(POV — A Lua)
Faz tanto tempo que nem o tempo se lembra.
Antes dos nomes, antes das espadas, antes dos lobos… eu já vigiava o mundo.
Sou o espelho do que nasce e o túmulo do que morre.
Sou o que resta quando até o amor se cala.
E ainda assim, mesmo entre as ruínas, há um som que me desperta:
o eco dos corações que não desistiram de uivar.
Durante séculos, observei homens se destruírem em nome da luz.
Vi cidades erguidas sobre ossos, reinos queimados por orgulho, deuses inventados e depois esquecidos.
Mas nunca — nunca — vi alguém me olhar com tanta coragem quanto ela.
Selene.
Minha filha sem prece, minha bênção e minha ferida.
Nascida da carne e da estrela, feita de um sopro que nem eu planejei.
Enquanto outros me adoravam em silêncio, ela ousou me questionar.
Enquanto outros se ajoelhavam, ela se ergueu.
E é por isso que a observei com tanta ternura e temor.
Lembro-me do dia em que seu selo despertou pela primeira vez.
A terra se curvou, o mar recuou,