Capítulo 07

Maya Collins 

Circulava pelo salão como uma sombra, a bandeja de taças de champanhe equilibrada com a precisão de quem aprendeu a navegar entre corpos arrogantes e sorrisos falsos. Meus olhos estavam fixos no horizonte de ombros alinhados e vestidos cintilantes, evitando qualquer contato que pudesse me tirar do anonimato. Seguia o roteiro invisível: servir, sorrir, desaparecer. Eu sempre soube fazer isso, desde pequena quando minha mãe me mandava para fora de casa para ela poder receber os clientes dela, as coisas ficaram assim quando a vovó morreu, sempre soube que não poderia contar com a mulher que me trouxe ao mundo. 

Prei de lembarar do passado e resolvi voltar ao ambiente da festa que estva apenas começando. 

Servi uma roda de pessoas e aurelianos que riam e conversavam como se fossemos um único povo, como se eles não tivem usurpado o nosso planeta a cem anos. Estava tão perto deles que podia sentir o cheiro — um aroma estranho, como ozônio e flores metálicas. Aurélios. Suas presenças preenchiam o ambiente, imponentes e serenas. E os olhos… os olhos deles realmente brilhavam como ouro líquido, tal como Megan dissera. Observavam tudo com uma calma sobrenatural, como se o mundo humano fosse uma peça de teatro montada para seu entretenimento. Não apenas os olhos os distinguem da raça humana, a forma como agem e a elegância num nível maior tamém fazem isso. 

Foi então que um movimento na entrada principal fez o burburinho do salão esmorecer.

Ele chegou sozinho.

Um Auréliano, como os outros, mas… diferente. Mais alto, talvez, ou talvez fosse a postura — ereta, dominante, como se o chão se curvasse sob seus pés. Seus cabelos eram loios tão claros que pareciam prata sob a luz dos cristais. E seus olhos… não eram apenas dourados. Eram como sóis em miniatura, tão intensos que doía mirá-los por mais de um instante.

Vestia um traje totalmente negro, simples mas perfeitamente cortado, que realçava a luminosidade quase sobrenatural de sua pele e daquele olhar abrasador. E, enquanto ele avançava, o salão inteiro parecia conter a respiração. Humanos e Aurélios todos viraram-se, alguns com admiração, outros com um temor reverente. Ele não era apenas importante — era poder personificado.

Por um breve momento, meus pés pararam. Meu coração acelerou, não por atração, mas por algo mais primitivo: reconhecimento. Aquele era um predador no topo da cadeia alimentar. E eu… eu era parte do cenário.

Mas o encanto — ou o temor — durou apenas alguns segundos. Lembrei-me de quem eu era e do que estava fazendo ali. Baixei os olhos para a bandeja, ajustei o sorriso treinado e continuei a circular, desviando de grupos que sussurravam seu nome com uma mistura de fascínio por estarem ba presença de uma personalidade provavelmente muito importante. 

— Kaelen… — ouvi alguém murmurar. — Kaelen Aurelius está aqui. Não acredito que ele se dignou a sair de seus escritórios e laborátorios para nos agraciar com a sua presença. 

O nome ecoou em mim, mas abafei o som. Não era meu mundo. Não era meu povo. E aquela não era minha história e muito menos minha realidade. Apenas precisava do dinheiro.

Continuei servindo, movendo-me entre rendas, sedas e olhares dourados, tentando ignorar o frio na espinha e a pergunta que teimava em surgir:

O que faria um Aurélio daquele nível em uma festa beneficente humana? E que humanos desamparados eles estariam apoiando com o dinheiro adquirodos nesses eventos? Com certeza não estão ajudando os pobres das periferias de Nova Iorque. 

Mas algumas perguntas não são feitas por garçons. Algumas portas não se abrem para pessoas como eu.

E, esta noite, eu estou aqui apenas para servir.

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