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Cap. 3 Entre o amor e a ruína

Adormecidos, envolvidos pela tranquilidade da noite estrelada, o fim daquele instante mágico chega abruptamente. Abraçada ao rapaz, Agatha sente os primeiros raios solares atravessarem a janela, acariciando sua pele com uma sensação quente e reconfortante. Lentamente, seus olhos pesados se abrem, ajustando-se à luminosidade suave. O ambiente ao seu redor é desconhecido, impregnado por um aroma delicado de flores que flutua no ar como uma lembrança doce e distante.

Ela mantém-se imóvel por um instante, permitindo-se absorver a realidade. Seu coração b**e em um ritmo irregular, cada pulsação carregada de emoções conflitantes. Com um movimento sutil, quase imperceptível, desliza seus braços para longe do corpo do jovem ao seu lado, como se temesse perturbá-lo. Lentamente, inclina-se para o outro lado da cama, tomando distância, buscando clareza.

Sentada, envolta em um silêncio ensurdecedor, seus olhos percorrem o rapaz que dorme tranquilamente. A luz dourada do sol reflete nos fios castanhos que repousam sobre sua testa, dando-lhe um brilho suave e encantador. Seus lábios finos e rosados ainda carregam vestígios do beijo doce compartilhado na noite anterior. Sua pele clara parece intocada, e o contorno bem definido de seu corpo exala uma elegância natural. Mas são os olhos verdes – agora fechados – que fazem seu coração apertar. Naquele instante, Agatha sente um turbilhão de emoções: a intensa paixão que a atraiu, o medo sufocante e o arrependimento cortante que lateja em sua mente.

Como permitiu que aquilo acontecesse? A pergunta ecoa em sua mente, a voz fraca e baixa escapando de seus lábios sem que perceba. O efeito do álcool desapareceu, e tudo parece mais real, mais intenso, mais avassalador. Seu peito aperta, e ela se força a respirar fundo, tentando manter-se de pé.

Decidida, levanta-se devagar, cautelosa. Cada passo parece pesar toneladas, como se o chão estivesse prestes a ceder sob seus pés. O pânico se infiltra em seu corpo, acelerando os batimentos de seu coração. Tremula, dirige-se à porta, desejando apenas desaparecer. Mas no momento crucial, um deslize: seus pés tropeçam no jarro de pétunias roxas, derrubando-o. O som abafado da queda se espalha pelo quarto como um alerta silencioso.

Ela congela. Seu olhar imediato recai sobre o rapaz ainda adormecido. Sob o edredom, seu corpo faz um pequeno movimento, um suspiro entrecortado escapa de seus lábios. O cheiro do álcool ainda o envolve, e sua respiração permanece profunda, pausada. Agatha mal ousa piscar. Se ele acordasse, nada seria agradável.

Sem hesitar mais, suas mãos encontram a fechadura, seus dedos pressionam suavemente contra o metal frio. A porta se abre devagar, rangendo de maneira discreta. Com um último olhar, Agatha se vira e desaparece pelo corredor, deixando para trás lembranças que jamais poderiam ser apagadas.

Do lado de fora, sob o sol escaldante, seus passos são pesados. Cada metro percorrido torna-se uma luta contra suas próprias emoções. A dor do arrependimento se mistura ao calor sufocante, e então, sem conseguir segurar, seu corpo se desmorona em lágrimas. Os soluços emergem como ondas, seus ombros tremem. Seu coração aperta como se estivesse sendo esmagado por um peso invisível.

O tempo se arrasta, e finalmente, sua humilde residência surge no horizonte. Seus olhos inchados mal conseguem focar a porta desgastada pelo tempo. Sua respiração se torna irregular, seu corpo ameaçando desfalecer a qualquer instante.

Estática diante da entrada, os sentimentos de medo e vergonha a sufocam. Seus dedos deslizam pelo cabo enfraquecido da porta enquanto sua mente entra em um turbilhão de pensamentos. Engolindo seco, ela atravessa a soleira, cada passo mais pesado que o anterior. Mas mal consegue chegar ao seu quarto quando seus olhos encontram Arthur.

Ele está ali, sentado na cadeira de madeira, à espera. Sua postura rígida, imponente. Seu olhar, repleto de ira. Lentamente, ele se levanta, e cada movimento parece carregado de intenção. O silêncio que os separa é como um fio prestes a se partir.

Com passos calculados, Arthur se aproxima. Sua mão grande e firme envolve o braço de Agatha com força. O toque gélido faz seu corpo estremecer. Um arrepio percorre sua pele, e seus músculos endurecem. Seu coração dispara, sua respiração se torna curta. Os olhos do pai queimam sobre os dela como uma tempestade furiosa.

— Você me decepcionou… — A voz dele é cortante, carregada de desgosto e fúria contida. — Sempre foi minha filha obediente! — O tom sobe, cada palavra um golpe invisível. — Nunca imaginei que fosse capaz disso. Que grande desilusão… Que imenso desgosto!

Agatha sente-se sufocada. Sua garganta se fecha, as palavras se perdem. O medo a paralisa. Por um momento, sua mente grita, mas seu corpo não reage. Arthur, impaciente, aperta seu braço, agitando-o.

— Fale! Vamos, diga algo! — O grito reverbera pelo espaço, ecoando em seus ossos.

As lágrimas escorrem pelo rosto da jovem, desenhando rios de dor em sua pele. Seus lábios tremem, sua respiração é irregular. Seu cabelo bagunçado cai sobre seus olhos, e, engolindo em seco, finalmente, sua voz emerge, fraca, ferida, mas presente.— Pai... eu... eu sinto muito... — A voz de Agatha era apenas um sussurro, quebrada e trêmula como um galho frágil ao vento. Seus olhos marejados tentavam encontrar os do pai, mas a severidade daquele olhar a fazia desviar, como se estivesse encarando um abismo sem fim. — Eu sei que errei... me perdoa... só queria sentir a liberdade, como todas as outras pessoas. — A última palavra saiu como um soluço contido, sua garganta apertada em agonia.

Arthur mantinha o aperto firme no braço da filha, seus dedos rígidos como garras, sua expressão carregada de fúria. O maxilar travado, os olhos faiscantes, a respiração pesada como se um turbilhão tomasse conta de seu peito.

— Cale a boca! — O trovão de sua voz cortou o silêncio, fazendo Agatha estremecer. — Eu sempre criei e eduquei você da melhor forma! — Seus punhos estavam cerrados, seu corpo rígido como uma rocha prestes a despencar de um penhasco. — Trabalho duro todos os dias para não faltar nada pra você e sua irmã... E é dessa forma que você me agradece, Agatha? — Sua voz, agora carregada de decepção, trouxe um peso esmagador ao coração da jovem.

— Pai...

— Já chega!

O corte seco nas palavras do pai foi como uma faca atravessando seu peito. Agatha sentiu suas pernas fraquejarem, seus lábios tremiam, incapazes de formar uma resposta. Sem forças para continuar ali, ela virou as costas e correu para seu quarto, onde seu choro abafado ecoava como um lamento solitário.

Os dias se passaram e, naquela manhã fatídica, Agatha sentou-se à mesa, ao lado de Raquel. A irmã exibia um sorriso enigmático, quase sarcástico, enquanto tomava o café como se degustasse um segredo que apenas ela conhecia. O cheiro forte da bebida invadiu as narinas de Agatha, e, sem aviso, um mal-estar avassalador tomou conta dela.

Seu estômago revirou, uma tontura absurda a fez perder o equilíbrio por um instante. A xícara tremeu em suas mãos frágeis e, antes que pudesse se conter, o guardanapo deslizou de seus dedos e caiu sobre a mesa. O coração acelerado pulsava em sua garganta quando, num rompante, ela se levantou e correu para o banheiro, trancando-se lá dentro.

O vômito veio como uma onda indomável, deixando-a fraca e desorientada. O suor frio escorria por sua testa, e seu corpo parecia não lhe pertencer mais. Tremendo, ela se encarou no espelho. Seus olhos, antes cheios de vida, agora refletiam uma sombra de preocupação. Lentamente, com dedos trêmulos, tocou seus seios, percebendo a sensibilidade incomum. Seus lábios se entreabriram, respirando com dificuldade. Em um gesto hesitante, pressionou sua barriga, sentindo-a diferente. Um temor cortante preencheu seu peito.

— Não... não pode ser...

Mas seu corpo gritava a verdade antes mesmo de um exame confirmá-la. O medo tomou forma e se instalou ali, sufocando-a.

Os dias se arrastaram em silêncio absoluto, mas os sintomas se intensificaram. A dor abdominal veio sem piedade, e o desespero a fez encolher-se na cama, mordendo os lábios para conter os soluços que insistiam em escapar. O medo de Arthur a paralisava, mas ela sabia que não poderia esconder isso para sempre.

Finalmente, reunindo coragem, Agatha encontrou seu pai sentado, assistindo à TV. Seus pés hesitantes pisaram no chão com peso, cada passo parecia um eco de sua própria sentença.

— Pai... eu... — Sua voz quebrou no meio da frase, e ela precisou respirar fundo antes de continuar. — Eu estou grávida... — As palavras saíram trêmulas, como se carregassem todo o peso do mundo. — Por favor, me perdoa?... Foi um acidente...

Arthur congelou por um instante. Seus olhos, antes atentos à tela, agora estavam presos aos de Agatha, como se buscassem alguma explicação para aquela revelação. A xícara escorregou de suas mãos e se espatifou no chão, ecoando o som do choque que dominava sua alma.

— O quê!? — Sua voz explodiu como uma tempestade furiosa. — Você é uma irresponsável!... — Seu rosto estava ruborizado de raiva, seus punhos cerrados, seu corpo rígido como se lutasse contra um vendaval de emoções. — Desonrou a mim e toda a sua família!... Como teve coragem de fazer isso!?

O silêncio cortante tomou conta da sala, mas o olhar impiedoso de Arthur queimava como fogo. Com uma frieza que ela nunca havia visto antes, ele se levantou, olhou profundamente nos olhos da filha e declarou, sem hesitação:

— Você não pertence mais a essa família. — Sua voz, agora controlada, era ainda pior que sua explosão anterior. — Arruma as suas coisas e vai embora agora mesmo. Não quero mais olhar para seu rosto.

Agatha sentiu seu mundo desmoronar. Sua respiração ficou descompassada, seu peito se apertou em uma dor indescritível. As palavras duras do pai ecoaram em sua mente como facas afiadas perfurando seu coração.

Foi então que sentiu uma presença ao seu lado. Raquel.

A irmã deslizou pelo espaço como uma sombra, seus olhos brilhavam com um prazer cruel. Seus dedos frios pousaram sobre os ombros da jovem, e sua boca se aproximou de seu ouvido, pronunciando palavras carregadas de veneno:

— Boa sorte, irmãzinha, com a sua nova vida... — O sussurro foi quase sedutor em sua maldade. — Espero que encontre o pai do seu filho... um rapaz sem futuro, pobre e miserável... assim como você.

Foi o golpe final. A dor e a humilhação queimaram dentro de Agatha. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela virou as costas, sentindo-se despedaçada. Sem rumo, sem lar, sem amor.

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