Mundo de ficçãoIniciar sessãoSelene Marlowe passou a vida fugindo do sangue que carrega — o sangue que todos querem. Agora, a cidade está manchada de mortes, cada uma marcada com o símbolo da lua. E ela é a única ligação entre os clãs que governam as sombras. Dorian Hale, o Alfa dos Exilados, diz que pode protegê-la. Ronan Blackwood, o guerreiro do Norte, promete poder e vingança. Elias Draven, o caçador humano, só queria vê-la morta… até desejar ser consumido por ela. E Caelan Quinn, o espião dos Filhos da Lua, a quer por razões que ele não ousa confessar. Entre segredos, traições e um desejo que queima mais do que qualquer maldição, Selene vai descobrir que não dá para fugir de quem você é — nem de quem você pertence. O destino não pede permissão. E a lua não perdoa corações divididos.
Ler mais(POV Selene)
Meu nome é Selene Marlowe. Tenho vinte e dois anos e uma vida feita de retalhos que nunca se costuraram direito. Em algumas noites o mundo parece normal. Em outras, ele sussurra coisas que ninguém mais ouve. Hoje era dessas. Meus pais morreram quando eu era criança. É tudo o que sei. Nunca houve fotos, histórias, nada que preenchesse o vazio. Minha tia Ivy me criou sozinha e, sempre que eu tentava perguntar, ela desviava: “não é assunto pra você”. Cresci com um buraco que fala mais alto que qualquer resposta. Talvez por isso eu tenha aprendido a andar na sombra. A não chamar atenção. A existir em silêncio. Quem me vê enxerga só uma garota comum: um metro e sessenta e sete, cabelo castanho indeciso, olhos que minha tia insiste serem cor de mel. Eu nunca vi nada de especial neles. Nunca vi nada de especial em mim. A vida com Ivy é simples. Pequena demais. Trabalho que mal paga as contas, refeições rápidas, noites em claro. E é nessas noites que eu saio. Ando até cansar, como se pudesse despejar os pensamentos no asfalto. Foi assim que cheguei ao cais naquela noite. O vento cortava como lâmina molhada. Trazia gosto de ferrugem. As tábuas da madeira rangiam sob meus pés. A cidade parecia morta. Mas não era paz — era um silêncio denso, opressivo, como se o ar segurasse a respiração esperando alguma coisa acontecer. E aconteceu. O cheiro me atingiu primeiro. Ferro. Quente. Denso demais pra ser engano. Meu estômago virou, o coração disparou sem aviso. Apertei a chave do apartamento na mão até sentir o metal cortar a pele. Ridículo — como se um pedaço de metal pudesse me salvar. Avancei um passo. Depois outro. O cheiro só aumentava. E então eu vi. Um corpo. Encostado no muro grafitado, caído sobre uma poça que refletia a lua quebrada. Uma mulher. Jovem. Cabelos grudados no rosto. Pele branca demais, como se o sangue tivesse sido arrancado até a última gota. Mas não tinha desaparecido. Estava no chão. Um filete grosso descia até o ralo entupido, desenhando uma linha vermelha torta no concreto. A bile subiu, queimando a garganta. Eu devia correr. Gritar. Chamar a polícia. Mas não consegui. Fiquei ali. Imóvel. Como se o chão tivesse pregado meus pés. E então vi o símbolo. No meio do peito dela, talhado a faca, uma lua crescente mordendo o próprio rabo. O ar sumiu. Eu conhecia aquilo. Não da vida real — mas dos meus sonhos. Sempre os mesmos: a lua rabiscada na água, vozes sussurrando em volta. Quando criança, eu desenhava sem parar. Em cadernos, guardanapos, até na parede do quarto. Ivy arrancava da minha mão e mandava eu parar. Mas nunca explicava por quê. Agora estava ali. Gravado na carne de alguém morto. Um frio deslizou pela espinha. — Não encosta. A voz veio atrás de mim. Grave. Firme. Autoritária. Paralisou cada músculo. Virei devagar. Ele estava lá. Parado na sombra do poste. Alto, ombros largos, casaco escuro. O rosto quase todo escondido, mas a mandíbula marcada aparecia. E os olhos… mudavam com a luz falha: cinza, depois verde, depois algo sem nome. Mesmo sem se mover, ele exalava perigo. Minha boca secou. — Eu… eu não toquei em nada — gaguejei. — Acabei de achar assim. Ele avançou um passo. Lento. Controlado. Como um predador que não precisa correr. — Eu sei. Você sempre chega antes… dos outros. A frase cortou o ar. Sempre? Recuei até a parede fria nas minhas costas. O coração martelava nos ouvidos. Eu nunca tinha visto aquele homem em toda a minha vida. Como ele podia saber meu nome? E disse com tanta convicção… como se me conhecesse desde que eu nasci. — Quem é você? — soltei, mais nervosa do que corajosa. — Tá me confundindo com outra pessoa. Ele não respondeu. Só ficou me olhando. E o jeito que olhava era pior do que qualquer resposta: frio, calculado, como se fosse dono de um segredo que eu nunca deveria ter tocado. — Se afasta — tentei manter firmeza na voz. — Eu vou ligar pra polícia. Deslizei a mão para o bolso. Ele avançou mais, e a sombra dele engoliu a luz do poste. — Não faz isso. — a voz veio cortante. — Vão te pôr no lugar dela. — O quê? Tá me ameaçando? Ele inclinou a cabeça, como quem mede distância. Então disse, simples: — Selene. Meu nome. Do jeito certo. Como se tivesse dito mil vezes antes. O estômago gelou. As tábuas rangeram sob meus pés. — Como você sabe meu nome? — a garganta arranhou. — Me diz agora ou eu grito. — Não grita. — não foi pedido; foi ordem. — Sai daqui comigo. Agora. — Eu não vou a lugar nenhum com você. As sirenes começaram a crescer ao longe, um som que invadia como maré. E foi nesse instante que ardeu. Primeiro, um calor fino no pulso. Depois, fogo aberto. Olhei. A cicatriz que eu carregava desde criança — aquele meio-círculo apagado — acendeu. Luz prateada, viva, pulsando como se tivesse coração próprio. O peito travou. — Não… não, não. — esfreguei com a outra mão, frenética. — Isso não tá acontecendo. É estresse, é coisa da minha cabeça. A luz só aumentava, refletindo no muro molhado e voltando nos meus olhos. — O que você fez comigo?! — a voz saiu rasgada. Ele não desviou. Olhou de relance para o corpo no chão, com frieza que me arrepiou. Depois voltou pra mim. — Eu não fiz nada. — a voz sem vacilo. — Isso é seu. — Meu uma ova! — a raiva veio como defesa. — Isso não existe! Mas dentro de mim, a lembrança insistia: eu desenhando aquela lua. Ivy arrancando os papéis. O silêncio pesado na casa. As sirenes dobraram a esquina. Ele lançou um olhar rápido para a rua e voltou pra mim. — Vão ver você, o corpo e essa marca acesa. — apontou com o queixo. — E vão decidir em segundos que é culpada. A bile queimou minha garganta. — Você fala como se me conhecesse. Os olhos dele se estreitaram. — Conheço o suficiente pra saber que, se ficar, morre. — Por que eu acreditaria em você?! Ele se aproximou mais. Não tocou. Só encostou a presença. O cheiro de couro molhado e pedra fria me cercou. — Porque não tenho tempo pra te convencer. — seco. — E prefiro te levar andando do que desmaiada. — Você tá me sequestrando? — Estou tirando você de uma cena de morte com uma marca brilhando no braço. Chame como quiser. Meu corpo gritava pra correr, mas as pernas não obedeciam. O suor escorria frio pela nuca. Eu odiava isso. Odiava ter que pesar risco com um estranho. E odiava que, no fundo, parte de mim soubesse que ele estava certo. — Minha tia… — a frase escapou. — Ela vai enlouquecer se eu sumir. — Melhor viva e enlouquecida do que morta em jornal. As luzes já começavam a lamber as paredes do fim da rua. Ele estendeu a mão — não como oferta, mas sentença. — Vem. — Eu não— A mão dele fechou no meu antebraço. O toque queimou. Não como dor: como choque. A marca vibrou junto, pulsando na mesma frequência. O mundo girou um passo à frente. — Solta! — bati no ombro dele. Ele não recuou. — Dois minutos. — a voz perto, cortante. — Decide: confiar em mim agora ou explicar essa luz pra um policial com câmera. Engoli seco. O corpo da mulher ainda brilhava no canto da visão. O símbolo talhado. A minha marca respondendo. E os olhos dele — predadores, frios, sem mentira. — Se você me machucar… — sussurrei, a voz falhando — …eu te arranco os olhos. Um traço de quase sorriso curvou a boca dele e sumiu. — Então anda. Um passo. Outro. As sombras nos engoliram antes que a primeira luz azul riscasse a boca do beco. A marca queimava. E eu fui — não por confiar. Mas porque, naquela noite, o medo tinha corpo, voz… e sabia o meu nome.(POV — A Lua) Faz tanto tempo que nem o tempo se lembra. Antes dos nomes, antes das espadas, antes dos lobos… eu já vigiava o mundo. Sou o espelho do que nasce e o túmulo do que morre. Sou o que resta quando até o amor se cala. E ainda assim, mesmo entre as ruínas, há um som que me desperta: o eco dos corações que não desistiram de uivar. Durante séculos, observei homens se destruírem em nome da luz. Vi cidades erguidas sobre ossos, reinos queimados por orgulho, deuses inventados e depois esquecidos. Mas nunca — nunca — vi alguém me olhar com tanta coragem quanto ela. Selene. Minha filha sem prece, minha bênção e minha ferida. Nascida da carne e da estrela, feita de um sopro que nem eu planejei. Enquanto outros me adoravam em silêncio, ela ousou me questionar. Enquanto outros se ajoelhavam, ela se ergueu. E é por isso que a observei com tanta ternura e temor. Lembro-me do dia em que seu selo despertou pela primeira vez. A terra se curvou, o mar recuou,
(POV Selene)O silêncio que veio depois da batalha não parecia paz.Era o tipo de silêncio que nasce quando o mundo fica sem forças pra continuar gritando.Nem o vento ousava se mover direito — ele apenas roçava as folhas queimadas, carregando o cheiro espesso de ferro e fumaça.A Lua havia se recolhido.O Eclipse se dissipara.Mas o céu ainda sangrava, manchado de vermelho nas bordas, como uma ferida que se recusa a cicatrizar.Eu me movia devagar entre corpos e brasas.A cada passo, o selo pulsava — não de poder, mas de luto.Cada vida perdida queimava dentro dele como uma lembrança gravada a fogo.Os Exilados tinham vencido, mas vitória nenhuma vem sem preço.Dorian estava a poucos metros, o ombro envolto em faixas e o rosto coberto de fuligem.Mesmo ferido, ainda mantinha o olhar de quem carrega um exército inteiro nas costas.Quando me viu, apenas assentiu.Não precisávamos de palavras — o peso era o mesmo em nós dois.Ronan caminhava atrás, arrastando o corpo de um caçador até a
(POV Dorian Hale)O som da guerra já não era som — era respiração.Um coração coletivo batendo junto ao chão, feito de gritos, uivos e aço.O Eclipse cobria tudo, e a luz vermelha fazia o sangue brilhar como metal vivo.A montanha tremia, e a fenda dos Exilados já não parecia abrigo — era o centro de um mundo em ruína.Eu via tudo.Cada golpe, cada perda, cada lobo caído.E, entre eles, Selene — a Lua encarnada, caminhando entre chamas e sombras.Ronan estava de joelhos, exausto, a lança cravada no solo.Elias lutava à distância, a flecha sempre no ponto onde o selo dela pulsava.Caelan movia-se nas sombras como um demônio da noite.E eu…Eu era o Alfa.E o Alfa não podia cair.— Mantenham a linha! — gritei. — Protejam o flanco!Os lobos responderam, uivos se misturando a ordens.Mas os caçadores vinham em ondas — intermináveis, implacáveis, com os olhos cheios de fé cega.Eles não vinham por glória.Vinham por purificação.E nada é mais perigoso do que um homem que acredita ser santo
(POV Ronan Blackwood)O vento do Norte tem um som próprio.Não é brisa, é lâmina.Corta o ar, arranca o calor e deixa só o instinto — o mesmo que sempre me guiou.Quando o Eclipse caiu sobre o campo, eu soube que a hora tinha chegado.O sangue congelava nas veias, mas a alma queimava.Anos de fuga, de exílio, de promessas sussurradas às estrelas — tudo convergia ali.A Lua chamava, e eu a ouvi.Dorian ainda gritava ordens atrás de mim.Selene brilhava no centro do caos, viva como um cometa.Elias, o caçador amaldiçoado, lutava contra os próprios demônios.Mas eu…eu só via os homens com o símbolo da Ordem avançando sobre os lobos do Norte.Homens que usavam o mesmo brasão dos que mataram meu pai, queimaram minha aldeia e chamaram o meu povo de feras.Pisei no chão encharcado de sangue e ergui a lança.O metal vibrava com o toque da Lua — uma arma feita para um só propósito: vingar.— Pelo Norte! — rugi.A voz ecoou pelas montanhas, seguida de um uivo coletivo.Meus irmãos responderam.
(POV Elias Drave)O céu não era mais azul.Era um abismo vermelho, e nele o sol morria devagar, engolido pela Lua.O Eclipse havia começado, e com ele, o fim daquilo que eu acreditava ser verdade.O campo de batalha era um pesadelo vivo.Corpos caíam, lobos e caçadores se misturavam, sangue virava barro.Mas eu não via nada disso com clareza.Tudo o que via era ela —Selene, no centro do caos, envolta em luz e sombra, lutando como se a Lua tivesse tomado forma de carne.Por um instante, lembrei de quando recebi minha primeira missão na Ordem.Eu era só um garoto.O mestre me disse: “O sangue da Lua é praga. Se o encontrares, destrói.”E por anos, obedeci.Matei sem questionar, acreditei que limpava o mundo.Mas agora, vendo-a ali — viva, divina e terrível —, percebi a ironia.Eu havia sido criado para destruir o que agora me mantinha vivo.O selo no meu peito pulsava no mesmo ritmo que o dela, mesmo à distância.Quando ela respirava, eu sentia.Quando sangrava, o gosto do sangue ardia
(POV Selene)O amanhecer veio tingido de vermelho.Não o vermelho do sol, mas o da Lua, que ainda teimava em permanecer no céu, pálida e ferida.Ela chorava — e suas lágrimas caíam em forma de neve.O frio era cortante, seco, o tipo de frio que cheira a sangue e ferro.Quando saí da tenda, o acampamento já estava desperto.Lobos corriam entre fogueiras acesas, afiando lâminas, distribuindo armas, preparando o que sabiam que viria.Ninguém precisava de palavras.A guerra estava no ar, e a Lua tinha chamado todos nós pelo nome.Dorian estava na linha da frente, os cabelos presos, a armadura leve sobre o corpo.Os olhos azuis dele brilhavam com uma mistura de determinação e exaustão.Quando me viu, apenas assentiu — como se dissesse: é hoje.E era.Ronan, de torso nu e pele marcada por cicatrizes, organizava grupos de ataque.A cada ordem dada, o lobo rugia sob a pele.A fúria do Norte parecia viva de novo, e as chamas da forja refletiam nos olhos dourados dele.Caelan permanecia mais af
Último capítulo