Lorenzo Vasconcellos comanda o império da V-Tech Global, a mais poderosa empresa de tecnologia e inovação da América Latina, responsável por revoluções no mercado de inteligência artificial e sistemas de segurança de alto nível. Bilionário, implacável, e completamente avesso ao amor, ele tem um único objetivo: manter o trono que conquistou com sangue, suor e estratégias geniais. Mas o ultimato de seu pai muda tudo: ou ele se casa, ou perde o comando da empresa. Desesperado para manter seu legado, Lorenzo enxerga uma “solução rápida” na figura mais improvável: Helena, a jovem faxineira da empresa. Invisível para todos, subestimada, sempre vestida com uniformes simples e olhar baixo, ela esconde uma beleza estonteante, uma mente afiada e um passado cheio de dores silenciosas. O que começa como uma proposta fria e impessoal se transforma em um acordo inesperado — um casamento de fachada, com limites bem definidos... até que os sentimentos começam a transbordar.
Leer másHelena Narrando...
Ligo o chuveiro e deixo a água escorrer pelo meu corpo como se isso fosse o bastante pra aliviar o peso que carrego nos ombros. Já são dois dias sem dormir direito. Meu corpo tá exausto, minha mente mais ainda. Mas não tem como descansar quando a gente ouve a própria mãe gemer de dor no quarto ao lado. Quando a gente fecha os olhos e sente medo de não ouvi-la mais. Medo real. Medo de que, em algum momento da madrugada, ela pare de respirar... e eu nem perceba. Me chamo Helena. Tenho vinte e um anos. E essa é, sem dúvida, a fase mais difícil da minha vida. Minha mãe sempre foi minha base, minha fortaleza, minha inspiração. Uma mulher que enfrentou a vida com coragem, mesmo quando ela foi dura demais. Criou uma filha sozinha, limpando chão de empresas que não a viam. A mais recente delas — e a maior — foi a V-Tech Global, o império da tecnologia e inovação na América Latina. Uma empresa gigante, onde cada andar parece saído de um filme futurista, onde robôs circulam pelo saguão e drones entregam correspondência. Um lugar que dita tendências no mercado de inteligência artificial. E onde o dono, Lorenzo Vasconcellos, um bilionário arrogante e inacessível, reina do alto da sua torre de vidro. Foi lá que minha mãe trabalhou por cinco anos. Até que a doença apareceu. Ela começou a sentir dores, uma fraqueza estranha, e a perder peso muito rápido. A gente achou que era estresse, mas os exames revelaram outra coisa. Um câncer agressivo. Ela tentou continuar, tentou fingir que estava tudo bem... até o corpo dela não permitir mais. E foi aí que eu larguei tudo. Faltava tão pouco pra me formar em ciências exatas. Eu era a melhor da turma, bolsista, elogiada pelos professores. Eu amava aquilo. Sempre fui apaixonada por números, por análises, por montar estratégias. Sempre sonhei em ter minha própria empresa, ou quem sabe, ocupar um cargo de liderança em uma grande corporação. Mas quando vi minha mãe definhar, quando as contas começaram a se acumular, quando os remédios passaram a ser mais importantes do que qualquer diploma... eu soube o que tinha que fazer. Assumi o lugar dela na faxina. Hoje, sou eu quem limpa os corredores da V-Tech Global. Uma loira de olhos azuis, pele branca e uniforme cinza, andando de cabeça baixa entre robôs e CEOs. Sou invisível para todos ali. E talvez isso seja o melhor. Finalizo meu banho. Enxugo o corpo com rapidez e saio do banheiro. Ainda são cinco e meia da manhã. Puxo o cabelo num coque frouxo, coloco o uniforme, passo um perfume e volto para o banheiro, escovar meus dentes. A casa tá em silêncio, exceto pelos suspiros baixinhos vindos do quarto dela. Pego minhas coisas, e vou até lá. Abro a porta devagar. A luz do corredor ilumina o rosto dela. Tão pálido, tão diferente da mulher cheia de energia que eu cresci admirando. Ela tá deitada de lado, tentando dormir. Mas quando ouve meus passos, abre os olhos lentamente. — Já vai, filha? — a voz dela é fraca, quase um sopro. — Tô indo, mãe. Só passei aqui pra ver como você tá... — falo me aproximando. Ela sorri de leve, mas é um sorriso triste. Me sento na beirada da cama e seguro a mão dela. Os dedos estão gelados. — Você devia estar na faculdade agora... — ela murmura com os olhos cheios de lágrimas. — Já falamos sobre isso, dona Marisa. Eu tô onde preciso estar. — Você tinha um futuro brilhante, Helena... — Ainda tenho — respondo, tentando manter a firmeza na voz. — Só precisei ajustar o percurso. Não tem problema. Eu dou um jeito. Sempre dei. Ela vira o rosto pro travesseiro, e eu percebo quando uma lágrima escapa. — Eu odeio te ver assim, mãe. Sabe disso, né? — digo baixinho, passando a mão no cabelo dela. — Mas eu tô aqui. E enquanto eu estiver aqui, você não vai passar necessidade. Eu prometo. — Você tá cansada, filha. Seus olhos estão fundos... você mal come, mal dorme... — Eu dou conta. Só preciso que você continue lutando. Que tome os remédios direitinho. Que não desista. Ela fecha os olhos por um instante, tentando conter a emoção. — Eu não queria isso pra você... — Eu também não queria que a senhora ficasse doente. Mas aconteceu. E agora a gente se vira. Como sempre fez. Ficamos em silêncio por um tempo. Eu sento mais perto, passo os dedos pelas mãos dela com delicadeza. — Lembra quando a senhora dizia que eu era boa demais com os números? Que eu devia ser cientista? Ela ri baixinho, tossindo em seguida. — Lembro sim. Você sempre foi esperta. Desde pequena fazia contas de cabeça melhor do que eu com calculadora. — Um dia... quando tudo isso passar... eu volto pra faculdade. Prometo. Vou pegar meu diploma, montar meu negócio, deixar a senhora orgulhosa. — Já sou. Mais do que nunca. Você é a minha maior vitória, Helena. Meus olhos se enchem d’água, mas eu não deixo cair. Não na frente dela. — Vai dar certo, mãe. Confia em mim. Ela assente devagar. Pego o copinho com os comprimidos e ajudo ela sentar para tomar os medicamentos. Ela engole com dificuldade, mas não reclama. — Eu volto depois do meu turno, tá? — falo, beijando a testa dela. — Vai com Deus, minha filha. — Amém mãezinha... fica com ele... Me levanto, ajeito o cobertor com carinho e saio do quarto. Na cozinha, pego uma maçã — vai ser meu café da manhã. Checo se tô com o crachá e a marmita. Tranco a porta e saio de casa. Mais um dia começa. Mais um dia invisível numa empresa onde sonhos nascem... e onde os meus, por enquanto, dormem em silêncio. Mas eles ainda estão vivos. E um dia, eu vou acordá-los. Por ela. Por mim. Isso eu garanto. Contínua...Lorenzo Narrando... ( Dia Seguinte ) Acordei antes mesmo do despertador tocar. Levantei num movimento automático — sem hesitar, sem pensar. Fui direto para o banheiro, entrei no box. Liguei o chuveiro e entrei, a água quente caindo com força, dissipando o que restava da noite anterior. O vapor tomou conta do vidro e, por alguns segundos, deixei o som da água dominar meus pensamentos. Mas, mesmo assim, ela apareceu. Helena. A imagem dela, serena, subindo as escadas sem olhar pra trás, continuava me assombrando de uma forma irritante. Não fazia sentido algum. De todas as mulheres que já passaram pela minha vida — socialites, modelos, executivas — nenhuma conseguiu me tirar o foco por mais de cinco minutos. Helena, por outro lado, consegue me desestabilizar sem dizer uma palavra. Esfreguei o rosto com força e terminei o banho, mais rápido do que pretendia. Saí do banho, peguei a toalha e segui até o closet. O terno preto da Armani já estava separado — gravata em tom cinz
Lorenzo Narrando... Tudo que aconteceu ainda ecoava na minha mente quando voltei para o salão principal. Respirei fundo, ajeitei o paletó e deixei o rosto retomar a expressão neutra — aquela que ninguém consegue decifrar. A máscara que uso há tantos anos que já se confunde com quem eu sou. Pelo menos, por alguns meses, Nicolle estará fora de cena. Nenhum drama, nenhuma manchete escandalosa, nenhuma ligação fora de hora chorando ou ameaçando expor algo à imprensa. A viagem com tudo pago e o cartão sem limite foram o suficiente pra acalmar o furacão — e, pra mim, aquilo não é nada. Literalmente. Ela sempre teve um preço. Todos têm. E o dela, por mais alto que pareça, ainda é baixo comparado ao custo de um escândalo envolvendo meu nome e a V-Tech. A noite já ia se encerrando. Os garçons recolhiam as taças, as luzes mais suaves criavam uma penumbra elegante, e os últimos convidados se despediam com abraços protocolares e sorrisos falsos. Meu pai, já tinha ido embora — provavelme
Heitor Narrando... O som da música e das conversas ainda ecoava na minha mente quando deixei o salão principal da V-Tech. A noite tinha sido grandiosa — como todas as que levam o nome Vasconcellos no topo. Os holofotes, os brindes, as manchetes que viriam pela manhã... tudo como planejado. Mas o que me deixou verdadeiramente satisfeito não foram os números, nem as palmas, nem o brilho do logotipo refletido nos cristais — e sim ver meu filho, Lorenzo, conduzindo tudo com a postura que sempre desejei que ele tivesse. Firme. Implacável. No controle. E, ao lado dele... Helena. A moça de olhar sereno, que parecia deslocada no meio de tanto ouro e arrogância. Mesmo assim, sustentou com uma elegância que não se ensina em nenhuma escola. Quando ela falava, havia doçura. Quando sorria, havia sinceridade. E por um momento, olhando para os dois sob os flashes, eu realmente acreditei que o destino podia estar tentando mostrar algo ao meu filho — algo que o dinheiro nunca vai compr
Helena Narrando... O som dos flashes ainda ecoava nos meus ouvidos, mesmo depois que as câmeras se abaixaram e os jornalistas começaram a se dispersar. O salão principal da V-Tech parecia respirar outro ar — denso, perfumado, cheio de elogios disfarçados e sorrisos ensaiados. Mas eu... eu ainda tentava entender o que tinha acabado de acontecer. Por um momento, me peguei olhando para o homem ao meu lado — Lorenzo Vasconcellos — como se estivesse diante de uma figura que o mundo inteiro admirava, mas que poucos realmente conheciam. Ele permanecia firme, postura impecável, terno perfeitamente alinhado, o olhar calculado. A elegância dele não vinha só das roupas ou da presença, mas daquela serenidade fria que exalava controle. Nada o abalava. Nenhuma pergunta o deixava desconfortável, nenhum flash o fazia piscar. Era como se ele tivesse nascido para estar sob os holofotes, enquanto eu ainda me sentia uma intrusa tentando lembrar como respirar. Ainda assim... era impossível neg
Lorenzo Narrando... Por um instante, ninguém se moveu. Nicolle parada à frente da porta, o olhar faiscando de raiva e orgulho ferido; Gabriel, com aquela expressão mista de culpa e tédio, como se quisesse estar em qualquer outro lugar do mundo. E eu, no meio, tentando manter o controle — como sempre. Pisquei uma vez, respirei fundo e falei com firmeza: — Gabriel, deixa a gente a sós. Ele ergueu uma sobrancelha, o canto da boca se curvando num meio sorriso debochado. — Com o maior prazer. Passou por Nicolle devagar, quase roçando o ombro nela de propósito, e saiu, fechando a porta atrás de si. O clique metálico ecoou no silêncio. Fiquei apenas olhando pra ela por um momento. Ela cruzou os braços, os olhos ainda molhados, mas o queixo erguido. — Vai me explicar ou vai continuar me olhando como se eu fosse um problema a resolver? Dei um passo à frente, mantendo a voz baixa. — Você ouviu, Nicolle. Ouviu tudo. — Ouvi parte — rebateu. — E quero ouvir o resto da sua
Lorenzo Narrando... A coletiva terminou com os últimos flashes estourando diante do palco. O som dos microfones sendo recolhidos, o burburinho dos jornalistas e o tilintar das taças formavam uma espécie de ruído branco, abafado, controlado — do jeito que eu gosto. Helena ainda mantinha o sorriso sereno, a postura ereta, mesmo depois de meia hora sob os holofotes. Impressionante como ela consegue sustentar a aparência de calma. Nem mesmo quando Heitor anunciou publicamente o casamento, ela vacilou. Mas eu percebi o leve tremor nas mãos dela quando os fotógrafos se aproximaram demais. Olhei de lado. — Fique um minuto com o meu pai — pedi, num tom firme, baixo. — Eu já volto. Ela apenas assentiu. — Claro. Heitor já a envolvia em mais uma conversa sobre “a nova geração dos Vasconcellos”. E eu aproveitei o momento pra descer do palco. O ar do salão ainda estava carregado de perfume, champanhe e disfarces. Eu precisava respirar. E, acima de tudo, resolver o que vinha martelando n
Último capítulo