(POV Selene)
O uivo ainda ecoava dentro de mim quando a noite caiu sobre a clareira. Não era o silêncio comum de uma cidade adormecida, mas um silêncio vivo, sufocante, como se a floresta inteira prendesse a respiração junto comigo.
O som parecia ter se infiltrado nos ossos, vibrando junto com a cicatriz no meu pulso. O frio não vinha só da noite, vinha de dentro, como se algo tivesse me marcado de forma definitiva. As árvores estavam imóveis, os animais em silêncio absoluto, e até o vento parecia hesitar em passar. Era como se a floresta inteira esperasse algo. E, no fundo, eu temia que esse “algo” fosse eu.
O cheiro de sangue parecia grudar na minha pele, mesmo depois do banho rápido em uma bacia gelada. Eu me deitei, mas cada vez que fechava os olhos os olhos brilhantes daquelas criaturas voltavam, os rosnados, o choque dos golpes. E o mais perturbador era admitir: eu tinha gostado. Gostei da força, da velocidade, do instinto. Gostei da sensação de ser mais do que imaginava.
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