-passado na xícara preta de porcelana. O aroma quente e amargo preencheu o espaço, misturando-se ao leve perfume de livros novos do ambiente. Agatha se moveu com delicadeza, acomodando-se graciosamente na poltrona de veludo escuro. Seus gestos eram estudados, suas mãos se cruzaram sobre o colo como se buscassem abrigo em algo invisível, algo que talvez a impedisse de se entregar completamente à inquietação que crescia dentro dela. Vitor, por sua vez, manteve um ritmo tranquilo ao se aproximar. Seus olhos analisaram a moça por um brev
— Sim, Vitor, ela deveria. Mas eu posso explicar. — Admitiu sua voz firme, mas sem perder a suavidade. Seu tom carregava uma serenidade pensada, como quem escolhia cuidadosamente as palavras, quase como se cada sílaba precisasse se encaixar no cenário delicado diante dela.— Escute, aconteceu um imprevisto... senhor, eu trouxe ela porque sua professora não está passando bem. — Explicou, mantendo a voz firme. Apesar disso, um leve traço de inquietação cruzou seu rosto, visível pelo franzir sutil de sua testa e o breve desvio de olhar, como se hesitasse em expor aquela fragilidade.Vitor franziu as sobrancelhas, visivelmente surpreso com a explicação. Ele ajeitou a pasta em suas mãos, deslizando os dedos pelo couro macio com um gesto quase automático, como se quisesse encontrar alguma firmeza naquela textura familiar. Seu olhar se desviou momentaneamente, fixando-se em um ponto vago da parede, como se ponderasse sobre aquela informação inesperada.O silêncio total pairou entre eles por
Vitor sentiu o peso das palavras de Lorena, como se fossem um desafio sutil lançado ao seu autocontrole. Cada sílaba carregava um magnetismo, uma sedução não apenas física, mas psicológica. A brisa do jardim parecia conspirar com ela, envolvendo-os em um clima ainda mais enigmático onde cada movimento e cada olhar transmitiam segundas intenções não ditas.Ele respirou lentamente tentando ignorar o fascínio que emanava da mulher a sua frente, mas seu corpo já traía sua razão. — Aprender, Lorena? — Sua voz tinha um toque de provocação, mas os olhos denunciavam a guerra interna que travava.Ela apenas sorriu, aquele sorriso que escondia segredos e intenções ocultas.— Sim, Vitor. Há coisas que não podem ser calculadas como números em uma planilha. — A voz ecoa suavemente preenchendo o ar. — Algumas oportunidades não são analisáveis. Elas devem ser vividas. A proximidade entre os dois parecia diminuir a cada segundo. O gato alaranjado, observador silencioso daquela troca intensa, mov
Alexander olhou para a jovem com ternura, seus olhos suavizados por uma mistura de empatia e pesar. Agora o pôr do sol projetava luz dourada pelas janelas da sala, tingindo o ar com uma melancolia tranquila. Agatha permanecia em silêncio, apenas o observando, esperando por uma resposta que talvez já temesse.— Agatha, me desculpa... — disse ele, sua voz baixa, quase um sussurro carregado de sinceridade — mas eu não posso contar sobre a vida do Vitor, sem a permissão dele.Fez uma breve pausa, como se buscasse as palavras certas, e olhou nos olhos dela com cuidado.— Mesmo sendo o meu filho... ele não iria gostar. — completou, sacudindo levemente a cabeça com pesar. — Você compreende?A garota assentiu devagar, os olhos fixos em Alexander com uma profundidade contida. Sua expressão revelava uma mistura de frustração e compreensão, sobrancelhas ligeiramente arqueadas, os lábios pressionados num gesto quase imperceptível de resignação. Era visível que queria saber mais, não por mera cu
Agatha inspira fundo, sentindo o ar atravessar suas narinas e preencher os pulmões com uma densidade quase palpável. Há algo naquele ar pesado, denso, como se o próprio ambiente estivesse tentando conter o que acabara de acontecer. Ela segura a respiração por um instante, como quem tenta reter controle, como quem não quer deixar escapar nenhum resquício de si. Seus ombros, antes tensos como cordas prestes a arrebentar, suavizam ligeiramente, mas a tensão ainda pulsa sob sua pele, uma corrente elétrica silenciosa que sussurra o pressentimento de que aquele encontro não foi um acaso, tampouco inocente.O perfume de Lorena persiste no ambiente como uma herança agridoce, misturando notas de jasmim com algo mais profundo—âmbar, talvez—um mistério que desafiava e seduzia em igual medida. Era como se cada molécula daquele aroma dançasse no ar, envolvendo Agatha numa lembrança que se recusava a partir.Com passos calculados e o maxilar cerrado, ela retoma sua caminhada até a sala. O som seco
Minutos depois, Agatha percorre o corredor com passos ágeis, os saltos de seus sapatos ecoando ritmadamente sobre o piso frio. Cada movimento é milimetricamente controlado, como se pudesse conter, na firmeza de sua postura, o caos que fervilhava por dentro. Seu coração martela contra o peito, descompassado, tomado por uma ansiedade que ela tenta, em vão, sufocar. A mente resiste, teimando em reviver o desastre de instantes atrás, enquanto a voz cortante e carregada de arrogância de Lorena ainda ecoa em seus pensamentos — um veneno sutil, porém persistente.Ao atravessar as portas duplas do refeitório, Agatha inspira profundamente. O aroma encorpado de café recém-passado invade suas narinas, misturado a notas suaves de baunilha e canela — uma fragrância acolhedora, quase ilusória, contrastando com a agitação interior que ela tanto se esforça para mascarar. O espaço está morno, preenchido por conversas abafadas e o tilintar metálico de talheres.Atrás do balcão, o cozinheiro a observa
Último capítulo