O dia começou com um céu pesado, como se Curitiba tivesse puxado um cobertor cinza sobre os telhados. Eduardo chegou cedo ao gabinete, mas não conseguiu abrir o primeiro processo. Ficou parado diante da janela, lembrando do estacionamento, do vestido azul, dos cabelos ruivos cortando a noite como uma chama. “Chega de espreitar”, decidiu, enquanto a consciência lhe mordia a nuca. “Se eu não der um passo, ela vai desaparecer.”
Ligou para o investigador.
— Preciso entrar — disse sem rodeios. — Não por trás das cortinas. Pela porta da frente ou pelo corredor que vocês usam. Eu me viro com a minha reputação depois.
Do outro lado, um suspiro pesado.
— Doutor, a casa é uma caixa-preta com lustre. Cheia de portas, sem janelas. E Scarlett… ela é a estrela. Gente assim não se alcança com fiança; alcança com senha. E senha se ganha devagar.
— Então me arrume uma senha.
— Tem um evento paralelo hoje. Homem grande da política. Metade gabinete, metade boato. Posso colocar o senhor num lounge “neutr