Mundo ficciónIniciar sesiónUm segredo pode salvar duas espécies. Um amor proibido pode destruí-las. Cem anos após o Dia da Grande Queda, os Aurélios governam a Terra a partir dos altos cargos mundiais. Com seus olhos amarelos e inteligência superior, eles reduziram a humanidade à pobreza e submissão. Maya Collins é uma sobrevivente. Com seus olhos verdes e cabelos negros, ela se esconde na parte pobre de Nova York, servindo mesas e nutrindo um ódio profundo pela raça que destruiu seu mundo. Seu maior medo é cruzar o caminho de um deles. Kaelen Aurelius é o CEO mais poderoso do planeta. Ele comanda a economia global com precisão implacável, Para além de ser um dos poucos aurelianos puros, respeitados por todos de sua espécie. Em um jogo de poder, traição e desejo proibido, Maya descobre a verdade sobre os Aurélios. Agora, ela deve escolher: usar essa informação como arma para libertar a humanidade ou guardar o segredo para salvar a espécie de Kaelen da extinção. Enquanto a linha entre ódio e obsessão se desfaz, um romance impossível floresce, ameaçando desestabilizar o frágil equilíbrio entre duas espécies destinadas a se destruir. Até que ponto você se renderia ao seu pior inimigo?
Leer másNOVA IORQUE
O DIA DIA DA GRANDE QUEDA
NARRADOR
Aquela terça-feira começou como qualquer outra em Nova Iorque. O sol de primavera derramava-se sobre a cidade, aquecendo o asfalto e iluminando os vidros dos arranha-céus como ouro líquido. No Central Park, as crianças corriam entre as árvores, seus gritos de alegria ecoando no ar tranquilo. Pais observavam, distraídos, enquanto conversavam ou liaem notícias em seus dispositivos móveis. Havia uma serenidade no ar, aquele tipo de paz urbana que só existe quando o caos da grande metrópole parece, por um momento, domado. O que era um milagre, pois Nova Iorque é a cidade que nunca dorme.
Ninguém esperava que aquele seria o último dia do mundo como o conhecíamos.
O primeiro sinal foi um brilho no céu, tão intenso que parecia ter consumido o azul da atmosfera. Não foi um clarão passageiro, mas uma luz que se expandiu, devorando as nuvens, as sombras, o próprio ar. Em questão de segundos, o dia tornou-se mais claro que o meio-dia no deserto, ofuscante, quase doloroso de se olhar. As crianças pararam de correr, cobrindo os olhos com as mãos. Adultos levantaram, confusos, tentando entender o fenômeno e proteger suas crianças prevendo o perigo iminente.
Alguns pensaram em um meteoro — a mente humana sempre busca nas memórias da ficção as respostas para o desconhecido. Mas não havia nenhum alerta, nenhuma notícia, nenhum aviso das agências espaciais. Aquele evento não estava previsto. E, de qualquer forma, aquela luz não se comportava como um meteoro. Ela não riscou o céu; ela preencheu o céu, quase dominando o sol.
Então, o silêncio chegou.
Não foi um silêncio comum, como o de uma noite sem vento ou de uma sala vazia. Foi um silêncio profundo, absoluto, que pareceu engolir todos os sons do mundo. Os pássaros pararam de cantar. O ruído do tráfego parou juntamente com os carros, até então constante como um rio subterrâneo, cessou. E, então, as telas escureceram.
Celulares transformaram-se em pedaços de vidro inúteis. A televisão do quiosque no parque, que transmitia um jogo de beisebol, apagou-se. Os carros pararam nas avenidas, seus motores eletrônicos mortos. O mundo, de repente, estava desconectado. Não era uma queda de energia localizada — era um colapso tecnológico global. Algo, ou alguém, havia desligado a civilização.
E as luzes continuavam a descer.
Elas não caíam como pedras incandescentes, mas desciam com uma elegância quase sobrenatural, como sementes de luz sendo plantadas no solo terrestre. Em Nova Iorque, uma delas pousou suavemente no meio do Gramado Sheep Meadow, no Central Park. A relva ao redor não queimou, não foi destruída. Apenas ficou mais verde, mais viva, como se a luz a tivesse alimentado.
Quando a claridade finalmente se dissipou, o que restou não era uma cratera, nem destroços. Eram estruturas alongadas, prateadas, que lembravam ao mesmo tempo sementes gigantes e naves. Elas não faziam barulho. Não emitiam nenhum sinal. Apenas estavam ali, imponentes e silenciosas, como se sempre tivessem feito parte da paisagem.
E então, as portas abriram-se.
Delas saíram figuras altas, esguias, vestidas com trajes que pareciam feitos de luz solidificada, extremamente loiros e de uma beleza jamais vista antes. Seus movimentos eram fluidos, calculados, e seus olhos — oh, seus olhos — brilhavam com um amarelo intenso, como sóis em miniatura. Eles não pareciam hostis. Nem amigáveis. Apenas… observadores.
Mas a verdade era que, naquele momento, a humanidade percebeu, de forma coletiva e irrevogável, que a pergunta que ecoava por séculos — “estamos sozinhos no universo?” — finalmente tinha uma resposta.
E a resposta era “não”.
E, pelo jeito, eles não eram visitantes. Eles tinham vindo para ficar.
Maya Collins Circulava pelo salão como uma sombra, a bandeja de taças de champanhe equilibrada com a precisão de quem aprendeu a navegar entre corpos arrogantes e sorrisos falsos. Meus olhos estavam fixos no horizonte de ombros alinhados e vestidos cintilantes, evitando qualquer contato que pudesse me tirar do anonimato. Seguia o roteiro invisível: servir, sorrir, desaparecer. Eu sempre soube fazer isso, desde pequena quando minha mãe me mandava para fora de casa para ela poder receber os clientes dela, as coisas ficaram assim quando a vovó morreu, sempre soube que não poderia contar com a mulher que me trouxe ao mundo. Prei de lembarar do passado e resolvi voltar ao ambiente da festa que estva apenas começando. Servi uma roda de pessoas e aurelianos que riam e conversavam como se fossemos um único povo, como se eles não tivem usurpado o nosso planeta a cem anos. Estava tão perto deles que podia sentir o cheiro — um aroma estranho, como ozônio e flores metálicas. Aurélios. Suas pre
Maya Collins O espelho do banheiro é pequeno e está manchado, mas é o que tenho. A luz fluorescente pisca sobre meu rosto enquanto aplico uma camada de base para esconder as olheiras que o cansaço pintou sob meus olhos. Uso o gel para domar meus cachos em um coque bem apertado e impecável — o tipo de penteado que diz “não me toque, só estou aqui para servir”.Toda essa produção não é por vaidade, e muito menos porque aceitei o convite de Megan para a festa. Recusei, claro. Mas quando ela me ligou ontem, com outra “solução”, não pude dizer não.— Minha tia é coordenadora de eventos. Precisam de garçons para uma festa beneficente na casa do prefeito. É só uma noite, Maya. E pagam bem.Pagam bem. Essas foram as palavras mágicas.Saio de casa pouco depois das cinco, fechando a porta sem fazer barulho. Kisha e Celina ainda dormem, imersas no sono pesado de quem só chega ao amanhecer. O metrô está estranhamente silencioso a esta hora, cheio de pessoas com expressões sonolentas e roupas de
Molly Collins O relógio marcava 15h47 quando eu esfregava a última mesa do canto, a que sempre tinha anéis de copo marcados na madeira. O cheiro de água sanitária e gordra antiga enchia o ar, um perfume que já era parte de mim. Só mais alguns minutos e eu poderia enfim descansar os pés antes do turno da limpeza nos escritórios.Foi então que a porta do Blue Star rangeu de forma violenta, e uma figura familiar — e totalmente fora de contexto — irrompeu no restaurante vazio.Megan.Ela estava… bem, ela parecia um pássaro tropical que tinha caído em um lixão. Vestia um macacão prateado que brilhava até demais para a luz do fim de tarde, salto alto que clicava no chão sujo como tiros, e a maquiagem — pesada, glamourosa — estava levemente borrada em um dos olhos, sinal claro de que ela vinha direto de alguma festa em Manhattan. Ou de várias.— Maya! Achava que você já teria ido embora!—, ela gritou, com aquela voz aguda e cheia da energia artificial de quem não dorme há vinte horas.Parei
Kaelen Aurelius A sala de projeções era fria e silenciosa, iluminada apenas pelo brilho azulado de cinco hologramas que flutuavam diante de mim. Cinco membros do Conselho Aureliano. Cinco vozes que, juntas, poderiam ditar o futuro — ou o fim — da nossa espécie.Cada rosto projetado representava uma das Grandes Casas de Aurelis, nosso planeta de origem, agora apenas uma memória distante envenenada. Cada um governava uma das cidades centrais da Terra: Tóquio, Londres, Paris, Sydney e, é claro, Nova Iorque — minha responsabilidade. Eram seres ancestrais, imersos em um tradicionalismo que, suspeitava eu, nos levaria à extinção mais rápido que qualquer praga cósmica.— Kaelen,— a voz de Lorde Valerius, de Londres, ecoou na sala, cortante como uma lâmina. — O relatório trimestral é claro. Nossa taxa de natalidade continua em declínio irreversível. O Conselho espera uma solução. Algo mais… definitivo. Os melhores cientistas do nosso povo estão a seu serviço sem contar com os recursos tecn
Kaelen Aurelius A cidade estende-se aos meus pés, um tapete de luzes tremulantes sob a noite profunda. Daqui, do alto da torre que me serve de escritório e fortaleza, Nova Iorque parece quieta, quase domada. O Central Park respira à distância, um pulmão verdejante e impecável — tal como tudo que tocamos. Limpamos esta cidade, purificamos seu ar, contivemos sua decadência. Sem nós, este planeta estaria se afolgando em seu próprio lixo, em sua própria gança. E boa parte da raça humana não estaria se esbanjando em riquesa e suas mansões se fosse pos nós. Levo à boca mais um gole de café. A bebida é amarga, terrosa, profundamente humana. Um dos poucos prazeres que admito ter adotado deste mundo. Talvez porque, apesar do sangue que corre nas minhas veias, a Terra seja o único lar que conheci. Nasci aqui, mais de sessenta anos após a Grande Queda. Meus pais estavam entre os primeiros casais a conceber em solo terrestre — e, milagre dos milagres, conseguiram gerar dois filhos. Algo tão rar
Maya Collins São quase nove da noite quando finalmente enfio a chave na fechadura da kitnet. Meu corpo dói de um jeito que virou normal – os pés inchados de tanto ficar em pé, as costas tensionadas de tanto me curvar para limpar cantos que nem os donos dos escritórios lembravam que existiam. O caminho de volta para casa é sempre uma prova de resistência: desviar dos viciados que se aglomeram na esquina, ignorar os bêbados que gritam obscenidades, e correr dos olhares de homens que me reconhecem – não por quem sou, mas por quem minha mãe é. “Filha da Elara”, sussurram, como se isso definisse cada pedaço do meu ser.Quando a porta range ao abrir, sou recebida pelo caos. Rendas brilhantes, sapatos de salto espalhados pelo chão, e um cheiro doce e barato de perfume e spray de cabelo tomam o ar. Kisha e Celina estão no meio do pequeno espaço, se aprontando para mais uma noite na boate onde trabalham como dançarinas de pole dance. A TV está ligada em algum programa de fofoca sobre a alta s
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