Selene Marlowe passou a vida fugindo do sangue que carrega — o sangue que todos querem. Agora, a cidade está manchada de mortes, cada uma marcada com o símbolo da lua. E ela é a única ligação entre os clãs que governam as sombras. Dorian Hale, o Alfa dos Exilados, diz que pode protegê-la. Ronan Blackwood, o guerreiro do Norte, promete poder e vingança. Elias Draven, o caçador humano, só queria vê-la morta… até desejar ser consumido por ela. E Caelan Quinn, o espião dos Filhos da Lua, a quer por razões que ele não ousa confessar. Entre segredos, traições e um desejo que queima mais do que qualquer maldição, Selene vai descobrir que não dá para fugir de quem você é — nem de quem você pertence. O destino não pede permissão. E a lua não perdoa corações divididos.
Leer más(POV Selene)A noite não esperou por mim. Quando deixamos o depósito, a lua já estava no céu, enorme e prateada, como um olho observando cada passo. O vento carregava o cheiro da floresta — terra molhada, folhas, algo metálico que grudava na língua como sangue.Ronan caminhava na frente, passos firmes, silencioso como se fosse parte da mata. Dorian vinha logo atrás, sempre perto o bastante para que eu sentisse sua presença queimando. Caelan, claro, não parava de rodar a adaga entre os dedos, sorrindo como se fosse apenas um passeio.— Campo aberto — ele cantarolou, os olhos brilhando sob a luz pálida. — Nada como um palco de lua para um primeiro espetáculo.— Isso não é espetáculo — Ronan retrucou, seco. — É sobrevivência.— Tudo depende do olhar — Caelan respondeu, arqueando a sobrancelha. — E eu, pessoalmente, gosto de ver como ela dança quando está prestes a cair.Meu estômago revirou. Eu queria responder, mas a língua parecia colada ao céu da boca.Dorian tocou meu braço de leve,
(POV Selene)O sono não veio. Nem por um segundo. Passei a madrugada inteira ouvindo meu próprio coração, sentindo o selo latejar como se fosse um tambor enterrado dentro do meu pulso. A cada batida, parecia mais vivo, mais íntimo, mais ameaçador. Deitei, fechei os olhos, mudei de posição, mas nada me desligava. Era como se algo me chamasse para fora, uma voz sem som que só eu conseguia ouvir.Quando o dia enfim clareou, eu já estava de pé, como se tivesse esperado por uma ordem invisível.O depósito estava silencioso demais. O vento assobiava pelas frestas das janelas quebradas, e cada estalo do metal parecia uma promessa ruim. Eu respirava devagar, tentando me convencer de que estava no controle, mas minhas mãos tremiam.Então os passos ecoaram pelo concreto, firmes, pesados, como marteladas ritmadas.Ronan apareceu primeiro. Ombros largos, expressão dura, olhos escuros como a noite. Ele não precisava falar para impor respeito — a presença dele já enchia o espaço como uma muralha.—
(POV Selene)O depósito ainda está no mesmo lugar de sempre, mas não parece o mesmo. Desde o selo, tudo que sinto é diferente. O ar cheira mais forte, as sombras parecem se mover, e meu corpo nunca mais ficou em silêncio.— De pé. — A voz de Ronan me arranca dos pensamentos. Grossa, dura, como pedra arrastando no chão. — O treino não espera.Me levanto, mesmo com os músculos implorando por descanso. Ele me joga uma lâmina curta; quase não seguro.— Segura firme. — Ele se aproxima, corrige minha postura com um empurrão brusco no ombro. — Do jeito que está, só serve pra se cortar sozinha.— Porra, Ronan, devagar. — Dorian entra, a voz baixa, mas tão grave que parece encher o espaço. — Ela não é soldado.— Não ainda. — Ronan nem olha para ele. — Mas vai ser.Caelan está recostado no batente, girando uma adaga nos dedos, sorriso preguiçoso.— Eu sabia. — Ele ri, balançando a cabeça. — Duas bestas idiotas, tinha que dar nisso: um a quer embrulhar em algodão, o outro a quer jogar na guerra
(POV Selene) A terceira noite está perto o bastante para eu ouvi-la respirando pelo vão das janelas. O símbolo no chão já foi apagado, mas ficou gravado em mim. Meu sangue, no centro. Meu nome, na borda que ninguém escreveu. — Hoje a gente não “espera” — Ronan diz, prendendo o cabelo com um elástico surrado. — A gente vai até eles. Dorian não concorda nem discorda. Ele só me observa, como quem mede vento. Caelan, claro, sorri como se fosse aniversário dele. — Três contra uma alcateia inteira? — provoco, tentando esconder o frio na barriga. — Quatro — Dorian corrige. — Você conta. Eu deveria me sentir lisonjeada. Sinto medo. E fome. Não de comida. Daquela outra coisa que arde sob a pele quando a lua sobe. --- O “santuário” dos Filhos da Lua era uma fábrica abandonada no lado morto da cidade. Tijolos suados de umidade, janelas quebradas, cheiro de ferrugem e mofo. No telhado, marcas de vela. No pátio interno, círculos de sal queimado. E no centro, a mesma lua mordendo a p
(POV Selene)O chão duro está coberto de marcas de faca, arranhões e sangue seco. Parece que cada pedaço deste depósito carrega a memória de uma batalha perdida. Eu me movo sobre ele com dificuldade, ofegante, o bastão pesado demais nas mãos.— Mais rápido. — A voz de Ronan é um trovão, sem piedade. — Se pensar, já morreu.Avanço. Giro. Ataco. Meus músculos ardem, e o suor escorre pela minha têmpora. Ele bloqueia cada golpe como se fosse nada, o olhar sempre frio, calculando meus erros.— Você hesita. — Ele segura meu bastão no meio do movimento, torce com força e o arranca das minhas mãos. — O inimigo não vai te dar tempo para decidir se bate ou corre.Caio de joelhos, arfando.— Eu não sou uma guerreira! — grito, mais de frustração do que de dor.— É. — Ronan joga o bastão de volta, e ele desliza até parar diante de mim. — Só não aceita ainda.As palavras dele ficam presas na minha mente, duras como pedra. Parte de mim quer jogá-las no lixo. Outra parte… sente que ele está certo.--
(POV Selene)A marca ainda mancha a parede externa do depósito — a lua crescente mordendo o próprio rabo. Mesmo lavada, ela insiste em voltar, como se a tinta tivesse aprendido a respirar.Por dentro, o ar é um caldo de café velho, metal e pólvora. A mesa foi arrastada para o centro. Mapas, facas, um rádio chiando sem utilidade. Dorian está de pé, braços cruzados, o olhar pesado sobre tudo e sobre mim. Ronan abre e fecha caixas como se isso fosse um exercício de respiração. Caelan gira uma adaga entre os dedos, entediado de propósito.— Sentem — Dorian diz, sem levantar a voz. Ele não precisa.Obedeço. Meus músculos ainda ardem do treino e da falta de sono, mas a mente está acesa demais para descansar. Desde a marca. Desde o quase-beijo que virou nada. Desde o uivo.— Eles acharam a gente — digo antes que alguém comece. O silêncio que se segue é uma confirmação. — O que vão fazer agora?Ronan estica um mapa amassado. Cicatrizes de caneta formam círculos e setas.— Três rotas de aproxi
Último capítulo