O cheiro de terra molhada e café fresco ainda pairava no ar de Ilhéus, mas para Ana, a Bahia havia se tornado um inferno particular. Sete anos. Sete anos de uma vida que ela achou ser amor, cumplicidade, família. Sete anos para serem reduzidos a cinzas em uma única frase e uma descoberta brutal. "A culpa é sua, Ana. Você nunca consegue segurar uma gravidez, não passa de uma mulher fraca." Aquelas palavras, proferidas por Pedro, o homem que jurou amá-la, ecoaram em sua alma como um grito estridente. E, como se não bastasse a dor da acusação, a verdade por trás da sua frieza veio à tona: mensagens clandestinas, sorrisos trocados, planos secretos com Mariana, a ex. Não houve despedida. Apenas a mala apressada, um coração estraçalhado e a promessa sussurrada ao vento enquanto o avião cortava os céus em direção a São Paulo: "Você vai pagar por isso, Pedro." A dor transformou-se em determinação. As lágrimas, em combustível. Agora, na efervescência da metrópole, à frente da Agro Tech como COO, Ana não busca apenas uma nova vida profissional. Ela está construindo um império. Um império superaria a dor, a traição, mas marcava como ferro quente a promessa de que Pedro, um dia, sentirá o peso de cada lágrima que ela derramou. Ele não sabia, mas ao tentar destruí-la, apenas acendeu um fogo que o consumiria. "Sete anos em flor e a sombra da ausência" é uma história de dor, renascimento e retribuição. Será que a mulher que perdeu tudo encontrará a paz na destruição do império de seu algoz?
Leer másO aroma doce e úmido da maresia de Ilhéus invadia a pequena casa de fachada colorida onde Ana e Pedro construíram seu ninho. Situada em um bairro tranquilo, perto da orla, a residência exalava um charme acolhedor, com suas janelas de madeira adornadas por trepadeiras e um pequeno jardim frontal que Pedro cultivava com esmero. Sete anos haviam tecido uma tapeçaria intrincada em suas vidas, fios de risos compartilhados, confidências sussurradas ao pé do ouvido sob o luar tropical e o silêncio, por vezes pesado, da ausência que teimava em se instalar entre eles, quase como um terceiro morador invisível.
Ana lembrava com uma clareza vívida, quase fotográfica, o dia em que seus olhares se cruzaram pela primeira vez. Não foi em um encontro arranjado ou em uma festa glamorosa, mas em meio à agitação vibrante e colorida da feira de artesanato na orla do Pontal, um lugar que ela adorava visitar nos fins de semana. Pedro, com seu sorriso fácil e os olhos que brilhavam com uma gentileza genuína, oferecia a ela um acarajé fresquinho, recém-saído do tacho, com a desenvoltura de quem conhece os segredos culinários da Bahia. Ele estava ali ajudando um amigo que tinha uma barraca de comidas típicas. Naquele instante, sob o sol escaldante que beijava a pele e o som hipnotizante dos atabaques que vinha de uma roda de capoeira ali perto, uma faísca invisível acendeu a chama que os uniria de forma tão profunda. O namoro foi leve como a brisa que soprava constantemente do mar, repleto de passeios idílicos pelas praias desertas de Itacaré, onde as águas cristalinas convidavam a mergulhos refrescantes e as areias douradas eram palco de longas caminhadas de mãos dadas. Os jantares românticos à luz de velas em restaurantes charmosos do centro histórico de Ilhéus, com seus casarões coloniais e a brisa que trazia o cheiro de dendê e baunilha, se tornaram rotina. A cada encontro, eles descobriam afinidades que pareciam predestinadas, como se o universo tivesse conspirado para uni-los. Pedro, engenheiro agrônomo apaixonado pela terra, pelos frutos que ela dava e pelos desafios do cultivo do cacau, encantava Ana com suas histórias sobre a riqueza da natureza exuberante que os cercava, a complexidade da agricultura sustentável e a vida simples do campo. Ana, uma mulher de negócios, com um coração sensível e uma imaginação fértil que a fazia mergulhar profundamente em cada nova história, compartilhava com ele o universo mágico dos livros e dos números, a profundidade das palavras e a beleza intrínseca da alma humana. Eles se completavam, suas paixões se entrelaçavam em uma dança harmoniosa. O casamento, celebrado com a presença calorosa de familiares e amigos mais próximos em uma pequena igreja colonial no Alto da Conquista, com vista para a cidade e o mar, foi um dia de pura felicidade e celebração. As promessas trocadas no altar ecoavam a certeza de um futuro construído a dois, alicerçado não apenas no amor e na paixão, mas na cumplicidade, no respeito e na promessa mútua de apoio. Os primeiros anos foram de descobertas e adaptações, a construção de uma rotina suave e carinhosa que se encaixava perfeitamente na vida em Ilhéus. Ana, com seu toque delicado e sua paixão pela mente humana, adornou a casa com plantas tropicais, objetos de artesanato local e quadros vibrantes que refletiam a alma de ambos, transformando cada canto em um refúgio de aconchego. Enquanto isso, Pedro, com sua paciência e seu amor pela natureza, cuidava do jardim com esmero, transformando o pequeno espaço externo em um refúgio verdejante, com flores coloridas e o canto constante dos pássaros. O desejo de ter um filho surgiu naturalmente, como um botão de flor que se abre sob o sol da primavera, impulsionado pela própria beleza e plenitude do amor que sentiam um pelo outro. Era um sonho acalentado por ambos, a concretização de seu amor em uma nova vida, uma extensão de si mesmos. A primeira gravidez trouxe consigo uma alegria radiante, quase eufórica, uma expectativa palpável de um futuro que se expandia diante deles, cheio de cores e risadas infantis. Ana lembrava-se da sensação mágica de sentir o leve tremor da vida crescendo dentro de si, as conversas sussurradas com o ventre ainda pequeno, os planos para o quartinho do bebê, que seria decorado com tons neutros e motivos de floresta para um futuro que ainda não tinha gênero. A notícia da perda, no entanto, abateu-os como uma tempestade repentina em um dia de sol, deixando um rastro de dor aguda e um vazio difícil de preencher, uma cratera que se abria no coração de ambos. Apesar do luto avassalador, o amor que os unia se manteve firme, resistindo à força da dor. Pedro amparou Ana com uma ternura inabalável, enxugando suas lágrimas silenciosas e reafirmando seu compromisso de estarem juntos em todas as adversidades. Eles se fortaleceram na dor, acreditando que o futuro, de alguma forma, lhes reservava a alegria da maternidade e da paternidade, que aquela era apenas uma prova a ser superada. No entanto, as tentativas seguintes, repetidas e cheias de esperança renovada, trouxeram consigo a mesma cruel e devastadora decepção. A cada novo teste positivo seguido da dolorosa e inexplicável perda, a esperança ia se esvaindo, como areia entre os dedos, dando lugar a uma angústia silenciosa e persistente que pairava sobre o lar, impregnando o ar. Os quatro abortos espontâneos deixaram cicatrizes invisíveis na alma de Ana, mas profundas e eternas. A cada perda, sentia que uma parte de si se esvaía, levando consigo a alegria, a confiança no futuro e a própria fé em seu corpo. O corpo, que deveria ser um templo de vida, parecia falhar repetidamente, traindo-a em sua função mais primordial. A frustração e a sensação de impotência a consumiam, tornando os dias mais cinzentos, as noites mais longas e repletas de insônia e pensamentos perturbadores. Ela se sentia quebrada, incompleta, uma mulher falha em sua própria essência. Pedro, por sua vez, sofria em um silêncio quase insuportável, vendo a dor excruciante da esposa e sentindo a própria frustração por não conseguir realizar o sonho de serem pais, de construir uma família completa. Ele a envolvia em seus braços, oferecendo palavras de conforto e carinho, mas sentia que havia um abismo se abrindo lentamente entre eles, um espaço preenchido pela dor não dita, pela esperança perdida e pela sombra opressiva da infertilidade. Apesar das dificuldades e das provações, o amor que nutriam um pelo outro era inegável e, por vezes, a única coisa que os mantinha de pé. Compartilhavam os pequenos prazeres do dia a dia, os sorrisos trocados durante o preparo do jantar na pequena cozinha, o conforto do silêncio cúmplice enquanto liam juntos no sofá, sob o abajur, um livro de contos ou uma poesia. Nos fins de semana, eles se aventuravam a explorar as belezas naturais da região, buscando refúgio nas cachoeiras escondidas na mata atlântica, cujas águas cristalinas pareciam lavar a alma, ou caminhando de mãos dadas pelas longas faixas de areia dourada da praia de Olivença, observando as ondas que iam e vinham, em um ritmo que parecia mimetizar suas próprias vidas. Tentavam manter viva a chama do relacionamento, buscando em sua história os motivos para continuar acreditando em um futuro feliz, mesmo que ele não se apresentasse da forma como haviam imaginado originalmente. Aquele era o laço que os mantinha unidos, a promessa silenciosa e inquebrável de enfrentar juntos qualquer obstáculo que a vida lhes apresentasse, por mais desafiador que fosse. O tempo, implacável em seu fluxo, não amenizava a dor. Pelo contrário, a cada mês que se passava sem uma nova gravidez, a cada ciclo menstrual que chegava, a sensação de fracasso se intensificava em Ana. Ela começou a evitar reuniões familiares e sociais, onde a presença de crianças era constante e as perguntas indiscretas sobre "quando o bebê viria" ou os conselhos não solicitados sobre tratamentos e simpatias a machucavam profundamente. "Vocês não vão ter filhos? Já estão casados há tanto tempo!" eram frases que a corroíam por dentro. Pedro, por sua vez, lidava com a pressão social dos amigos que já tinham filhos e que o convidavam para churrascos de família, onde ele via a alegria de seus pares e sentia um vazio em si. Ele sentia a própria frustração por não conseguir realizar o sonho de ser pai, de passar seus conhecimentos sobre a terra e a natureza para um filho. Ele se sentia impotente diante da dor excruciante de Ana, buscando em vão palavras de consolo que pudessem aliviar seu sofrimento, mas sabendo que algumas dores são incuráveis. A intimidade entre eles, antes tão espontânea e apaixonada, tornou-se por vezes tensa, carregada de uma ansiedade silenciosa que pairava no ar. O sexo, que deveria ser uma celebração do amor e da conexão, transformava-se sutilmente em uma cobrança velada, uma busca incessante por um resultado que teimava em não acontecer. Cada toque, cada carinho, parecia estar imbuído de uma expectativa silenciosa. A frustração e a autocensura minavam a espontaneidade, e ambos sentiam que algo essencial se perdia naquele processo repetitivo e doloroso. No entanto, em meio à dor e à frustração, havia também momentos de profunda conexão que os lembravam do porquê haviam escolhido um ao outro. Ana e Pedro encontravam conforto nos braços um do outro, na certeza de que, apesar de tudo, não estavam sozinhos naquela jornada. Compartilhavam lembranças dos primeiros anos de casamento, dos primeiros passeios, das primeiras piadas internas, revivendo os momentos de alegria pura e reafirmando o amor que os unia. Eram nesses instantes, nessas bolhas de tempo onde a dor parecia se afastar por um instante, que a esperança, ainda que tênue e frágil como uma chama de vela ao vento, reacendia, a crença de que, de alguma forma, encontrariam um caminho para a felicidade, mesmo que ele não se apresentasse da forma como haviam imaginado. Ilhéus, com sua beleza melancólica e sua atmosfera nostálgica, era o cenário da vida a dois. As caminhadas pela orla, observando o vaivém incessante das ondas e o pôr do sol incandescente que pintava o céu de tons de laranja e roxo, eram momentos de silêncio compartilhado, de reflexão e de busca por um sentido em meio à dor que os afligia. As visitas à casa dos pais de Ana, onde o aroma do café coado, forte e familiar, e os quitutes caseiros da mãe traziam um certo conforto e a sensação de um abraço maternal, eram oportunidades de receber carinho e apoio familiar, de se sentir acolhida em um ambiente seguro. Os encontros com os amigos, regados a cerveja gelada e conversas animadas nos bares da cidade, ofereciam uma breve e bem-vinda fuga da realidade, um alívio temporário da pressão. Mas, ao final de cada dia, quando voltavam para o silêncio de seu lar, a ausência se fazia presente novamente, como um eco constante nas paredes, um lembrete vívido do vazio que habitava ali. O quarto do bebê, que nunca chegou a ser montado, permanecia vazio, com a porta sempre fechada, um lembrete silencioso do sonho adiado, de um futuro que não veio. As roupinhas de bebê, cuidadosamente guardadas em uma caixa de madeira no armário do quarto de hóspedes, eram um testemunho mudo das esperanças que se esvaíram com cada perda, um acúmulo de sonhos despedaçados. Apesar da dor, Ana e Pedro seguiam em frente, cada um à sua maneira, buscando encontrar um equilíbrio em meio à tempestade que se abatia sobre suas vidas. Ana encontrava consolo na leitura e na escrita, mergulhando em outros universos através dos livros e dando voz aos seus sentimentos mais profundos e dolorosos através das palavras que escrevia em seu diário. Pedro se dedicava ao trabalho com ainda mais afinco, encontrando na rotina exaustiva da fazenda, no contato com a terra e na lida com as plantas uma forma de canalizar sua energia e sua frustração, uma maneira de evitar pensar no que faltava. Na intimidade de seus pensamentos, ambos se questionavam sobre o futuro. Seria possível encontrar a felicidade plena sem filhos? Seria justo um para com o outro manter vivo um sonho que parecia cada vez mais distante e doloroso de ser alcançado? Seria possível reconstruir o que havia sido quebrado? Essas perguntas pairavam no ar, sem respostas fáceis, alimentando uma angústia surda que começava a corroer, lenta e silenciosamente, a base de seu relacionamento. A sombra da ausência se alongava sobre suas vidas, ameaçando obscurecer a luz do amor que um dia os unira tão intensamente, transformando o que antes era um refúgio em um campo minado de emoções reprimidas. Eles estavam à beira de um precipício, sem saber se a queda seria o fim ou o começo de algo completamente novo.Enquanto Pedro se afogava em sua própria fantasia romântica com seu filho e futura esposa, de poder ter uma nova vida em Ilhéus sem a sobra da tristeza, Ana, com a mente e o coração endurecidos pela dor e pela determinação de sua vingança, reescrevia sua história em um ritmo frenético. O voo para São Paulo não foi uma fuga, mas uma ascensão, uma jornada rumo à independência e ao poder. Ela não buscava apenas um recomeço; buscava a reconstrução de si mesma, mas com um propósito maior, um propósito que tinha o nome de Pedro.A chegada a São Paulo foi um choque para os sentidos. A agitação, os prédios imponentes, a multidão anônima – tudo era um contraste gritante com a calmaria de Ilhéus. Mas essa foi a sua primeira vitória: a cidade grande a engoliu, oferecendo-lhe o anonimato que ela tanto ansiava. Ninguém ali a conhecia como a mulher que não podia ter filhos, a esposa traída, a figura fragilizada pela dor. Ali, ela era apenas Ana, uma mulher em busca de seu lugar.Sua primeira priori
O táxi a levou diretamente para o seu novo studio, um espaço compacto, mas com uma vista panorâmica da cidade que a fazia sentir-se no topo do mundo. As paredes brancas eram uma tela em branco, prontas para serem preenchidas com as cores de sua nova vida. Ela desembalou as poucas malas com uma sensação de propósito. Cada item que tirava da bagagem era uma peça de seu futuro, um símbolo de sua autonomia. Não havia fotos rasgadas ou lembranças de um passado doloroso ali; apenas seus livros, suas roupas e a promessa de um amanhã construído por ela mesma.Naquela primeira noite, Ana pediu uma pizza e sentou-se na janela, observando as luzes cintilantes da cidade. A solidão não era um fardo, mas uma oportunidade para se reconectar consigo mesma, para ouvir seus próprios pensamentos sem a interferência de vozes alheias. Ela pegou seu caderno e começou a listar seus próximos passos: matricular-se em cursos de aprimoramento na área dela, explorar os bairros, encontrar novos cafés e parques pa
Ele se entregou à vida com Mariana, aos jantares românticos, aos passeios pela orla, às risadas despreocupadas, as compras de móveis para o berçário, o enxoval, exames, o médico de Ana havia se tornado o médico de Mariana, o berço que ele havia comprado com Ana foi repintado para agradar aos gostos de Mariana, as roupas de bebê que Ana tinha feito e as que tinha comprado foram todas para o filho que ele teria com Mariana. O tempo voava, e ele não pensava em casa fora para pegar os itens que precisava, nem se quer deixava Mariana entrar para não se machucar, na para não ver as fotos rasgadas. Acreditava que estava vivendo sua nova vida, e Ana apenas uma lembrança distante que desapareceu no fundo da sua mente, uma lição dolorosa, mas necessária. E ele faria questão de ensinar seu filho a não cair no papo de mulher manipuladoras para que ele não sofresse. "Eu vou te proteger de tudo meu filho." ele falou uma noite para a barriga plana de Mariana, a cabeça encostada na pele branca, a
A semana que se seguiu ao desaparecimento de Ana da casa de família foi um período de estranha normalidade para Pedro, uma normalidade carregada de uma densa negação. Ele passou aqueles dias com Mariana, imerso na bolha confortável e efêmera que havia criado com a mulher que lentamente entrava em seu coração, criando raízes e firmando seu lugar. A presença dela, leve e despretensiosa, era um bálsamo para a ferida aberta que Ana causou com seu afastamento, um escape bem-vindo da tensão e da frustração que haviam se tornado a tônica de seu casamento. Pedro, em sua mente, apagava cada vez mais a presença da ex esposa, cada beijo que trocava com Mariana, cada carícia, cada momento acalorado onde os seus corpos se conectavam, era um prego no caixão do seu relacionamento com Ana. As fotos rasgadas e a certidão de divórcio cortada tinham sido esquecidas em um canto do quarto, para ele, apenas parte do drama exagerado de uma mulher ferida que queria chamar sua atenção. Ele se recusava a acei
O sol escaldante de Ilhéus já começava a se pôr no horizonte, pintando o céu de tons alaranjados e roxos, quando Pedro, finalmente, estacionou o carro em frente à pequena casa de fachada colorida. Os dia que passou na casa de Mariana foram como encontrar água no deserto, sem q cara triste de Ana no fundo dos cenários da sua vida, com o cuidado, amor e paciência que recebeu por esses quatro dias, nem mesmo se lembrou que tinha discutido com Ana até passar na porta de casa. E ainda tinha seu trabalho, era como se sua esposa simplesmente tivesse deixado de existir junto com todos os seus problemas. Ele sentia os músculos doloridos, o corpo um pouco cansado e sujo de suor, tinha acabado de sair da fazenda e veio pra casa. Essa era o momento em que a rotina de sete anos de casamento se manifestava: Ana estaria esperando-o na porta, talvez com um sorriso gentil e um copo de água fresca, ou no mínimo, com a mesa posta e o aroma de comida caseira preenchendo o ar. Era um ritual, um pequeno co
A quietude daquela noite em Ilhéus, após o grito de Pedro e a dolorosa constatação de que o casamento havia chegado ao seu ponto de ruptura, não era um bálsamo para Ana. Era, pelo contrário, o silêncio pesado que precede uma tempestade, a calmaria antes do furacão. As palavras de Pedro – "Se você não quer ter filhos de jeito nenhum, então o que estamos fazendo juntos?!" – ecoavam em sua mente como um sino fúnebre. Não era mais sobre o desejo de ter filhos, era sobre a própria existência de seu relacionamento. Ele havia proferido o ultimato, e, naquele instante, Ana sentiu uma frieza gélida tomar conta de seu coração, sufocando as últimas brasas de amor e dor que ainda restavam ali."Eu estou cansada" essa frase passava várias e várias vezes, um loop infinito na mente da mulher atormentada. Ela se levantou da cadeira da varanda, onde havia permanecido por horas, assistindo às luzes da cidade de Ilhéus cintilarem à distância e ouvindo o lamento constante das ondas quebrando na areia. S
Último capítulo