Mundo de ficçãoIniciar sessãoTrês horas depois, Nina estava sentada no banco de trás do carro do pai, as mãos entrelaçadas no colo com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. O vestido azul a envolvia como uma mortalha elegante, e ela havia prendido os cabelos em um coque baixo — elegante, mas não muito chamativo.
Seu pai, Marco Russo, dirigia em silêncio. Ele não tinha dito uma palavra desde que saíram de casa. A culpa emanava dele em ondas quase palpáveis, mas Nina não sentia pena. Era culpa dele que ela estava ali. Culpa dele que ela estava sendo entregue como pagamento de uma dívida.
— É aqui — Marco disse finalmente, virando em uma rua arborizada no Upper East Side.
Nina olhou pela janela e sentiu a respiração prender. A mansão de Matteo Salvatore era exatamente o que ela esperava: imponente, gótica, cercada por muros altos e portões de ferro que pareciam servir mais para manter pessoas dentro do que fora.
Um homem de terno preto e óculos escuros apareceu no portão, falou brevemente com Marco, e os portões se abriram com um rangido pesado.
O carro avançou por um caminho de pedras até a entrada principal.
— Nina... — Marco começou, finalmente olhando para ela pelo retrovisor.
— Não. — Nina cortou, a voz firme apesar do coração disparado. — Você não tem o direito de me pedir perdão agora.
Marco fechou a boca, a mandíbula tensa.
A porta do carro se abriu antes que Nina pudesse respirar fundo mais uma vez. Outro homem de terno esperava com expressão neutra.
— Senhorita Russo — ele disse com um sotaque italiano pesado. — O Don está esperando.
Seu futuro marido.
Nina saiu do carro, suas pernas tremendo levemente sob o vestido. O guarda-costas a guiou até a porta principal, que se abriu para revelar um interior tão opulento quanto intimidador. Mármore negro, lustres de cristal, obras de arte que provavelmente custavam mais do que a casa da família Russo inteira.
Era lindo e aterrorizante ao mesmo tempo.
— Por aqui — indicou um corredor à esquerda.
Nina seguiu, cada passo ecoando no silêncio pesado da mansão. Eles passaram por várias portas fechadas até pararem em frente a uma porta dupla de madeira escura.
O homem bateu três vezes.
— Entre — uma voz grave respondeu de dentro.
A porta se abriu.
E Nina Russo entrou para conhecer o monstro que seria seu marido.
O escritório era mergulhado em sombras, iluminado apenas por um abajur no canto e a luz fraca do crepúsculo que entrava por janelas cobertas por cortinas pesadas. Nina precisou de alguns segundos para que seus olhos se ajustassem.
E então ela o viu.
Matteo Salvatore estava de pé perto da janela, de costas para ela. Era alto — muito alto, devia ter mais de um metro e noventa — ombros largos sob um terno impecavelmente cortado. Cabelo negro penteado para trás.
Ele não se virou imediatamente.
— Senhorita Russo — a voz era profunda e controlada. — Obrigado por vir.
Como se ela tivesse tido escolha.
— Senhor Salvatore — Nina respondeu, mantendo a voz firme.
Ele finalmente se virou, e Nina precisou de toda sua força de vontade para não recuar.
Metade do rosto de Matteo Salvatore estava coberta por uma máscara veneziana de couro preto, moldada perfeitamente para cobrir o lado direito, do meio da testa até o maxilar. A outra metade — a esquerda — era devastadoramente bonita. Maxilar forte, lábios bem definidos, um olho de um verde tão escuro que parecia quase preto à luz fraca.
Mas era a máscara que capturava toda a atenção. O que ela escondia. As cicatrizes que, segundo os rumores, eram grotescas o suficiente para fazer crescidos virarem o rosto.
— Sente-se — Matteo indicou uma poltrona de couro em frente à sua mesa.
Nina obedeceu, sentindo o olho dele estudando cada movimento seu.
Matteo caminhou até a mesa, movendo-se com uma graça predatória que fazia Nina pensar em grandes felinos antes do ataque. Ele se sentou, recostando-se na cadeira, os dedos entrelaçados sobre a mesa.
— Imagino que seu pai já tenha explicado a situação — ele disse sem rodeios.
— Ele explicou — Nina respondeu. — Três milhões de dólares. Que serão perdoados se eu me casar com você.
Algo brilhou no olho visível de Matteo.
— Então você entende os termos. — Ele inclinou a cabeça levemente.
— Que estou sendo comprada?
— Não. — A palavra saiu cortante. — A sua família está sendo oferecida uma oportunidade para que se salvem da ruína e de uma morte muito desagradável. Há uma diferença. Não acha?
Nina mordeu a língua. Discutir não ajudaria.
— O que você espera de mim? — ela perguntou em vez disso.
— Lealdade, obediência... — Matteo fez uma pausa. — e um herdeiro.
Lá estava. A verdadeira razão pela qual ela estava ali.
— Um filho — Nina disse devagar.
— A famiglia exige continuidade — Matteo se levantou novamente, caminhando até uma mesa lateral onde havia uma garrafa de uísque. Ele serviu duas doses sem perguntar se Nina queria. — Então sim, preciso de um herdeiro.
Ele voltou e colocou um copo na frente dela. Nina pegou, mais pelo que fazer com as mãos do que por realmente querer beber.
— E depois que eu lhe der esse herdeiro? — ela ousou perguntar. — O que acontece comigo?
Matteo tomou um gole do uísque, observando-a por cima do copo.
— Você será minha esposa. Viverá nesta casa. Terá tudo que precisar. — Ele fez uma pausa. — Mas não terá liberdade, nem nada que eu não permita.
— Uma prisioneira, então.
— Uma rainha — ele corrigiu. — Uma rainha em minha gaiola de ouro.
O silêncio se estendeu entre eles, pesado e sufocante.
— Posso ver? — Nina ouviu a própria voz perguntar antes que pudesse se controlar.
Matteo congelou.
— Ver o quê?
— Seu rosto. — Nina não sabia de onde vinha a coragem, mas agora que tinha começado, não podia parar. — Se vou me casar com você, tenho o direito de vê-lo por completo.
O olho de Matteo estreitou. Por um longo momento, Nina achou que ele fosse recusar. Ou pior, que fosse explodir em raiva.
Mas então, lentamente, deliberadamente, ele ergueu a mão e desatou as tiras de couro que prendiam a máscara.
Nina prendeu a respiração.
A máscara caiu.







