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NOVA IORQUE
O DIA DIA DA GRANDE QUEDA
NARRADOR
Aquela terça-feira começou como qualquer outra em Nova Iorque. O sol de primavera derramava-se sobre a cidade, aquecendo o asfalto e iluminando os vidros dos arranha-céus como ouro líquido. No Central Park, as crianças corriam entre as árvores, seus gritos de alegria ecoando no ar tranquilo. Pais observavam, distraídos, enquanto conversavam ou liaem notícias em seus dispositivos móveis. Havia uma serenidade no ar, aquele tipo de paz urbana que só existe quando o caos da grande metrópole parece, por um momento, domado. O que era um milagre, pois Nova Iorque é a cidade que nunca dorme.
Ninguém esperava que aquele seria o último dia do mundo como o conhecíamos.
O primeiro sinal foi um brilho no céu, tão intenso que parecia ter consumido o azul da atmosfera. Não foi um clarão passageiro, mas uma luz que se expandiu, devorando as nuvens, as sombras, o próprio ar. Em questão de segundos, o dia tornou-se mais claro que o meio-dia no deserto, ofuscante, quase doloroso de se olhar. As crianças pararam de correr, cobrindo os olhos com as mãos. Adultos levantaram, confusos, tentando entender o fenômeno e proteger suas crianças prevendo o perigo iminente.
Alguns pensaram em um meteoro — a mente humana sempre busca nas memórias da ficção as respostas para o desconhecido. Mas não havia nenhum alerta, nenhuma notícia, nenhum aviso das agências espaciais. Aquele evento não estava previsto. E, de qualquer forma, aquela luz não se comportava como um meteoro. Ela não riscou o céu; ela preencheu o céu, quase dominando o sol.
Então, o silêncio chegou.
Não foi um silêncio comum, como o de uma noite sem vento ou de uma sala vazia. Foi um silêncio profundo, absoluto, que pareceu engolir todos os sons do mundo. Os pássaros pararam de cantar. O ruído do tráfego parou juntamente com os carros, até então constante como um rio subterrâneo, cessou. E, então, as telas escureceram.
Celulares transformaram-se em pedaços de vidro inúteis. A televisão do quiosque no parque, que transmitia um jogo de beisebol, apagou-se. Os carros pararam nas avenidas, seus motores eletrônicos mortos. O mundo, de repente, estava desconectado. Não era uma queda de energia localizada — era um colapso tecnológico global. Algo, ou alguém, havia desligado a civilização.
E as luzes continuavam a descer.
Elas não caíam como pedras incandescentes, mas desciam com uma elegância quase sobrenatural, como sementes de luz sendo plantadas no solo terrestre. Em Nova Iorque, uma delas pousou suavemente no meio do Gramado Sheep Meadow, no Central Park. A relva ao redor não queimou, não foi destruída. Apenas ficou mais verde, mais viva, como se a luz a tivesse alimentado.
Quando a claridade finalmente se dissipou, o que restou não era uma cratera, nem destroços. Eram estruturas alongadas, prateadas, que lembravam ao mesmo tempo sementes gigantes e naves. Elas não faziam barulho. Não emitiam nenhum sinal. Apenas estavam ali, imponentes e silenciosas, como se sempre tivessem feito parte da paisagem.
E então, as portas abriram-se.
Delas saíram figuras altas, esguias, vestidas com trajes que pareciam feitos de luz solidificada, extremamente loiros e de uma beleza jamais vista antes. Seus movimentos eram fluidos, calculados, e seus olhos — oh, seus olhos — brilhavam com um amarelo intenso, como sóis em miniatura. Eles não pareciam hostis. Nem amigáveis. Apenas… observadores.
Mas a verdade era que, naquele momento, a humanidade percebeu, de forma coletiva e irrevogável, que a pergunta que ecoava por séculos — “estamos sozinhos no universo?” — finalmente tinha uma resposta.
E a resposta era “não”.
E, pelo jeito, eles não eram visitantes. Eles tinham vindo para ficar.







