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Cap. 4 Sombras e esperanças

Sem dinheiro e sem lar, perdida em uma estrada desconhecida, Agatha caminhava sob o sol escaldante, cada passo consumindo o pouco de força que lhe restava. Seu corpo suado e trêmulo misturava-se com a fraqueza. Os pés pequenos e delicados ardiam como brasas vivas, a pele marcada pelo esforço incessante. Seus cabelos longos e sedosos, outrora brilhantes, estavam agora emaranhados e grudados à testa pelo suor. A sede insuportável secava sua garganta, e a fome fazia seu estômago se revirar, produzindo um aperto doloroso e constante.

Seus olhos, turvos e pesados, começaram a pregar-lhe peças. As imagens ao seu redor se distorciam, transformando-se em sombras e formas irreconhecíveis. O calor, como um inimigo cruel, pulsava contra sua pele, tornando cada movimento um desafio. Mas, ainda assim, ela continuava.

Após horas caminhando sem direção, um brilho forte surgiu à frente, piscando e iluminando o horizonte como um chamado distante. Agatha forçou os olhos, tentando enxergar melhor. Luzes vibrantes. Gargalhadas altas. O som de motores e conversas entrelaçadas. O coração da cidade resplandecia diante dela como uma miragem impossível.

Arrastando-se com dificuldade, vencendo o cansaço e a dor lancinante, ela finalmente alcançou o lugar. A opulência a envolveu de imediato: vitrines brilhantes, carros luxuosos desfilando suavemente pelas ruas, perfume doce e sofisticado pairando no ar. Após dois dias de luta e esforço, Agatha conseguiu um modesto emprego como garçonete em um restaurante de alta classe, onde a riqueza transbordava em cada detalhe.

As mesas impecáveis eram decoradas com talheres importados, e os pratos servidos com perfeição exalavam aromas irresistíveis. O perfume das flores se misturava ao cheiro refinado do vinho envelhecido, invadindo os sentidos de todos. Homens e mulheres elegantemente vestidos trocavam cumprimentos gentis, sorrisos sofisticados e risadas discretas. A música suave preenchia o ambiente, harmonizando-se com o brilho das luzes azuladas que adornavam o salão.

Agatha, apesar de tudo, sentia-se feliz. Seu emprego, embora simples, era sua salvação. Pela primeira vez em dias, ela estava segura, alimentada e com um pequeno alicerce para construir algo novo.

Mas então, uma voz grave e autoritária cortou o ar, interrompendo seu fluxo de pensamentos.

— Agatha.

Seu nome ecoou com força, carregado de um peso sufocante. Alberto, o dono do restaurante, estava parado ao lado da bancada, sua presença imponente irradiando uma aura de superioridade e severidade. Seu rosto fechado exibia um olhar sombrio e dominador. A pele morena contrastava com o terno negro impecável. Seus olhos castanhos escuros eram como poços profundos, refletindo arrogância e indiferença. A gravata branca repousava sobre seu peito enquanto ele segurava uma taça de vinho, girando lentamente o líquido escuro dentro dela.

Agatha caminhava entre as mesas segurando uma bandeja, seu coração acelerando de maneira inquietante ao ouvir seu nome. Com um aperto no peito, ela se aproximou.

— Sim, senhor, estou aqui. — disse, ajustando o avental com dedos trêmulos, tentando manter a calma.

— Preciso que você faça hora extra hoje. — Alberto pronunciou as palavras sem emoção, sua voz grave e inflexível.

Agatha arregalou os olhos e sentiu o sangue gelar em suas veias.

— Mas senhor, eu tenho que resolver alguns problemas pessoais hoje… — murmurou, engolindo seco, sua voz tomada por uma mistura de nervosismo e súplica. — Preciso que o senhor me libere no horário correto…

O homem ergueu uma sobrancelha com desprezo e soltou um breve suspiro.

— Eu não quero saber dos seus problemas, garota. — Sua voz saiu cruel e cortante. — Dane-se eles.

Agatha recuou levemente, sentindo um peso esmagador cair sobre seus ombros.

— No meu restaurante, eu dito as regras, e você obedece. Está entendendo? — Ele ajeitou a gravata com um gesto firme, seus olhos perfurando os dela com frieza absoluta.

Agatha sentiu seu coração disparar, um nó se formando em sua garganta. Seus dedos apertaram involuntariamente o tecido do uniforme, como se buscar segurança em um simples pedaço de pano.

— Mas senhor…

— Se não quer ser demitida apenas trate de mim obedecer e seguir as regras... Estamos entendidos Agatha? — Explodiu Alberto amarguradamente com um olhar refletindo impiedade.

A menina enxugando as lágrimas tristes com as mãos e desamparada fala:

— Vejo que o senhor não tem compaixão e amor com as pessoas. Isso só por conta do dinheiro que possui?... — Murmurou a jovem consternada.

— Um dia eu irei vencer na vida... Isso aqui vai ter volta. Disse ela extremamente abatida e olhar fixo.

Alberto com as mãos no bolso da calça e altas gargalhadas debochando da garota fala:

— Você nunca vai conquistar nada… Nunca será ninguém na vida, pobre moça! — afirmou, tomando um gole de vinho, seus lábios se curvando em um sorriso desprezível. — Será uma simples garçonete para sempre… Não tem potencial, e nunca terá! — enfatizou, sua voz repleta de arrogância. Então, com um movimento brusco, apontou para os clientes e ordenou: — Agora vá trabalhar!

Cada palavra de Alberto caiu sobre Agatha como uma lâmina afiada, rasgando sua alma com um desprezo avassalador. Seu coração, já frágil, parecia desmoronar em prantos silenciosos, e as lágrimas caíram livremente, marcando seu rosto como cicatrizes de humilhação. Sua respiração ficou irregular, e por um instante, sentiu que sua força se esvaía.

Mas então, entre soluços contidos, ela ergueu o olhar. Seu peito subia e descia com esforço, como se tentasse reunir os pedaços de si mesma que haviam sido despedaçados. Observou o restaurante ao seu redor, aquele lugar que por tanto tempo fora sua sobrevivência. Com mãos trêmulas, enxugou as lágrimas com um guardanapo e arrumou delicadamente o avental em sua cintura.

E então, com um fio de determinação renascendo dentro de si, ela sussurrou para si mesma:

— Eu jamais vou desistir da minha vida… Tenho que continuar meu trajeto, por mim e por minha filha.

Os dias que se seguiram foram duros. Agatha enfrentava dificuldades e problemas financeiros que pareciam insuperáveis. O salário era pequeno, insuficiente para cobrir todas as despesas, e as contas acumulavam-se como sombras que a perseguiriam sem descanso. Mas, mesmo com cada obstáculo que surgia, ela lutava. Suportava as dores, carregava seus medos e seguia em frente, porque precisava vencer.

Três anos depois, Agatha completava 23 anos, e sua linda filha, Flor Bela, crescia saudável e cheia de vida. Frequentava uma creche simples, mas repleta de amor. Aos três anos de idade, a pequena encontrava felicidade nas coisas mais singelas, cercada por liberdade e cuidado.

Porém, em um inesperado revés, o famoso restaurante de Alberto foi à falência. Quando Agatha recebeu a notícia, um desespero avassalador tomou conta de seu coração. Sua respiração tornou-se errática, sua mente girava em caos, e antes que pudesse processar tudo, foi demitida. De repente, estava completamente sem emprego.

A casa onde vivia era pequena e humilde, mas as contas continuavam impiedosas. A sensação de sufocamento era real, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor. Sem escolha, Agatha teve que partir novamente em busca de um novo emprego.

Em uma tarde nublada, caminhava pela cidade segurando Flor Bela no colo. Seus pés cansados arrastavam-se pelo calçamento irregular, e o vento frio acariciava seu rosto como um lembrete de sua inquietação. No meio da caminhada, Flor Bela mexeu-se suavemente nos braços da mãe e, com gestos delicados, segurou o rosto de Agatha entre suas pequenas mãos.

Seus olhinhos brilhavam como estrelas, transbordando inocência e carinho. Com um toque leve, acariciou a bochecha da mãe, como se quisesse confortá-la de todas as dores que carregava no coração.

Foi então que, com sua voz doce e curiosa, a pequena perguntou:

— Mamãe… onde está o papai?

O mundo pareceu parar. O coração de Agatha acelerou, e uma dor silenciosa a invadiu como uma onda cruel. Seus olhos se arregalaram por um instante, e ela sentiu um nó se formar em sua garganta. As palavras de Flor Bela soaram como um eco, repetindo-se dentro da sua mente. A pergunta tão simples, tão pura, mas ao mesmo tempo tão devastadora.

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