Em uma vila esquecida pelo tempo, onde as lendas caminham ao lado dos vivos e as noites de lua cheia são regidas pelo medo, Elena, filha de um curandeiro, é guiada por um chamado misterioso que a leva ao coração proibido da floresta. Lá, ela encontra Lucas, um forasteiro marcado por uma maldição ancestral: ele é um lobisomem, dividido entre o homem que deseja ser e a fera que habita seu sangue. Quando uma antiga profecia ameaça despertar um clã de lobisomens selvagens — liderado por seu próprio irmão — Elena e Lucas são forçados a unir forças. Em uma jornada através de montanhas gélidas, templos esquecidos e segredos enterrados, eles enfrentarão criaturas sombrias, provações mágicas e o peso de escolhas que podem salvar ou destruir tudo o que conhecem. Entre a luz do amor e a sombra da fera, Elena terá que decidir até onde vai para salvar um coração condenado — e o próprio mundo.
Leer másO céu daquela noite parecia mais escuro do que o habitual, como se as estrelas tivessem decidido se esconder por algum motivo que os homens ainda não compreendiam. As árvores altas da floresta balançavam levemente, embaladas por um vento que sussurrava nomes esquecidos. Elena sentia algo no ar — não medo, exatamente, mas uma inquietação que fazia sua pele arrepiar.
A aldeia de Varnell adormecia ao longe, envolta pela bruma leve que descia das colinas. Ela caminhava em silêncio pelos limites da floresta, os pés descalços pisando com cuidado sobre o chão úmido. Tinha ido até ali para pensar. Para fugir dos olhares pesados e das perguntas sussurradas. Desde a morte de sua mãe, tudo parecia suspenso. As pessoas falavam em maldição, em destino. Em sangue. Ela odiava esse tipo de conversa. O silêncio era quebrado apenas pelo som ritmado do riacho próximo e pelos galhos estalando sob o peso de algum animal noturno. Elena ergueu o olhar, os olhos fixos em uma das trilhas que levava mais fundo na mata. Era como se algo a chamasse. Um sussurro inaudível, mas insistente. Não deveria seguir adiante. A floresta à noite não era lugar para uma jovem sozinha. Mas ela foi. Cada passo parecia afundá-la mais em uma realidade paralela. As árvores pareciam observar. A névoa ganhava forma. E então, ela o viu. Primeiro, apenas uma sombra entre os troncos. Depois, um par de olhos prateados brilhando sob a luz da lua que enfim surgira entre as nuvens. Elena parou. A figura surgiu com elegância contida, como se o próprio ar se moldasse em torno dele. Alto, cabelos escuros e selvagens, vestia roupas simples, mas carregava uma presença impossível de ignorar. Um estranho. — Não é seguro andar sozinha por aqui — disse ele, a voz grave, mas suave. Ela não recuou. — E você é quem para dizer isso? Um sorriso leve tocou os lábios dele, como se sua ousadia o divertisse. Mas não respondeu. Limitou-se a observá-la. Algo nele era familiar, e ainda assim... errado. Como se ela o conhecesse de um sonho. Ou de um pesadelo. — Está me seguindo? — Elena perguntou, cruzando os braços. — Talvez eu estivesse apenas esperando — respondeu ele, enigmático. Ela franziu a testa. — Esperando por mim? Ele não respondeu. Deu um passo à frente, e ela instintivamente recuou. Foi nesse momento que percebeu: não havia som algum ao redor. Nenhum animal. Nem mesmo o vento. Só os dois. — Quem é você? — insistiu. Ele inclinou levemente a cabeça. — Você descobrirá em breve. Ela tentou conter o arrepio que percorreu sua coluna. — Isso não responde minha pergunta. — E se eu disser que sua vida está prestes a mudar? Elena sentiu um frio tomar conta de seu corpo. Não era ameaça. Era uma promessa. Ela deveria ter fugido naquele instante. Mas algo mais forte a prendia ali. Algo nos olhos dele. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, um uivo ecoou à distância. Longo. Cortante. Selvagem. Os olhos dele se estreitaram, e por um instante, Elena viu sua expressão mudar — os traços se tornarem mais duros, mais... instintivos. — Preciso ir — disse ele, virando-se. — Espere! — ela tentou alcançá-lo, mas a névoa pareceu crescer ao redor. Num piscar de olhos, ele desapareceu entre as árvores, como se nunca tivesse estado ali. Elena ficou sozinha, o coração disparado. Os galhos estalaram mais uma vez atrás dela, e dessa vez, o som foi real. Pesado. Como de algo que não deveria estar ali. Ela se virou lentamente. E então viu — não uma figura humana, mas algo enorme, de olhos brilhantes e pele que parecia feita de sombra e músculo. E o mais assustador: os olhos eram os mesmos do homem que acabara de desaparecer.Enquanto a lua plena mergulhava a Torre da Casa da Névoa em prata líquida, o Coração da Aliança repousava no centro do salão principal, irradiando uma luz suave que banhava cada rosto ali presente. Elena, Aedan, Kaela, Malrik, Nevara e Arinora formavam um círculo ao redor, seus olhares fixos no artefato que simbolizava não apenas esperança, mas também a responsabilidade de proteger tudo o que construíram.Lá fora, a noite parecia ter ganhado vida. Os ventos da segunda aliança uivavam pelos corredores, sussurrando palavras antigas: pactos, renúncias, destinos. Mas, para além das muralhas da torre, centenas de pares de olhos aguardavam — figuras sombrias que se moviam pelas árvores, vultos em capas negras; os Devotos da Máscara e suas criaturas corrompidas.— O portal está pronto — anunciou Malrik, rompendo o silêncio —. Encontrei inscrições no pátio sul. Elas indicam o local onde ele se abrirá. Mas… não será como os outros. Este portal exige sacrifício.Elena ergueu o queixo, firme.—
A lua alta tingia as pedras da antiga passarela que conduzia à Casa do Crepúsculo Silente com um tom acinzentado e espectral. Sobre a ponte de mármore esculpida em fileiras de lobos e árvores retorcidas, Elena, Aedan, Kaela, Malrik e Nevara avançavam com passos cautelosos. Atrás, Arinora chamava os emissários da Segunda Aliança que haviam chegado de Navenra e da Casa das Brumas: lobos arrependidos, metamorfos antigos e alguns feiticeiros dispostos a renunciar ao poder egoísta em nome do novo pacto.Mas naquele momento, nenhum deles ousava falar. À frente, as torres simétricas da Casa do Crepúsculo Silente erguiam-se como sentinelas mudos, marcadas por estalagmites de cristal e contas de carvão presas às cornijas. Diziam que ali repousava o último selo — aquele que selara o eco de esperança original.— Este é o portão final — sussurrou Nevara, apontando para dois pilares de pedra escura, erodidos pelo tempo. — E entre eles, o silêncio. Qualquer som que façam aqui será ampliado pelas c
A aurora estremeceu antes mesmo do sol surgir. Raios pálidos de luz prateada atravessaram as fendas das nuvens, banhando o alto da Torre da Casa da Névoa. Elena despertou com o coração acelerado, ajoelhada diante do altar onde descansava o Coração do Início — agora fundido com todos os selos ancestrais. A pedra pulsava com um brilho suave, como um farol interno que marcava o compasso de sua própria vida.Ao seu lado, Kaela abria os olhos lentamente, o rosto iluminado pelo reflexo da lua ainda alta no céu. Malrik estava de pé, afiado e silencioso, limpando o fio da adaga que usara na última batalha. Aedan chegava por trás, mantendo-se em vigília permanente. Todos sentiam: algo mudara no ar desde que reuniram o último selo.— Conseguimos — sussurrou Kaela, tocando o manto labareda do Selo da Cinza. — Mas sinto que não é tempo de comemorar.Elena guardou o Coração em uma bolsa de couro. A fumaça mágica dos selos ainda se misturava ao vento.— Eles estão se reagrupar — disse Aedan, a voz
O sol nascera tímido em Navenra, tingindo de laranja as muralhas da estalagem. Elena reuniu os selos — o Coração do Início, o Selo Âmbar e o Selo de Cinza — e tomou um fôlego profundo. Ao seu lado, Aedan, Kaela, Malrik e Nevara montavam as bagagens. A jornada até a lendária Cidade do Tempo Partilhado os levaria por terras esquecidas, florestas ancestrais e trilhas que testariam os limites de seus sentidos.— Preparem-se — aconselhou Nevara, ajustando o manto cinzento. — Assim que cruzarmos o portal, o tempo aqui não obedecerá mais às leis conhecidas.— Já tive uns pesadelos com isso — murmurou Malrik, apertando o punho na empunhadura da adaga. — Não quero viver neles de verdade.— Precisam confiar em mim — disse Nevara, erguendo o braço para apontar a direção. — Para oeste, além das Colinas Sombrasgadas. Há um monólito granítico coberto de runas lunares. Aquele é o Portal do Luar Quebrado. É mais do que pedra. É memória petrificada.Elena assentiu. — Hoje à noite, quando a lua estiver
A torre da Casa da Cinza Eterna estava mergulhada em silêncio quando o grupo desceu, carregando mais um selo — o terceiro. Mas ao contrário dos anteriores, este parecia diferente. As brasas do Guardião ainda pairavam no ar, espalhando uma energia instável que fazia a pele formigar.Elena caminhava à frente, os olhos fixos no Coração do Início, onde agora pulsava uma luz avermelhada. A fusão com o Selo da Cinza havia alterado sua vibração. Não apenas mais forte — mas mais viva. E, de algum modo, mais volátil.Aedan não tirava os olhos dela. Desde a fusão, notara pequenas mudanças: um leve rubor na pele, calor emanando das mãos de Elena mesmo sem conjuração, e aquele brilho em seus olhos — fogo e sangue se misturando como duas partes de algo maior.Kaela, ao lado de Malrik, mantinha a mão discretamente pronta para conjurar. Nenhum deles queria acreditar, mas todos sentiam. O selo corrompido havia deixado marcas. E Elena estava carregando essas marcas no lugar mais vulnerável possível: d
O dia seguinte amanheceu silencioso e frio. A clareira marcada pela batalha contra os Devotos da Máscara estava irreconhecível. Galhos queimados, raízes partidas, e o cheiro de cinzas pairando no ar como o lamento de uma floresta ferida.Elena sentou-se à beira do altar de pedra, os olhos fixos nos dois selos — o Coração do Início e o Selo Âmbar da Casa dos Espinhos — repousando juntos sobre uma manta cerimonial. Embora aparentemente intactos, ela sentia algo diferente neles. Como se estivessem se transformando por dentro, absorvendo o impacto do que haviam testemunhado.— Eles estão... mais pesados — disse Kaela, ao se aproximar. — Como se carregassem memórias novas.— Ou feridas novas — completou Elena. — Como se estivessem começando a entender que essa aliança pode não sobreviver.Kaela se ajoelhou ao lado dela. Havia uma marca escura no pulso da feiticeira, deixada por um toque de um dos encapuzados. Ela a observava com calma.— Nunca achei que os selos fossem apenas ferramentas —
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