A Lua dos Exilados

A Lua dos ExiladosPT

Lobisomem
Última atualização: 2025-10-14
Romislaine Corrêa   concluído
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10
1 Classificação
121Capítulos
1.0Kleituras
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Resumo
Índice

Selene Marlowe passou a vida fugindo do sangue que carrega — o sangue que todos querem. Agora, a cidade está manchada de mortes, cada uma marcada com o símbolo da lua. E ela é a única ligação entre os clãs que governam as sombras. Dorian Hale, o Alfa dos Exilados, diz que pode protegê-la. Ronan Blackwood, o guerreiro do Norte, promete poder e vingança. Elias Draven, o caçador humano, só queria vê-la morta… até desejar ser consumido por ela. E Caelan Quinn, o espião dos Filhos da Lua, a quer por razões que ele não ousa confessar. Entre segredos, traições e um desejo que queima mais do que qualquer maldição, Selene vai descobrir que não dá para fugir de quem você é — nem de quem você pertence. O destino não pede permissão. E a lua não perdoa corações divididos.

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Capítulo 1

Capítulo 1 — A Marca Que Brilha na Água

(POV Selene)

Meu nome é Selene Marlowe. Tenho vinte e dois anos e uma vida feita de retalhos que nunca se costuraram direito. Em algumas noites o mundo parece normal. Em outras, ele sussurra coisas que ninguém mais ouve. Hoje era dessas.

Meus pais morreram quando eu era criança. É tudo o que sei. Nunca houve fotos, histórias, nada que preenchesse o vazio. Minha tia Ivy me criou sozinha e, sempre que eu tentava perguntar, ela desviava: “não é assunto pra você”. Cresci com um buraco que fala mais alto que qualquer resposta.

Talvez por isso eu tenha aprendido a andar na sombra. A não chamar atenção. A existir em silêncio. Quem me vê enxerga só uma garota comum: um metro e sessenta e sete, cabelo castanho indeciso, olhos que minha tia insiste serem cor de mel. Eu nunca vi nada de especial neles. Nunca vi nada de especial em mim.

A vida com Ivy é simples. Pequena demais. Trabalho que mal paga as contas, refeições rápidas, noites em claro. E é nessas noites que eu saio. Ando até cansar, como se pudesse despejar os pensamentos no asfalto.

Foi assim que cheguei ao cais naquela noite.

O vento cortava como lâmina molhada. Trazia gosto de ferrugem. As tábuas da madeira rangiam sob meus pés. A cidade parecia morta. Mas não era paz — era um silêncio denso, opressivo, como se o ar segurasse a respiração esperando alguma coisa acontecer.

E aconteceu.

O cheiro me atingiu primeiro.

Ferro. Quente. Denso demais pra ser engano.

Meu estômago virou, o coração disparou sem aviso. Apertei a chave do apartamento na mão até sentir o metal cortar a pele. Ridículo — como se um pedaço de metal pudesse me salvar.

Avancei um passo. Depois outro. O cheiro só aumentava.

E então eu vi.

Um corpo.

Encostado no muro grafitado, caído sobre uma poça que refletia a lua quebrada. Uma mulher. Jovem. Cabelos grudados no rosto. Pele branca demais, como se o sangue tivesse sido arrancado até a última gota. Mas não tinha desaparecido. Estava no chão. Um filete grosso descia até o ralo entupido, desenhando uma linha vermelha torta no concreto.

A bile subiu, queimando a garganta.

Eu devia correr. Gritar. Chamar a polícia.

Mas não consegui. Fiquei ali. Imóvel. Como se o chão tivesse pregado meus pés.

E então vi o símbolo.

No meio do peito dela, talhado a faca, uma lua crescente mordendo o próprio rabo.

O ar sumiu.

Eu conhecia aquilo. Não da vida real — mas dos meus sonhos. Sempre os mesmos: a lua rabiscada na água, vozes sussurrando em volta.

Quando criança, eu desenhava sem parar. Em cadernos, guardanapos, até na parede do quarto. Ivy arrancava da minha mão e mandava eu parar. Mas nunca explicava por quê.

Agora estava ali. Gravado na carne de alguém morto.

Um frio deslizou pela espinha.

— Não encosta.

A voz veio atrás de mim. Grave. Firme. Autoritária. Paralisou cada músculo.

Virei devagar.

Ele estava lá. Parado na sombra do poste. Alto, ombros largos, casaco escuro. O rosto quase todo escondido, mas a mandíbula marcada aparecia. E os olhos… mudavam com a luz falha: cinza, depois verde, depois algo sem nome.

Mesmo sem se mover, ele exalava perigo.

Minha boca secou.

— Eu… eu não toquei em nada — gaguejei. — Acabei de achar assim.

Ele avançou um passo. Lento. Controlado. Como um predador que não precisa correr.

— Eu sei. Você sempre chega antes… dos outros.

A frase cortou o ar.

Sempre?

Recuei até a parede fria nas minhas costas. O coração martelava nos ouvidos. Eu nunca tinha visto aquele homem em toda a minha vida. Como ele podia saber meu nome? E disse com tanta convicção… como se me conhecesse desde que eu nasci.

— Quem é você? — soltei, mais nervosa do que corajosa. — Tá me confundindo com outra pessoa.

Ele não respondeu. Só ficou me olhando. E o jeito que olhava era pior do que qualquer resposta: frio, calculado, como se fosse dono de um segredo que eu nunca deveria ter tocado.

— Se afasta — tentei manter firmeza na voz. — Eu vou ligar pra polícia.

Deslizei a mão para o bolso. Ele avançou mais, e a sombra dele engoliu a luz do poste.

— Não faz isso. — a voz veio cortante. — Vão te pôr no lugar dela.

— O quê? Tá me ameaçando?

Ele inclinou a cabeça, como quem mede distância. Então disse, simples:

— Selene.

Meu nome.

Do jeito certo. Como se tivesse dito mil vezes antes.

O estômago gelou. As tábuas rangeram sob meus pés.

— Como você sabe meu nome? — a garganta arranhou. — Me diz agora ou eu grito.

— Não grita. — não foi pedido; foi ordem. — Sai daqui comigo. Agora.

— Eu não vou a lugar nenhum com você.

As sirenes começaram a crescer ao longe, um som que invadia como maré.

E foi nesse instante que ardeu.

Primeiro, um calor fino no pulso. Depois, fogo aberto.

Olhei. A cicatriz que eu carregava desde criança — aquele meio-círculo apagado — acendeu. Luz prateada, viva, pulsando como se tivesse coração próprio.

O peito travou.

— Não… não, não. — esfreguei com a outra mão, frenética. — Isso não tá acontecendo. É estresse, é coisa da minha cabeça.

A luz só aumentava, refletindo no muro molhado e voltando nos meus olhos.

— O que você fez comigo?! — a voz saiu rasgada.

Ele não desviou. Olhou de relance para o corpo no chão, com frieza que me arrepiou. Depois voltou pra mim.

— Eu não fiz nada. — a voz sem vacilo. — Isso é seu.

— Meu uma ova! — a raiva veio como defesa. — Isso não existe!

Mas dentro de mim, a lembrança insistia: eu desenhando aquela lua. Ivy arrancando os papéis. O silêncio pesado na casa.

As sirenes dobraram a esquina. Ele lançou um olhar rápido para a rua e voltou pra mim.

— Vão ver você, o corpo e essa marca acesa. — apontou com o queixo. — E vão decidir em segundos que é culpada.

A bile queimou minha garganta.

— Você fala como se me conhecesse.

Os olhos dele se estreitaram.

— Conheço o suficiente pra saber que, se ficar, morre.

— Por que eu acreditaria em você?!

Ele se aproximou mais. Não tocou. Só encostou a presença. O cheiro de couro molhado e pedra fria me cercou.

— Porque não tenho tempo pra te convencer. — seco. — E prefiro te levar andando do que desmaiada.

— Você tá me sequestrando?

— Estou tirando você de uma cena de morte com uma marca brilhando no braço. Chame como quiser.

Meu corpo gritava pra correr, mas as pernas não obedeciam. O suor escorria frio pela nuca. Eu odiava isso. Odiava ter que pesar risco com um estranho. E odiava que, no fundo, parte de mim soubesse que ele estava certo.

— Minha tia… — a frase escapou. — Ela vai enlouquecer se eu sumir.

— Melhor viva e enlouquecida do que morta em jornal.

As luzes já começavam a lamber as paredes do fim da rua. Ele estendeu a mão — não como oferta, mas sentença.

— Vem.

— Eu não—

A mão dele fechou no meu antebraço. O toque queimou. Não como dor: como choque. A marca vibrou junto, pulsando na mesma frequência. O mundo girou um passo à frente.

— Solta! — bati no ombro dele. Ele não recuou.

— Dois minutos. — a voz perto, cortante. — Decide: confiar em mim agora ou explicar essa luz pra um policial com câmera.

Engoli seco. O corpo da mulher ainda brilhava no canto da visão. O símbolo talhado. A minha marca respondendo. E os olhos dele — predadores, frios, sem mentira.

— Se você me machucar… — sussurrei, a voz falhando — …eu te arranco os olhos.

Um traço de quase sorriso curvou a boca dele e sumiu.

— Então anda.

Um passo. Outro. As sombras nos engoliram antes que a primeira luz azul riscasse a boca do beco.

A marca queimava.

E eu fui — não por confiar.

Mas porque, naquela noite, o medo tinha corpo, voz… e sabia o meu nome.

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Romislaine Corrêa
OLÁ AMADINHAS E AMADINHOS.... VAMOS EMBARCAR EM MAIS UMA ESTÓRIA.... ME SIGA NO INSTAGRAM. @rcorreaescritora... bjos e aguardo os comentários ...️
2025-09-09 18:45:05
1
121 chapters
Capítulo 1 — A Marca Que Brilha na Água
Capítulo 2 — O Lobo Entre as Sombras
Capítulo 3 — Ecos da Noite
Capítulo 4 — Sussurros e Garras
Capítulo 5 — Sangue e Instinto
Capítulo 6 — Marcas e Mentiras
Capítulo 7 — O Peso do Instinto
Capítulo 8 — Entre Lobo e Fera
Capítulo 9 — Feras Silenciosas
Capítulo 10 — O Chão Sob Meus Pés
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