Após a morte trágica de sua esposa no parto, Eduardo Ferraz, um CEO poderoso e implacável, se vê diante do maior desafio de sua vida: criar sozinho o filho recém-nascido que ele acredita ser o responsável por sua perda. Enterrado em trabalho, ele não consegue se conectar com o bebê, nem lidar com a dor. Desesperado, Eduardo contrata uma babá para ajudá-lo temporariamente, sem imaginar que Sofia Carvalho, uma mulher doce, forte e determinada, será muito mais do que uma cuidadora. Sofia entra na mansão silenciosa carregando suas próprias feridas, mas aos poucos conquista o bebê... e começa a derreter as defesas do pai. Em meio a noites insones, mamadeiras e emoções represadas, nasce um laço proibido e irresistível. Mas o luto, os segredos e uma sombra do passado ameaçam esse novo começo. Será que o amor tem espaço onde antes só havia dor?
Leer másSOFIANa semana seguinte, recebemos a notificação oficial: as visitas de Isabella estão suspensas temporariamente. A juíza decidiu aguardar uma nova manifestação por parte da mãe biológica antes de permitir qualquer novo encontro com Enzo.A notícia chega como uma lufada de ar fresco depois de dias sufocantes. Eduardo solta um suspiro profundo, como se estivesse tirando um peso de toneladas das costas. Ele fecha os olhos por um instante e recosta a cabeça na parede da sala, como quem, finalmente, consegue respirar em paz.— Finalmente... — ele murmura, num tom baixo, quase em prece.Eu o observo em silêncio, com o coração acelerado. Pela primeira vez em semanas, vejo alívio em seu semblante. A rigidez nos ombros cede espaço para uma leveza que já não visitava nosso lar há muito tempo. Até mesmo Enzo, sem entender completamente o que mudou, parece sentir a diferença.Ele volta a sorrir com aquela liberdade genuína que só as crianças têm. Começa a correr pela casa com seus carrinhos e b
SOFIA Na semana seguinte, recebo uma ligação que me faz gelar por dentro. Isabella. — Podemos conversar? Sozinhas? A voz dela soa estranhamente mansa, mas minha pulsação acelera. A primeira vontade é desligar, sumir daquela ligação como se nunca tivesse acontecido. Mas algo dentro de mim — talvez um instinto de proteção, talvez curiosidade — me impede. Marcamos num café discreto, afastado de qualquer olhar conhecido. Um lugar neutro, onde memórias não pesam, mas a tensão respira no ar. Ela chega pontual. Sem maquiagem, cabelos presos num coque apressado, roupas sóbrias. Parece mais humana. Ou talvez só mais frágil. E ainda assim, minha guarda permanece alta. Cada passo dela em minha direção me faz apertar os dedos ao redor da xícara quente que tenho nas mãos. — Antes de qualquer coisa — começo, minha voz firme como consigo —, se for pra me ameaçar, provocar ou mentir, essa conversa termina agora. Ela baixa os olhos, como se minha dureza não a surpreendesse. — Não... não é iss
EDUARDOAs visitas se repetem por duas semanas. Como um relógio bem ajustado, Isabella chega pontualmente, sempre com um sorriso estudado no rosto e as mãos cheias — de presentes, doces, brinquedos coloridos e palavras cuidadosamente escolhidas. A cada vez, ela parece mais à vontade. E eu, cada vez mais desconfortável.Ela conta histórias falsas para Enzo. Diz que esteve viajando por muito tempo, explorando lugares distantes. Que sentiu saudade dele todos os dias. Que agora voltou para ficar “bem pertinho”. Como se nunca tivesse sumido. Como se não tivesse deixado um vazio gigante para trás.Cada mentira que ela solta diante do meu filho é como um tapa no rosto. A raiva cresce, uma chama silenciosa queimando dentro de mim, difícil de apagar.— Isso é alienação parental, Sofia — digo, cerrando os punhos, sentindo o sangue ferver. — Ela está manipulando ele.Sofia, sempre mais centrada do que eu, balança a cabeça, embora eu veja a tensão em sua mandíbula.— Eu sei. E vamos registrar tud
SOFIA Observar aquilo me dilacera. É como ter o coração arrancado do peito e ainda ser forçada a continuar sorrindo. Ver o menino que eu amo com cada célula do meu corpo — o meu Enzo — sorrindo, mesmo que de leve, para aquela mulher que o abandonou, me faz sentir uma dor que não tem nome. Ele é só um bebê. Não entende o que está por trás de gestos treinados ou de sorrisos falsos. Para ele, tudo ainda é cor, som, presença. E ela está ali. Isabella se esforça para parecer doce. Para parecer mãe. Mas há algo forçado demais em seus movimentos. Cada frase soa como um script. Cada tentativa de carinho, como uma obrigação. Ela segura um carrinho e faz um som com a boca, tentando chamar a atenção dele. — Vruuum... Olha o carrinho, filhote! Mas Enzo só pega o brinquedo e volta a olhar pro chão. Brinca, mas não se entrega. O corpo dele está presente, mas o coração... não. De vez em quando, ele levanta os olhinhos escuros e me procura. Me busca. Como se dissesse “tá tudo bem, mamãe?”. E eu
SOFIA A sentença provisória saiu três dias depois da audiência. Foram horas de espera angustiante. Horas em que cada segundo parecia um golpe surdo no peito. Quando finalmente chegou, a leitura da decisão foi como ouvir o próprio chão se partindo sob nossos pés. A juíza autorizou visitas monitoradas para Isabella. Uma hora por semana. Em ambiente controlado. O argumento: direito materno, laço biológico, chance de reestruturação afetiva. Na prática? Meu coração em pedaços. O medo escorrendo pelas minhas veias. Eduardo estava sentado ao meu lado quando a advogada nos contou. Primeiro, ficou imóvel. Depois, de repente, sua mão atingiu o copo que estava na mesa. O vidro explodiu no chão, estilhaçando-se como a nossa esperança de que Isabella desaparecesse para sempre de nossas vidas. — Isso é uma piada. Uma piada de mau gosto! — ele gritou, a voz rouca de raiva e desespero. Eu fechei os olhos por um momento, lutando para manter a calma. Para não deixar o pânico me engolir viva.
EDUARDO O tribunal estava gelado, o ar pesado como se cada respiração custasse mais do que deveria. As paredes revestidas de madeira escura pareciam apertar o ambiente, tornando tudo mais claustrofóbico. Quando Isabella entrou, era como se o mundo ao redor tivesse parado para olhar. Ela caminhava com passos ensaiados, usando um vestido sóbrio, maquiagem leve, um sorriso calculado nos lábios — como uma atriz se preparando para seu papel mais convincente. Ao lado dela, o advogado, um homem de olhar frio e terno caro, trazia nas mãos uma pasta repleta de mentiras. O juiz anunciou o início da audiência, e o advogado de Isabella se levantou, ajustando a gravata antes de começar seu discurso teatral. — Minha cliente foi vítima de manipulação psicológica — disse ele, a voz modulada com perfeição. — Forçada a viver sob uma pressão insana que a levou a um colapso emocional. Fugir foi sua única chance de sobreviver. Lutar agora, por seu filho, é um ato de amor... e coragem. Cada palavra er
EDUARDO O teste é feito. Dias depois, o resultado chega: compatibilidade genética confirmada. É mesmo Isabella. Sinto como se o chão tivesse se aberto sob meus pés, me tragando para um abismo escuro e sem fim. Tudo o que eu pensei saber, tudo o que lutei para reconstruir, vira pó diante da confirmação fria, cruel, impressa naquele papel que minhas mãos tremem ao segurar. Isabella está viva. E agora, legalmente, biologicamente, ela é a mãe de Enzo. O ar some dos meus pulmões. Um aperto sufocante envolve meu peito, como se mãos invisíveis tentassem esmagar o pouco de esperança que ainda me restava. Meu filho... o meu pequeno... o menino que embalei em noites sem fim, que chamei de "meu" com cada célula do meu corpo... poderia ser arrancado de mim como se eu fosse nada. Sinto a visão embaçar pelas lágrimas que ameaçam escapar. Mas me obrigo a resistir. Não agora. Não na frente de Sofia. Ouço seus passos suaves se aproximando. Sofia segura minhas mãos, apertando-as com firmeza, com
EDUARDO Na manhã seguinte, recebo uma intimação judicial. A suposta Isabella entrou com um pedido de reconhecimento de identidade e requerimento de guarda compartilhada. Sofia está ao meu lado quando leio cada linha. Meus olhos correm pelas palavras como se não quisessem aceitá-las, como se a cada sílaba meu mundo desmoronasse um pouco mais. — Isso é um pesadelo — murmuro, a voz rouca, quase sem força. Sinto o calor da mão de Sofia envolvendo a minha, um gesto que deveria me acalmar, mas só evidencia o quanto estou tremendo. Minha pele fria contrasta com a firmeza tranquila dos dedos dela. — Temos que fazer um teste de DNA. Isso vai esclarecer tudo — diz ela com delicadeza, como quem tenta puxar alguém à tona de um naufrágio. Fecho os olhos por um instante, inspirando o ar pesado que parece rasgar meus pulmões. Cada palavra dela faz sentido. Mas dentro de mim, a lógica trava uma batalha desesperada contra o medo, a raiva e a incredulidade. — E se for ela? — pergunto, a voz falh
SOFIA Volto com Eduardo para casa em silêncio. Ele não diz nada durante o trajeto, apenas dirige com os olhos fixos na estrada. Quando chegamos, Enzo já está dormindo, graças à Marlene que o cobriu de carinho e histórias durante nossa ausência. Na cozinha, coloco uma xícara de chá diante dele. Ele nem se move. — Eduardo. Olha pra mim. Ele ergue os olhos, perdidos. — E se ela nunca tivesse morrido? E se tudo fosse um plano? Arregalo os olhos. Assustada com o que acabei de ouvir. Como uma mulher abandonaria o filho recém nascido e um casamento aparentemente perfeito, assim do nada? Isso é loucura! — Um plano? De quem? Por quê? — pergunto, ainda incrédula — Não sei. Mas uma mulher não reaparece depois de mais de um ano como se nada tivesse acontecido. Isso foi planejado. Calculado. — E o corpo no hospital? Os exames? O velório? — E se alguém tivesse ajudado ela a sumir? A ideia é absurda, mas nada mais parece impossível. Ele apoia o rosto nas mãos. — Isso vai destruir tudo.