Mundo de ficçãoIniciar sessãoMatteo se levantou, contornou a mesa e parou na frente de Nina. Ele era ainda mais alto e assutador de perto, sua altura e ombros largos bloqueando a luz fraca. Nina precisou erguer o olhar para encará-lo.
— Deixe-me ser muito claro, Nina — ele disse, sua voz baixa e perigosa. — Eu não sou um bom homem. Fiz coisas que manteriam você acordada à noite se soubesse. Machuquei pessoas. Matei pessoas. Destruí vidas sem um pingo de remorso.
Ele se inclinou, apoiando as mãos nos braços da poltrona dela, prendendo-a no lugar.
— Mas — continuou, seu rosto a centímetros do dela — eu não bato em mulheres. Não machuco crianças. E quando faço um acordo, eu o honro. Você será minha esposa. Viverá com luxo que sua família nunca poderia proporcionar. Será protegida, alimentada, vestida. Nada de mal acontecerá com você enquanto você seguir as regras.
Nina podia sentir o calor dele, e seu coração batia acelerado, mas ela se forçou a não recuar.
— E se eu quebrar as regras? — ela sussurrou.
Algo perigoso brilhou no olho de Matteo.
— Então descobrirá por que as pessoas me chamam de monstro, dolcezza.
Ele se afastou, voltando para trás da mesa como se o momento de intimidade intimidadora nunca tivesse acontecido.
— Você pode ver os seus pais — ele disse casualmente. — Mas aqui e sob supervisão.
Era uma concessão, e Nina sabia que deveria ser grata. Mas tudo que sentia era um vazio crescente onde sua liberdade costumava estar.
— Obrigada — ela conseguiu dizer.
Matteo puxou uma caneta dourada do bolso interno do paletó e a colocou sobre o contrato.
— Assine.
Nina pegou a caneta. Era pesada, cara, provavelmente valia mais do que qualquer coisa que ela já tinha possuído. Sua mão pairou sobre a linha pontilhada no final do documento.
Uma assinatura. Era só isso que ficava entre ela e uma vida que não escolheu.
— Nina — a voz de Matteo a fez olhar para cima. — Se você assinar, não há volta. Você será minha. Entende?
Eu já sou sua, Nina pensou amargamente. A partir do momento em que meu pai fez aquela dívida.
Mas em voz alta, ela apenas disse:
— Entendo.
E assinou.
Nina Russo.
As letras pareciam estranhas no papel, como se pertencessem a outra pessoa. Talvez pertencessem. A Nina que assinou aquele contrato não era a mesma que havia acordado naquela manhã com a ilusão de que ainda tinha algum controle sobre a própria vida.
Matteo pegou o documento, examinou a assinatura e assentiu satisfeito. Ele abriu outra gaveta e retirou uma pequena caixa de veludo preto.
— Estenda a mão — ele ordenou.
Nina obedeceu, curiosa apesar de tudo.
Matteo abriu a caixa, revelando um anel.
— Pertenceu à minha avó — Matteo disse, deslizando o anel de ouro branco com um enorme diamante no dedo anelar de Nina. — Ela era a única pessoa na famiglia que não me tratou de forma diferente depois do... incêndio.
Nina olhou para o anel, depois para Matteo.
— Ela parece ter sido uma boa mulher — Nina disse suavemente.
— Era. — Matteo soltou a mão dela. — Morreu três anos atrás. Fez-me prometer que daria o anel à mulher com quem eu me casasse.
— Mesmo que seja um casamento de negócios?
— Especialmente se for um casamento de negócios. — Um sorriso meio amargo. — Ela sempre disse que amor sem base prática era estúpido. Que respeito e lealdade importavam mais que paixão.
Nina girou o anel no dedo, sentindo o peso dele. Era estranho como algo tão pequeno podia parecer tão permanente.
— Quando será o casamento? — ela perguntou.
— Sábado. — Matteo voltou para sua cadeira. — Será uma cerimônia privada, pois não quero um espetáculo.
Nina quase riu. Claro que ele não queria um espetáculo. Quanto menos pessoas vissem a noiva sendo entregue como pagamento de dívida, melhor.
— Você terá uma semana para se preparar — Matteo continuou. — Uma costureira virá à sua casa para o vestido. Você também terá reuniões com minha irmã, Bianca. Ela a ensinará o que é esperado de uma esposa de um Don.
— Você tem uma irmã? — Nina não conseguiu esconder a surpresa.
— Tenho. — Algo atravessou o rosto de Matteo, rápido demais para Nina identificar. — Ela é... persistente. E acha que pode me civilizar através de você.
— Isso é possível?
— Não.
Dessa vez Nina riu, um som pequeno e sem humor, mas ainda assim uma risada. A situação era tão absurda, tão completamente fora de controle, que ou ela ria ou começaria a gritar.
Matteo a observou com interesse.
— Por que riu?
— A outra alternativa seria chorar. — Nina se levantou, alisando o vestido azul. — E chorar não resolve nada.
— Não, não resolve. — Matteo também se levantou. — Posso acompanhá-la até a saída.
Eles caminharam em silêncio pelo corredor opulento. Nina estava consciente da presença dele ao seu lado, grande e intimidadora.
Quando chegaram à porta principal, Matteo a segurou aberta pessoalmente.
— Seu pai está esperando no carro — ele disse.
Nina assentiu, começando a sair, mas a voz dele a deteve.
— Nina.
Ela se virou.
— Você me surpreendeu hoje — Matteo disse. — Não muitas pessoas me surpreendem.
— É porque não esperava nada além de horror e submissão — Nina respondeu. — Reduza suas expectativas e nunca ficará desapontado.
Matteo inclinou a cabeça levemente.
— Até o casamento, Don — Nina ecoou.
Ela desceu os degraus da entrada, consciente de que ele ainda estava observando. O motorista abriu a porta do carro e Nina entrou, afundando no banco de couro ao lado do pai.
Marco olhou para ela, os olhos vermelhos e inchados.
— Como foi?
Nina olhou pela janela enquanto o carro começava a se mover, afastando-se da mansão. Ela girou o anel no dedo, sentindo o peso do próprio futuro.
— Foi exatamente o que tinha que ser — ela disse finalmente. — Um negócio.
Mas enquanto a mansão desaparecia na distância, Nina não conseguia parar de pensar no momento em que Matteo removeu a máscara. Na forma como ele esperou por horror e recebeu apenas curiosidade.
Na vulnerabilidade escondida sob camadas de poder e brutalidade.
E na sensação perturbadora de que talvez, apenas talvez, o monstro não fosse tão monstruoso quanto todos acreditavam.
Ou talvez ela estivesse apenas tentando se convencer disso para tornar a prisão mais suportável.
Nina não sabia.
Só sabia que em duas semanas, sua vida como Nina Russo terminaria.
E a vida como Nina Salvatore — esposa, prisioneira, mãe de um herdeiro — começaria.
Não havia mais volta.







