(POV Selene)
A noite chega carregada de silêncio.
Não é o silêncio normal, aquele que vem quando a cidade dorme. Esse é outro — denso, pesado, quase vivo. Como se as paredes respirassem junto comigo.
Eu tento dormir. Tento ignorar o cheiro de sangue que parece ter grudado na minha pele, mesmo depois do banho rápido. Tento ignorar o som dos corpos caindo, os olhos amarelos daquele que fugiu. Tento ignorar que, por um instante, eu gostei.
Gostei da força. Gostei da velocidade. Gostei da sensação de ser... mais.
E isso me assusta.
— Está pensando alto demais. — A voz de Dorian corta o silêncio como uma lâmina.
Eu me viro e ele está lá, parado no batente da porta, braços cruzados, a sombra cobrindo metade do rosto.
— Não sabia que pensar era proibido agora — rebato, mais irritada do que gostaria.
Ele não responde de imediato. Só me observa, aquele olhar pesado que sempre parece ver além do que eu digo.
— Pensar não é o problema. — Ele entra, devagar, e para perto demais. — Se perder no qu