Eles tinham tudo… menos o que mais desejavam. Willian e Caio são CEOs poderosos, sócios bem-sucedidos e mais íntimos do que admitem. Unidos por uma amizade carregada de segredos, os dois compartilham um sonho: serem pais. Sem espaço para o amor em suas rotinas, optam por uma barriga de aluguel. Mas nada os prepararia para a chegada de Milena, a doce babá de olhos tristes, mãos que transformam açúcar em afeto e um silêncio que esconde feridas profundas. A tragédia bate à porta quando a gestação da barriga de aluguel, sofre complicações. Mas, mesmo sem o bebê, Milena já havia conquistado um lugar nos corações e na casa daqueles dois homens. O que começa com olhares discretos e toques inocentes logo se transforma em tensão, desejo e uma vontade incontrolável de protegê-la. Até que, em uma noite, Milena retorna assustada, com o olhar perdido e o corpo tremendo… e os dois CEOs percebem que ela está fugindo de um passado perigoso e cruel. Agora, protegê-la pode não ser apenas um instinto. Pode ser o começo de um amor inesperado… e incontrolável.
Ler maisCapítulo 1
Milena Silveira Não aguento mais. Meu corpo inteiro dói, e, mais uma vez, acordo em um hospital. Isso está me destruindo... Olho para o lado ainda zonza: flores como sempre, um quarto moderno, cheio de aparelhos. Qual será a mentira no prontuário desta vez? Com dificuldade, a vista ainda turva li... "Paciente queda, caiu da escada." Moro em uma cidade do interior do Paraná. Quando conheci João, nunca imaginei que, ao assinar os papéis do casamento, estaria selando minha possível sentença de morte. Tudo mudou depois que meus pais morreram. Sem ninguém no mundo, tornei-me prisioneira dele. O filho que eu não podia lhe dar era sempre a desculpa para as surras no começo, raras, mas agora quase diárias. Mas João é o prefeito da cidade, um exemplo de cidadão de bem. Eu? Apenas uma mulher desastrada, que vive se machucando sozinha... — Ah, meu amor, você acordou. — Sua voz melosa me enoja. — Quando cheguei em casa, você estava caída aos pés da escada. Foi desesperador, meu amor, onde dói? A encenação dele sinceramente, é digna de um Oscar. Viro o rosto, incapaz de olhar para ele. Depois de tudo o que ouvi ontem e do que sofri em suas mãos, acordar aqui novamente me tira o chão. Ele sabe que não tenho para onde correr. Sabe que ninguém acreditaria em mim. Afinal, segundo ele e os laudos forjados por sua amante, sou emocionalmente instável. — Estou bem. Apenas me desequilibrei no topo da escada, sou muito desastrada mesmo. Contribuo com sua mentira, esperando que assim ele me deixe em paz. — Você precisa ter mais cuidado, meu amor. O que seria de mim sem você? Seus dedos tocam meus cabelos, e acariciam de leve o meu rosto, e a vontade de vomitar me domina. Mas não posso demonstrar nada. Preciso agir. Preciso fugir. Mas como? Não aguento mais esse inferno. A porta do quarto se abre, e Ayla entra. Graças a Deus, ela está de plantão hoje. — Bom dia. Caiu de novo, Milena? Ela pergunta, olhando diretamente para João, que rapidamente disfarça. — Que bom que está aqui. Mile gosta muito de você. — Ele sorri falsamente. — Preciso voltar para a prefeitura, mas mais tarde volto para te buscar. Se Deus quiser, vamos para casa, meu amor. Ele beija minha testa, e meu corpo se contrai involuntariamente. O jeito como ele coloca Deus em suas falas, me deixa ainda mais enojada. Assim que ele sai, Ayla se aproxima e segura minha mão. — Você vai acabar morrendo, Mile, até quando vai continuar com isso minha amiga? As lágrimas, que segurei por tanto tempo, vêm como uma enxurrada, devastando o que restava de mim. Já me sinto vazia há muito tempo, mas não posso mais suportar. — O que eu posso fazer? — Minha voz sai fraca. — Ele controla tudo. Não há nada nesta cidade que aconteça sem que ele saiba. — Vou visitar meu irmão em São Paulo na próxima semana. Você pode ir comigo, escondida. Vou de carro, não tem como ele saber. Quando se der conta, você já estará longe. — É muito arriscado. Ele vai descobrir... e vai te machucar. — Não vai. O importante é tirar você daqui antes que ele te mate, Mile. Pelo amor de Deus. Ayla hesita, mas depois diz: — Ele se aproveita do fato de seus pais terem morrido. Mas e se o Luan souber disso? E se contarmos a ele? Minha respiração falha. — Não! — Minha resposta sai imediata. — Já desconfio que o "acidente" dos meus pais não foi um acidente. Se ele fizer algo com meu irmão também, eu nunca me perdoaria. Luan. Meu irmão. Dois anos mais novo que eu, estudante em Princeton. Um verdadeiro gênio. Ele é tudo o que tenho. Nunca permitiria que se envolvesse com a sujeira de João. — Vai ficar tudo bem, Ayla. Eu estou bem. Já me acostumei com o descontrole do João. Mentira. Não estou bem. E ninguém se acostuma com isso. Mas não quero que mais ninguém se machuque por minha causa. Ayla me medica, e acabo adormecendo. Tenho um pesadelo — mais um de tantos. Mais uma versão das inúmeras formas que já imaginei minha morte nas mãos dele. Acordo suando, tremendo, sem conseguir respirar. Talvez Ayla esteja certa. Se eu fugir, talvez tenha uma chance. No fim do dia, recebo alta. Saio do hospital ao lado de João. Alguns repórteres estão por ali, mas já nem se dão ao trabalho de publicar nada. São barrados pelo dono do jornal, amigo íntimo de João. Seguimos para casa. Pelo menos por alguns dias, ele me tratará bem. Até que algo o irrite novamente e eu me torne, mais uma vez, o alvo de sua fúria. — Querida, vá descansar. Preciso participar de algumas reuniões, mas logo subo. Vou pedir para Berenice levar seu jantar, e cuidado ao subir as escadas meu bem. Sínico maldito, ele me beija, e meu estômago se revira automaticamente. Subo as escadas que, eventualmente, sempre caio. Três anos. Três anos de inferno. O primeiro ano foi difícil, mas depois que falhei em lhe dar um herdeiro, tudo piorou. Mesmo com tratamentos, não consegui engravidar. O que antes era um casamento difícil se tornou um pesadelo sem fim. Entro no quarto imenso, tão grande quanto o vazio dentro de mim. Tomo um banho para tirar o cheiro de hospital e observo as novas marcas pelo meu corpo. Passo os dedos sobre a costela trincada. Dói. Muito. Tomo analgésicos e um remédio para dormir. Assim que me deito, o quarto escuro me envolve, e apago rapidamente. O que me desperta são gemidos. Sons estranhos. Ainda grogue pelos remédios, tento abrir os olhos lentamente. Vejo uma garrafa quase vazia de uísque ao lado da cama, roupas espalhadas pelo chão. Percebo que o dia começa a amanhecer. Meu corpo está pesado, mas o choque me desperta. Na chaise do quarto, João está transando com Ester. Minha psiquiatra. Minha psiquiatra e amante dele. O choque me paralisa. Eu já sabia que eles tinham um caso. Mas ver aquilo, na minha casa, na minha frente, me revira por dentro. O que mais ele poderia ser capaz de fazer? Meu sangue ferve. Não posso mais esperar. A ideia de fugir com Ayla, de repente, não parece tão ruim, eu preciso sair daqui...Capítulo 71 Milena SilveiraDois meses se passaram desde que Willian enterrou o pai, ele e Ayla, tinham tudo para ter abandonado, e mesmo assim não fizeram, tenho muito orgulho deles...E agora, aqui estou, num cenário de sonho em Portugal, prestes a testemunhar o casamento de Ágata e Miguel, minha querida amiga brilha de tão radiante que está. E meu Deus o quanto ela merece essa alegria, não está escrito.Portugal… já ouvi tantos dizerem que é um dos lugares mais românticos do mundo, mas é só pisar aqui para sentir a verdade disso. O céu azul reflete o Atlântico, o sol aquece com ternura, e as vinhas que se estendem por colinas suaves parecem a metáfora perfeita para o florescer do amor às vésperas da cerimônia. O local escolhido foi o Palácio de Monserrate, em Sintra, um lugar mágico em todos os sentidos: jardins luxuosos, arcos de estilo mourisco e neogótico, fontes dançantes e flores de todas as cores abraçadas por folhagens antigas. Um conto de fadas real, perfeitamente encaixad
Capítulo 70Willian CostaExistem segredos que a gente carrega não por covardia, mas por amor. E esse era o meu caso.Olhei para o celular ainda tremendo em minha mão. A voz do médico ecoava na minha cabeça como um trovão rasgando o silêncio:“Seu pai não resistiu.”Meu coração apertou. A garganta travou. Por alguns segundos, tudo à minha volta pareceu parar. Só havia o som abafado do meu sangue pulsando nos ouvidos. Um pedaço da minha história tinha acabado de partir… e eu não sabia como contar isso a ninguém.— Willian, o que houve?A voz da Milena me puxou de volta para a realidade. Era suave, mas carregada de preocupação. Eu tentei responder, mas as palavras se embolaram entre a dor e o medo. Até que, num sussurro rouco, consegui:— Meu pai... meu pai morreu.A expressão dela mudou imediatamente. Ela sabia o peso daquele nome, o quanto ele doía em nós — especialmente em Ayla. Sabia o quanto ele tinha sido ausente, omisso, o quanto tinha ferido a mulher forte que minha irmã se torn
Capítulo 69Ayla Costa SilveiraDespedidas são sempre tão doloridas... Deixar as pessoas que amamos nem sempre é fácil, mas pra mim sempre teve um peso maior.Quando meus pais se separaram e Willian foi embora, eu comecei a acreditar que todos que amo acabam me abandonando. Mas preciso afastar esses pensamentos. Agora eu tenho a minha família, casei com o amor da minha vida, temos uma filha linda e vamos ser muito felizes. Não importa o lugar, o que importa é estarmos juntos.Assim que o anúncio do nosso voo ecoou pelos alto-falantes do aeroporto, a despedida dolorosa começou.— Bom, está na hora!— Eu vou sentir tanto sua falta, minha amiga! — Milena disse me abraçando, chorando muito. As lágrimas que eu lutava para conter se tornaram inevitáveis.— Eu também, Mile. Eu também... Mas quero vocês lá em breve, por isso vamos pegar uma casa bem grande. Queremos vocês sempre por perto.Segurei suas mãos, sorrindo em meio às lágrimas. Beijei os gêmeos e abracei meu irmão... Meu Deus, quant
Capítulo 68Ágata GoulartO dia mal tinha clareado quando fui despertada por uma náusea forte que subia do estômago como um redemoinho violento. Sentei-me na cama de um salto, levei a mão à boca e corri para o banheiro sem nem pensar duas vezes. Mal cheguei à pia e já estava vomitando, o gosto amargo, o enjoo, a tontura. Tudo misturado.Depois do terceiro impulso, respirei fundo, lavei a boca e apoiei os cotovelos na bancada de mármore, olhando o próprio reflexo. Estava pálida, os olhos fundos, o cabelo bagunçado caindo em volta do rosto.— Que droga foi essa agora? — murmurei, sentindo o estômago ainda revirado.Voltei para o quarto devagar, com as pernas fracas. Miguel continuava dormindo, tranquilo, o rosto sereno sobre o travesseiro. E por um instante, aquela cena me trouxe paz. Tanta, que até o enjoo pareceu cessar por uns segundos. Me sentei à beira da cama, tentando entender o que estava acontecendo com meu corpo.Foi quando peguei o celular do criado-mudo para ver as horas. Ma
Capítulo 67MilenaMeses depois – 1 ano dos gêmeosMal posso acreditar em tudo que aconteceu neste último ano. Aliás, pouco mais de um ano. Desde o dia em que criei coragem para sair daquela vida maldita que eu levava, tudo mudou.Desde que Ayla me ajudou a escapar do inferno que vivi por tanto tempo.Falando nela, lá vem ela, com a pequena Isis nos braços e Luan o pai mais babão que já vi, carregando as bolsas das duas mulheres da vida dele.Caio e Willian estavam nos brinquedos com os gêmeos, e eu aproveitava esse momento para agradecer a Deus por tudo: pelos meus filhos, pelos meus maridos. O que para muitos pode parecer um enorme pecado, pra mim é simplesmente amor. Não consigo ver de outra forma. Sou tão feliz, tão completa. Não vou mais me prender ao que os outros pensam. Isso já não faz parte da minha essência. A vida é minha, e qualquer consequência dela é responsabilidade minha, e de mais ninguém.Ágata e Miguel chegaram, e juro: se alguém me contasse, eu não acreditaria no q
Capítulo 66Miguel FonsecaEla estava nos meus braços. Ágata. A mulher que me tirou da escuridão com um simples olhar. E agora, deitada em meu peito, com a respiração ainda acelerada, a pele quente e o coração disparado, eu me sentia completo. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu sabia o que era isso: plenitude.Tudo o que vivi antes dela parecia borrado, distante, irrelevante. Nenhuma conquista profissional, nenhum troféu de poder ou título de influência poderia se comparar ao que eu sentia com ela ali, depois de nos entregarmos como se o mundo lá fora não existisse.Acariciei os fios do cabelo dela enquanto minha mente voltava a tantos momentos. O instante em que a vi pela primeira vez. Tão firme, mas com os olhos cansados. Ela tentava parecer forte, mas eu vi a dor ali. Vi os estilhaços de alguém que já foi inteiro e foi quebrado mil vezes. E foi isso que me prendeu.Não a beleza, apesar de ela ser linda de uma maneira quase surreal. Foi a força escondida por trás do medo. F
Último capítulo