Glauco correu para o quintal.
— Stop! Gritou, em inglês. — Stop! Get out! O animal recuou. Voltou para o canil. Amália estava no chão, o vestido levantado, as pernas arranhadas, os olhos arregalados. — Você está bem? O que fazia aqui fora a essa hora? Ele perguntou, vendo sangue no rosto e nas mãos dela. — Estou bem... eu... Ela não conseguiu terminar. Rompeu em choro. Sem hesitar, Glauco a pegou no colo e a levou para dentro. Alguns empregados, acordados com o barulho, estavam na sala. Todos viram quando ele entrou com Amália nos braços. Todos ficaram imóveis ao ver aquela cena, ele sem camisa, Amália em seus braços ensanguentada. — Traga panos limpos. Pediu a Nice, enquanto deitava a garota no sofá. Amália seguia em choque. Chorava silenciosamente. O rosto misturado de lágrimas, sangue e poeira. Os cabelos longos embaraçados, cheios de grama. — Olhe para mim. Ele te mordeu? Glauco segurou o rosto dela com cuidado, examinando-a. O sangue vinha das mãos, onde o cachorro a ferira, e dos braços, arranhados pela lenha. Nice trouxe toalhas e uma bacia com água. Manoela observava à distância. — Está tudo sob controle. Podem ir. Disse Glauco aos funcionários, que saíram cochichando. — Traga a caixa de primeiros socorros até meu quarto. Pediu a Nice, recebendo as toalhas, umidas para limpar os ferimentos. Ao ouvir isso, Amália reagiu. — Estou bem, eu... — Está? Olhe suas mãos! O tom dele endureceu. — O que fazia lá fora? Tentando fugir? — Eu... ai! Ela soltou, surpresa, quando ele a ergueu de novo. — Posso andar! Minhas mãos estão feridas, não meus pés! Ela disse com um misto de raiva e angustia. — Shhh. Você é muito barulhenta! Devia ter deixado você virar jantar do cachorro. Disse, subindo com ela nos braços. No quarto, levou-a ao banheiro. Tomou a toalha, fazendo os ferimentos arderem. Seus olhos lacrimejaram, mas não reclamou. Empurrou-a para dentro do chuveiro. Inclinou-se para abrir o registro. O peito dele roçou o ombro dela. O coração de Amália parecia explodir. A água morna caiu sobre ela. Ainda assim, ofegou, assustada. Glauco viu o contorno do corpo dela através do tecido encharcado. Desviou o olhar imediatamente. — Pegue o sabonete e o shampoo. Lave-se bem. Eu vou buscar a toalha. Saiu. Respirava fundo, confuso com a própria reação. Nice o aguardava no corredor com um vestido velho e a caixa de primeiros socorros. — Pode levar isso embora. Pedi roupas novas para ela. Disse ele, recusando o vestido. Na cozinha, Manoela andava inquieta. Queria saber quando Amália desceria, mas também temia que contasse que fora ela quem a mandara buscar lenha. Glauco voltou ao quarto com a toalha e a caixa. Esperou um momento. Estendeu a toalha pela porta entreaberta. — Pegue. Mas ela não apareceu. Curioso, abriu a porta. Viu-a agachada no canto do box. — O que está fazendo? Eu mandei tomar banho. Irritou-se. — Você é tão irritante! A puxou para ficar em pé. Ela tentava cobrir-se com os trapos, mas ele os retirou, até que restasse apenas a peça íntima. — Lave-se, ou eu mesmo farei. Disse, deixando a toalha sobre a bancada e saindo. Amália se lavou em silêncio. Os ferimentos ardiam. O rosto queimava de vergonha e raiva. Terminou, enrolou-se na toalha e saiu, tremendo. Glauco a olhou. O cabelo ainda úmido, o rosto limpo, as bochechas coradas. — Não precisa se envergonhar. Não tem nada aí que eu já não tenha visto. Disse, entregando-lhe uma sacola. Virou-se. — Vista-se. Quero ver os ferimentos. Nervosa, ela pegou um vestido branco simples com flores amarelas. Não havia sutiã, apenas calcinhas de algodão. Vestiu-se rapidamente. — Pronta. Disse, a voz baixa, quase sumindo. Ele se virou. Aproximou-se. Com o indicador, ergueu seu queixo. — Me dê sua mão. Ela estendeu, relutante. Ele examinou. Havia cortes e perfurações nos dedos. Abriu a caixa. Fez os curativos em silêncio. — Por que estava fugindo? Perguntou de repente. — Aqui não está bom o suficiente para você? — Eu não estava fugindo. Fui pegar lenha. A lareira... — Lenha? À noite? Que estupidez! Temos empregados para executar este tipo de serviço! — E qual é o meu serviço, então? Rebateu. Os olhos brilhando de raiva e cansaço. — Você terá muitos... mas buscar lenha à noite não será um deles. Disse ele, fechando a caixa. Ficaram em silêncio. Os olhos azuis dela, intensos, o desafiavam. As bochechas e pálpebras ainda vermelhas do choro. O cabelo solto, um pouco bagunçado. E aquele vestido branco... Por um breve instante, ele a observou em silêncio e saiu. Glauco, já no corredor, ouviu a voz dela ecoar atrás de si. — Vou voltar para o meu quarto! Amália disse alto, quase como um desafio. Ele parou. Por um instante, lutou contra o impulso, mas cedeu. Voltou ao quarto, e ao cruzar novamente aquela porta, sentiu tudo que tentava conter se agitar por dentro. Ela continuava ali, de pé, agarrando o orgulho como quem segura uma lança invisível. Quanto mais ela o desobedecia, mais vontade ele sentia de calar seus lábios com um beijo. E, naquele momento, seu olhar caiu sobre seus pequenos lábios, não passou vontade. Se aproximou rápido, deslizou uma das mãos pelo seu pescoço esguio, alcançando sua nuca a mantendo firme, tomou seus lábios, com um beijo quente e urgente. O choque a deixou imóvel por um segundo. Mas, no momento seguinte, seus punhos se fecharam e ela começou a bater contra o peito dele. Glauco, impaciente, segurou seus pulsos com a outra mão. O beijo aprofundou-se, habilmente ele explorou seus lábios quentes e macios, a soltando em seguida. Amália sentia o corpo inteiro em ebulição, uma onda de sensações desconhecidas a invadia. O coração pulsava acelerado, as mãos tremiam, o ar parecia faltar. Glauco também parecia fora de si. Havia se aproximado para intimidá-la, mas fora ele quem acabou vencido por um desejo que tentava reprimir. Então, antes que se deixasse levar, se afastou. Respirava com dificuldade, como se tivesse acabado de sair de uma luta. Amália permaneceu com os olhos fechados, os lábios entreabertos, o peito subindo e descendo de forma inquieta. Quando abriu os olhos, encontrou o olhar dele sobre ela. Num gesto impulsivo, ergueu a mão e o atingiu com um tapa.