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Capítulo 2 — O Lobo Entre as Sombras

(POV Selene)

O nome dele ainda ecoa dentro de mim. Dorian.

Não sei por que, mas parece que já ouvi esse nome antes. Como uma lembrança antiga, dessas que ficam presas no canto da mente, esperando o momento certo para doer.

A sirene está mais perto agora, cortando o silêncio do cais como um aviso. Eu devia correr para o lado oposto, gritar por ajuda, me afastar desse homem que carrega perigo em cada músculo. Mas meus pés não obedecem.

Ele não espera que eu reaja. Fecha a distância entre nós com passos firmes, como se soubesse que eu não vou lutar. E, por mais que eu queira, não luto.

— Não temos tempo. — A voz dele é baixa, urgente, e, mesmo assim, carregada de uma calma estranha. — Eles já estão perto.

— Eles quem? — Tento recuar, mas minhas costas batem contra a parede fria do beco. — O que está acontecendo?

Ele ergue uma sobrancelha, como se estivesse medindo o quanto pode me dizer, e então olha para o fim da rua. As luzes da viatura estão refletindo na parede.

— Depois. — Ele estende a mão, firme. — Agora, vem comigo.

Eu devia recusar. Devia. Mas quando ele se inclina só um pouco, e os olhos — cinza, verdes, ou seja lá que cor sejam — encontram os meus, sinto a mesma coisa que senti quando a cicatriz no meu pulso brilhou: algo dentro de mim reconhecendo algo nele.

Minha mão treme quando encosta na dele. O toque é quente, quase febril, e uma onda de adrenalina percorre meu corpo como um soco invisível.

Ele me puxa para longe do beco, pelos caminhos que só ele parece conhecer, desviando das ruas principais. Eu tento acompanhar o ritmo, mas cada passo parece mais difícil que o anterior, como se a noite estivesse mais pesada.

O vento frio corta minha pele, mas o calor do toque dele gruda, queimando.

— Onde você está me levando? — pergunto, ofegante.

— Para um lugar seguro.

Seguro. A palavra parece vazia quando dita por alguém que carrega perigo até no jeito de respirar.

Entramos por uma viela estreita, o som da cidade ficando cada vez mais distante. O coração b**e tão alto que parece que todos podem ouvir. E, bem quando acho que vamos parar, ele desacelera.

Estamos diante de uma porta de metal, velha, com uma marca quase apagada: um símbolo que lembra a cicatriz no meu pulso.

— O que é isso? — sussurro, mas ele não responde.

Dorian gira a maçaneta, e a porta se abre com um estalo metálico. O cheiro que vem de dentro me atinge primeiro: madeira, terra molhada, fumaça. Familiar de um jeito que me assusta.

Ele me empurra suavemente para dentro, fecha a porta atrás de nós e acende uma luz baixa. O lugar parece um depósito abandonado — paredes de tijolos, caixas empilhadas, uma mesa com papéis espalhados. Mas há algo mais: um silêncio carregado, como se o ar inteiro estivesse atento.

— Pode se sentar. — Ele aponta para uma cadeira próxima. — Não vou machucar você.

— Desculpa se eu não acredito muito nisso. — Minha voz falha, mas sai.

Ele sorri. Não um sorriso gentil, mas um daqueles que não alcança os olhos.

— Não precisa acreditar em mim. Só precisa ficar viva.

Eu abraço os próprios braços, tentando conter o frio que parece ter entrado comigo.

— O que está acontecendo? — pergunto, mais uma vez. — Quem era aquela mulher? E por que... — levanto o pulso, mostrando a cicatriz que ainda pulsa, — ...isso brilhou?

Por um instante, ele só me encara. O silêncio é pesado, denso, quase sufocante.

— Porque você não é só humana, Selene. — Ele finalmente diz, como se estivesse arrancando um curativo. — E porque o que está caçando você agora sabe que você acordou.

O chão parece desaparecer sob meus pés.

— Eu não... — Minha voz falha. — Eu não sei do que você está falando.

Ele se inclina para frente, os olhos brilhando como metal sob a luz fraca.

— Sabe, sim. Pode ter passado a vida fugindo disso, fingindo que era só coincidência. Mas você sempre soube.

Meu peito aperta, como se o ar tivesse sido sugado. Imagens se embaralham na minha cabeça: febres inexplicáveis, sonhos com dentes e uivos, as vezes em que ouvi coisas que ninguém mais ouviu.

E, naquele instante, o silêncio é quebrado por um som distante. Um uivo. Longo. Grave. Tão profundo que sinto no peito antes de ouvir nos ouvidos.

Meus olhos encontram os dele, e, por um momento, ele não parece humano.

— O que foi isso...? — sussurro.

Dorian não se move, não pisca. Só diz:

— Bem-vinda ao nosso mundo, Selene.

E, do lado de fora, outro uivo responde, mais próximo.

E eu percebo, tarde demais, que minha vida acabou de mudar para sempre.

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