Agatha permaneceu imóvel, o peito apertado como se estivesse sendo esmagado por uma força invisível. Sua respiração vacilou, e, com um tremor sutil, ela afrouxou os braços que envolviam Flor Bela, depositando a menina cuidadosamente no chão. Seus olhos estavam marejados, mas havia uma ternura infinita no gesto.
Ajoelhando-se lentamente diante da filha, Agatha fixou o olhar naqueles olhos inocentes e curiosos, como se tentasse encontrar forças dentro daquela pequena fonte de amor. Seus dedos trêmulos envolveram as delicadas mãos da menina, sentindo a pele macia, tão frágil e quente. — Filha… — A voz escapou como um suspiro, carregada de um peso que ela mal conseguia suportar. — Antes mesmo do seu nascimento… — Fez uma pausa, engolindo seco enquanto as lágrimas se acumulavam. — O papai... acabou indo embora. Um soluço curto escapou de sua boca, e uma única lágrima deslizou silenciosamente pela sua bochecha, cintilando sob a luz suave da tarde. Flor Bela, com sua expressão indefinível, permaneceu quieta, mas seus olhos demonstravam um entendimento puro e doloroso. Pequenos vincos surgiram em sua testa franzida, os lábios entreabertos como se tentassem processar cada palavra que saía da boca da mãe. Agatha respirou fundo, buscando alguma forma de amenizar aquela dor, mas a verdade era cruel demais para ser suavizada. Seu coração se partiu ao ver o impacto das palavras na filha. Flor Bela não chorava, mas a sombra da tristeza pousou sobre sua face ingênua. Como uma onda forte e fria, a dor percorreu seu pequeno corpo. Então, Flor Bela, com os olhos brilhando em lágrimas que ainda não tinham caído, inclinou-se para frente, envolvendo o pescoço da mãe com seus bracinhos finos e pequenos. Seu abraço era suave, mas ao mesmo tempo desesperado, como se quisesse proteger Agatha da tristeza que as consumia. — O papai não me ama, mamãe? — Sua voz saiu fraca, embargada, quase como um sussurro ao vento. — Mamãe… O mundo ao redor parecia congelar. O peito de Agatha se apertou de forma excruciante, e sua garganta queimou como se estivesse sendo sufocada por suas próprias emoções. Seu corpo ficou rígido por um instante, perdido na dor silenciosa daquela pergunta tão inocente e devastadora. Fechando os olhos, como se quisesse afastar a aflição que a corroía por dentro, Agatha ergueu uma mão trêmula, pousando-a sobre o rosto da filha com carinho. Seus dedos deslizaram pela pele macia da menina, enxugando uma lágrima solitária que finalmente havia caído. — Olha pra mim… — Pediu com uma voz gentil, porém carregada de dor. Flor Bela obedeceu, fitando os olhos marejados da mãe. Agatha sorriu, um sorriso fraco e doloroso, enquanto segurava as pequenas mãos da menina entre as suas. — Seu pai não está presente conosco. — Disse com cautela, cada palavra escolhida como se pisasse em vidro quebrado. — Mas ele te ama muito, minha querida. A convicção na voz de Agatha era tão profunda que Flor Bela sentiu um leve calor no peito. — Eu prometo que vamos encontrá-lo em algum lugar desse universo... Só precisamos ser fortes e ter paciência. — Sussurrou Agatha, abraçando a filha novamente, sentindo seu pequeno corpo se encaixar perfeitamente contra o dela. Minutos depois, Agatha, com sua filha nos braços, continuou sua exaustiva caminhada pela cidade, lutando contra a desesperança que ameaçava consumi-la. O sol lançava raios dourados sobre as ruas movimentadas, mas dentro dela, tudo parecia cinza e nublado. Ela distribuía currículos, entrava em estabelecimentos, mas sempre saía de mãos vazias, com a frustração aumentando a cada negativa. Finalmente, sem forças, Agatha se deixou cair em um banco de praça, escondendo o rosto entre as mãos. Seus ombros tremiam, e lágrimas começaram a cair sem controle. Ela pensou em desistir, em simplesmente aceitar que não havia saída para ela e sua filha. Mas então, pequenos dedos tocaram suavemente seu rosto. Flor Bela, com sua expressão determinada e amorosa, enxugava as lágrimas da mãe com delicadeza. Seus olhos brilhavam com um afeto sincero e inabalável. — Não desiste, mamãe! — Exclamou com uma voz doce, mas cheia de certeza. — Você vai conseguir. Ela acariciou os longos cabelos da mãe, segurou suas bochechas entre as pequenas mãos e, sem hesitar, depositou um beijo suave na testa de Agatha. O coração da jovem mulher, que antes estava pesado e despedaçado, encontrou um momento de alívio. Ela sorriu, olhando para sua filha com uma gratidão infinita, e a abraçou apertado. De repente, sem aviso, Agatha ouviu passos leves se aproximando. Seu corpo ficou tenso, uma estranha presença fez sua pele arrepiar. Erguendo a cabeça com cautela, ela se levantou devagar do banco, o coração acelerado. Diante dela, um homem desconhecido estava parado. Seus olhos encontraram os dela, e Agatha sentiu o ar ao seu redor mudar. O destino de Agatha cruzou-se com Alexander, um grande empresário milionário de 46 anos, cuja presença rígida e imponente fazia qualquer ambiente se silenciar. Sua empresa bem-sucedida era um verdadeiro império, e sua fortuna, a maior da cidade. Ele se destacava pela elegância impecável: um terno azul-bebê de alto valor moldava-se perfeitamente à sua postura altiva, e a gravata borboleta branca, meticulosamente ajustada, refletia sua sabedoria. O perfume amadeirado que exalava de sua pele não apenas anunciava sua chegada, mas transmitia uma sensação de força e segurança. Seus sapatos pretos de couro legítimo reluziam sob a luz, e seus cabelos lisos e negros davam um toque de respeito e sofisticação. Mas era nos olhos — azuis, profundos, carregados de história — que brilhavam a humildade e a bondade, contrastando com sua figura grandiosa. Esses olhos, que normalmente analisavam contratos e números com precisão cirúrgica, naquele momento estavam cravados em Agatha, uma jovem mulher cujo olhar refletia um abismo de tristeza. Havia algo nela que perfurou a armadura impenetrável de Alexander—uma fragilidade silenciosa, um pedido de ajuda sem palavras. Sem hesitar, ele se inclinou ligeiramente para se aproximar, pousando suas mãos firmes e calorosas sobre os ombros da moça. — Você precisa de ajuda, moça? — Sua voz, grave e firme, soava ao mesmo tempo como um convite e um alívio. Seus olhos se suavizaram, um pequeno sorriso surgindo no canto dos lábios. — Eu me chamo Alexander. Qual é o seu nome? Agatha piscou algumas vezes, surpresa pela abordagem súbita daquele homem imponente. Sua respiração estava irregular, seus olhos marejados. Tentando se recompor, ela passou a mão pelo rosto, limpando discretamente as lágrimas que teimavam em cair. — Meu nome é Agatha... — Sua voz saiu baixa, enfraquecida pela dor acumulada em seu peito. — Estou à procura de um trabalho. — Ela inspirou fundo antes de continuar, sentindo a garganta apertada. — O estabelecimento onde eu trabalhava faliu... fui demitida. — As palavras escaparam como um desabafo contido, carregadas de angústia. — Tenho uma filha pequena... e estou enfrentando dificuldades financeiras. Um peso atravessou Alexander naquele instante. Seus músculos tensionaram por um breve momento, e ele desviou o olhar para o chão antes de voltar a encará-la. A tristeza nos olhos da jovem o atingiu de maneira inesperada, como se algo dentro dele reconhecesse aquela dor. Sua mandíbula se apertou antes de ele soltar um suspiro silencioso. — Vejo que você é uma mulher forte e determinada. — Sua voz trouxe um tom de respeito genuíno. Ele descruzou os braços e inclinou levemente o corpo para frente, tornando a conversa mais íntima. — Há uma vaga disponível na minha empresa... — Ele a observou com atenção antes de continuar, notando a esperança tímida começando a surgir no olhar dela. — Gostaria de ocupá-la e se tornar secretária? O coração de Agatha disparou, como se por um instante a vida estivesse lhe dando uma segunda chance. Sua melancolia foi substituída por uma emoção avassaladora. Sem conseguir conter o impulso, ela deu um passo à frente e envolveu Alexander em um abraço apertado e sincero, sentindo o calor humano que tanto lhe faltava. — Eu aceito! — Ela ofegou, ainda sem acreditar que aquela ajuda viera do homem mais poderoso da cidade. — O senhor salvou a mim e à minha filha! — Seus olhos brilhavam em gratidão, e sua voz tremia de emoção. Alexander sorriu de maneira contida, surpreso pelo gesto repentino, mas acolhendo-o com respeito. Ele ajeitou sua gravata com um movimento calmo e soltou uma risada curta e sincera. — Não precisa me agradecer, minha cara. — Seus olhos carregavam um brilho diferente, algo entre admiração e conforto. — Esse é o mínimo que posso fazer. Agatha, ainda segurando sua pequena filha no colo, deixou escapar um sorriso entre lágrimas, enquanto olhava para Alexander com um novo brilho de esperança. Pensou por alguns segundos antes de perguntar, hesitante: — Então... eu serei sua secretária? Alexander permitiu-se um instante de silêncio antes de responder, escolhendo suas palavras com cuidado. Seu sorriso se alargou ligeiramente, e ele inclinou a cabeça, como se estivesse prestes a soltar uma revelação. — Você será a secretária do meu filho. Alexander sabia que seu filho era conhecido por seu temperamento difícil e por demitir secretárias com rapidez alarmante. Ainda assim, queria tentar mais uma vez. Ele sabia que isso seria uma missão difícil. Porém, Talvez, apenas talvez...