5- Criada pessoal.

"Traga sapatos para a nova criada, número 35. Roupas também. Vestidos simples, pequenos. Você a viu. É magra."

Glauco digitava a mensagem ao seu assistente.y

Depois de terminar com os lençóis, Amália caminhou pelo quintal. Parou diante da pequena horta. Puxou algumas ervas daninhas que encontrou. A sombra das árvores salpicava seu corpo de luz e frescor.

Retornou à cozinha e ajudou Nice com o almoço.

Na hora de servir, Manoela, que estivera sumida, se apressou em se voluntariar.

Quando entrou com os pratos, viu Glauco descendo a escada. Seus olhos brilharam. Ele parecia inalcançável. O olhar frio e arrogante era a assinatura dele.

Ela observou-o caminhar em direção à sala de jantar. O coração acelerou. Passou a dispor os talheres com mais cuidado, para ficar mais tempo perto dele.

— Onde está a criada? Ele perguntou com sua voz fria, ao se aproximar da mesa.

— A que o senhor trouxe?

— Sim. Eu chamo mais alguém aqui de “criado”? Glauco perguntou, direto.

— Não, senhor. Ela está na cozinha. Respondeu, um pouco frustrada.

— Chame-a. Quero que ela me sirva.

Manoela fechou a cara e seguiu até a cozinha.

— Criada? É para você ir servir o senhor. Disse de forma arrogante.

— O nome dela é Amália! A corrigiu Nice, incomodada com o tom da jovem.

— Tudo bem. Disse Amália, em paz. Pegou uma travessa e seguiu para a sala de jantar.

Quando ela se aproximou da mesa, colocou a travessa em silêncio. Sentia o olhar de Glauco sobre ela.

Ele observava seus pés. Pequenos, brancos, os dedos delicados. Quando percebeu que ele os encarava, encolheu-os instintivamente, constrangida.

— Ainda descalça? Quer que pensem que maltrato meus serviçais? Glauco a provocou.

— Não sou sua funcionária. Sou sua criada, uma vira-latas. Não preciso de sapatos! Respondeu, olhando-o nos olhos.

Glauco mergulhou nos olhos azuis dela, límpidos, intensos.

— Qual é o seu nome? Perguntou, de repente, percebendo que nem isso sabia.

— Não precisa saber meu nome. Basta me chamar de vira-latas. Respondeu, virando-se nos calcanhares e deixando-o atônito.

Amália seguiu calada. Voltou à cozinha, pegou outra travessa, retornou. Fez isso três vezes sem trocar mais que um olhar com ele. Quando estava prestes a sair novamente:

— Sente-se! Ele ordenou.

— Vou comer na cozinha, com os outros.

— Você não disse que é minha criada? Então faz o que eu mando. Disse ele, o cenho franzido.

Amália puxou uma cadeira afastada.

— Aqui. Indicou ele, apontando a cadeira ao seu lado.

O coração dela acelerou. Estava um pouco arrependida de tê-lo provocado. Caminhou até a cadeira indicada e se sentou.

— Coma. Disse ele, pegando uma travessa com carne e oferecendo a ela.

Antes que ela pudesse pegar um pedaço, Manoela apareceu.

— Amália? Dona Nice está te chamando.

Nice, de fato, estava preocupada, mas não fora ela quem pediu que Manoela a chamasse. A garota queria afastá-la de Glauco.

Ao ouvir seu nome, Amália olhou para Glauco e viu o leve esboço de satisfação no rosto dele, terminando de colocar a carne em seu prato para não volta-la à travessa. Começou a recolher o garfo e a se levantar, mas...

— Fique. Coma comigo. É uma ordem. Disse ele, sem desviar os olhos.

Manoela, contrariada, recebeu apenas um olhar gelado de Glauco, e saiu, irritada.

As mãos de Amália tremiam enquanto tentava cortar a carne em seu prato.

— Está com medo? Ele perguntou, observando as mãos dela. — Estava tão corajosa até agora... o gato comeu sua língua?

— O senhor não vai comer? Sua comida vai esfriar. Ela devolveu, tentando manter a voz firme.

Glauco teve vontade de rir. Ela era teimosa. A língua era afiada, mas suas mãos a entregavam.

Pegou uma porção de comida, serviu o próprio prato e também o dela. Seu apetite, de repente, estava melhor.

Depois do almoço, Glauco saiu. Amália ficou recolhendo a louça. As pernas doíam. Passara o tempo todo tentando não tremer. Na cozinha, Manoela estava carrancuda num canto.

— Ele almoçou? Perguntou Nice, olhando para as travessas.

— Sim. Amália respondeu.

— Há tempos ele não comia tão bem. Ela comentou, contente.

Manoela torceu o nariz.

Mais tarde, Danilo apareceu e deixou duas sacolas com Nice.

— O que é isso? Ela perguntou.

— Encomenda do patrão. Respondeu ele.

Manoela viu o nome da loja. Era do centro. Roupas finas.

— Vou deixar no quarto dele. Nice disse.

Danilo olhou em volta.

— E a garota?

— No quintal, recolhendo roupa. Aqui não é hotel. Manoela respondeu, amarga.

Danilo não disse nada, mas lançou a ela um olhar curioso. Não gostava de sua arrogância, mas achou interessante..

Saiu e viu Amália no quintal, tirando lençóis do varal e os colocando em uma cesta de vime.

Ela trabalhou o dia inteiro. Parecia que Manoela lhe passava tudo o que era dela. Mas Amália não reclamava.

Já estava deitada quando a porta se abriu. Ela se sentou rapidamente, cobrindo-se com o lençol.

— Pediram para você buscar lenha para lareira. Disse Manoela, na porta.

— Pediram ou você está mandando? Amália respondeu com naturalidade. Estranhava aquele rancor todo.

— Está se achando especial? Todos aqui trabalham. Você nem é uma de nós.

— Nunca disse que era. Replicou Amália, levantando-se e passando por ela.

Lá fora, pisou descalça na grama gelada. A casa dormia. O vento colava o tecido leve da camisola na sua pele. A lua cheia iluminava o jardim.

Amália caminhou até o galpão da lenha. Não era longe. Mas, ao voltar com a lenha nos braços, ouviu um rosnado.

Parou. Olhou por cima do ombro.

Glauco chegou tarde. Jantara com comerciantes após uma reunião longa. A casa estava silenciosa.

Subiu. Viu as sacolas sobre a cama. Roupas que pedira para Amália.

Tomou banho. Vestiu apenas a calça do pijama. Com uma toalha no ombro, que usava para secar os cabelos, desceu para buscar uma bebida na adega.

Foi quando ouviu um grito. Latidos. Rosnados. O cachorro.

— Não! Passa! Passa! Amália gritava.

Soltando a lenha, tentou fugir, mas o cão pulou sobre ela.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP