MAYA
A luz da manhã entrava pela janela, formando um retângulo pálido e poeirento no chão da sala. Era meu dia de folga, mas não havia descanso na minha agenda. A determinação era um nó firme no meu estômago, muito mais fácil de lidar do que a confusão roedora que tomava conta de mim desde... bem, desde a cozinha de Kaelen.
O apartamento parecia menor do que nunca, as paredes sufocantes carregando o peso de más decisões alheias. Kisha e Celina ainda dormiam, o silêncio pesado apenas quebrado pelo ronco suave de uma delas. Olhei ao redor. A bagunça delas estava por toda parte – sapatos caros jogados no meio da sala, revistas espalhadas, uma taça de vinho suja na mesa de centro. E o aluguel do mês passado, pago integralmente por mim com o primeiro salário do 'Le Ciel', ainda estava pendente na parte delas.
Não valia mais a pena. A solidariedade de dividir a luta com quem também lutava tinha se transformado num fardo unilateral. Elas eram boas pessoas, num sentido vago e descomprometido