Mundo de ficçãoIniciar sessãoApós a morte repentina do marido, Helena mergulha em um luto doloroso que parecia não ter fim. Mas, ao vasculhar lembranças e documentos deixados para trás, ela descobre segredos obscuros que transformam sua dor em choque: traições, mentiras e uma vida dupla que ele manteve escondida durante anos. Agora, entre o peso da perda e a fúria da verdade revelada, Helena precisa reconstruir sua história, enfrentando não apenas a ausência do homem que amava, mas também a decepção de quem ele realmente foi.
Ler maisA manhã estava envolta em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo som de folhas secas sendo levadas pelo vento. O céu, cinzento e baixo, parecia pesar sobre a cidade, refletindo a dor que Helena sentia. Cada passo até o cemitério era como caminhar sobre brasas, cada respiração uma luta. O cortejo se movia lentamente, e Helena mal podia enxergar o caixão entre as flores brancas e lilases, lírios e crisântemos cuidadosamente arranjados. O perfume era forte demais, quase sufocante, mas nada podia competir com o vazio que crescia dentro dela.
As mãos tremiam enquanto segurava o lenço, e cada abraço de condolência parecia distante e irrelevante. A voz do padre falava de fé, de consolo, de esperança, mas Helena não ouvia. Cada palavra soava vazia, porque o que ela precisava não eram palavras; era Daniel. O homem que jurava amor eterno, que prometia estar ao seu lado para sempre, agora estava ali, imobilizado, coberto de terra. A realidade esmagadora se impôs de forma brutal: ele se fora, e com ele, parte da própria vida de Helena.
Enquanto o caixão era baixado, o coração dela parecia romper em mil pedaços. Ela tentou segurar o choro, mas um soluço silencioso escapou. — Não… não leva ele de mim! — murmurou, a voz embargada, quase inaudível. Sentiu-se como uma criança perdida, incapaz de compreender que nada poderia mudar o destino que se consumara. A cada pá de terra que caía sobre o caixão, sentia que enterravam também suas memórias, suas certezas, sua própria identidade.
Após a cerimônia, todos se dispersaram, deixando Helena sozinha diante da sepultura recém-fechada. A cruz improvisada com o nome dele parecia mais cruel do que nunca. Ela tocou a madeira fria, buscando um calor impossível, um contato que pudesse trazer algum conforto. Mas a realidade era implacável: ele não voltaria. O coração dela doía como se fosse arrancado, e o ar parecia faltar, comprimindo seus pulmões.
Ao voltar para casa, cada cômodo parecia gritar sua ausência. O perfume dele ainda pairava pelo ar, impregnado nas almofadas do sofá, nas roupas cuidadosamente dobradas, nos livros sobre a estante. Mas, ao contrário de antes, o cheiro que antes trazia conforto agora era tortura, lembrando que a presença que ela amava havia desaparecido para sempre. Helena jogou a bolsa no chão, deixando o corpo ceder à exaustão. Afundou no sofá, abraçando um travesseiro, sentindo a sensação sufocante de solidão.
Nos dias seguintes, o silêncio da casa tornou-se ensurdecedor. Helena tentava ocupar a mente com tarefas simples, mas cada canto da casa falava de Daniel, de memórias que agora eram dolorosas. Uma noite, enquanto remexia entre algumas coisas dele — cartas, fotos, objetos — encontrou uma pequena chave que nunca havia visto. A curiosidade, misturada a uma sensação estranha de pressentimento, dominou-a. Talvez fosse apenas mais um objeto sem importância, mas algo dentro dela dizia que não.
A chave girou facilmente na pequena gaveta metálica que ela sempre suspeitara ser secreta. Quando a abriu, seu coração quase parou. Havia pilhas de papéis, cadernos, envelopes, fotos cuidadosamente guardados. Cada item parecia carregado de intenções ocultas, como se Daniel tivesse planejado minuciosamente a vida que escondia de todos.
Pegou o primeiro caderno. Folheou as páginas e encontrou nomes, datas, locais e descrições de encontros. Carly, Marina, e outras mulheres que Helena não conhecia, mas que Daniel aparentemente mantinha em sua vida há anos. A dor da traição era tão intensa que ela mal conseguia respirar. Mas, à medida que continuava, percebeu que havia algo ainda mais profundo: Daniel não estava apenas traindo-a. Ele estava organizando uma vida paralela, fria, calculista, que ia muito além do que ela podia imaginar.
Ela abriu envelopes e encontrou fotos dele em hotéis com outras mulheres, documentos de movimentações financeiras suspeitas, recibos que não batiam com suas lembranças de viagens ou contas. Cada página rasgava um pouco mais sua confiança, deixando apenas escombros. O homem que ela amava havia sido, talvez, um completo estranho.
Enquanto analisava mais fotos e documentos, Helena percebeu algo que fez o sangue gelar: havia anotações sobre pessoas que ela conhecia — amigos, colegas de trabalho, vizinhos. Ele documentava horários, hábitos, observações detalhadas sobre cada um. Não se tratava apenas de uma vida secreta; era como se ele tivesse um mundo inteiro de manipulação e controle escondido atrás da fachada do marido perfeito.
Helena sentou no chão, abraçando os joelhos. O peso do choque, da dor, da raiva e da incredulidade a esmagava. As lágrimas escorriam sem controle. Cada novo segredo que surgia parecia confirmar que ela não conhecia o homem com quem compartilhara anos de vida. Cada descoberta era uma punhalada no coração já dilacerado.
O pior ainda estava por vir. Entre os papéis, Helena encontrou um envelope endereçado apenas a “A.”, com bilhetes de ameaça velada, instruções codificadas e registros que indicavam que Daniel não apenas escondia amantes; ele estava envolvido em algo perigoso. Havia menções a transações financeiras obscuras, encontros secretos em lugares isolados e contatos com pessoas de intenções duvidosas. Um frio gélido percorreu sua espinha. Quem era “A.”? O que Daniel havia feito para se envolver em algo tão perigoso?
A casa, antes silenciosa, agora parecia sufocante. Cada sombra se transformava em algo ameaçador, cada som amplificado pelo silêncio ensurdecedor. Helena se sentiu pequena, vulnerável, traída não apenas pelo homem que amava, mas também pela própria vida que ela acreditava conhecer. Ela percebeu, com horror, que Daniel tinha duas vidas: uma ao lado dela, perfeita e segura; outra, obscura, fria e calculista.
Horas se passaram. Helena permaneceu sentada no chão do escritório, rodeada pelos segredos que derrubaram seu mundo. Cada lágrima caía pesada, cada soluço era um eco da traição. Ela sentia que nada poderia trazê-lo de volta, nem apagar a dor, nem restaurar a confiança. O homem que amava estava morto, mas a verdade, cruel e cortante, permanecia viva diante dela.
Naquele instante, Helena compreendeu que não havia volta. A mulher ingênua que confiara cegamente tinha morrido junto com a imagem perfeita de Daniel. A que restava agora era alguém ferido, marcado pelo luto, pela traição e pelos segredos que começava a desvendar. E, pela primeira vez, ela sentiu um fio de determinação surgindo no meio da dor: precisava saber toda a verdade, mesmo que ela fosse insuportável.
O luto tinha se transformado em raiva, medo e necessidade de respostas. Helena sabia que estava apenas no começo de uma jornada que revelaria mais do que jamais imaginara, e que cada nova descoberta poderia abalar sua alma ainda mais. Mas, no fundo, uma certeza se formava: ela sobreviveria, não importa o preço.
Capítulo 121 – Ecos da CriaçãoO som da chuva ainda ecoava sobre o telhado metálico do galpão abandonado. Daniel continuava ali, imóvel, diante dos fragmentos do dispositivo destruído que Helena havia esmagado.O silêncio agora não era vazio — era pesado, denso, quase físico.Ele abaixou-se devagar e recolheu um dos pedaços. O pequeno chip piscava uma última luz azul antes de se apagar por completo.Daniel o observou com um misto de fúria e fascínio.— Ela rompeu o controle... — murmurou. — Incrível. Inaceitável... e fascinante.Caminhou até uma bancada repleta de equipamentos, conectando o chip a um monitor antigo. O sistema demorou alguns segundos para responder, mas logo uma interface surgiu: linhas de código, pulsando em sequência.O rosto de Daniel se iluminou pela luz da tela.— LUZ-Δ se desconectou... mas a matriz permanece ativa. — Ele sorriu, um sorriso lento e doentio. — O código vive em cada um deles.Ele abriu uma gaveta secreta. Dentro, dezenas de fichas metálicas, cada u
Capítulo 120 – O Jogo da VerdadeA sala estava mergulhada em uma penumbra quase sufocante. O som das gotas de chuva escorrendo pela janela era o único ruído que quebrava o silêncio. O relógio na parede marcava três e vinte da manhã, mas o tempo ali dentro parecia ter parado — congelado no instante em que Helena entrou.Daniel estava sentado na penumbra, imóvel, com as mãos cruzadas sobre o colo. O rosto, iluminado por uma lâmpada fraca, mostrava um sorriso calmo, quase paternal.Ele sempre soubera como parecer inofensivo.Helena parou a poucos metros dele. Seu corpo tremia, mas não de medo — de raiva. De lembrança. De uma dor que agora tinha nome.— Finalmente — disse Daniel, com uma voz suave demais para aquele momento. — Eu sabia que você viria. Sempre soube que não resistiria à verdade.Helena respirou fundo.— Eu vim porque quero ouvir da sua boca. Quero que diga tudo. O que você fez comigo.Daniel se levantou devagar. O som das botas dele ecoou pelo chão de concreto.— Eu não fiz
Capítulo 119 – O Reflexo de HelenaO vento da madrugada batia forte contra as janelas do quarto, fazendo-as vibrar como se o próprio mundo estivesse tentando atravessar o vidro. Helena estava ali, sentada no chão frio, de frente para o espelho rachado que havia pendurado há meses, quando ainda acreditava que o reflexo mostrava apenas o que estava fora — não o que morava dentro dela.Agora, cada rachadura refletia uma versão diferente de si mesma. Fragmentos. Ecos de memórias que ela não lembrava de ter vivido, mas que vinham à tona como ondas de um mar que ela não podia controlar.Ela fechou os olhos e sentiu as lágrimas queimarem, escorrendo sem permissão.— Quem eu sou? — sussurrou, com a voz trêmula, quase sem som.As palavras ecoaram na escuridão, e por um instante, ela teve a sensação de ouvir outra voz responder — uma voz antiga, fria, distante."Você sempre soube, Helena. Sempre soube o que era capaz de fazer."Ela se levantou num sobressalto, ofegante. O coração batendo tão fo
Capítulo 118 — O Último Jogo de RicardoA manhã amanheceu fria e enevoada, como se o mundo quisesse apagar as cinzas da noite anterior. O corpo de Ricardo havia sido removido pelos peritos, e a área agora estava cercada por fitas amarelas e policiais uniformizados. O eco dos passos de Helena soava oco entre as ruínas.Ela caminhava devagar, os olhos ainda fixos no túnel parcialmente destruído, o lugar onde o pesadelo parecia finalmente ter terminado. Mas havia algo em seu peito — uma sensação incômoda, como se o fim fosse uma ilusão.Miguel, com o ombro enfaixado, se aproximou dela.— Os agentes disseram que ainda vão levar dias para limpar tudo — comentou ele, com a voz rouca.Helena não respondeu. Continuou olhando o chão, onde uma mancha escura ainda marcava o ponto em que Ricardo havia caído.— Você não acredita que acabou, não é? — perguntou ele, finalmente.Helena balançou a cabeça.— Não... Ricardo era esperto demais. Ele não deixaria tudo acabar assim.Miguel suspirou, olhando
Capítulo 117 — Ecos de GuerraO vento soprava frio naquela madrugada, cortando o ar como lâminas invisíveis. A escuridão dominava o vale, e o silêncio era quase absoluto — exceto pelo som distante de motores, vindo da estrada. Miguel e Helena estavam em um carro preto, parados no alto de uma colina, observando o horizonte com atenção.O rosto de Helena estava sério, os olhos fixos no nada. Desde o último ataque de Ricardo, ela não conseguia descansar. A sensação de que ele ainda estava por perto, de que os observava, corroía sua mente como uma ferida aberta.— Está pronto? — perguntou ela, sem tirar os olhos da estrada.Miguel assentiu, ajustando o colete tático. — Pronto não é bem a palavra, mas... é hora de acabar com isso.Helena respirou fundo. — Hoje ele não escapa.Eles desceram do carro e caminharam em direção ao velho armazém abandonado, onde os últimos rastros de Ricardo haviam sido detectados. Clara e Tiago já os esperavam lá dentro, junto com outros aliados. A tensão no ar
Capítulo 116 — Ecos do AmanhãA manhã nasceu silenciosa, como se o mundo temesse quebrar a calma que pairava sobre o ar. Depois de tantas batalhas, perdas e revelações, Helena sentia o peso do tempo em seus ombros — um cansaço que não era físico, mas da alma. O vento trazia o cheiro da chuva distante, e ela sabia que aquele dia seria diferente.Miguel a observava da varanda, os olhos marejados pela lembrança do que viveram e do que ainda temiam enfrentar. Ele se aproximou devagar, tocando-lhe o ombro.— Você não dormiu de novo, não é?Ela balançou a cabeça.— Não dá pra dormir quando o passado ainda grita dentro da gente, Miguel.Ele a abraçou por trás, o corpo dela encaixando-se no dele como sempre fora. Mesmo em meio ao caos, o toque dele ainda era o refúgio mais seguro que ela conhecia.— O passado não manda mais em nós — disse ele, firme, como quem tenta convencer a si mesmo também. — Ricardo pode estar solto, mas agora estamos preparados.Helena respirou fundo, olhando o horizont





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