A casa amanheceu com um silêncio morno, desses que não assustam mais. A chuva havia partido na madrugada, deixando o ar com cheiro de folhas lavadas e ferro frio. Vivian acordou primeiro. Ainda deitada, ficou olhando o teto como quem testa a nova pele que veste. A mão deslizou pelo próprio cabelo e parou nas pontas: ruivo, longo, uma história inteira. Levantou-se, andou descalça até o banheiro e acendeu a luz suave. O espelho devolveu uma mulher que não devia nada a ninguém.
Abriu a gaveta, pegou a tesoura pequena de costura e, antes que a coragem pedisse licença, prendeu o cabelo num rabo baixo. Respirou. A lâmina cantou curta, metálica. Uma mecha inteira desceu como um fim. Depois outra. E outra. O ruim de cortar o que sobrou é descobrir que o que sobra também liberta. Quando terminou, o ruivo estava acima dos ombros, leve, quase insolente. Vivian sorriu para a própria imagem — não a Scarlett da noite, mas a Vivian do dia. Do caderno. Do corpo que volta a si.
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