Mundo de ficçãoIniciar sessãoApós anos mergulhado no submundo da máfia, Lian Marconi abandonou a escuridão e renasceu em Zurique como juiz. Respeitado, temido e envolto em silêncio, enterrou seu passado a sete palmos. Mas sua maior queda não veio das ruas — veio de casa. Traído pela mulher que amava, Lian se divorciou e deixou para trás qualquer resquício de perdão. O homem que buscava redenção morreu. Em seu lugar, nasceu o “Juiz D-i-a-b-o”: frio, implacável, incapaz de amar. Temido nos tribunais, solitário em sua mansão, ele acreditava que esse seria seu destino final. Até cruzar o caminho de Aurora Deneuve. Com segredos dolorosos, mas uma coragem que desafia sua própria fragilidade, Aurora desperta nele uma chama que julgava extinta. Proteger aquela mulher torna-se mais do que um dever — é um confronto direto com o i-n-f-e-r-n-o que carrega dentro de si. Mas até onde o juiz de olhos de gelo pode ir sem se destruir? Será Aurora a sua salvação… ou a sua sentença final?
Ler maisO sol já se despedia de Zurique quando o avião tocou finalmente o solo. Lian Marconi desembarcou ao lado da sua irmã mais nova, Isabella. Após o divórcio, seus pais estavam preocupados com ele: temiam que o seu lado frio se aprofundasse e impusessem um ultimato.
Ou ele aceitava levar Isabella consigo, ou eles próprios viriam morar na sua casa para acompanhá-lo de perto. Não era uma decisão fácil, mas Lian não hesitou. Entre lidar com Isabella ou com seus pais controlando cada passo da sua vida, escolheu levar a irmã consigo.
Na saída do terminal, um motorista particular os cumprimentou e abriu a porta do Rolls-Royce Phantom preto blindado para que entrassem. Isabella ficou encantada com a imponência e o luxo do carro, os olhos brilhando a cada detalhe, enquanto Lian permanecia impassível, acostumado à opulência que agora fazia parte da sua vida.
Eles acomodaram-se no banco de trás, afundando no couro macio e perfumado. O interior era um verdadeiro santuário de luxo, com iluminação ambiente discreta e o ar-condicionado ajustado na temperatura perfeita.
A blindagem, quase invisível, criava uma bolha de silêncio, isolando-os completamente do burburinho do aeroporto. Isabella mal podia conter a empolgação, admirando cada detalhe, enquanto Lian mantinha o olhar firme à frente, indiferente a todo o esplendor ao seu redor.
O motorista ligou o motor, e o leve ronco do Rolls-Royce quebrou o silêncio ao redor. Pela janela, as luzes de Zurique começavam a se acender, anunciando a chegada da noite e o despertar da vida urbana.
O trajeto passou rapidamente, e logo a mansão surgiu à vista, deslumbrante, num condomínio fechado à beira do Lago Zurique, cercada por apenas mais cinco residências.
O portão de ferro forjado abriu-se silenciosamente, e o carro blindado deslizou pela entrada, observado por seguranças atentos. A arquitetura impressionava: fachadas de vidro espelhado, amplos terraços sobre o lago e estruturas de mármore italiano reluzente.
Jardins meticulosamente projetados, com fontes iluminadas e esculturas modernas, completavam o cenário. As janelas panorâmicas do chão ao teto deixavam entrever um interior banhado por luz dourada, lustres de cristal, pisos de madeira nobre e móveis sob medida, contrastando com o azul profundo do lago e o contorno majestoso das montanhas ao fundo.
O Rolls-Royce Phantom deslizou até a entrada principal e parou com suavidade. Um dos seguranças, alto, forte e de postura impecável, abriu a porta para Lian. Ele desceu com firmeza, e Isabella o acompanhou logo atrás, encantada com cada detalhe da mansão e quase sem acreditar na grandiosidade do lugar.
— Sejam muito bem-vindos, Senhor Lian, senhorita Isabella. O meu nome é Raul, sou o chefe de segurança. Estarei à disposição para garantir que tudo ocorra com total segurança e eficiência.
A voz de Raul era firme e profissional. Lian assentiu levemente.
— Obrigado, Raul. Agora, vamos entrar, estamos exaustos. Boa noite!
— Boa noite, senhor, senhorita — disse Raul, inclinando levemente o corpo num gesto de respeito, enquanto Lian conduzia Isabella pela entrada principal da mansão.
A pesada porta de madeira abriu-se, revelando um grupo de funcionários alinhados. Isabella entrou animada, os seus olhos brilhando de entusiasmo e arrancando sorrisos encantados de todos.
Lian limitou-se a um breve aceno, mantendo a postura firme enquanto observava cada detalhe ao redor. O aroma de madeira nobre e flores frescas os envolveu, transmitindo imediatamente uma sensação acolhedora.
A jovem caminhava maravilhada, os olhos percorrendo cada detalhe do salão de entrada. A lareira acesa lançava sombras dançantes pelas paredes, e o piano de cauda brilhava à luz suave. Ela se aproximou da sacada, e a vista panorâmica do Lago Zurique, estendendo-se até o horizonte, tirava-lhe o fôlego.
— Lian... — sussurrou, encantada — É... inacreditável.
— Bonito, sim — respondeu ele, com a voz contida — Mas não precisa exagerar.
— Quando você vai parar de ser tão amargo? Que sem graça! — Isabella provocou, rindo. Lian revirou os olhos, puxando-a suavemente de volta para dentro.
Nesse momento, um homem de meia-idade, com postura impecável e terno escuro, aproximou-se com um leve aceno.
— Sejam bem-vindos, Senhor Lian, senhorita Isabella. O meu nome é Klaus, serei o mordomo da casa — disse, inclinando-se numa reverência discreta.
— Estas são Hanna e Greta, que cuidarão do serviço de quarto e da organização. Na cozinha, o chefe Marcel e a sua equipe de quatro assistentes já estão preparados para atender a todas as suas necessidades — completou Klaus, com um sorriso profissional.
— Prazer em conhecê-los. — Lian disse de forma contida, mantendo o tom frio. — Klaus, quando o jantar estiver pronto, envie-o diretamente para o meu quarto. Irei subir agora. — Ele se virou e começou a subir a escada com passos firmes.
— Sim, senhor Lian. Tudo estará pronto. Tenham uma boa noite. — Klaus respondeu com uma leve reverência, enquanto Hanna e Greta pegavam as malas de Lian para levá-las escada acima.
— Ai, que insensível! — resmungou Isabella, cruzando os braços. — Além de me deixar jantar sozinha, ainda faz essas pobres carregarem as suas malas pesadas. — Ela suspirou de forma dramática, mas Klaus lhe ofereceu um sorriso gentil, a calma em pessoa, suavizando o instante.
Lian entrou no quarto e respirou fundo. O espaço era um verdadeiro refúgio de luxo, porém envolto em tons escuros que transmitiam poder e sobriedade.
As paredes, revestidas em madeira negra polida, contrastavam com detalhes em mármore grafite, enquanto a iluminação indireta e quente criava uma atmosfera acolhedora, porém imponente.
O piso em madeira escura refletia discretamente a luz suave dos lustres modernos, e cada móvel, em tons sóbrios e acabamento impecável, parecia ter sido escolhido para unir funcionalidade e elegância austera.
Hanna e Greta entraram logo atrás, carregando as malas de Lian. Com precisão silenciosa, deixaram-nas no chão e, antes que ele pudesse dizer algo, já se retiravam rapidamente, mantendo a discrição que Lian tanto apreciava. Ele apenas assentiu levemente, reconhecendo a eficiência e o profissionalismo das funcionárias sem precisar de palavras.
Ele se aproximou da ampla cama king-size, com lençóis de seda em tons escuros, passando as mãos pelo colchão, avaliando a suavidade e a qualidade.
Depois, dirigiu-se à varanda e contemplou a vista do lago iluminado pela lua, absorvendo o silêncio e a tranquilidade da noite. A brisa fresca trazia o perfume das flores do jardim, e, por alguns instantes, Lian permitiu que a mente se desprendesse das obrigações e preocupações, ainda que apenas por momentos.
Decidiu então se dirigir ao banheiro, um espaço de luxo igualmente imponente, revestido em mármore negro com veios dourados, iluminação baixa e indireta, criando a atmosfera perfeita para relaxamento.
A banheira, ampla e escura, estava cercada por velas aromáticas, enquanto o vapor do chuveiro subia lentamente, misturando-se com o aroma de óleos essenciais.
Enquanto a água quente escorria por seu corpo, os pensamentos de Lian inevitavelmente se voltavam para sua irmã, Isabella. A responsabilidade de mantê-la protegida, longe de qualquer problema, pesava sobre ele, lembrando-o de como a sua vida agora era feita de vigilância e controle.
Mas junto a isso, outra lembrança invadia a sua mente, cruel e persistente: Helena. A única mulher que ele realmente amara, que ele confiara de corpo e alma… e que o traíra de forma tão dolorosa. Como fora possível?
Como ela pôde compartilhar aquela intimidade com outro homem, dentro da própria cama que dividiam? Lian fechou os olhos, sentindo o aperto no peito, a raiva misturada à dor, cada memória de Helena queimando como uma marca que jamais se apagaria.
Sozinho no banheiro escuro, Lian permaneceu em silêncio, preso entre reflexões sobre o passado e a urgência de se preparar para o futuro que o aguardava em Zurique. A mente estava alerta, cada instinto em estado de atenção máxima, como se o silêncio ao redor ampliasse cada pensamento e cada memória.
Desligou o chuveiro e envolveu-se no roupão de seda grafite, sentindo o calor percorrer os músculos ainda tensionados. Ao sair, um aroma envolvente e preciso tomou conta do ambiente — o jantar estava pronto.
Os seus olhos varreram o quarto e detiveram-se na sacada: sobre a mesa, uma bandeja meticulosamente organizada exibia pratos refinados, detalhes impecáveis, aromas que se misturavam ao frescor da noite, convidando-o a saborear cada instante.
Um leve sorriso surgiu, involuntário, diante da precisão silenciosa de Hanna e Greta, que haviam deixado tudo perfeito sem serem vistas.
Um leve sorriso curvou os seus lábios. Hanna e Greta… profissionais perfeitas. Não as vi entrar, e já deixaram tudo pronto, pensou, admirando a precisão silenciosa das funcionárias. Aproximou-se da bandeja, examinando o cardápio com atenção, cada prato uma obra de arte que despertava todos os sentidos.
Sentou-se na cadeira, respirando fundo, e a primeira garfada trouxe um breve alívio, um instante de silêncio em meio ao turbilhão de pensamentos.
A brisa noturna se misturava aos aromas da comida, e o reflexo da lua no lago tingia o ambiente de prata e sombra, criando uma sensação quase mágica de calma. Por alguns preciosos minutos, Lian deixou o corpo relaxar, permitindo que a mente descansasse — ainda que apenas parcialmente.
O passado, os fantasmas e as responsabilidades não desapareceriam, mas ali, naquela noite silenciosa, ele podia, pela primeira vez desde a sua chegada, sentir um instante genuíno de paz e controle.
Isabella respirou fundo, a voz trêmula, quase um sussurro.— Lian… o que ouvi… — engoliu em seco, as mãos apertando o tecido do vestido sobre o colo.Lian manteve o olhar fixo sobre ela, o semblante sério.— Continue, Bella.— No começo… achei que ela estivesse apenas alterada, devido ao vinho — disse Isabella, hesitante. — Mas logo percebi que não era isso. — Fez uma pausa, a respiração presa. — Ela… ela estava conversando com os pais, Lian. Com os dois… como se ainda estivessem ali, ouvindo cada palavra. Pelo que entendi… eles já se foram.Lian franziu o cenho, silencioso.— A voz dela era... — Isabella baixou o olhar, sentindo a pele se arrepiar só de lembrar. — Era a voz de alguém que carrega muita dor, Lian. Ela disse que um homem chamado Bastien — o marido dela, pelo que entendi — a espancou e depois a empurrou escada abaixo. Ficou em coma por meses… e só sobreviveu por um milagre.Lian ficou imóvel. A mão que segurava a gaze endureceu, e a expressão dele se fechou completamente
Após saírem do hospital, o grupo não demorou muito a chegar ao condomínio. O carro avançava devagar pelas ruas internas, iluminadas por postes baixos e jardins silenciosos.Lian, sentado no banco da frente ao lado de Raul, acompanhava o caminho pelo para-brisa. Os olhos permaneciam fixos na estrada molhada, mas a mente vagava distante, presa à culpa, ao medo e ao rosto pálido de Aurora.No banco de trás, Álvaro mantinha as mãos entrelaçadas, o olhar perdido e imóvel.Durante o trajeto, Raul reduziu a velocidade. Então, a casa de Aurora surgiu à frente, ainda iluminada. As luzes externas brilhavam, e, pelas janelas, uma claridade suave revelava movimentação no interior.Assim que ouviram o som do motor se aproximando, Maria, Celina e Phill — que, até então, estava na sua casa, mas correu para lá ao saber de Aurora — avançaram para a porta.Os três estavam tensos, os rostos marcados pelo medo. Maria nem esperou que o mordomo saísse do carro; levou a mão ao peito.— Senhor Álvaro! — excl
Os enfermeiros colocaram Aurora na maca e a empurraram pelos corredores intensamente iluminados, enquanto o rangido das rodas se misturava ao bip constante dos monitores e ao toque distante dos intercomunicadores.Lian, Raul e Álvaro acompanhavam de perto, ajustando o passo para não atrapalhar a equipe.Assim que entraram na sala de emergência, Mathias bloqueou a passagem do grupo.— Vocês ficam do lado de fora — disse, firme, erguendo a mão.Aurora jazia pálida, a respiração curta e irregular. Mathias olhou para uma das enfermeiras:— Leve-os para a sala de espera. Providencie cobertores e um chá bem quente. Eles estão congelando. Não quero que esses três também acabem precisando de atendimento.A enfermeira acenou rapidamente e começou a guiá-los pelo corredor. Raul seguiu sem questionar, o semblante fechado.Lian hesitou, o olhar preso em Aurora, mas, sem opção, acabou se movendo. Álvaro, porém, permaneceu imóvel, sentindo o peso sufocante da própria impotência.— Ela vai ficar bem
Sem hesitar, Aurora pulou no lago e avançou em direção a Isabella. A água gelada cortava a sua pele, tornando cada braçada um esforço doloroso, mas, com determinação, ela conseguiu alcançá-la.— O meu pé… está preso em alguma coisa! Não consigo mexer! — gritou Isabella, lutando contra o que a puxava, a voz estrangulada pelo medo. — Você… é a advogada perfeita de hoje — murmurou, o fôlego falhando e a voz trêmula e entrecortada pelo esforço.Antes que Aurora pudesse dizer qualquer coisa, Isabella foi subitamente puxada para baixo, desaparecendo nas águas escuras.— Droga! — exclamou Aurora, o coração disparado.Sem pensar, mergulhou. A escuridão a envolveu por completo; tudo era frio, denso e silencioso. Ela agitava os braços no escuro, perdida no líquido gelado.O frio queimava a sua pele, e a urgência apertava o seu peito. O ar nos seus pulmões começava a faltar quando os seus dedos, enfim, roçaram algo — o tecido de um shorts, o contorno de uma perna.Com um esforço desesperado, Aur
No estacionamento do tribunal, Raul, que já o aguardava, abriu a porta. Lian entrou, e o carro partiu, levando consigo não apenas um juiz, mas um homem que acabara de testemunhar a podridão de perto. No silêncio tenso do banco de trás, o mundo exterior passava como um borrão.A imagem de Sigrid, com sua vulgaridade e seus olhos famintos, o assombrava. Era como se a cena estivesse gravada na sua mente. Aquele beijo, o acordo, a forma asquerosa como o advogado e a juíza falavam de pessoas, de vidas, de audiências, como se fossem meros objetos num jogo de poder sujo.A fúria no seu peito, antes quente e descontrolada, agora se transformou numa raiva fria e densa. Um pensamento claro e inegociável tomou conta da sua mente: ele não era apenas um juiz. Ele era Lian e ele não descansaria até que cada pedaço daquela podridão viesse à tona e a justiça fosse feita.O carro deslizou silenciosamente até a entrada da casa. A luz morna que vinha das janelas contrastava com o frio do entardecer — um
A voz de um oficial o trouxe de volta.— A senhorita está bem? Ele não a machucou?Aurora respirou fundo, disfarçando a dor latejante no pé.— Estou bem. Apenas o tirem daqui, por favor.O oficial assentiu e, em segundos, Damien foi arrastado.— Sua vaca! Você me paga! — gritou ele, desaparecendo pela praça.Aurora soltou um suspiro cansado, o corpo finalmente relaxando.— A senhorita está bem, doutora? — perguntou o senhor Pierre, ainda chocado.— Estou, sim, obrigada. Mas é melhor o senhor ir, antes que ele volte. — Sorriu, carinhosa. — E cuide bem da sua esposa.Ele segurou as mãos dela com ternura, comovido.— A senhorita é uma mulher admirável. Obrigado, de coração. — E se afastou lentamente, sumindo entre as pessoas.Aurora o acompanhou com o olhar. Quando ele desapareceu, a dor tomou conta de novo.— Ai, meu pé… — murmurou, acreditando estar sozinha.Uma voz grave a fez se sobressaltar.— Está tudo bem?Ela virou-se, o susto estampado no rosto.— Oh, meritíssimo! Sim, está tudo
Último capítulo